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[Call of Cthulhu] Pennywell [ON]

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Usuário
Prólogo

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Nova York,

Terça- Feira, 11 de Dezembro de 1923.

O frio alvorecer daquele dia não era menos rigoroso do que fora nas últimas semanas. A cidade de Nova York despertava envolta em névoa, que se estendia até alcançar mesmo os mais altos arranha-céus. O resultado da queda de neve na noite anterior mostrava-se agora: calçadas completamente cobertas por um fino manto branco, ruas onde a passagem de veículos era impraticável, estações de trem elevado sem funcionar e um clima desgraçadamente frio. As estações de rádio eram interrompidas para trazer orientações aos nova-iorquinos e análises de meteorologistas que previam o “inverno mais gelado dos últimos cinco anos”. “Heh. Os malditos de Washington esperam que agüentemos o período sem o bom e velho scoth para nos esquentar”, comentava maldosamente um dos radialistas. Além disso, as notícias informavam um automóvel modelo Buick tombado na Park Avenue, contribuindo para um crescente congestionamento. A movimentação pela cidade seria bem difícil, os cidadãos deveriam acabar recorrendo ao metrô se quisessem evitar o trânsito, informava um dos locutores, antes de partir para as notícias esportivas com os últimos resultados do beisebol. A edição vespertina do New York Times trazia informações detalhadas do estado de saúde do prefeito da cidade, John Hylan. O pobre democrata fora acometido de um ataque cardíaco fulminante, mas sobrevivera, inacreditavelmente. O New York Post destacava o cenário internacional com a notícia de uma tentativa de golpe contra o governo da Alemanha, logo contida e seus líderes militares, Ludendorff e Hitler, presos. Ambos os jornais, porém, citavam a explosão comercial com a proximidade das festividades de fim de ano. Os centros de Manhattan mesmo naquela manhã já estavam bem movimentados, as reservas de jantares em hotéis de luxo e a compra de caros presentes ocupavam a agenda dos mais abastados, além dos que se enchiam de dívidas. A época parecia mesmo propícia ao comércio, ajudava bastante o corte nas taxas efetuado pelo próprio presidente Coolidge que tinha uma reputação bem popular. A bolsa de valores de Nova York em Wall Street já reunia uma boa multidão e funcionava a pleno vapor, apesar da reforma em suas dependências com a construção de novos andares. Nem o clima poderia parar toda a agitação na grande cidade, os transtornos conseqüentes- obras paralisadas, aulas canceladas, lojas sem funcionar pelo acumulo de neve- eram logo superados. Apesar de tudo, a empolgação pouco afetava os distritos mais afastados da ilha de Manhattan. O Bronx residencial acordava silencioso com poucos transeuntes nos arredores, a maioria dos moradores descansava, dispensados do trabalho. A Universidade de Nova York e seu campi limitavam-se a poucos departamentos em pleno funcionamento e quadro de aulas.Os acadêmicos ocupavam-se principalmente com os preparativos de uma exibição egípcia do Museu de História Natural. O Bronx industrial com seu cheiro acre de fumaça iniciava a rotina em quase todos os setores, as atividades aqui eram essenciais em sua maioria e, por isso, inadiáveis. Enfim, tudo permanecia igualmente calmo no Queens e no Brooklyn, as indústrias funcionavam conforme podiam, os moradores locais empenhavam-se em desobstruir as estreitas ruas cheias de neve e as docas restringiam-se apenas a manutenção das embarcações. A capital do estado de Nova York mantinha-se pulsante, portanto, não poderia ser diferente.

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Broadway, 1920.
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Trem Elevado.


Anderson e Phillipe,

Bom, agora é com vocês! Apresentem seus personagens, insira-os em uma atividade cotidiana conforme suas profissões ou mesmo em qualquer outro cenário que lhes seja cabível. Darei prosseguimento logo que o façam. ;-)

Helena, Captain Beyond e Lilith,

Tão logo me enviem a ficha, já podem postar aqui, apresentando devidamente o seu investigador(a)!
 
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Clyde Ross caminha pelas ruas gélidas de Nova York com seu sobretudo preto no qual adorava, tinha ido procurar um local para instalar seu consultório e ver se haveria potenciais clientes para atender na área de psicologia. Via um crescimento exponencial neste nicho, no qual tinha um futuro amplo.
No momento enquanto dava passadas rápidas, pensava apenas em entrar no mercado que tinha na esquina, coisa que fizera poucos minutos de caminhada, ao entrar no local, poucos clientes encontravam se juntando mantimentos, tinha em mente procurar alguns enlatados e caixa de cereais para retornar a pousada onde estava hospedado, tinha vindo a cidade principalmente a negócios, mais pensava em arrumar tempo para ver algumas exposições e palestras que estavam a ocorrer, fora convidado para ser um dos palestrantes e falar sobre distúrbios mentais ocasionados por longos períodos de estresse, palestra voltado para empresários, mais devido ao mal tempo que fazia não conseguiu chegar a tempo na cidade para confirmar sua presença. Se contentara agora apenas em assistir-las como espectador e enriquecer mais seu conteúdo.
Saindo do mercado caminha com o pacote de alimentos, andando apressado esbarra em algumas pessoas, pedindo desculpas e continua sua caminhada até parar numa banca de jornal de um simpático senhor, e compra o jornal de hoje e alguns confeitos para não retornar troco.

“Bom, vamos ver se tem alguma noticia relevante no jornal de hoje.”

Caminhava com as mãos ocupadas até chegar a pousada que abrigava várias casinhas num pátio externo, lá pede ajuda a uma criança que se encontrava tomando chocolate quente sentada num banco de madeira defronte a porta do quarto que seus pais alugaram. Agradece e já dentro coloca a bolsa de mercadorias em cima da mesinha enquanto se senta na ponta da cama e observa o jornal.


Off : Vejo se tem algo relevante no jornal.
 
Apesar do frio, da neve e dos transtornos caudados pelos dois, Michael se levantou cedo, se preparou para enfrentar o frio (sabia que sua saúde não era das melhores, não seria bom brincar com a sorte) e foi pra delegacia, apenas para descobrir que não tinha nada para fazer por enquanto. Aproveitou então a bela paisagem, se sentou em um banco e começou a desenhar. As luvas e os seus dedos duros de frio por dentro delas não ajudavam, mas ele ficou algum tempo olhando a paisagem e apenas esboçando rabiscos das cenas ao seu redor, para se distrair. E enquanto isso aproveitava para ouvir despreocupadamente as notícias pelo rádio ligado em um táxi estacionado perto de onde se encontrava.
 
