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Como Funciona a Ficção (James Wood)

Diego-

Usuário
Apontado por intelectuais como Harold Bloom e Susan Sontag como um dos melhores críticos de sua geração, o inglês James Wood é publicado pela primeira vez no Brasil pela Cosac Naify. Notabilizado por seus ensaios na revista The New Yorker e professor de crítica literária na Universidade de Harvard, Wood aborda, numa prosa inteligente e aguçada, os mecanismos, procedimentos e efeitos da construção narrativa. A representação do real na literatura é o eixo central da análise de Wood, que questiona os limites entre artifício e verossimilhança na ficção. Em dez capítulos, elementos fundamentais do texto ficcional são discutidos pelo autor: o personagem, o foco narrativo, o estilo. A partir de vasto e diversificado repertório literário – de Henry James a Flaubert, de Tchekhov e Nabokov a Beatrix Potter e John le Carré –, este livro “perspicaz e cheio de achados”, nas palavras de Milton Hatoum, traz análises reveladoras e acessíveis mesmo àqueles que desconhecem os rudimentos da crítica literária. Referência fundamental para escritores em formação, professores de literatura, e todos que se interessem pelo mundo das letras

Vi o Xerxenesky falar sobre a obra no twitter e acabei me interessando, foi lançada agora aqui no Brasil pela Cosac, com tradução da Denise Bottmann.
Tem um projeto gráfico muito bacana, um preço até não tão salgado e uma tradução que dispensa apresentações. Tudo seria só amor se não fosse por um detalhe: Quando o autor usa trechos de outras obras para melhor explicar suas observações a Cosac optou por usar traduções antigas, que por diversas vezes perdem o sentido qual o autor faz referência. Bem, não vou me prolongar muito nessa questão porque a Denise já fez o serviço de falar detalhadamente sobre o ocorrido em um blog que ela mesma criou: Como Engripa a Ficção

Caso alguém já tenha lido a obra no original, sinta-se a vontade para expor suas opiniões por aqui. (:

Link do livro na Saraiva

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Não havia visto até antes de abrir o tópico, a Cosac respondeu as observações feitas pela Denise: Cosac responde.
Antes havia ficado um pouco preocupado e até cheguei a comprar a opinião da Denise, agora fiquei em cima do muro.
 
Consigo ver razão nos dois lados.

De fato, utilizar traduções pré-existentes permite que o livro do James Wood possa "conversar" com os livros a que faz referência. Por exemplo, quem tiver, além do livro do Wood, a edição da Penguin de Pelos Olhos de Maisie, pode querer conferir os trechos citados em um contexto mais amplo.

Agora, é inegável que as sugestões de traduções da Denise guardam muito mais pertinência, pelo que pude ver, com a discussão de estilos no livro de Wood. Essa impressão é ainda mais acentuada com a resposta, sem muito sentido, da Cosac. É evidente que, nos trechos citados de Pelos Olhos de Maisie, a voz da pequena Maisie está bem mais fraca na tradução, digamos, "oficial; e, como isso parece ser o ponto destacado pelo James Wood, há um descompasso, sem sombra de dúvida.

Na verdade, o que me chamou mais atenção nos post da Denise, não foi nem essa polêmica com a Cosac, mas o trecho traduzido de To The Lighthouse. Fiquei curioso por saber quem foi o tradutor que mutilou assim o texto da Virginia Woolf, para que eu possa passar o mais longe possível.
 
sei ñ, sou do tipo q nunca vai considerar q alguém está 100% certo ou 100% errado. ou seja, a denise, apesar de ótima tradutora, tb pode errar, seja pelo excesso de zelo seja pela sua visão subjetiva das soluções.
 
bom dia.

I.
"consigo ver razão nos dois lados": exatamente.
e a pergunta que se coloca é: tataran, aqui tomado genericamente como "o leitor", ao ver razão nos dois lados, consegue ver até onde vão minhas razões e onde começam as razões do editor?

e como diz tataran, "Fiquei curioso por saber quem foi o tradutor que mutilou assim o texto da Virginia Woolf".

agora pergunto eu. se minha posição não tivesse vindo a público:

1. o leitor, aqui exemplificado em tataran, saberia que aquele trecho estava mutilado?
2. se ele soubesse de alguma maneira (por ter o original em casa ou por qualquer outra via) que o trecho foi mutilado, a quem ele atribuiria a responsabilidade pela mutilação que aparece em como funciona a ficção? à pessoa apresentada na página de rosto como responsável pela tradução ou a quem?
3. ao ver uma pequena nota do editor, lá na p. 213, anunciando que nas citações foram utilizadas outras traduções (aliás, sem fornecer qualquer razão para isso), o leitor conseguiria dissociar até que ponto vai a responsabilidade profissional do tradutor que assina o livro e a responsabilidade profissional do editor que publica o livro?

não se trata de avaliar se, por exemplo, "Roma tá construída" ou "Roma tá feita" ou qualquer outra variante é mais bonita ou mais feia, se faz lembrar trinidad ou não. trata-se de ver que a solução adotada - "mas teve que se fazer" – opera no plano da linguagem culta, que é o exato oposto do que wood está tentando mostrar no exemplo do inglês estropiado do personagem.

em suma, não é uma questão “minha tradução” diante de “outras traduções”, e sim da “edição” perante a “tradução”.

