Lucas_Deschain
Biblionauta
[align=justify]A Elisabeth de fato parece ser um personagem deslocado. Acho que o principal motivo de ela estar na história é para realçar o Joseph, até porque, se levarmos em consideração o título do livro, dá para pensar que o foco principal da história é Joseph e sua ligação com a terra por meio de seu pai-carvalho, não? Se o mote principal da coisa toda é tratar desse Deus desconhecido, então a Elisabeth veio realçar por contraste as características e o caráter de Joseph, e, a meu ver, além disso, de mostrar como Joseph e os demais "homens rústicos" que são asseclas desse "peculiar culto" são bem distintos dos valores que a sociedade cosmopolita está acostumada a aceitar ou cultivar em seu bojo. Não que eles sejam inadequados ou inadaptáveis, mas sua visão de mundo e sua ligação com a própria realidade é outra, que difere abissalmente do modo de vida das cidades e, porque não dizer, do capitalismo (afinal o capitalismo modifica as relações de produção, no caso da terra ela passa de elemento de grande poder simbólico, místico e ontológico para terreno com potencial de produção para lucros posteriores. Talvez não de forma tão dicotômico, mas a instrumentalização da terra é algo a ser considerado sim). O que acha?
Só para constar aqui: toda vez que lia que o Joseph ia falar com o pai-carvalho, me lembrava daquela árvore anciã do Pocahontas (que descobri ao procurar a imagem que se chamava Vovó Willow), eis a imagem que me vinha a cabeça:[/align]
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[align=justify]Sobre os personagens similares ao Joseph, acho que em As Vinhas da Ira dá para pegar de exemplo o Avô Joad, que tem que ser dopado para que possam retirá-lo de suas terras, que ele pretende morrer mas não abandonar. Aquele outro rapaz, cujo nome não me recordo, que no início do Vinhas também, está com Tom e com Casey em uma propriedade quando a polícia chega, ele fala algo como: "essa terra é minha, eu vivi aqui toda a minha vida, não podem me tirar daqui" e adjacentes. Talvez não dê para comparar do ponto de vista de comunhão espiritual, até porque o Steinbeck vai amadurecendo a escrita e as idéias dele de modo a se pautar mais na realidade material (sob cuja égide surgem suas opus magnus [sob cuja égide está certo?]).
Todos os personagens rurais de Steinbeck apresentam algum virtuosismo, mas creio que no quesito relação espiritual com a terra o Joseph está na frente. É que conforme ele foi amadurecendo suas concepções, a idéia de misticismo foi dando lugar a uma visão mais pautada na realidade social, na materialidade, entende, não no espírito necessariamente, mas na crueza do real. Por isso que ele vem a desenvolver o realismo de maneira mais pujante nas suas próximas obras.
E o engraçado é que dessa inspiração realista, mais crua e menos desprovida de vôos abstratos mas cheia de aguda percepção social, ele vai voltar-se a uma escrita mais filosófica, mais voltada a especulações mais universais sobre a natureza humana. A Leste do Éden é o ápice disso, e O Inverno de Nossa Desesperança talvez seja o réquiem, que conseguiu, não de forma grandiosa, mas com uma literatura deliciosa, juntar um pouco dos dois com síntese e espirituosidade. Vale lembrar, esse livro trouxe o nome de Steinbeck as luzes da ribalta de novo, porque essa foi a obra lembrada na escolha da Academia Sueca quando da atribuição do Nobel.
Tem mais uma questão que está martelando aqui, mas posto depois das tuas considerações para o post não ficar grande demais.[/align]
Só para constar aqui: toda vez que lia que o Joseph ia falar com o pai-carvalho, me lembrava daquela árvore anciã do Pocahontas (que descobri ao procurar a imagem que se chamava Vovó Willow), eis a imagem que me vinha a cabeça:[/align]
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[align=justify]Sobre os personagens similares ao Joseph, acho que em As Vinhas da Ira dá para pegar de exemplo o Avô Joad, que tem que ser dopado para que possam retirá-lo de suas terras, que ele pretende morrer mas não abandonar. Aquele outro rapaz, cujo nome não me recordo, que no início do Vinhas também, está com Tom e com Casey em uma propriedade quando a polícia chega, ele fala algo como: "essa terra é minha, eu vivi aqui toda a minha vida, não podem me tirar daqui" e adjacentes. Talvez não dê para comparar do ponto de vista de comunhão espiritual, até porque o Steinbeck vai amadurecendo a escrita e as idéias dele de modo a se pautar mais na realidade material (sob cuja égide surgem suas opus magnus [sob cuja égide está certo?]).
Todos os personagens rurais de Steinbeck apresentam algum virtuosismo, mas creio que no quesito relação espiritual com a terra o Joseph está na frente. É que conforme ele foi amadurecendo suas concepções, a idéia de misticismo foi dando lugar a uma visão mais pautada na realidade social, na materialidade, entende, não no espírito necessariamente, mas na crueza do real. Por isso que ele vem a desenvolver o realismo de maneira mais pujante nas suas próximas obras.
E o engraçado é que dessa inspiração realista, mais crua e menos desprovida de vôos abstratos mas cheia de aguda percepção social, ele vai voltar-se a uma escrita mais filosófica, mais voltada a especulações mais universais sobre a natureza humana. A Leste do Éden é o ápice disso, e O Inverno de Nossa Desesperança talvez seja o réquiem, que conseguiu, não de forma grandiosa, mas com uma literatura deliciosa, juntar um pouco dos dois com síntese e espirituosidade. Vale lembrar, esse livro trouxe o nome de Steinbeck as luzes da ribalta de novo, porque essa foi a obra lembrada na escolha da Academia Sueca quando da atribuição do Nobel.
Tem mais uma questão que está martelando aqui, mas posto depois das tuas considerações para o post não ficar grande demais.[/align]