Melian
Período composto por insubordinação.
Eu poderia dizer muitas coisas sobre a excelente (com exceção de As Brumas de Avalon, porque eu não gosto, mesmo, da Zimmer, mas esse não é um assunto para este post) lista da Pim, mas o principal é o seguinte: achei muito feliz a escolha de "Macunaíma" (obra magnífica sobre a qual já falei em outros tópicos) e fiquei ainda mais feliz com a escolha de "O Encontro Marcado", que é ma-ra-vi-lho-so. E isso não é o meu lado mineiro falando, é o meu lado de leitora que sabe apreciar boas obras literárias.
Pim disse:Bom, pra fugir do clichê tentarei ser o mais contemporânea possível nas minhas escolhas. Tenham em mente que estas não são minhas cinco obras favoritas, mas algumas das que me tocaram de alguma forma, em alguma época da minha vida.
Eis:
Fernando Sabino - O Encontro Marcado
O Encontro Marcado, pra quem não conhece, é a grande obra do escritor mineiro Fernando Sabino. Ela conta a história de Eduardo Marciano (desde sua infância até sua maturidade etária), um aspirante a literário, escritor de livro nenhum. O bacana do livro é que acompanhamos a história de Eduardo desde que este era uma criancinha, e arranhava o rosto para assustar a mãe e conseguir tudo o que queria. Ficamos tão íntimos dele que conseguimos entender com perfeição sua maneira de pensar, prever suas escolhas, entretanto não suas conseqüências – bem como acontece na vida. Vivemos a vida do Eduardo, seus amores e dissabores, e identificamo-nos com seus erros humanos, hora guiado pela razão, hora pela emoção, ambos em momentos extremados.
O livro é um supletivo existencialista, tão fidedigno quanto pode ser uma obra abertamente ‘quase autobiográfica’. Eduardo sempre almejou ser escritor, como eventualmente eu quero ser, e passou sua vida com esse desejo latente, que não saiu do mundo das idéias de Platão, como possivelmente será comigo. Minha identificação com o personagem foi forte!
Hermann Hesse - O Lobo da Estepe
Este romance do Hesse conta a história do Harry Haller, que é um tiozão literato, misantropo, viciado em tabaco e álcool, sem residência fixa e que tem uma relação de ambitimia (sentimentos duplos e contraditórios, tipo amor e ódio, que é o caso) com a burguesia. Ele despreza o modo de viver burguês, mas não consegue existir sem estar imerso nele. Harry passa seus dias trancafiado no quarto a ler grandes obras e desenganar-se com a desesperança diante do mundo.
Quando vai aos lugares ditos de grandes prazeres, não consegue ter gosto por mais de cinco minutos e logo volta à casa – que não é dele, e sempre burguesa – não sem antes parar num bar e beber e fumar. Foi numa dessas idas e vindas que ele encontrou um opúsculo chamado Tratado do Lobo da Estepe. Somente para os raros, que faz o gancho com toda a história. O começo do livro é altamente denso, cheio de idéias e pensamentos inovadores, grudentos e indigestos que não deixam você prosseguir sem digeri-los, seja para absorver, seja para eliminar nas fezes.
Eu tenho uma parte MUITO Harry, e ele me assombrou por um período. Ao mesmo tempo em que o admirava, meu maior pesadelo era ser como ele no futuro. Superei isso, como Harry o faz ao longo da narrativa. Agradeço às minhas Hermínias (referência que só quem leu entenderá) masculinas, sendo duas ‘delas’ desse fórum.
Mário de Andrade – Macunaíma
Todos os meus TOP 5 literários terão invariavelmente Macunaíma. Este é o livro representativo do povo brasileiro!, que contém explicações mitológicas (como a da variedade de cores dos brasileiros, através do trecho em que Macunaíma e seus irmãos se lavam numa poça mágica embranquecedora) e muito do nosso folclore (Curupira, Muiraquitã, entre MUITOS OUTROS). O livro conta a história de um curumim, que não falava por pura preguiça, e seus irmãos que eram um adulto e o outro um velho. Só desse começo já dá pra gente imaginar o que vem pela frente... E não estragarei a delícia de lê-lo sem spoilers (apesar de todo mundo, imagino, já tê-lo lido haha).
Este foi a obra ‘obrigatória’ que li com mais prazer na época do colégio, tão rápido quanto o romance foi escrito. Vida longa ao Mário de Andrade na memória do povo brasileiro!
Marion Zimmer Bradley - As Brumas de Avalon
A quadrilogia dAs Brumas entra para substituir Tolkien na listagem, mas como tenho que escolher um só, fico com o segundo livro da série A Grande Rainha, que conta o casamento de Arthur, um pagão, com Gwenhwyfar, cristã até o último fio de cabelo loiro, além do nascimento de Mordred, filho de Arthur com Morgana. Sem contar que as últimas páginas desse livro são um *BANG* na face de todos, inclusive na minha quando li-o pela primeira vez. Quando fechei o livro tive que pegar minha mandíbula no chão e só conseguia pensar “How... HOW DARE YOU!”
A meu ver existem dois grandes braços quando falamos de admiradores de histórias medievais: o dos arturianos, e o dos tolkenianos. Nós estamos do lado de Tolkien, mas não podemos deixar de admitir a qualidade dos contos de Arthur. São histórias diferentes e similares ao mesmo tempo, com muitos paralelos arquetípicos, como explico de modo bem sucinto aqui. Vale demais a pena ler esta versão, mesmo que não seja a mais badalada das interpretações arturianas.
Jostein Gaarder - O Mundo de Sofia
Esse livro é uma excelente forma de introduzir a delícia que é Filosofia às crianças. E digo às crianças, apesar de ter lido O Mundo de Sofia depois de grande, porque a história não tem um linguajar difícil, as lições que a Sofia (que tem 15 anos) recebe servem muito bem às nossas crianças maiorezinhas, e nunca é cedo demais para ensinar a arte da reflexão e do filtro crítico. Gaarder dá uma passada bem legal pelos principais filósofos da História e apresenta suas idéias bem resumidamente, mas não de modo superficial a ponto do leitor não se instigar. Eu mesma passei a ler bem mais Filosofia depois de ter devaneado com a Sofia. Somos todos Sofias, na verdade! Quem não leu, leia! Quem já leu, releia! Ele está aqui na estante pedindo para ser aberto.