O cenário bucólico da pousada em Jackson Heights no Queens era bem confortante, uma rua bem arborizada acabando em um pátio com várias casinhas e de onde se via um extenso campo mais além. Clyde Ross sabia que se tratava de um campo de golfe, principal atrativo do estabelecimento, porém sem funcionamento algum no período de inverno. A área parecia completamente coberta pela neve, o verde despontava em poucos pontos onde a vista alcançava. O dono do local, Ray McMulligan, um escocês gordo e bem humorado, atormentava-se sempre com o fato.

Você deveria ter vindo no verão para jogarmos, são quase cinqüenta hectares de extensão e ainda há um mirante para apreciar tudo! Terminaríamos o dia com um copo de whisky, relembrando a infância na velha terra!- Dizia da última vez que fora o visitar em seu quarto para ver se estava precisando de algo. O fato de Clyde também ter vindo da Escócia tornava-o um hóspede excepcional, pelo visto. – Agora está tudo tão feio e faz muito frio... – Terminava entristecido.

Não havia muitos hóspedes, apenas uma família e um casal de namorados, tornando o local mais pacífico. Hospedar-se em um dos grandes hotéis de Manhattan em dezembro seria abdicar da tranqüilidade e o deslocamento até o centro de Nova York dali era bem fácil. Além do mais, aqueles chalés tinham tudo que necessitava e uma lareira, principalmente. Logo que entra seu quarto e se desfaz do pacote de compras, o professor observa o jornal. As notícias mais destacadas eram o quadro clínico estável do prefeito de Nova York e a campanha da polícia local contra a propagação de um folhetim “subversista e comunista”, como enfatizava a matéria. A seção médica não trazia nenhum destaque ou coluna sobre psicologia naquela edição, para tristeza de Clyde. Um artigo, porém, chamou-lhe a atenção. Abordava de forma positiva a controversa ciência da eugenia.

Não podemos ignorar os tratados e estudos médicos acerca do tópico. A Conferência Internacional de Eugenia realizada em nossa cidade há quase dois anos, trouxe conclusões fantásticas, mas pouca aplicação prática tem acontecido. Estados como a Califórnia já aplicam a esterilização obrigatória. O governo precisa apoiar e patrocinar as pesquisas de notáveis institutos e universidades, Nova York não pode ficar para trás...

A leitura foi interrompida por três batidas leves na porta. O psicólogo reconheceu imediatamente a característica introdução de seu conterrâneo.

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O imponente prédio, quartel general da polícia de Nova York, destacava-se altivo na Centre Street em Manhattan, ocupando quase três quarteirões. O estilo vitoriano marcava o contorno da construção, muitos arcos e colunas, além do magnífico domo. Michael Sullivan fora realocado há algum tempo da delegacia do Brooklyn onde iniciara o trabalho como desenhista policial para o Bureau de Desaparecidos que tinha sede no grandioso prédio. Ali também funcionava a Divisão de Detetives que freqüentemente requisitava os seus dotes artísticos. Bem agasalhado, temendo qualquer resfriado que pudesse comprometer sua saúde, adentrou o edifício e buscou o calor da sala do Bureau.

Localizada no térreo, a sala possuía um grande balcão onde eram recebidos os casos das mãos dos diversos oficiais das demais circunscrições, além de serem atendidos os requerimentos e denúncias de cidadãos comuns. Julie Blakely acenou alegremente ao avistar Michael. A escrivã sentada atrás do balcão era normalmente vista tomando notas dos casos em sua máquina de escrever, mas não havia ninguém para atender naquele momento.

- Está tudo tão morto hoje! – Comentou, ao levantar a tábua do balcão para que ele passasse. – Justo em um dia como esses que eu não queria me ver parada, vou acabar congelando! – A moça de quase trinta anos usava um gorro verde e esfregava as mãos enluvadas. Não era tão bonita, mas tinha seus atrativos.

Por detrás, ficavam as mesas dos oficiais do Bureau e o desenhista possuía uma para si, onde lia-se “M. Sullivan” em uma plaquinha de bronze. A maioria das escrivaninhas encontrava-se desocupadas, salvo o lugar do oficial Keens, um mal-humorado senhor de meia idade que acenou sem tirar os olhos do jornal. Gostava de sentar perto da janela, onde poderia treinar os esboços, mas percebia agora a desvantagem do lugar naquele dia frio. Sem nenhum encargo, rabiscava seu caderno de desenhos e ouvia as notícias vindas de um rádio lá fora. O trânsito parecia não melhorar com o acidente que ocorrera mais cedo, as notícias também destacavam uma batida policial em um galpão onde produziam bebidas ilegalmente. Sullivan começou a questionar-se se algum de seus amigos policiais encontravam-se na cena da apreensão quando Jock Stapleton entrou. O detetive inspetor era um bom amigo, veterano da Primeira Guerra e um homem de forte temperamento, especialista no que fazia. Descansou o chapéu coco no balcão e começou a conversar amenidades com Julie.
 
Como não estava realmente fazendo nada de produtivo, Michael aproveitou a chegada do detetive, se levantou e se aproximou para cumprimentá-lo.

- Bom dia, detetive Stapleton. Como vai o senhor? e lhe estendeu a mão, cordialmente. Parece que além do frio e da neve tivemos um belo acidente para melhorar o trânsito de nossa cidade, né?Será que ainda demorará muito pras coisas normalizarem?
 
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O dia tinha começado com um baita de um engarrafamento. Não era a primeira, e nem seria a ultima vez a nevar em Nova Iorque; mas ninguem parecia aprender a conviver com isso. O trem tinha parado e os onibus se esforçavam para fazer suas rodas desatolarem da neve. Era por esse e outros motivos que ela tinha alugado seu apartamento perto da delegacia; nao dependia de transporte publico nenhum. Lilith saiu de seu apartamento e parou no coffee shop da esquina. A multidão de pessoas que iam ali todas as manhas era inimaginável. Vício de café era algo que a maioria dos Americanos apreciava, ainda mais quando se tratava do primeiro copo de café do dia. Ela foi se esgueirando entre as pessoas, tentando chegar no balcao para fazer seu pedido. Fila? Nao. Era cada um por sí.

Depois de uns 10 minutos tentando fazer seu pedido, a senhora de trás do balcao a avistou de longe e logo sorriu para ela. Lilith frequentava aquele mesmo café todas as manhas há um bom tempo, e já tina ficado amiga da senhora idosa que trabalhava ali. Nao demorou muito para ela receber seu copo de café quentinho e um muffin que tinha acabado de sair do forno. Lilith fez sinal para a senhora colocar em sua conta, ela pagava sempre no final de cada semana. Sair daquele café era tão complicado quanto entrar nele. Ela foi se arrastando entre as pessoas, tentando nao derrubar seu café, até chegar a porta de saída. Brrr… estava frio demais. Ela ajeitou seu cachecol e fechou o ultimo botao de seu sobretudo, começando a andar em direçao à delegacia. O café quentinho descia fácil pela garganta, assim como esquentava suas maos através da luva.