II.
quanto às responsabilidades envolvidas nesses dois papéis muito diferentes entre si, é muito simples de entender, se compararmos a outras atividades profissionais: se um engenheiro faz uma planta com suas especificações, e se a construtora ergue o edifício adotando outras especificações desconsiderando as advertências do engenheiro – por qualquer razão que seja: reduzir custos, aproveitar outras plantas, etc. –, é evidente que a responsabilidade por essa decisão é da construtora, não do engenheiro, e eventuais defeitos no edifício resultante não poderão ser tributados à responsabilidade do engenheiro. se um advogado emite um parecer profissional com determinadas instruções jurídicas a seu cliente, avisando que outras alternativas acarretariam tal ou qual problema, e mesmo assim seu cliente prefere não as seguir, a quem será tributada a responsabilidade pelo desfecho do caso? se um médico prescreve uma receita e a farmácia fornece outra, de quem é a responsabilidade por um agravamento da doença? e assim sucessivamente.

talvez o paciente não se importe, talvez a terceira parte não se importe, talvez os moradores do edifício não se importem, talvez os leitores brasileiros de wood não se importem: mas o médico se importará, o advogado se importará, o engenheiro se importará e o tradutor também se importará.

não espero que os leitores de modo geral tenham familiaridade com o mundo editorial profissional, mas espero que entendam que não é um oceano de subjetividades: é um mundo regido por normas e responsabilidades muito objetivas, com minuciosos contratos firmados entre as partes que devem ser cumpridos por ambos os lados.


III.
a matéria de daniel piza no caderno sabático do estadão menciona também como foi penoso para mim, como profissional, tomar essa difícil decisão.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110312/not_imp690822,0.php

resta ver o que significa a posição da editora cosac naify no final de seus argumentos no prosa online:
"o mais importante para nós [...] é que o leitor encontre em 'Como funciona a ficção' tudo aquilo que tem para nos dizer o autor, James Wood."
 
Denise, não posso fingir que conheço as regras vigentes no universo da edição de livros traduzidos, porque a verdade é que desconheço por completo. Não obstante, sou o primeiro a defender o seu direito de expressar a discordância com os rumos tomados com uma edição em que seu nome figura como tradutora. Imagino, ainda, que isso possa trazer consequências para sua vida profissional, razão pela qual a decisão de expressar abertamente sua insatisfação não deve ter sido fácil.

Em resumo, sem entrar nos critérios de tradução em si, levar a questão a público foi uma atitude corajosa e reveladora de um caráter independente.
 
O leitor de ficção pode pouco saber sobre a sua estrutura, que pontos técnicos um texto contém que fazem dele uma boa história, mas sabe reconhecer quando vê esse bom livro na sua frente. Quando é belamente escrito e traz uma história cativante, o leitor se sente preso ao livro, vive os momentos narrados, confronta novos dilemas e simpatiza, ou não, com personagens. Por trás dessa imersão total à ficção, há detalhes estilísticos, técnicas de escrita que, por mais que se diferem entre um autor e outro, são uma convenção da literatura. É sobre isso que o crítico inglês James Wood fala no livro Como Funciona a Ficção, lançado no Brasil pela Cosac Naify com tradução de Denise Bottmann, um “guia” com os principais pontos de uma ficção de qualidade. Falando de personagens, foco narrativo, verossimilhança e linguagem, Wood traz um livro de extremo interesse para escritores, críticos e, claro, leitores.

Em verbetes em que detalha cada aspecto importante da ficção, Wood apresenta de forma clara a técnica por trás da escrita. Ele utiliza trechos de romancistas reconhecidos, como Vladimir Nabokov, Henry James e Virginia Woolf, para ilustrar como funciona a narração indireta livre, como o detalhe pode ser o diferencial em uma narrativa, como a ficção causa empatia ao leitor. Ele cria seus próprios exemplos ou altera as citações para provar que, diferentemente escritas, mudam a percepção do romance e perdem seu brilho. Por ser escrito nesse formato de verbetes numerados, Como Funciona a Ficção é um livro para ser constantemente consultado.

