Khansc
Banned
Díficil falar, mesmo tendo muito o que dizer. Além da clara descrição da condição humana na India, em meados do século XX (impossível, pra mim, definir a data certa, o filme não revela, talvez perto do início do século), esse é um filme sobre coisas que foram esquecidas, ou perderam o valor: a família sentada na porta de casa, durante a noite, o pai escrevendo uma peça de teatro, desejando conseguir dinheiro com ela; o filho aprendendo, com a ajuda do pai, a escrever; a mãe ajeitando o cabelo da filha; e o silêncio da noite sendo quebrado somente pelas vozes. A câmera mostra cada um deles, para depois se afastar, e pintar um quadro de toda a família. É sobre brincar na chuva e, depois, se esconder embaixo de uma árvore pedindo a volta do sol; ver uma peça de teatro e sonhar com um mundo quase irreal; é quando o vendedor de doces passa e as crianças correm em volta dele. A sensibilidade de Ray para mostrar a passagem de tempo consegue emocionar um bloco de cimento: ele mostra o Grande Mundo que ataca a pequena vila: o sistema elétrico passando pelo campo, o trem que também corta o campo, e deixa as crianças curiosas; e, no pequeno mundo da vila, os animais crescendo, uma planta, cuidada por uma velha senhora, se desenvolvendo, o primeiro encontro com a morte. É também um filme sobre a relação entre Natureza-Homem: um jardim de frutas que ajuda a sustentar famílias, e é motivo de briga; a chuva se impondo como uma constante ameaça. É o tipo de filme que provoca lágrimas, e eu não tenho mais o que pedir do cinema.
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