Lilith – Bom dia. Bom dia. *sorriu falando com a recepcionista da delegacia*

Jason – Hmmm… agora sim o dia está começando. Bom dia, minha bela psicóloga! *deu risinhos com um outro policial que estava perto*

Lilith – Bom dia pra você também, Jason.

Como ela odiava esse homem. Era todo dia a mesma coisa, sera que nao perdia a graça? Lilith passou pelos dois engraçadinhos com cara de poucos amigos e foi subindo para a sua sala. O dia tinha começado mais ou menos, e foi só ela chegar em sua sala para ver que seria uma longa, longa jornada de trabalho pela frente. Sua mesa estava explodindo de tantos papéis e fotos de casos mal resolvidos. Lilith tirou seu casaco e o pendurou no cabideiro próximo a sua mesa. Tirou o cachecol e colocou sobre seu casaco, sentando-se em sua cadeira logo depois. O jornal de hoje já tinha sido colocado em sua mesa. Ela recostou em sua cadeira e passou os olhos pela primeira página, dando uma mordida no muffin. O prefeito da cidade nao parecia que iria durar por muito mais tempo…
 
Clyde Ross

Clyde estave imersivo em seus pensamentos enquanto folheava o jornal e criticava as palavras usadas propositalmente para causar polêmica, rendia bem mais uma matéria chamativa do que tratar da realidade no corpo do texto na maioria dos casos.

“O jornalismo americano cada dia mais decadente, inventam noticias, usam termos escabrosos para definir atos, puro e simplesmente sensacionalismo.”

Um pouco mais inquieto folheia as páginas finais e algo lhe chama atenção.

“Droga, acabei perdendo esta Conferência, queria muito ter ido, mais a maldita irritação na garganta me impediu, espero que tenha uma próxima vez, estas conferências são de extrema importância para adquirir novas parceiras e quem sabe clientes também, negócios em toda parte e toda hora, é isto que movimenta o mundo."


Ross era um pensador liberal, e apostava na Eugenia e outros temas polêmicos, imaginava um mundo com pessoas mentalmente aptas e fortes, que pudessem superar qualquer descontrole emocional, a raça humana pedia isto. Mais abruptamente passa em sua cabeça.

“Maldito Clyde, não pense baboseiras, se isto fosse para frente você morreria de fome, não teria mais desajustados psicologicamente para pagar-lhe por horas e horas, ouvindo-lhes as besteiras que falam e você dando conselho aos ventos, é assim que fez fama e dinheiro."

Clyde dá uma silenciosa gargalhada com o pensamento que teve e joga o jornal ao seu lado levantando para pegar uma xícara de café, mais a porta lhe interrompe.

“Quem será desta vez? Não estou com tanta paciência para que seja um mormo ou um pregador de Jesus que sempre aparecem em horas inoportunas.”

Caminha para a porta e deixa a semi-cerrada, olhando para brecha a fisionomia de quem batia e responde com tom cansado e breve e cara de poucos amigos.

- O que deseja ?
 
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A vigésima terceira estação policial de Nova York ficava entre a sexta e sétima avenidas, próxima a Times Square, em serviço de toda a área central de Manhattan. O prédio tinha uma arquitetura peculiar, construído em um estilo de resgate medieval, como as bases que simulavam pequenas torres. Lilith Aldon tivera sorte em conseguir um apartamento próximo e a um bom preço de aluguel. Além de perto do trabalho, o Central Park e a Biblioteca Pública também estavam a sua disposição. Ainda que morasse tão perto, era inevitável não sentir o miserável frio de dezembro, o café já havia se tornado indispensável em sua rotina.

O estágio na estação policial era ótimo para consolidar todo o aprendizado do curso de Psicologia na Universidade de Nova York. Conseguira o emprego por indicação de um dos seus professores que era amigo de infância de Theobald Reynalds, chefe policial da estação. Reynalds era excelente, sempre atencioso com Lilith, desde os primeiros dias em que chegara tímida à estação. Condecorado na primeira guerra, o homem de quase sessenta anos mantinha o corpo atlético pelas manhãs dedicadas ao remo e a cabeça raspada pelo rigor militar. Vigoroso e ríspido com todos os oficiais, “Somos a estação mais demandada de Nova York, temos um posto a zelar”, não cansava de repetir. Para reforçar, havia sempre célebres frases do lendário comissário Roosevelt afixadas nos quadros da estação. Apesar de legalmente restrita à ilha de Manhattan, a vigésima terceira sempre assumia casos de outros distritos em regime especial, contribuía o fato de possuir uma bem servida frota de veículos.

Por tudo isso, o trabalho era sempre exigente e cansativo. Lilith era coordenada por Mike Redfall, alienista especializado na área forense. Por anos, Mike trabalhara em vários sanatórios pelo estado, por vinte de seus setenta anos, e até chegara a cuidar de pacientes vindos da guerra. Um homem difícil, silencioso e profundamente depressivo. Competente, porém, sempre preciso em seus breves diagnósticos. Era impressionante como o velho conseguia compreender a condição mental de cada criminoso, mesmo sem possuir uma bagagem acadêmica. A função da dupla era de realizar análises psicológicas preliminares nos suspeitos, além de auxiliarem em inquéritos. A grande maioria dos casos era sempre a mesma, alcoólatras inveterados, dependentes químicos e mentalmente debilitados. Poucos eram os casos em que lidavam fora dos precedentes, os relatórios eram sempre bem objetivos.

- Srta. Aldon... – A profunda voz de Redfall acordou Lilith de seus pensamentos. – Gostaria de fazer-lhe um convite, se me permite. – Era incomum vê-lo falando espontaneamente. – Um velho amigo de correspondências está na cidade e convidei-o para uma festividade próxima. Iremos trocar algumas idéias a respeito do tratamento psiquiátrico. Acompanha-nos?

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Jock Stapleton sorriu quando viu Michael Sullivan aproximando-se. O homem grisalho e de feições duras era solícito para quem quer que ele considere um bom amigo.

Diabo, Sullivan! Não o vi aí quando cheguei. – Apertou firmemente a mão estendida. – Espero que tudo normalize até o meio dia, eu devia mesmo era ter deixado o veículo em casa. – Lembrando de algo, o inspetor chefe alargou o sorriso. – Ah, garoto! Tenho uma ótima notícia! Onde você disse mesmo que publica os seus contos? Não ganhas quase nada com eles! Conheci o dono de uma grande editora de Manhattan. Charles Burloy da “Turtle”. Você já deve ter ouvido falar, edições luxuosas, encadernados em couro. Bom, estão apostando em coletâneas de escritores promissores e essa pode ser uma bela oportunidade.

