Eu discordo. Não tenho preconceitos quanto a histórias simples, até gosto muito de histórias onde não se filosofa muito, só se concentra em um aspecto interessante da narrativa. Se eu só soubesse apreciar histórias cabeça seria um nerd intelectualóide gordo e frustrado que vive na internet dizendo que tudo é ruim e se achando o dono absoluto da verdade.
Não. Eu tenho amigos, tenho namorada, tenho uma vida social. Não sou um intelctualóide. E sobretudo sei apreciar o valor de uma história simples mas bem-contada. Acontece que eu pelo menos acredito que conheço um pouco de quadrinhos, afinal leio desde que me entendo por gente e estudei o tema durante três anos. Acho que sei analisar o que é ou não ruim. E, meu amigo, DK2 é ruim demais.
Sobre o argumento, posso dizer que ocorreu mais ou menos um "fenômeno Spawn de narrativa". Parece que Miller foi escrevendo à medida que ia desenhando (se é que pode se chamar aquilo de desenhar, mas depois eu falo disso). Não vi sequer rastro de planejamento ali. A trama é cheia de furos, confusa, não leva a lugar nenhum. A não ser que o terceiro número tenha duzentas páginas, eu não sei como Miller vai amarrar todas as pontas soltas.
Esse é um erro que não se pode cometer. Não querer deixar de lado nenhuma idéia, não abrir mão de nada. Tudo acontece tão instantaneamente e tão superfluamente que a trama acaba perdendo o interesse, tornando-se maçante. Nunca pensei que ia dizer isso, mas até prefiro Spawn. Pelo menos ali algum suspense é criado, alguma conclusão é apresentada. Em DK2 não há margem para a sensação de causa/conseqüência, pois antes de algo ser explicado, outra coisa já aconteceu.
Nenhum personagem é desenvolvido, eles vão simplesmente sendo jogados ao leitor que, se não tiver um certo conhecimento do Universo DC é obrigado simplesmente a engolir uma narrativa em off explicando quem é aquele cara e porque ele faz as coisas que faz. Aí eu pergunto se realmente, de acordo com a personalidade de cada um dos personagens utilizado na história, aquilo tudo ia acontecer.
Ia? Não. Muito ali foi extremamente forçado para conseguir o efeito necessário. A personalidade de muito personagem foi distorcida à exaustão, para que suas atitudes fossem cabíveis na história. Para tal, se deu a justificativa de "onde esse cara esteve nos últimos 20 anos", onde qualquer coisa poderia ter acontecido. Nada contra isso, caso não tivesse ficado forçado, mas ficou.
Veja bem, Miller até teve boas idéias. O problema dele foi querer usar todas na mesma história sem amarrá-las de maneira satisfatória. Tudo parece uma justificativa para (tentar) quebrar paradigmas, tudo parece feito exclusivamente para as coisas acontecerem de modo diferente do normal. Parece que há a necessidade de justificar a cada página que aquela é uma história diferente, que Miller ousou, que ele inovou. Parece que ele não confia nos leitores.
Quis acreditar que ele deu boas justificativas para o estado do mundo em DK1, mas não deu. Se me disserem que ele planejou a chantagem de Luthor desde aquela época eu posso até acreditar, mas se disserem que ele desenvolveu a idéia durante esses anos, vão estar mentindo. Mesmo porque, o mundo ali parece ter mudado tanto em três anos, que fica parecendo que todo esse esquema Luthor/Brainiac acabou de acontecer. Aliás, todo mundo entendeu que Miller quis justificar através desses fatos as atitudes do Super-Homem em DK1? Eu entendi, mas não engoli.
Aliás, se o presidente é uma imagem gerada por computador, como é que o Super-Homem conversa com ele pessoalmente em DK1? Não me venham com história de robô ou algo parecido. O Super tem visão de raio-x, lembram? Mas essa pergunta é precedida por outra: se era Luthor que controlava o Super-Homem, através de chantagem, esse tempo todo, porque se dar ao trabalho de fazê-lo acreditar que estava falando com o Presidente, ou mesmo que o Presidente existia?
E se, na época, o Super-Homem não sabia que era Luthor por trás de tudo, porque ele concordaria em dar um fim aos atos do Batman? É esse tipo de incoerência que faz o Super-Homem de DK1 ser diferente do de DK2, assim como o próprio Batman, assim como a maioria dos outros personagens. Miller distorce tanto os personagens como o mundo, para que tudo funcione como ele quer, e nunca dá boas explicações para tal.
E, me desculpe, mas "Crianças, vistam os seus colantes" foi o fim da picada. Ridículo.
Agora acho que já dá pra falar da "arte", o que é também um grande motivo pelo qual DK2 é tão frustrante. Pra começar, Miller não puxou uma linha, não planejou uma sequência, não fez um traço a lápis. Tudo que ele fez foi molhar o pincel no nanquim e sair desenhando, sem critério, sem padrão, sem noção.
Esqueceu dos cenários, esqueceu da anatomia, esqueceu da narrativa. Tudo é tão estranho e grotesco, que às vezes é difícil de entender o que está acontecendo, só fica claro pelo texto. A falta de cenário é uma das maiores falhas. Demonstra preguiça e desleixo. As figuras humanas estão ridículas, não há coerência nas distorções de anatomia, não há variação de poses, chega a ser constrangedor...
E a colorização... putz... a Linn acabou de descobrir o Photoshop e já quer utilizar todas as ferramentas do programa... ridículo, ridículo... aqueles pixels foram a gota, mais constrangedor que as falhas de anatomia... não há bom senso nem na composição, certas cores simplesmente ficaram feias, e ficariam mesmo que ela não houvesse usado os efeitos de computador. A colorização é o pior da série, sem dúvida, e isso porque o resto já é muito ruim.
Agora chega. Já falei demais.