Spartaco
Anton Bruckner - 200 anos do nascimento
Spartaco, discorra um pouco sobre Memórias do Subsolo. Este seria o livro mais "psicológico" do Dostoiévski?
Ligéia, atendendo seu pedido, mencionaria o seguinte:
Memórias do Subsolo, também traduzido como Memórias ou Notas do Subterrâneo, foi escrito em 1864; trata-se de uma novela que é considerada como uma das primeiras obras existencialistas na literatura. Apresenta-se como um trecho das memórias de um empregado civil aposentado que vive na cidade de São Petersburgo.
Como a maioria das obras de Dostoiévski foi em sua época bastante impopular; no entanto, críticos existencialistas, entre os quais Jean Paul Sartre, consideraram o romance como um precursor do pensamento existencialista e uma inspiração para a sua filosofia.
Ademais, novamente socorrendo-me do tópico supra citado, criado pelo Paganus, gostaria de acrescentar que a obra em questão é um dos livros mais angustiantes da literatura.
O narrador se descreve nessas palavras: Eu sou um homem doente... Sou um homem malvado. Sou um homem desagradável. Creio que tenho uma doença do fígado. Aliás, não compreendo absolutamente nada da minha moléstia e não sei exatamente onde está o mal. Esse homem narra sua vida, sua filosofia, em meio a encontros com pessoas aleatórias, amigas, e caminhadas solitárias. Creio que talvez seja o mais filosófico dos livros de Dostoiévski, que tem aqui como protagonista mais um tipo comum da sociedade moderna que uma pessoa em especial, é o homem do ressentimento, o homem que não só é cheio de defeitos morais como procura uma desculpa para todos eles, é um homem que guarda rancor, que exala veneno a cada palavra, e, pior, um homem que sabe disso, sofre por isso, mas não quer se libertar do seu ódio, antes o abraça como amante. Em seu trato com as pessoas ele se revela incapaz de perdoar e ajudar, é um espírito vingativo e pequeno, cheio de pequenos ódios e se imaginando insultado a cada pequeno gesto. É um verme digno de pena, uma criatura sem esperança e remendo, alguém de odiosa companhia.
No fundo essa obra é uma análise psicológica do homem moderno. Mesquinho, egoísta, autodestrutivo, vingativo, é praticamente a descrição do ultimo homem de Nietzsche, o verme moral, a criatura inserida na sociedade que vive se arrastando em um poço de maledicência, orgulho, temor de viver, incapacidade de perdoar.
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