As duas primeiras opiniões refletem apenas a nossa cultura, na qual crescemos e nos acostumamos e que por isso nos parece a certa. Mas existem outras culturas (ou pelo menos existiam, antes da nossa cultura esmagá-las ou exterminá-las
) nas quais atos considerados abomináveis para nós são completamente normais. E o contrário também é verdadeiro.
Ah não, você leu Levi Strauss.
Bom, relativismos a parte, eu sinceramente considero que um denominador mínimo de bom senso deve existir pra considerar o cara um anormal.
Sim, a verborragia dos cursos de ciências humanas irá dizer que jogar crianças na lava é uma prática perfeitamente aceitável pra uma dada cultura, mas eu realmente não vou engolir pelo menos esse pormenor dessa cultura com naturalidade assim como asseguro que os membros dessa cultura não encarariam com naturalidade a minha pessoa impedindo eles de jogarem suas criancinhas no fogo.
Não, não é apenas um reflexo de minha cultura. É reflexo de evolução, não no sentido antropológico, mas no sentido humano da palavra. Considero perversa a prática da antropofagia gratuita com requintes de tortura, sofra ou não de dor a vítima. Assim como sei reconhecer coisas deprimentes na minha cultura, no que tange ao desrespeito ao outro indivíduo e por aí vai, me vejo no direito de, buscando um distanciamento, ver limites nas culturas alheias. Relativismo antropológico demais recai em anarquia conceitual de valor.
Sim, para os maias era perfeitamente concebível que se sacrificassem crianças pra trazer boas colheitas. Eles achavam normal isso dentro da ignorância deles? Sim. Mas eu me reservo ao direito de achar insana maldade de tamanho grau, assim como acho insano um político no nordeste desviar verbas de açude pra fazer churrasquinho pros amigos (guardadas as devidas proporções).
Com isso quero dizer que o conceito de normal varia de cultura para cultura, talvez até de pessoa para pessoa.
Sem dúvida. O problema é que levar isso muito pro strictu sensu incorre na fábula do alienista. Não existem loucos porque tudo vai depender do ponto de vista.
A questão é que o alemão estava inserido em uma sociedade cujas leis são calcadas por uma lei e norteada por uma cultura, e ele violou essas leis. Julgá-lo por essas leis, agora apelando pro relativismo, é tão justo quanto o maia me matar se eu tentar impedí-lo de sacrificar uma criança e cumprir seu dever para com os Deuses.
Por isso acho perfeitamente normais opiniões que defendem o canibalismo ser hediondo e que defendem a internação psiquiátrica do canibal. Onde já se viu alguém criado em uma cultura que abomina o canibalismo ousar praticar tal ato? Concordo que é no mínimo bizarro ele ter feito isso, considerando a cultura em que ele vive. Mas o caso é (ou parece ser) todo bizarro.
Sem dúvida que é. Concordo contigo.
Só fugindo um pouo do assunto, mas nem tanto, eu assistia Eurotrash, aquele programinha com o Jean Paul Gautier e com o Antoinne de Cannes, e confesso que a minha impressão sobre o que via da Europa alí era a de que o berço da cultura helênica era na verdade um grande manicômio.
Acho que o mais estranho é alguém querer ser abatido e depois devorado (se isso realmente for verdade). Andei pesquisando e não encontrei nenhum registro de nenhum povo onde as pessoas eram mortas e comidas por vontade própria
Talvez haja alguma coisa nesse sentido, mas com ligação religiosa, o que não era o caso do engenheiro.
A coisa mais perto disso que me vem a memória é o suicídio voluntário do soldado, algo na linha da bushido seguida pelos samurais e depois pelos kamikase. Quanto ao detalhe do ser comido, sei que algumas culturas comiam os corpos dos mortos em sinal de respeito (as pessoas que morriam, mas não eram mortas pra serem comidas). Para algumas comunidades indígenas aqui no Brasil, se não me falha a memória, era práxis comer os soldados mortos como forma de absorver a força deles. Acho que na América do Norte havia algo nesse sentido também. Mas de ação passiva não. Esse cara que foi morto tinha algum distúrbio sério.
Eru disse:
como certas práticas que são tidas por bárbaras e sórdidas ainda estão no seio da nossa civilização ocidental, no continente que inclusive representa a nossa civilização com o C mais maiúsculo possível.
Gostaria de saber de quais práticas você está falando... seria por acaso homicídio ou estupro? Ou mesmo incesto?
Estupro e homicídio poderiam ser exemplos razoáveis, mas de algo que é até certo ponto refutado por nossa sociedade, portanto são distúrbios e são tratados como tal, não como algo aceito pela nossa cultura.
Se pensarmos friamente, a prática da guerra foge a qualquer explicação racional que possa ser dada. Bombardear cidades e matar civís alegando estar libertando eles pra mim seria um belíssimo exemplo do que tenho por sórdido e bárbaro e que ainda é aceito e aplaudido no nosso mundo. Veja bem, os dois empreendedores do último exemplo mais cabal do que digo estão concorrendo ao Nobel da Paz.
Ah, e como disse antes, para
nós elas são bárbaras. Mas não caia na besteira de considerar os outros povos inferiores porque as praticam... esse erro já é cometido há tempo demais
A matemática pra mim é simples. +erros = - evoluído.
Não estou tentando racionalizar de forma simplista, mas considero que é possível traçar sim níveis de desenvolvimento de uma cultura em razão de algumas características intrínsecas a ela, como o nível de vida das pessoas, a literatura, o nível de violência e por aí vai.
Mas claro, não acredito em etnias inferiores, apenas em etnias que não trilharam ainda o suficiente para se aperceber de alguns equívocos.
E não, pelamordedeus, não estou advocando em favor da cultura ocidental, antes que me acusem disso.
Caramba, adorei o rumo que esse tópico está tomando.