Passando as mãos pelos bolsos do sobretudo, o inspetor tirou vários papéis e um maço de cigarros até alcançar um cartão. Entregue em sua mão, Michael observou a propaganda do Hotel Algonquin e um convite formal escrito a mão, no verso.

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Ao Sr. Sullivan,

Convido-lhe a comparecer à confraternização de natal do Instituto Mogens no dia 18 de Dezembro. Será um prazer conhecê-lo, assim como o seu trabalho, recomendou-me o Sr. Stapleton, um grande amigo.

Atenciosamente,

Burloy,

Michael reconhecia o nome do instituto, que lidava com pesquisas médicas e científicas pioneiras. Ambrose Mogens, filantropo e milionário, era um nome bem conhecido da elite nova-iorquina. A festa se daria no luxuoso hotel de Manhattan, bem conhecido também por ser freqüentado por um clube de prestigiados escritores. Ele não possuía reconhecimento algum, porém, escrevera alguns poucos contos que eram apreciados por um círculo de amigos. Nunca chegara a graça do grande público e nem tinha muitas pretensões, mas poderia ser uma boa chance.

O que me diz? – Perguntou o inspetor chefe, estudando o rosto do jovem desenhista.

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O rosto gordo e sorridente de McMulligan revelava-se pela fresta deixada pela porta. Clyde Ross estava impaciente por qualquer intromissão desnecessária e os extensos e inúteis monólogos do seu conterrâneo escocês agora pareciam piores do que as hipóteses que imaginara.

Sr. Ross... – O arraigado sotaque do homem o trazia de volta a Aberdeen. – Deixaram uma mensagem esta manhã para o senhor, mas você já havia saído. Até o esperei mais cedo, achei que viesse ter o desjejum comigo, iria te mostrar as fotos de Glasgow... – Fitando o rosto fechado de Clyde, Ray parecia ter finalmente percebido a inconveniência da situação. – Bom, aqui está a carta, tudo dentro dos conformes, eu suponho? Caso tenha algum problema, estarei em minha casa. – Entregou o envelope pela fresta e saiu com um breve e curto aceno.

Observando a carta, o psicólogo reconheceu imediatamente o envelope marrom e nem precisou ler o remetente para ver que se tratava de Mike Redfall. Clyde conhecera muita gente durante sua vida acadêmica em Harvard, ensinara em vários departamentos da universidade e era sempre elogiado por sua versatilidade e interdisciplinaridade metodológica. Fora nos idos de 1890 quando assumira o departamento de psicologia que colocou em prática um projeto ambicioso. Seguindo sua filosofia pragmática, começara a trocar correspondências com renomados sanatórios e institutos de tratamento psiquiátrico. Inquiria sobre os métodos de ressocialização e tratamento dos internos, planejava tirar conclusões acerca da real aplicação médica. Poucas cartas eram respondidas e os diretores dos institutos não mostravam muito interesse. Foi então que recebeu uma resposta interessada de Redfall, o senhor que se dizia alienista, desejava compartilhar os conhecimentos práticos com acadêmicos. Desde então, vinha trocando entusiasmadas cartas com o homem e apreciava bastante as discussões.

Quebrando o lacre, retirou o papel dobrado e leu a curta mensagem.

Caro amigo,

Soube que está de passagem por Nova York a negócios. Gostaria de encontrá-lo durante esses breves dias. No data de dezoito de dezembro, haverá uma confraternização de natal no Hotel Algonquin a qual fui convidado. Convido-lhe a acompanhar-me e tornar mais suportável essa celebração tediosa. Além do mais, será uma chance para que conheças o alto escalão de Nova York, essa elite medíocre está sempre cheia de “problemas” para se tratar e dinheiro para gastar. Estou em serviço da polícia agora, vigésima terceira estação, minhas condições de saúde não me permitem trabalhos mais emocionantes. Espero uma resposta em breve.

Mike Redfall,
 
Mike Redfall: Srta. Aldon... – A profunda voz de Redfall acordou Lilith de seus pensamentos. – Gostaria de fazer-lhe um convite, se me permite. – Era incomum vê-lo falando espontaneamente. – Um velho amigo de correspondências está na cidade e convidei-o para uma festividade próxima. Iremos trocar algumas idéias a respeito do tratamento psiquiátrico. Acompanha-nos?

A manhã estava voando. Lilith tentava terminar alguns relatórios para entregar a seu coordenador antes do meio dia, mas o barulho vindo da recepçao da delegacia era ensurdecedor, tirando completamente a concentraçao dela. A cidade parecia estar em caos com toda aquela neve, e a delegacia era o primeiro lugar que as pessoas vinham para dar queixas de carros atolados, onibus sem funcionar, e acidentes comuns. Por mais que a porta de sua sala estivesse fechada, ela ainda sim podia ouvir queixa-por-queixa que a recepcionista recebia. Hoje seria um dia daqueles..

A jovem psicóloga foi pega de surpresa quando ouviu a voz de Mike Redfall adentrando em sua sala. Ela foi acordada de seus pensamentos e sorriu levemente quando viu o rosto de seu coordenador. Nao era comum recêbe-lo em sua sala, Mike nao costumava levantar de seu assento para quase nada. Talvez pela idade já avançada, ou pelo comodismo de ser um dos investigadores mais antigos do departamento. Ele a fez um convite para comparecer a uma festividade relacionada a psiquiatria. Lilith sorriu levantando-se de sua cadeira; nao tinha como recusar um convite vindo de Redfall. Ele a tinha acolhido no departamento de braços abertos, o que nao era de se esperar, já que ela era mulher e jovem demais para ocupar seu cargo.

Lilith - O prazer será todo meu, Sr. Redfall. *o olhando parado no portal da sala dela* Só preciso saber o local e a hora, e garanto que estarei lá.

Ela ficou esperando Redfall dar mais informaçoes sobre a festividade. Seria ótimo para sua carreira comparecer a uma troca de idéias com seu coordenador e o amigo dele; os dois deviam ser bem influentes neste meio de psicologia forense. Assim que Mike saísse de sua sala, ela desceria até o basement da delegacia para continuar seu treino de tiro. Sua mira estava cada dia melhor, o que agradava Theobald Reynalds, chefe policial da estação. Tinha sido ele quem a tinha aconselhado a participar desse treinamento, já que Lilith tinha a ambição de fazer parte do time de meio-de-campo da policia. Ela queria participar mais ativamente das investigaçoes e poder coletar informaçoes em primeira mão das cenas de crimes. Uma promoção à investigadora era seu sonho, mas isso talvez fosse demorar um pouco, ela precisava de mais tempo de experiencia.
 
Última edição:
Michael ficou um tanto quanto desconcertado com a situação. Não esperava que uma oportunidade como essa fosse surgir tão cedo.

-Nossa, Jock - parecia perdido, procurando o que dizer - estou realmente surpreso! E muito grato também! Claro que vou, é uma oportunidade incrível!

