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Apenas uma dúvida de interpretação em O Silmarillion (me ajuda ;( ).

Junindalf :)

Usuário
Seguinte, acabei de ingressar no Legendarium de Tolkien (estou no livro de O silmarillion), e fiquei bem confuso quanto a um paragrafo do começo do livro.

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Simplesmente não entendi oque Ilúvatar queria dizer e oque Ulmo pensou sobre isso.
Me desculpem se for algo bobo, não sei se é difícil mesmo de entender ou sou eu que tenho dificuldade.
 
Seguinte, acabei de ingressar no Legendarium de Tolkien (estou no livro de O silmarillion), e fiquei bem confuso quanto a um paragrafo do começo do livro.

Ver anexo 95688
Simplesmente não entendi oque Ilúvatar queria dizer e oque Ulmo pensou sobre isso.
Me desculpem se for algo bobo, não sei se é difícil mesmo de entender ou sou eu que tenho dificuldade.
Não é nada bobo, esse trecho tem um significado muito profundo, tanto filosófico extra-obra quanto mítico intra-obra, ou seja, Mundo Primário e Mundo Subcriado.

No Mundo Primário denota o reino de Ulmo, o Mar, como uma potência natural terrível, um verdadeiro símbolo do Caos, tanto que em diversas culturas antigas as águas primitivas denotam um estado pré-cósmico de desarranjo, o pré-formal, aquele reino ainda não manifestado, informe, virtual. Não é algo mau por si, é simplesmente desordenado, caótico, por isso pode ser violento. No relato bíblico do Gênesis, por exemplo, diz-se que o 'espírito de Deus pairava por sobre as águas', essas águas primitivas foram logo ordenadas em águas superiores (símbolo do céu, das chuvas, fenômenos atmosféricos) e águas inferiores (águas subterrâneas, ligadas à morte e transformações profundas). As águas superiores e inferiores desempenharão um papel simbólico importante na alquimia também, onde as últimas tratam de um processo de dissolução (solve) do que há de impuro e condicionado no espírito do homem para que pelo recebimento das águas superiores da graça da Obra alquímica, ele, já como homem purificado ao estado edênico de Adão, o supere, sendo configurado a Cristo. Da mesma forma, os Padres da Igreja nos primeiro séculos viam o sacramento do batismo como um sepultamento do neófito nas águas da morte para que renascesse como novo homem em Cristo, ou seja, o caráter inferior e caótico da água realizava a morte simbólica na imersão e na emersão, quando o fiel saía da água batismal, essa água se tornava fonte de vida, símbolo que o próprio Cristo atribuía a si mesmo, indicando que o fiel, morto, renascia simbolicamente como Cristo morreu na Cruz e ressuscitou para salvar toda a humanidade. A ideia de águas pré-formais e o uso da água para integrar o ser humano nessa pureza virginal do princípio dos tempos é universal (só ver os vários mitos do dilúvio na própria Bíblia, na Mesopotâmia, Egito), mas ele não esconde o aspecto caótico e violento da água, apenas revela sua dicotomia profunda: como símbolo de transformação, ela pode limpar, mas pode afogar.

Isso. trazido para o legendarium, é revelador. Para entender melhor isso é bom buscar o livro da 'Queda de Gondolin' que é menos um conto que um trabalho editorial do Christopher Tolkien de reunir, coligar e explicar a história das várias versões desse conto; ali o Tolkien filho reflete a analisa sobre o papel de intercessor e grande aliado dos homens e de todos os povos livres da Terra-média que Ulmo desempenha, especialmente dos noldor. A ideia de um britânico, como Tolkien, uma nação marcada pelo desenvolvimento e expansão marítimas sem par (apesar das reservas do próprio Tolkien a esse imperialismo), do Mar é de que ele é tremendamente perigoso, mas é uma garantia de liberdade também, de expansão, ele simboliza a profunda música que Deus colocou no seio do mundo. Metafisicamente podemos entender que se Morgoth é associado ao Mar a partir da tentativa de perverter Ossë, que se toma de uma violência que nunca o abandonou, o Mar é essencialmente um poder de Ulmo, o seu reino da purificação das formas quando estas se tornam pesadas e sujas de pecado e transgressão. A missão de Ulmo, mesmo indo contra o que os outros Valar poderiam decretar, é exatamente a prova de que Eru, ao criar o mundo, não o faz como um relojoeiro distante que programa um mecanismo, o põe para rodar e o abandona á própria sorte, não, o Mar e todos os leitos de rios, praias e estuários são o sangue da vida do mundo, porque neles corre a substância transformadora que ao mesmo tempo forma o Mundo desde seu princípio e é até anterior á própria forma, é capaz de desfazer as formas e padrões fixos de comportamentos, regras, interdições, ou seja, se ela traz o julgamento divino como na Queda de Númenor, ela é capaz de reintegrar e reabsorver as formas caídas em uma unidade superior de vida mais pura, de libertação da opressão. Em certo sentido, é o oposto do Anel de Morgoth.
 
Ilúvatar disse que Melkor, ao fim e ao cabo, acabou melhorando a criação coletiva, apesar de não ter sido essa a intenção dele.
Isso é importante porque denota isso mesmo, a ideia de que tudo de pervertido que o Anel de Morgoth pode engendrar não macula as Águas Primevas, tanto é assim que o Silmarillion fala que os servos de Morgoth sempre odiaram o Mar; e o Escuro sempre evitou fazer guerra pelo Mar. É algo único na Criação porque todo o resto, ainda que para a maior glória de Eru, pode ser pervertido, exceto o Mar, justamente por ser algo que, apesar de físico, manifestado, carrega o gérmen da incorruptibilidade do pré-formal. Um traço do princípio dos tempos, uma pegada de Eru.
 

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