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Formaturas

Primula

Moda, mediana, média...
Logo é chegada a época de formaturas.

Eu participei de várias. Mas agora, aprendi algo importante, e vou partilhar com vocês dia 1 de janeiro de 2005. (quando eu editarei este primeiro post e colocarei o meu texto definitivo para o assunto)

Discutam e escrevam sobre isto, enquanto isto.

(Colocando uma cópia no Insônia. Não sei que rumo o tópico tomaria aqui ou lá)

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Por formatura, esperamos uma solenidade padrão com entrega de canudos vazios, e um baile onde os formandos ficam a desfilar seus smokings e vestidos bonitos.

Pela primeira vez participei de uma formatura totalmente diferente. Pra começar, não me importei em ir de jeans, e sandálias.

Foi a formatura de um curso de matemática/cálculo, ministrado pelo prof. Aguinaldo P. Riccieri. Não vou entrar nos méritos acadêmicos ou o histórico do docente. Certas palavras, fatos e datas que ele forneceu durante algumas aulas que assisti não me pareceram ser muito exatos, acurados, precisos, ou até mesmo verdadeiros!

Mesmo assim, permanece o fato de que ele pode até passar um aspecto cognitivo (conhecimento, informação) errôneo, mas ainda assim consegue incutir a curiosidade no aluno, a ânsia de aprender. Ele ao contrário de muitos docentes não esquece o aspecto emocional! E é neste aspecto que a formatura de Mayoros me impressionou.

A começar, os formandos foram deixados em outra sala. Literalmente no escuro vendo um filme de Sociedade dos Poetas Mortos (entre outras coisas).

O ponto é que na formatura do prof. Riccieri o papel mais importante é do padrinho/madrinha.

Que como o papel da dama de honra no casamento, do padrinhos no batizado, se tornou algo comum, mas dificilmente compreendido de forma plena.

Foi algo como uma prestação de contas. Para mim, já sendo uma “profissional de exatas” não me era necessário nada daquilo. Eu sei para que serve, sei a utilidade, e sei que não foi dinheiro perdido. As vezes era um sacrifício fazer o Mayoros ir assistir à essa aula ao invés de ficar teimando em comprar um presente de aniversário para mim…

Mas para muitos pais e mães, namorados e namoradas, foram dois anos que beiraram o absurdo, com o aluno indo assistir aulas aos domingos, na Páscoa, na semana de Natal e Ano Novo. Onde raramente um aluno faltava a qualquer uma dessas aulas como se a aula fosse mais importante que tudo no mundo.

O absurdo do professor mandar comprar um ovo de chocolate – não um ovo qualquer de “dois real leva cinco”, mas um ovo legal e decente o suficiente para dar de presente para uma namorada ou a um filho – e mandar dá-lo a um desconhecido qualquer no meio da rua!

Na primeira explicação que Mayoros me deu sobre o ovo de Páscoa (e ele cumpriu o que o professor determinara. Comprara dois ovos de mesmo valor, e mandara eu escolher um deles. O outro foi pra aula), Mayoros sob o efeito ainda da emoção, não percebera que o professor aplicara a lição que várias vezes ele aprendera em sala, dando aquele ovo para um desconhecido qualquer na rua, olhando nos olhos, dizendo “feliz páscoa”, dando as costas sem nem esperar um obrigado do desconhecido.

Transcrevo aqui as palavras do professor de duas aulas que assisti.

Você profissional de exatas, quando for atender seu cliente não o trate como se não fosse importante. Atenda-o na hora marcada, escute o que ele tem a dizer, e tente resolver o problema que ele trouxe a você. É para isso que você está sendo pago! Não vá fazer como um médico que manda marcar hora, e te atende duas horas depois!

Não pergunte quanto vale o seu trabalho. Você é capaz de resolver problemas! Se um médico vê um doente, não importa que ele não esteja em seu consultório, ou que não seja a hora dele trabalhar: ele é médico, ele pode salvar vidas. Ele tem a obrigação de fazer o que sabe fazer!

Foram duas situações diferentes, e claro que ouvir e entender na mente é uma coisa. Somente quem já tem na alma a necessidade de trazer luz para a cabeça dura de pessoas que tão batendo a cabeça no escuro é quem entende o que significa ter essa ética toda. Isso só duas pessoas no mundo fazem: mães e professores. (só que professores homens não podem parir)

Mas falar para o aluno “seja bom” é diferente de obrigar o aluno/menino/criança a ir fazer o bem, e depois contar como foi. Isso não é apenas blábláblá, que entra por um ouvido e sai pelo outro. É experiência de vida.