Deu um tapinha nas costas do inspetor, tentando demonstrar um pouco da sensação de agradecimento que transbordava.

Realmente é um sonho, não perderia isso por nada nesse mundo... e sua mente se inundou com pensamentos sobre como deveria se preparar, o que deveria fazer, que contos selecionar, que oportunidades encontraria no seu caminho.

Bem, Jock, tenho que ao menos tentar agradecê-lo de alguma forma. Que tal alguma bebida para aquecer os ossos nesse dia frio? Espero que não esteja muito ocupado, faço questão de lhe pagar ao menos algumas rodadas!
 
Clyde lê a carta caminhando de um lado a outro, com a mão no queixo não acreditava que alguém finalmente havia dedicado algum tempo para fazer a leitura de uma de suas cartas, só isto já bastou para que Redfall ganhasse respeito para consigo. Abrindo um leve sorriso mostrava o entusiasmo que a tempos passava longe de si, tinha agora um objetivo em mente, convencer Redfall e quem sabe poderia lhe abrir mais portas no campo médico.

“Excelente, bem que que poderia ter sido antes, mais estou bastante contente, preciso arrumar minhas coisas e ir de encontro a ele nesta reunião.”

Sempre sendo bem cuidadoso e tendo cautela arrumou suas coisas, passados alguns minutos após o afobamento inicial, Clyde já estava de pés no chão e seus pensamentos já estavam na possibilidade de haver uma recusa, criava todo tipo de resposta para não haver uma frustação no momento, com o tempo de vida aprendeu a ser imparcial com todas as pessoas que lidara, isto o tornava um homem visivelmente frio, mais sabia que aquilo era bom para protegê-lo de eventuais chantagens que surgiam no mundo profissional e boatos que tentavam denegrir sua carreira. Terminando de arrumar uma pequena maleta, juntava algumas coisas que julgava importante, como casacos, ternos, alguns sapatos marrons e pretos e roupas de baixo, seu cantil de uisque também não poderia ser deixado para trás em nenhum momento, nem em reuniões informais.

“Pronto acho que acabei, vou enviar uma carta breve respondendo a Mike Redfall pois não quero chegar lá de surpresa.”


Ross escreve sua carta avisando de sua ida.

Caro Sr.Redfall,

Estou bastante lislonjeado com seu convite e o aceitarei com toda certeza, estarei ai com a maior brevidade para discutirmos os temas abordados, é sempre bom ter uma pessoa que compartilha de seus ideais, pois assim pode se chegar num consenso para melhorar teorias clinicas, principalmente se tratando de pessoas psicologicamente pertubadas ou enfermas. Lhe encontrarei no endereço informado, estou numa pousada nos arredores de Nova York que me permite uma boa locomoção para o centro, só assim consigo descansar mais sem fugir da rotina estressante que acompanham todos nós da cidade grande.

Abraços,

Clyde Ross

Ross ao fim do dia, sai da pousada e pega um táxi que o levasse até uma agência postal para que fosse postada sua carta-resposta. Feito isto aproveita para visitar a Coney Island, sempre tinha curiosidade de passar com calma pelo local, mais nunca havia tido tanta oportunidade já que o trabalho o matara. Após a visita ao final do dia retornava de táxi para descansar um pouco do dia cansativo e já pensando no que iria apresentar na reunião.
 
Última edição:
Cena I: Hotel Algonquin

Nova York,

Terça, 18 de Dezembro de 1923

O Hotel Algonquin, tão conhecido pelos semanais encontros de sua mesa de críticos literários, abrigará mais um prestigiado evento, patrocinado pelo ilustre Ambrose Mogens. A comemoração de natal exclusiva para convidados terá início às 19hrs, no grande salão de festas, segundo andar do estabelecimento. Espera-se em torno de cinqüenta convidados.

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A breve notícia que anunciava o evento daquela noite estava em uma discreta coluna do Times. O Algonquin ficava na Rua West 44th e bem perto do apartamento de Lilith Aldon, cerca de dez minutos de caminhada. Ainda assim, Mike Redfall insistira, polidamente, em levar a moça de táxi. “Você é minha convidada, não faria sentido se fosse diferente”. Ela ficara sabendo que o amigo de Redfall era Clyde Ross, influente professor de Harvard, onde se dedicava a ensinar psicologia e filosofia. A programação da noite, além da festa no Algonquin, seguiria para um lugar mais reservado, onde pudessem conversar em paz. O frio não dera tréguas durante toda a semana e a jovem psicóloga estava grata por não ter de lidar com o relento, levava o casaco, porém, era indispensável. Arrumara-se logo, havia todo o contratempo de esquentar a água para a banheira, escolher sua roupa e preparar-se como queria. Fizera bem, o alienista chegara com quase meia hora de antecedência. Mike trajava fraque e um chapéu coco, a combinação de certa forma tornava-o mais velho. A idade avançada, contudo, não o impediu de sair do veículo para abrir a porta para a moça.

Para o Hotel Algonquin agora... – Anunciou ao motorista, após fechar a porta. – Queira me desculpar, senhorita, por estar a levando para essa celebração tediosa. Fui convidado por um amigo que trabalha no Instituto de Mogens. Então, estou compensando tudo com boa companhia. Acredito que será uma noite proveitosa.

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Invejava o calor dos trópicos nesse momento, como invejava! Clyde Ross lembrava-se da sua viagem ao Rio de Janeiro no Brasil e de como a cidade tinha um clima agradável e úmido, bem diferente daquele odioso inverno em Nova York. As cobertas em nada adiantaram quando no meio da noite anterior o fogo da lareira se extinguiu. Passou o resto da madrugada tentando, inutilmente, se aquecer. Acordara cedo, logo, aproveitou para terminar alguns afazeres e preparar-se para o evento da noite. O amigo Mike Redfall havia lhe ligado no domingo para esclarecer algumas coisas. O telefone da pousada ficava no balcão de atendimento em anexo a própria residência de McMulligan. “Você tem que ficar agüentando ele?”, indagara o alienista, explicando que o homem que atendera a ligação ainda puxara conversa por uns dez minutos. “Temos muito a conversar pessoalmente, podemos nos encontrar no Harvard Club que fica na rua do Algonquin depois da festa, tem um nome bem conveniente, não?”. Depois de uma conversa bem agradável, Redfall confirmou o horário do evento e marcou de se encontrarem no lobby do hotel. Clyde escolheu a roupa mais adequada para a ocasião e uma forma de chegar até a West 44th. Felizmente, apesar de todo o frio, não houve queda de neve e o deslocamento fora bem rápido.

