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[Desafio] Sestina

Gigio

Usuário
Outro dia travei conhecimento com essa forma muito curiosa de poesia chamada sestina, que consiste em 6 estrofes de 6 versos e uma estrofe final de 3 versos, em que seis palavras-chave se repetem numa estrutura determinada. Segundo o Wikipedia, o gênero foi criado pelo trovador Arnaut Daniel, no século XII.

Bem, é mais fácil entender com um exemplo, e como não conheço nenhum em português, traduzi um do Neil Gaiman, "Vampire Sestina". A finalidade da tradução era mais prover uma amostra, então não reparem na métrica toda descuidada, etc.

As palavras-chave da "Sestina do Vampiro" são: (A) sonho; (B) noite; © amor; (D) lápide; (E) mundo; e (F) sangue.

Reparem que essa é a ordem das palavras finais da primeira estrofe. A partir daí, elas devem ser deslocadas seguindo uma estrutura certa, a saber:

1ª estrofe: ABCDEF
2ª estrofe: FAEBDC
3ª estrofe: CFDABE
4ª estrofe: ECBFAD
5ª estrofe: DEACFB
6ª estrofe: BDFECA

A última estrofe geralmente tem A e B no primeiro verso, C e D no segundo, e E e F no terceiro, mas nesse ponto já não há tanto rigor.

Observem o exemplo que tudo ficará mais claro:

Sestina do Vampiro

Aqui aguardo nas fronteiras do sonho,
envolto em sombras. O ar negro sabe a noite,
frio e frágil, e aguardo pelo meu amor.
A lua tornou pálidas as cores de sua lápide.
Ela virá, e predaremos este belo mundo
vivos para as trevas e o sabor do sangue.

É um jogo solitário, a busca por sangue,
ainda assim, o corpo tem direito ao sonho
e não o abandonaria por tudo no mundo.
A lua sugou todas as trevas da noite.
Permaneço nas sombras, fixo em sua lápide:
Morta-viva, minha amada... Oh, morto-vivo amor?

Sonhei-a hoje enquanto dormia e o amor
era mais que a vida - ou mais que o sangue.
Raios de sol buscaram-me, sob minha lápide,
morto como um cadáver mas ainda em sonho
até que despertasse como vapor pela noite
e o pôr-do-sol me forçasse a este mundo.

Por muitos séculos tenho vagado pelo mundo
distribuindo algo que se assemelha ao amor -
um beijo roubado, e então de volta à noite
satisfeito pela vida e pelo sangue.
E vindo a manhã já não era mais que um sonho,
um corpo frio congelando sob a lápide.

Eu disse que não te feriria. Sou eu lápide
para deixar-te presa do tempo e do mundo?
Eu te ofereci a verdade além de todo sonho
enquanto tudo que oferecias era o teu amor.
Eu disse que não te preocupasses e que o sangue
tem sabor mais doce na asa e tarde na noite.

Às vezes meus amantes se levantam na noite...
Às vezes permanecem, corpo frio sob a lápide,
e nunca conhecem a alegria da seda e do sangue,
de andar através das sombras deste mundo;
ao invés disso apodrecem aos vermes. Oh meu amor
eles suspiraram que te levantaras, em meu sonho.

Aguardei junto a tua lápide por metade da noite
mas não deixarás teu sonho para caçar por sangue.
Boa noite, meu amor. Eu te ofereci o mundo.

Legal, não? :sim: Não escrevo poesia desde lá pela 7ª série, mas logo se vê que é uma estrutura bem complicada de se alcançar. Acho que o Gaiman sugeriu um bom caminho, utilizar um conjunto de palavras que seja muito característico ao universo do poema...

Então, o que faço não é tanto um desafio, mas uma proposta: alguém aqui gostaria de arriscar uma sestina??

