Ah não, você leu Levi Strauss
Hm, não li não. Aliás, do Levi Strauss só sei o nome e que trabalhava com antropologia
Então, incidentalmente, você enumerou possívelmente a maior proposição dele, a do Relativismo Antropológico.
É reflexo de evolução, não no sentido antropológico, mas no sentido humano da palavra
Qual o sentido humano da evolução?
É aquele que reconhece como inferior tudo o que gera maior sofrimento ao ser humano. E portanto, se uma cultura produz como resultado na práxis daqueles que vivem sobre sua édige maior sofrimento e dor, ela é inferior e precisa evoluir. É uma forma peculiar de ver a coisa sim, mas é uma forma válida.
Se pensarmos friamente, a prática da guerra foge a qualquer explicação racional que possa ser dada
Foge não, eu tenho uma explicação muito convincente
Mas ela remonta às nossas origens como primatas, e acho que este não é o tópico certo pra discutir isso, porque acho que geraria muito polêmica fora do assunto.
Sim, sim. Mesmo assim, racionalmente a guerra, do ponto de vista neutro, é desvio das forças produtivas para algo improdutivo, perda de vidas (mâo de obra) e matéria prima. Se entrarmos pela ótica do vencedor, os efeitos podem ser desde a alienação coletiva dos que venceram até a conquista de territórios e espólios de batalha, mas ainda assim muito se perdeu pra chegar lá, e alguns problemas alí criados podem perturbar mais tarde. Bom, quanto a uma necessidade biológica intrínseca ao homem de disputar, competir e brigar, aí é outra história. Mas que mesmo assim acredito que pudesse ser aplicada ou melhor, canalizada para algo mais construtivo. As necessidades primais de disputa poderiam ser canalizadas, por exemplo, para o esporte.
Isso aí dá um assunto interessantíssimo, até porque a história do ponto de vista bélico me é per si um assunto que dá muito pano pra manga.
A matemática pra mim é simples. +erros = - evoluído.
Mas quem determina o que é certo ou errado? Alguém poderia responder: o bom senso. Mas o bom senso muda de acordo com a noção de normal e de acordo com o que é aceito pelas pessoas. Pode mudar até de acordo com os interesses de cada um
Um kamikaze pode achar, pelo seu entender de bom senso, que se matar era uma honra, pois estaria ajudando sua nação. Eu não acho que isso seja uma atitude sensata
Entramos de novo na lógica do alienista. Se uma sociedade cultiva valores que produzem mais morte e mais sofrimento, e mais ignorância, infelizmente não consigo considerá-la superior a outra que apresente indicadores mais favoráveis nesses três aspectos, pelo menos.
E mais uma coisinha: esse conceito de evolução está errado de acordo com o sentido original da palavra. Evolução é mudança, embora as pessoas geralmente considerem que ela signifique progresso de qualquer tipo.
Eu sei. Mas pensando bem, normalmente as sociedades que apresentam essas características que considero com menor apreço foram coincidentemente as que menos mudanças significativas apresentaram no decorrer dos séculos. São as que mais pendem pro holístico, para a estagnação e para a crença no mito em detrimento da razão.
Mas isso é só implicância de bióloga chata
Vamos continuar:
Tem que implicar sim!
Bons assuntos aparecem e se desenvolvem com essas implicâncias.
Não sei se concordo com isso
Na verdade nunca parei para pensar muito nisso, mas acho que discordo de você. Qualquer povo do mundo tem seus mitos, seus costumes, sua cultura, mesmo que seja somente falada, nos casos de povos que não desenvolveram a escrita. Mas essa cultura falada pode ser mais rica do que a escrita, principalmente porque é acessível a todos.
Eu não entro numa discussão de mitos, até porque não sou filiado, na prática, a nenhuma religião em particular, e portanto não sou de julgar uma melhor do que a outra (exceptuando aquelas que envolvem sacrifícios e outras coisas que me fazem ter certa repulsa por elas). Quanto aos costumes, quem sou eu pra julgá-los desde que não comprometam o bem estar físico das pessoas? Respeito tanto o monge tibetano no seu retiro quanto o frenético acionista da bolsa de valores de NY. Sobre a tradição oral, nem mesmo entre os dessa sociedade a mesma é ascessível a todos. Os skalds nórdicos, os menestréis medievais, os bardos, ou os poetas gregos ou qualquer outro exemplo similar, eram pessoas instruídas e educadas na arte de contar histórias, e as mesmas eram compartilhadas e contadas para pessoas cujo privilégio as permitia ouvir essas histórias. A ascessibilidade a informação sempre foi algo seletivo e discriminatório. Isso apenas se sofisticou com o tempo, eu acho. Sobre a riqueza, me questiono em razão da própria limitação da memória humana. O conhecimento ficava retido a capacidade mnemônica dos portadores das palavras, ao passo que a escrita permite armazenar e intercambiar informações de um modo que apenas pela tradição oral é impossível. O salto que deram as civilizações mediterrâneas desde que sumérios, cretenses e fenícios desenvolveram e difundiram a escrita foi estraordinário. Na China, a escrita, mesmo que calcada em ideogramas, também permitiu uma evolução no processo de sistematizar, salvaguardar e intercambiar informação de um modo que permitiu a eles conquistas que não conseguiriam apenas pela fala.
Na verdade estou sendo hipócrita, porque no fundo sei que acho minha cultura mais "evoluída" do que uma que não desenvolveu a escrita... mas acho que talvez isso seja errado...
Não acho hipocrisia. É natural que nos identifiquemos mais com nossa cultura. Isso não impede que reconheçamos e admiremos a grandeza de outras. Eu particularmente sou fascinado pelas culturas orientais (China e Japão), pela arte soviética e mesmo por muitas das realizações da América Pré-Colombiana, mesmo reconhecendo que havia práticas entre esses povos que eu recrimino pelo que já expliquei.
Não sei, estou confusa, preciso ler algo sobre isso
Alguém recomenda alguma coisa? Que tal Levi Strauss?
Strauss é um ponto de vista interessante, o da antropologia estruturalista, mas pode ser questionado sob muitos aspectos. Os evolucionistas do século XIX são evitáveis, preconceituosos num grau ímpar e falavam abobrinhas que mais soavam a discurso político positivista do que conhecimento de causa. Alguns autores que eu recomendo, e que são bem bacanas são o Horace Minner (tem um texto fantástico chamado O Ritual do Corpo entre os Sonacirema), J.C.Rodrigues (O tabu do corpo), e por aí vai. A bibliografia é vasta, mas o próprio Strauss trouxe muita coisa de legal. Quando eu falei do Strauss lá encima eu estava brincando. Eu discordo dele em muitos pontos mas não dá pra negar que ele tirou a antropologia de um certo grau de imobilismo no qual vivia até os anos 50.