A lição do ovo de Páscoa foi o batismo de fogo para os alunos entenderem o que o professor queria dizer com tudo aquilo. Para entenderem que da mesma forma que ele oferecia para os alunos, sangue, suor, cuspe e giz, sem esperar receber aquele montão de ovos caros dos alunos, eles tinham de aprender a também dar valor às pessoas, para que elas dessem valor aos alunos. Uma lição difícil, porque não foi um ovo qualquer, mas um ovo caro (você daria um ovo de Sonho de Valsa assim fácil prum qualquer na rua?). O professor não aceitava alunos que trouxessem ovo mixuruca dentro da sala naquele dia.

Na FORMAÇÃO de um ser humano é importante que o aluno aprenda. O professor está lá para orientar a não dar muito com os burros n’água. Mas o ator principal é o aluno.

A FORMATURA, é um rito onde você tinha alguém que não podia fazer nada, e depois que sai, sabe fazer alguma coisa. Você tinha uma criança e tem no final uma pessoa. Um homem. (Ou mulher).

Nesse cenário, o Padrinho/Madrinha é o elo de ligação entre professor, aluno e família. Porque com a formatura, não há mais o que fazer para o professor. Ele tem o conhecimento, mas não tem o coração. E é aí que entra a família: é na família que o aluno/pessoa agora terá de ter seu apoio em confiar que ele consegue. E aí o padrinho entra como a pessoa que vai confiar mais que todos que a pessoa vai seguir o bom caminho, que não usará o conhecimento para foder a si mesmo ou à sociedade (porque senão a sociedade vem massacrar aquela família FDP, etc.)

Ser padrinho num batismo católico significava que a pessoa se apadrinhasse alguém teria de tomar conta da criança, caso o pai e a mãe da criança morresse. Não que teria um lugar para comer churrasco no final de semana, e no Natal e aniversário dar uma lembrancinha para o afilhado.

Ser padrinho numa formatura, significa que além do professor/mestre que o formou, o padrinho se compromete para que o trabalho do mestre no aluno não se torne em vão. Não apenas professor, mas também padrinho, além do aluno tem de assinar o documento. (tinha… hoje em dia…)

É uma responsabilidade muito grande. Não é apenas comprar uma roupa bacana para ficar se pavoneando num salão. Significa um compromisso tão sério que é melhor nem se comprometer a esse compromisso se acha que é muito.

Tudo isso, os padrinhos e madrinhas ficaram sabendo ali na sala de aula enquanto o professor prestava contas. Mas ao mesmo tempo, ele mostrava que não é a escola que tem de dar educação: é a família. A escola pode no máximo dar a instrução. Mas não tem como educar toda aquela cambada!

Ou seja, não é a toa que realmente nesta formatura, o protagonista da estória é o padrinho/madrinha, e não o formando a se pavonear no salão enquanto a família fica na mesa/canto.

Se é verdade que a primeira formatura foi na Universidade de Bologna, onde o professor era São Francisco de Assis, não pude conferir. Nem que a Canção do Irmão Sol era originalmente a canção de formatura, porque nela contém o segredo de formação de qualquer ser humano, de qualquer profissional que queira fazer algo no mundo (seja para si, seja para sobreviver, seja para ficar rico, seja para ser pai de família).

Canticu di Frater Sole
Canção do Irmão Sol

Oh Mestre
Fazei com que eu procure mais,
Consolar que ser consolado,
Compreender que ser compreendido,
Amar que ser amada,
Pois é DANDO QUE SE RECEBE
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna

São Francisco de Assis.

Segundo Riccieri, havia 3 coisas que São Francisco de Assis gostava: vinho, alunos e animais.

É estranho cantar uma coisa dessas durante a formatura de um professor que é ateu. Mas se formos pensar em termos de rituais vazios, desta vez o ritual tinha conteúdo.

Mas porque somente hoje eu coloco este texto todo?

Primeiro porque a primeira formatura foi no ano novo de 1205. No ano novo, começava uma vida nova para o formando.

Segundo, porque como eu disse, os formandos foram mantidos no escuro (literalmente falando) assistindo um filme na outra sala.

Terceiro, porque eu entreguei o diploma do Mayoros para ele, ao raiar do dia primeiro de janeiro de 2005. Se o Riccieri está certo, a 800 anos da primeira formatura, na universidade de Bologna, onde todos os ritos foram fundamentados, e tinham sentido. Mas que hoje em dia são apenas rituais vazios se a pessoa não consegue ver a mensagem por trás.
 
hum... não sei exatamente o que a Prímula tinha em mente qdo abriu esse tópico, mas vou aproveitar para colocar em discussão algo que eu já conversei até com algumas pessoas aqui do fórum.

eu ainda não me formei na faculdade, mas como tenho 15 primos, já estive em um monte delas. e todas elas foram IGUAIS, totalmente comerciais e sem nenhum pingo de originalidade. e olha que não eram todas formaturas da mesma área, uma era de economia, outra de comunicação, e uma terceira de geografia. mas o mesmo esqueminha "cartazes com mensagens, piadinhas infames e mto confete e purpurina" prevaleceu em todas elas.

o pior foi que em uma delas (a de comunicação) o juramento foi feito por uma menina fantasiada de Chiquinha (a do Chaves), algo que eu considerei de certa forma ofensivo. pelo menos o juramento deveria ter um pouquinho de seriedade, né não?

tipo, formaturas por demais formais são um saco. mas quando a formatura fica informal demais, também não é legal; primeiro porque, na minha opinião, perde o sentido de 'rito de passagem'; segundo, pq qdo ficam todas iguais, fica um saco do mesmo jeito.

vcs já assistiram a alguma formatura assim? o que acharam?
 