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Abriu novamente a pasta, para conferir se estava levando tudo o que queria. Contou as folhas e deu uma olhada nas ilustrações que selecionara. Michael Sullivan ainda não estava certo do que poderia agradar Charles Burloy, mas fizera o maior esforço em escolher os seus melhores trabalhos. Desde que começara a escrever, seria a primeira vez em que submeteria os contos ao crivo de especialistas literários. Já recebera elogios pelas suas histórias, vindos de cartas mal escritas por editores de almanaques obscuros e outras publicações afins. Ainda poderia tentar a sorte com seus desenhos, era o seu ganha pão e um talento bem cotado. Desde que entrara na polícia, porém, perdera um pouco da prática dos seus desenhos mais fantásticos. Investira maior tempo aperfeiçoando os traços fisionômicos de seus retratos falados. Esperava conseguir alguma coisa do editor, voltar a estimular a imaginação seria ótimo.

Pensava em tudo isso enquanto entrava na rua West 44th. Via algumas pessoas caminhando pelas calçadas e vários veículos encostados no meio fio, descarregando passageiros. A fachada do Hotel Algonquin tornou-se visível após alguns minutos. O letreiro esplendoroso e todas as luzes saindo do hall de entrada pareciam atrair as pessoas. O movimento era grande, mas tanto de entrada quanto de saída, Michael sabia que a noite em Nova York era muito mais atraente. Passou pelo portal do hotel, imaginando quem era e como iria encontrar a pessoa que tinha vindo encontrar.

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O lobby de entrada era bem apertado, porém aconchegante. A decoração interior estava marcada pelo estilo art-deco de linhas e formas bem simétricas nos tetos e nas paredes. O aposento era bem iluminado por um único lustre e alguns abajures de cores claras. Em um canto, estava um grande balcão de atendimento onde funcionários com os padrões brancos do Algonquin revezavam-se para atender os clientes. Havia um espaço para a espera quase como uma grande sala de estar com sofás, mesas e cadeiras de diferentes estilos. Seguindo em frente, através de um portal ladeado por colunas, estava o lobby de elevadores.

Notava-se a tentativa de tornar o espaço bem exclusivo, diferente de tantos hotéis com as decorações genéricas. Não funciona tão bem em um dia como aquele, havia muito movimento entre as grandes entradas e ninguém estava sentado. Os convidados para a festa eram instruídos por uma moça com uma prancheta próxima ao balcão. A jovem confirmava o nome em uma lista e entregava um pequeno cartão, em seguida indicando o caminho até os elevadores e o segundo andar.

Chegamos cedo. Vamos aguardar o Sr. Ross para subirmos. – Sugeria Redfall à Lilith, indicando as poltronas do outro lado. A moça percebia que parecia não haver tantos convidados, pois, esporadicamente, alguém indagava a moça com a prancheta.

Clyde atravessou a entrada alguns minutos depois. Logo, notou o amigo alienista, trajado bem da forma como o vira, certa vez, em uma foto. O velho estava acompanhado de uma jovem mulher que o psicólogo desconhecia.

Sullivan estava decidido a perguntar no balcão aonde seria a festa do Instituto Mogens, quando notou a mulher que atendia os convidados. Um trio, dois homens e uma moça, conversavam e se cumprimentavam ali perto. Via também um casal de convidados saírem em direção aos elevadores portando cartões entregues pela secretária de Mogens. Esperava, sinceramente, que o Sr. Burloy não havia se esquecido de pôr seu nome na lista.
 
Última edição:
Animado e com o coração ribombando forte em seu peito, Michael se aproximou da moça com a prancheta na mão e lhe dirigiu a palavra educadamente.

- Com licença, senhorita. Meu nome é Michael Sullivan e fui convidado pelo Sr. Burloy para a confraternização de natal do Instituto Mogens. Dá uma olhada ao redor e procura por algum rosto conhecido ou ao menos algum rosto amigável. Repassa mentalmente o material que trouxe consigo e se pergunta se fez a escolha certa. "Bem, Michael, agora só lhe resta esperar e rezar pra que dê tudo certo... uma chance como essas não aparece todo dia e você não pode se dar ao luxo de fazer alguma gafe!" E aguarda a resposta da recepcionista.
 
O dia da festa tinha chegado. Lilith se vestira adequadamente, lembrando-se de que haveriam muitas pessoas influentes em seu ramo com quem ela poderia trocar idéias. O por que de Redfall a ter convidado ainda era uma incognita em sua mente, mas talvez o homem só quizesse ser gentil. Ela tratou de tirar esses pensamentos da cabeça, trabalhar em uma delegacia fazia tudo parecer uma trama de filme de suspense. Lilith vestia um vestido até os joelhos, de manga comprida, e uma meia-calça branca por debaixo. Colocou o sobre-tudo, calçou o sapato de salto, e colocou uma leve maquiagem. Somente um brilho nos lábios e um pouco de blush; ela nao queria parecer tão pálida.

A moça desceu de seu apartamento e encontrou Mike Redfall a esperando com o carro na porta. Ele tinha insistido em escortá-la até o hotel. Sem jeito de recusar, a moça terminou por aceitar e os dois seguiram juntos até o hotel; que nao ficava muito longe de onde ela morava.

Mike Redfall: Para o Hotel Algonquin agora... – Anunciou ao motorista, após fechar a porta. – Queira me desculpar, senhorita, por estar a levando para essa celebração tediosa. Fui convidado por um amigo que trabalha no Instituto de Mogens. Então, estou compensando tudo com boa companhia. Acredito que será uma noite proveitosa.


Lilith: Agradesço o convite, Sr. Redfall. Estou ansiosa para chegarmos. *sorriu ligeiramente tentando ser simpática. Nao era todos os dias que alguem como ela tinha uma oportunidade dessas*

Os dois chegaram no hotel e Redfall fez questao de abrir a porta do carro para ela. Lilith desceu e ambos entraram na recepçao do lugar, que estava bem decorado e já parcialmente cheio. Lilith tirou seu sobre-tudo e deu para a moça da entrada, que logo pendurou o casaco junto com outros perto da porta de entrada. A hostess entregou um cartao de entrada para ela e para Redfall, indicando o caminho até onde seria a confraternizaçao.

Redfall: Chegamos cedo. Vamos aguardar o Sr. Ross para subirmos. – Sugeria Redfall à Lilith, indicando as poltronas do outro lado. A moça percebia que parecia não haver tantos convidados, pois, esporadicamente, alguém indagava a moça com a prancheta.

Lilith: Claro. *concordando com a sugestao de aguardarem o amigo dele chegar*

Eles ficaram parados perto de algumas poltronas, à espera do tal Sr. Ross. Lilith observava a decoraçao com cuidado, achando o espaço bem aconchegante e adequado àquela confraternizaçao. Seus olhos passeavam pela entrada, observando as pessoas entrarem no hotel. Um senhor de barba e bem vestido (Clyde Ross) falava com a moça da recepçao. Ele aparentava ser alguém importante, ou pelo menos foi essa a impressao que quizera transparecer pelas roupas que usava. Logo depois, um outro homem chegou à recepçao (Michael Sullivan). Ele também estava bem vestido, e recebeu o mesmo cartao que deram à ela e à Redfall.
 