CONTINUE A LER ESSE ARTIGO NO BLOG MEIA PALAVRA
 
Aqui, uma entrevista com James Woods:
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/03/12/james-wood-literatura-vida-na-pagina-368221.asp

A crítica de Flora Sussekind (Globo) contra o livro:
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/03/12/flora-sussekind-resenha-como-funciona-ficcao-de-james-wood-368230.asp

E a ponderação de Braulio Tavares a respeito do livro e da crítica:
http://mundofantasmo.blogspot.com/2011/03/2513-como-funciona-ficcao-2532011.html

*

Para mim, particularmente, foi bom pra "organizar" uma série de questões que andavam poluindo minha cabeça a respeito da escrita. Mas não levaria suas ideias a "ferro-e-fogo", como aliás com qualquer "livro" do estilo.
 
Zzeugma disse:
Para mim, particularmente, foi bom pra "organizar" uma série de questões que andavam poluindo minha cabeça a respeito da escrita. Mas não levaria suas ideias a "ferro-e-fogo", como aliás com qualquer "livro" do estilo.

Eu tenho esse livro aqui em algum lugar, li quando foi lançado. Eu gosto bastante do James Wood, no sentido de que é legal discordar dele. Podem comprar qualquer coisa com o nome dele na capa que é bom, mesmo que errado ;)
 
(Por Vinicius Jatobá - faço minhas suas palavras)

"“Como funciona a ficção”, de James Wood

Mais chiste que sistema, mais descrição prática que empulhação teórica, James Wood lê o cânone realista de forma tão consistente em Como funciona a ficção, estabelece um solo-comum tão coerente e convincente, que o leitor desavidado pode confundir seu ensaio irregular com um tratado. O livro de Wood, no entanto, é um achado: após estabelecer um arco demasiado ambicioso – com críticas rarefeitas à Barthes –, as limitações de Wood o colocam em um trajeto pedestre que torna seu livro incontornável.

Ele não responde as questões que propõem sobre a relação entre literatura e realidade; nem sequer ilumina como, afinal, funciona a ficção. O que ele oferece, contudo, e pela forma fragmentária com que escreve: dezenas de achados que são um antidoto à maneira como livros são lidos hoje em dia pela crítica literária profissional: Wood se resolve dentro do próprio texto, pinçando detalhes textuais, descrevendo, maravilhado, pequenas soluções que os escritores que admira – principalmente, Flaubert, James e Bellow – encontram para tornar a realidade sobre o qual se debruçaram mais imagináveis aos leitores.

Wood também se revela um crítico cuja escolha – o cânone realista – torna-o cego para certos autores mais contemporâneos – e até a sensibilidade contemporânea. Wood reza pelo senso de detalhe em um mundo cuja prosa tornou-se rarefeita; por personagens fortes num contexto de personalidades enfraquecidas; pelo gosto da região em um momento que as estórias dos livros sequer trazem descrições dos lugares onde ocorrem.

Pior: advoga narradores deicidas e autoritários, que manipulam os sentimentos das personagens (e dos leitores), em um mundo juvenil que briga ingenuamente contra qualquer autoridade. Some-se à isso seu fascínio pela prosa simples, em um contexto que inflaciona de dificuldade qualquer coisa, e valoriza e super-estima essa inflação, e temos um crítico tão anacrônico que chega ao caricato.

Contudo, seu livro é incontornável: como uma carta jogada ao mar décadas no passado que retorna à costa, é uma declaração de amor a uma forma de ler a literatura cujo tempo já passou. Ela valoriza aspectos caros aos próprios escritores, sem nunca negligenciar certo distanciamento necessário para tornar a leitura e análise mais exata e particular do texto literário.
 
Com muita empolgação e um pouco de barulho, o livro do crítico inglês James Wood, Como funciona a ficção, se acomodou bem nas estantes das livrarias brasileiras. Crítico titular da muito prestigiada revista The New Yorker, Wood se firmou como uma importante referência. Na edição brasileira, a orelha e a quarta capa do livro dão a medida do entusiasmo: Milton Hatoun, Martin Amis e Gonçalo M. Tavares exaltam o autor e seu livro.

A despeito da polêmica relativa à sua tradução, a recepção da obra foi muito boa. O exemplo máximo de reverência talvez seja o da revista Língua portuguesa (n. 67, maio de 2011), que traz em página dupla um pequeno texto elogioso e escusa-se de resenhar ou criticar o livro, limitando-se a publicar excertos para que o leitor possa ter uma ideia do que seja “um texto chamado James Wood”. A única voz dissonante foi a de Flora Süssekind, cuja resenha publicada no jornal O Globo (12/mar./2011) ataca o pragmatismo crítico e o potencial limitado da obra.

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