Como você mesma nota, Anna, o pessoal confunde seriedade com chatice. E daí para tornar a coisa mais "agradável" em termos de palhaçado é um passo.

O interessante é que isto em conjunto com a falta de ritos de passagem faz com que nós jovens fiquemos perdidos em nos tornarmos adultos, em nos tornarmos cidadões. O caso do casal que foi assassinado ano retrasado enquanto acampava em um sítio abandonado sem conhecimento das famílias (que pensavam que estavam com amigos e não sozinhos), mostra que o ser humano PRECISA dos ritos de passagem, senão fica perdido. Se coloca em situações de perigo desnecessariamente e que não vão ajudar muito no amadurecimento da pessoa se sobreviverem.

Com o vazio das formaturas, notamos cada vez mais o mal profissional. O que não sabe ainda fazer as coisas, quer ganhar dinheiro... ou seja, o comportamento de uma criança.

O ritual de passagem deve ser condizente com o sacrifício da pessoa, como acontece com os meninos no Xingu (ter de bater em casa de maribondo), um ritual que o menino precise fazer sozinho e que precise daquele momento "eu tou fudido" sem poder contar com os pais (ajuda). E que ao sair do ritual, ele perceba que algo mudou, que não é mais a criança insegura e com medo que pede sempre socorro de algum adulto.

O ponto chave é o "socorro por algum adulto". Pois não é raro uma pessoa adulta de corpo, quando pega o carro e bate o carro não chamar o pai ou a mãe? Nessas horas a gente percebe que falta algo na pessoa, que ela ainda precisa passar de um estágio para outro para ser realmente uma pessoa completa.

Aquele video sobre "usem protetor solar" por exemplo foi um discurso que um professor homenageado fez para uma turma de formandos de uma universidade (americana acho), e mostra que a cerimônia não precisa necessariamente que o formando fique em situação de perigo. O conteúdo do discurso injeta neles as sensações de estresse, de insegurança e de que ninguém mais além deles entende o que o professor está dizendo, e que ninguém vai poder ajudar eles dali por diante. E quando passado o estado emocional (se prestaram atenção), algo neles vai estar diferente.

Estamos em processo evolutivo eu acho... espero que nós notemos a importância dos rituais de passagem, que façamos algo para substitui-los, pois não são algo primitivo e tribal, pura e simplesmente. Algo dentro de nós necessita desse tipo de coisa, e sem ele, ficamos perdidos, sem muita noção de onde estamos e para onde vamos.
 
*suspiro* é isso aí. as pessoas estão deixando de levar a sério o que está à volta delas. pelo menos é o que eu sinto, qdo paro para analisar a situação na minha própria faculdade, pessoas que teoricamente tiveram as mesmas oportunidade que eu (ou até melhores) e no entanto não souberam aproveitar a maioria delas, simplesmente porque ainda não amadureceram o suficiente para entender que fazer esforço não é uma vergonha ou perda de tempo, é parte do processo.

pouco importa se vc vai se formar em engenharia civil sem saber o que é uma viga, um pilar ou algo do gênero. o importante é vc sair da faculdade com o canudo; frases feitas do tipo "teoria não serve pra nada" ou "é no estágio que vc aprende de verdade" vão pelo mesmo caminho simplista e imaturo de se ver a vida e a profissão.

às vezes fico com a sensação de que a geração dos meus pais era mais madura qdo tinha a mesma idade do que a minha; tvz pelo contexto político da época, que obrigava vc de certa forma a tomar uma posição, e isso era arriscado e não podia ser feito levianamente, te obrigando a "crescer".

não sei, tb pode ser só impressão minha - a grama do vizinho é sempre mais verde. mas o fato é que eu mesma ainda sou mto dependente dos meus pais, embora lute contra isso no sentido de tentar resolver meus problemas sozinha sempre que é possível.

até que ponto isso está ligado à evolução dos padrôes da sociedade, eu não posso dizer. tvz seja até bom que a passagem da infância para a fase adulta não seja mais tão "traumática" qto antes, na época dos ritos tribais etc. mas acho realmente que estamos demorando mto mais para amadurecer, o que cria problemas do tipo dos citados...
 

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