Clyde Ross

Entusiasmado sobe alguns degraus e cumprimenta diversas pessoas que já ostentavam uma fina taça de cristal em suas mãos com espumante, talvez vinho branco. Estava com bastante esperança de propor suas ideologias e mostrar certa capacidade de poder mudar os rumos da área médica, avista o Sr.Redfall alguns metros de sua frente, desvencilha-se de um convidado chato que teimava em cumprimentar todos, podia até ser um político local, classe que enojava Ross.

- Olá, consegui chegar a tempo, que bom vê-lo.

Aperta a mão de Redfall e tira o chapéu em sinal de cordialidade. Mais algo o chama atenção a jovem moça que estava ao lado.

Pensava :
“Deve ser sua filha, é muito linda, acho difícil ser esposa dele.”

Em outro gesto de cordialidade cumprimenta a moça com um beijo na mão dela. E aguarda um posicionamento e apresentação por parte de Redfall, sem muitas delongas já toma a frente.

- Me chamo Clyde Ross, posso ter o prazer de saber o seu nome jovem senhorita ? Agradeço.

Off : Aguarda que Redfall indique o caminho para se acomodarem.
 
Michael Sullivan dirigiu-se à secretária de Mogens, a moça ouviu atentamente as palavras do rapaz. Sem nada dizer, passou os olhos pela folha da prancheta e em seguida na que vinha atrás. Arqueou as sobrancelhas, em plena expressão de confusão.

- Senhor, não encontro seu nome na lista de convidados. O nome de Charles Burloy está aqui, porém ele ainda não chegou. Não acha melhor esperá-lo?

O escritor encontrava-se desamparado diante daquela situação. Rapidamente, observou as pessoas ali presentes, esperando encontrar algum rosto familiar. Felizmente, não havia ninguém próximo o bastante para ter ouvido a conversa, poderiam tê-lo julgado mal. O movimento na entrada do hotel continuava constante, ninguém se detinha muito tempo no lobby de recepção, e muito dos hóspedes saiam para aproveitar a noite. Um homem, agora via, contudo, observava com curiosidade a situação de Sullivan. Encostado ao balcão, vestido elegantemente com um terno de linho, havia abandonado a leitura de um panfleto para concentrar-se no ocorrido. Afastando os olhos dele, viu o mesmo trio quando entrara no hotel, se cumprimentando. O senhor cumprimentava galantemente a jovem moça, enquanto o velho os apresentava.

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Redfall apertou com firmeza a mão do psicólogo, radiante.

É um enorme prazer conhecê-lo, Clyde, só que não sei se essa é a palavra certa, sinto que nos conhecemos há muito tempo! Irei dispensar qualquer formalidade! – Dito isso, o velho abraçou-o demoradamente, voltando-se para a sua companheira em seguida.

Ah, essa é minha parceira de trabalho na estação policial, Lilith Aldon. Jovem e brilhante. Senhorita, esse é Clyde Ross, meu parceiro de cartas e professor de alguma coisa por aí. – Sorriu e esperou os dois se cumprimentarem. A moça surpreendia-se cada vez mais em ver aquela nova face de Redfall, acostumada que estava em vê-lo sempre lúgubre e cansado, rotineiramente.

Acredito ser uma boa ideia trazer uma mente fresca para renovar nossas conversas de velhacos, tão caducas e cheias de preconceitos! Sem mais rodeios, vamos indo, a confraternização será em breve.

Seguiu em frente, cumprimentando a moça com os convites e conseguindo-os para todos. A secretária indicou o caminho até os elevadores e orientou-o a “subir até o segundo andar e seguir o corredor principal até o Grande Salão do Algonquin”.
 
Michael ficara realmente perturbado e chateado com a situação. De um momento para o outro parecia que tinha caído de uma montanha e sua animação estava no chão. Apenas concordou com a recepcionista que o melhor seria esperar o sr. Burloy e se afastou. Por um momento lhe passou pela cabeça que talvez fosse uma brincadeira, algum golpe de mau gosto, mas logo chacoalhou a cabeça e jogou esses pensamentos para longe de si.

Se afastou a passos lentos e, vendo o senhor que parecia ter observado sua situação, tentou uma aproximação amigável:

- Com licença, o senhor também foi convidado pelo Sr. Burloy? e logo depois A propósito, me chamo Michael Sullivan, prazer em conhecê-lo. e lhe estendeu a mão, cordialmente.
 
Lilith estava parada próxima à seu mentor observando o local e as pessoas que acabavam de chegar. Sua atençao foi logo voltada ao distinto senhor que parou próximo à ela e a Redfall. Os dois se cumprimentaram coordialmente.

Clyde Ross - Me chamo Clyde Ross, posso ter o prazer de saber o seu nome jovem senhorita ? Agradeço.

Ninguém mais, ninguém menos, do que Clyde Ross; o célebre psicólogo de quem tanto ela ouviu falar na faculdade. Ele parecia uma pessoa comum, e bem simples, sem muitos rodeios. Ele nao devia saber da importancia que tinha para os jovens estudantes de psicologia. Mas antes que Lilith pudesse dizer qualquer coisa, Redfall se apressou à sua frente.

Redfall: Ah, essa é minha parceira de trabalho na estação policial, Lilith Aldon. Jovem e brilhante. Senhorita, esse é Clyde Ross, meu parceiro de cartas e professor de alguma coisa por aí. – Sorriu e esperou os dois se cumprimentarem. A moça surpreendia-se cada vez mais em ver aquela nova face de Redfall, acostumada que estava em vê-lo sempre lúgubre e cansado, rotineiramente.

Redfall: Acredito ser uma boa ideia trazer uma mente fresca para renovar nossas conversas de velhacos, tão caducas e cheias de preconceitos! Sem mais rodeios, vamos indo, a confraternização será em breve.


Lilith sorriu para Clyde e o cumprimentou animadamente, muito feliz em conhecê-lo pessoalmente.

Lilith - Muito prazer, Sr. Ross. É uma honra conhecê-lo, já li muito de seus trabalhos durante meu período na faculdade. O Sr. inspira muitos estudantes a continuarem nesse ramo. *sorriu sendo simpática* Adoraria saber mais sobre seus estudos e projetos para o ano que se inicia.

Os 3 conversaram brevemente até resolverem subir para o local onde o evento realmente aconteceria. Lilith, Redfall e Clyde foram andando em direçao aos elevadores do hotel quando a jovem se deu conta de que tinha esquecido seu pequeno bloco de notas no bolso de seu casaco. Ela nao iria conseguir ficar sem, estava ansiosa para tomar notas de tudo o que fosse falado na reuniao.