Poesia original do Gaiman
http://beatzo.livejournal.com/7507.html?nc=6

Referências
- Damon MacLaughin (em inglês)
http://www.uni.edu/~gotera/CraftOfPoetry/sestina.html
- Wikipedia (em inglês)
http://en.wikipedia.org/wiki/Sestina

Lelolelélêlegal disse:
Cara, que post legal
Infelizmente, não me arrisco a fazer poesias (é muito difícil), faço apenas uns arremedos de parlendas (que são um tipo de rima popular, não muito presa a regras ou fórmulas, e que busca mais a sonoridade)
Mas aqui tem muita gente que manda bem em poesia, já, já, aparece alguém arrasando com uma sestina
:tchauzim:

ricardo campos disse:
Realmente é muito difícil,não me arrisco nessa seara,sou mais versos livres,admiro quem consegue escrever assim seguindo regras tão rígidas. :sim:
 
Uma pergunta: a ordem das rimas tem de ser necessariamente igual a que você postou? (ABCDEF FAEB...)
 
Lu Eire disse:
Uma pergunta: a ordem das rimas tem de ser necessariamente igual a que você postou? (ABCDEF FAEB...)

Até onde eu saiba, Lu, sim, a sestina deve ter exatamente essa estrutura. Não é fácil mesmo... :dente:
 
Parece bem legal, mas você vai fixar algumas palavras chave para uniformizar o desafio para todos ou a gente escolhe quaisquer 6 palavras?
 
Ah, fique à vontade quanto à escolha das palavras, Gonzo! Acho que já são bastante as outras restrições... Esse "Desafio" ficou por aqui uns três meses antes do cataclismo e ninguém se arriscou...
 
Engraçado, a ordem das rimas não parece seguir nenhuma ordem lógica!
Mas acho que vou me divertir tentando escrever algo com essa estrutura, assim que der eu posto!
 
Bem lá vai minha tentativa de uma Sestina, haha.

Abraços,
Gonzo

Eu sou o amor

Pouco se espera, meses, até o breve nascer
e longa ou curta não importa, feita a escolha, é viver
Do caminho se perde ou se chega, a certeza é sofrer
Nada importa ou dói se ao final o que se ouve é perdão
e daquela maravilhosa sensação que é o amor
o próximo passo, cinza, é na direção do morrer

Se cinza é a cor, daltônicos ou não, vamos todos morrer
Não precisa ser belo, precisa contanto ser envolto em amor
Se é simples não sei e peço perdão
Cansado de ouvir e ensinado a sofrer
me acostumei ao exílio em que fui obrigado a viver
no silêncio solitário imposto alguns anos depois de nascer

A todos chega o momento em que basta de sofrer
se dali em diante só resta morrer
melhor esquecer e decididamente abrir mão do perdão
Não vale se dar ao trabalho, doloroso se diga, de nascer
para num canto sozinho continuar a viver
dependendo de uma só palavra para alcançar o amor

Lhes digo em alto e bom som, eu sou o amor
e, como todos, me acostumei a sofrer
Vejo muitos, embriagados, no que chamam de viver
e segurei a mão de poucos em seus momentos solitários no ato de morrer
Segurei um par, segurei dois, não segurei nenhum ao ver vocês todos nascer
e não esperei nada, nem ninguém para estar lá, muito menos o som do perdão

Então abram mão do som deste dito perdão
Eu sou o que sou desde a primeira luz, sou livre do som, sou puro amor
Do silêncio da vida ao grito do nascer
estamos todos gritando sufocados de tanto sofrer
Não seria diferente agora com a luz se pondo a morrer
que chegaria a hora de esquecer o amor ou, quem sabe, se perdoar por viver

Grito pois quero viver
Choro pois almejo o perdão
Choro pois estou a morrer
Choro pois estou cheio de amor
Grito pois dói sofrer
E todos, sem intenção, pedem perdão, no choro da morte, da vida, ao nascer...

Que fique claro, não há viver sem nascer
amor sem perdão e nenhum sem sofrer
e no choro da vida a esperança é morrer
 
Lu Eire disse:
Engraçado, a ordem das rimas não parece seguir nenhuma ordem lógica!