Lilith - Sr. Redfall, me desculpe.. deixei meu bloco de notas no bolso de meu casaco. Volto em dois segundos! Se quizer ir subindo, posso encontrar com vocês lá em cima. *sorriu brevemente e saiu*

A jovem se retirou e foi andando em passos largos para a porta de entrada no hotel, onde a moça que atendia as pessoas tinha guardado seu casaco. Lilith parou próxima à ela, que lia atentamente a lista de presentes e balançava negativamente a cabeça olhando para o homem à sua frente.

Lilith - Com licença. *interrompendo a moça e Michael Sullivan* Desculpe interromper... será que posso ter acesso ao meu casaco por 2 segundos? Esqueci algo dentro do bolso. *pegou um papelzinho dentro da bolsa que continha um número* Aqui está meu número... 48, por favor. *entregou o papelzinho à mulher e ficou esperando. O homem parado ao seu lado parecia ligeiramente encomodado com algo. O olhar dos dois se encontraram por breve segundos ates da jovem desviar em direçao à mulher que tinha sumido em direçao aos casacos.*
 
Sullivan abordou cordialmente o homem que o observava, esperava que se compadecesse de sua situação, além de não ter muitas escolhas para o momento. O outro foi pego de sobressalto, logo que o desenhista aproximou-se e estendeu-lhe a mão.

Barrington Henly, é um prazer conhecê-lo, igualmente. – Respondeu incerto, sem apertar a mão estendida. O homem tinha um acentuado sotaque inglês e havia apertado os olhos castanhos ao fitar Sullivan, com estranheza. – O Sr. Burloy? Eu suponho que você não o conheça pessoalmente, certo? Não é dessa forma que vais conseguir entrar. Posso tentar alguma coisa, sim, espere um instante.

Dizendo isso, marchou em direção à moça com a prancheta. Sussurrou algumas palavras e retirou algum documento do bolso para mostrá-la, em seguida, apontou diretamente para Michael. A secretária não tardou em dar uma resposta e, poucos instantes depois, Sullivan se via atravessando o hall em direção aos elevadores.

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O segundo andar do Algonquin dedicava-se a fornecer salas de conferências e reuniões aos hóspedes e quem de fora quisesse alugá-las. Havia uma grande variedade de salas ao longo do largo corredor, todas vazias e escuras, mas ao fim, o enorme salão estava completamente aceso e barulhento. Um funcionário do hotel posto na entrada recolhia os casacos e chapéus dos convidados, guardando também quaisquer pertences lhe fosse requisitado. O maitre tomava os cartões entregues no térreo e supervisionava tudo, além de indicar os recém-chegados às suas respectivas mesas.

Clyde Ross entregou seu próprio convite quando um homem passou esbarrando nele, em direção aos corredores, continuou sem se desculpar e nem olhar para trás.

Estamos mesmo perdendo a capacidade de ajudar-nos. Tempos frios. – Suspirou Redfall ao ver a cena. Cumprimentou o maitre e esperou enquanto este os indicava a mesa onde ficariam.

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Lilith Aldon entrou no salão junto com os outros dois, surpreendeu-se com a pompa do recinto, tão diferente do discreto hall do térreo. Candelabros e lustres iluminavam tudo e ainda havia um belo teto de vidro com vista para um nublado céu. O salão estava repleto de mesas, redondas e bem decoradas, embora não houvesse muitos convidados. O grupo foi conduzido até a área central onde se encontrava a maioria das pessoas, já sentadas e conversando aos sussurros. A psicóloga logo percebeu que ao lado do balcão um garçom batia com os dedos em uma taça de cristal, exigindo silêncio.

Bem a tempo. O Sr. Mogens chegou há pouco e fará um breve discurso. – Informou o maitre, enquanto afastava as cadeiras para trás, oferecendo os lugares.

Na entrada, o funcionário recolhia os casacos dos recém-chegados, enquanto olhava ansioso para dentro do salão.

Não se preocupe amigo, podemos muito bem encontrar nossos lugares sozinhos. – Anunciou Barrington, dando uma tapa nas costas do outro e seguindo adiante. Michael não teve alternativa, senão segui-lo. Felizmente, não atraíram muita atenção ao se sentarem, todos os olhos se voltavam ao senhor junto ao balcão. Austero, Ambrose Mogens perscrutava todo o recinto, reconhecendo e acenando para alguns convidados. O homem de quarenta anos era um magnata respeitado na alta sociedade, havia herdado toda a fortuna, além do próprio instituto de pesquisas, de sua família. Ao seu lado, um jovem ruivo, possivelmente alguém de confiança. Ambrose pigarreou e começou.

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Primeiramente, quero agradecer a presença do secretário de saúde da nossa cidade, Dave White. Esperamos por em prática, dentro de poucos meses, o programa de esterilização e de prevenção de doenças. As pesquisas alcançadas pelo Instituto permitirão garantir mais saúde á nossa população. – Uma breve e discreta salva de palmas interrompeu por alguns segundos o discurso. – Este foi um grande ano para o Instituto e eu devo agradecer a todos vocês por isso. Nós quebramos vários paradigmas e acredito, verdadeiramente, que no próximo ano nossa estrela irá ascender. Eu espero que vocês aproveitem as festividades da noite, infelizmente, o serviço me chama, mas, por favor, fiquem e aproveitem, vocês merecem. Boa noite.

Mais uma vez uma salva de palmas, dessa vez mais calorosa, enquanto Ambrose e seu parceiro saíam por uma entrada lateral, por trás do balcão. Um murmúrio de conversas dominou o salão, agitadas, onde se sobressaía um único assunto. – Um sujeito pretensioso... – Alguém resumia Mogens. – Viram como Eugene exerce uma boa influência? – Uma mulher falava a respeito do garoto ruivo. – Não gosto nem um pouco do rumo desses projetos! – Disparava um sujeito sobre os programas patrocinados pelo Instituto. No balcão, garçons começavam a fornecer bebidas, todas não alcoólicas. – O jantar será servido em quinze minutos. Sirvam-se de bebidas no bar. – O maitre passava pelas mesas, anunciando. Uma pequena banda instalou-se no palco que ficava no extremo canto do recinto, começaram a tocar um tradicional e animado jazz.

Bem, vamos nos servir. Espero tomar um bom cappuccino para esquentar! – Dizia Redfall, levantando-se da mesa. – O que vocês acharam do homem?

Em uma mesa ali perto, Barrington mantinha um rosto impassível, enquanto desprezava as bebidas postas no balcão.

Onde está o velho scotch? – indagou, tristemente. – O que faz da vida, garoto? – Perguntou, virando-se para Sullivan.
 

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