É uma ordem meio exótica, mas acho que faz algum sentido sim, Lu. Dá para perceber que as palavras-chave seguem sempre o mesmo trajeto. Por exemplo, "sonho" está no primeiro verso da primeira estrofe, depois passa para o segundo verso, depois para o quarto, quinto, terceiro e sexto. Então ela segue por: 124536. Esse trajeto é sempre o mesmo, apenas variando conforme a posição inicial da palavra-chave. Assim, "noite", que começa no segundo verso, segue 245361.

Bem, o mais óbvio seria que fosse 123456, mas entendo que esse pequeno "deslocamento do 3", chamado cruzamento retrógrado, serve para que a sestina provoque uma impressão própria, como a de algo com certa circularidade misteriosa...
 
Gonzo disse:
Bem lá vai minha tentativa de uma Sestina, haha.

Muito bom, Gonzo! Sendo logicamente chato, não ficou exatamente nos moldes da sestina, mas tem o mesmo espírito, com certeza. Muito legal, valeu! :cerva:
 
A ordem das rimas é bem exótica mesmo. Faz tem que não escrevo poesia, então tá difícil fazer alguma coisa legal, mas não desisti não!

Eu posso ainda postar, mesmo depois do Gonzo?

Ah, e Gonzo, por falar em sua sistina, muito legal :D Mas você não pretendia seguir com a ordem das rimas que o Gigio apresentou?
 
Haha pra ser bem sincero eu achava que tinha seguido agora que fui ver que ficou fora de ordem, eu confundi a minha ordem inicial! :rofl: Aconselho fazerem primeiro no papel pra não embolar feito eu. Ah.. Fica como poesia irmã da sestina ^^, a "cestinha" :happyt:!

Abraço
 
Lu Eire disse:
A ordem das rimas é bem exótica mesmo. Faz tem que não escrevo poesia, então tá difícil fazer alguma coisa legal, mas não desisti não!

Eu posso ainda postar, mesmo depois do Gonzo?

Claro, Lu!! Manda aí, quanto mais respostas melhor!

Gonzo disse:
Fica como poesia irmã da sestina ^^, a "cestinha" :happyt:!

:rofl:
 
(cof, cof)

Nuh, que bacana! Desconhecia isso. Se a escolha de palavras for bem feita, dá pra fazer uma coisas interessantes, hein? Um dia me aventuro nessa. O Mavericco que deve curtir essas coisas. :sim:
 
De antes do rapto de Prosérpina (uma alusão à Claudiano)

A roça e o lilás sabem, pois terrível
é pouco e infando é muito; mas dor
e hórridos detalhes se ressoe,
de quando o véu escuro não descia,
que não e sim à lavoura dá, se o corte
se dá no meio ou é de seu permeio.

Demetra do rebento a nós permeio
fazia, pois que o Fado era terrível,
pois se sabe, se sente. Invisa ao corte
familial queria, inda que dor
Amor à tudo cria, quando descia
de carcás deleitoso: soe e ressoe.

Márcio, Febo, do Coxo se ressoe
a tocaia, e mais Hermes, de permeio
plaino corredor. Álacre descia
a Aurora; as vozes, ais mais que terríveis,
mais a Infâmia descia (ao aqueu é dor);
a turma, porém, julgo quer e corte.

Do Olimpo quase seu, descai tal corte
Vulcano, ansioso -- e ao Luso se ressoe --
e indo à quem pranto verte, Febo à dor
lhe instiga ao egresso: "Caro, de permeio
te encontras, e eu sei bem: é terrível
o caseiro Cupido que descia.

Sus à ti, sus à mim! Se nos descia
o ânimo, ao ritual façamos corte:
Prosérpina é moça; mas terrível.
Mimos lhe concitemos; que ressoe
a seu júri o triunfo e não permeio".
Céleres sobem, fastos mesmo à dor.

Mercúrio estoque bem cativo à dor;
Apolo coroa; Coxo, que descia,
lavra ênia demonstra; e enfim permeio
co'o bastão Hermes, gosto à lavra corte.
Nada na dama prure; e em si ressoe
um quê de não sei, um quê de terrível...

"Se recuso terrível, é que dor
me punge... Que ressoe o que descia:
meu Fado é o corte: eu sou em permeio!"
 

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