Mesmo permanecendo sob o controle estatal, a Cemig vem apresentando melhores desempenhos que os verificados nas áreas de concessão das distribuidoras fluminenses. No que diz respeito à qualidade dos serviços, em 2002, enquanto o Rio de Janeiro, atendido em sua quase totalidade pela Light e pela Cerj, apresentou um DEC de 14,52 e um FEC de 11,03, Minas Gerais, atendido em sua quase totalidade pela Cemig, ‘saiu-se’ com 12,90 de DEC e com 7,64 de FEC.
No quesito qualidade, a Cemig, que serve a uma área de 560 mil km2, extensão territorial equivalente a do território francês, tendo, para isto, que fazer uso de uma rede de distribuição de 330 mil km – tamanho que lhe daria o título de maior rede de distribuição da América Latina, e quarta do mundo6 –, atendendo as regiões mais e menos desenvolvidas economicamente do estado, alcança índices de qualidade bem próximos aos da Light, que atende apenas as regiões mais desenvolvidas do Estado do Rio de Janeiro, que, devido a essa característica, consegue garantir um faturamento líquido bem próximo ao da Cemig, com uma rede inferior mais de 20 vezes à dessa. Em 2002, o DEC da Light foi de 10,05, e o seu FEC de 6,93, enquanto o desempenho da Cemig foi de 13,01 e 7,34, respectivamente. Esse desempenho da distribuidora mineira se mostrou bem superior ao da Cerj, que , nesse ano, apresentou DEC na casa dos 22,38 e FEC de 18,947.
O satisfatório desempenho da Cemig nos indicadores que medem a qualidade dos serviços prestados pelas distribuidoras radica, possivelmente, na prudente gestão da empresa implementada por seus controladores. O fato de permanecer estatal, sob o controle do governo do estado onde atua, afastou a Cemig das temerárias políticas de endividamento implementada pelos gestores privados de várias distribuidoras brasileiras, incluindo aí as companhias Light e Cerj, políticas que as colocam hoje sob risco de colapso financeiro e, conseqüentemente, físico, mesmo depois das radicais políticas de aumento de lucratividade que adotaram8. A mesma prudência que parece ser uma das marcas da administração da concessionária mineira observa-se na comparação da aplicação de suas políticas de aumento de produtividade com as implementadas pelas distribuidoras fluminenses. Entre 1996 e 2001, a Light promoveu um corte de 25% do total de seu quadro de funcionários, enquanto a Cerj realizou uma diminuição da ordem de 69% (!) de seu pessoal. Já a Cemig, no mesmo período, fez desaparecer 3.635 postos de trabalho, 25% do seu total, passando de 14.923 para 11.288 funcionários em atividade na empresa. Com esses cortes, a distribuidora de Minas Gerais, no período em questão, passou de uma média de 286 consumidores por funcionário para 479. Em 2001, a Light apresentou uma média de 719 consumidores por funcionário; já a Cerj, 1.310!9 Ainda, como se não bastasse, no final de 2002, a Cemig cobrava uma das tarifas mais baixas da região Sudeste do Brasil, superior apenas à da Cerj, que ainda não havia realizado o seu reajuste anual, marcado para o último dia do ano, enquanto a Light cobrava as tarifas mais caras do país10.
Tudo isso, ao que tudo indica, se relaciona com o bom desempenho da distribuidora de Minas Gerais em outro indicador de qualidade, o que mede a satisfação dos consumidores, o ISC. Aqui, enquanto a estatal mineira apresentou, em 2002, índice de primeiro mundo, ou seja, 70,13% de satisfação, a Light se saiu com medíocres 64,07% e a Cerj com a péssima marca de 59,39%. Certamente, essa maior satisfação do consumidor da Cemig está relacionada ainda a uma atuação mais homogênea dessa Companhia em sua área de concessão, como se pode notar através da análise dos indicadores de qualidade desagregados. Esses fazem notar que, em 2001, na área de atuação da Light o melhor DEC foi superior ao pior em mais de 200 vezes, e que o melhor FEC superou em mais de 100 vezes o pior. Nessa área, o melhor índice de qualidade foi observado, nesse ano, no bairro da Zona Sul carioca do Leblon (DEC 0,32 e FEC 0,28) e o pior, na periferia de Xerém (DEC 65,76 e FEC 33,53). Por seu lado, a Cerj, no mesmo ano, teve seu melhor desempenho no quesito DEC em Tapera, localidade de Itatiaia, e o seu pior na localidade de Barracão dos Mendes, Nova Friburgo, apresentando uma diferença entre um outro de mais de 38 vezes (3,36 e 130,61); no FEC, essa diferença foi de 41 vezes a favor de Tapera em relação ao município de Varre-Sai, que apresentou o pior resultado no quesito (1,76 e 73,54). Já a Cemig, em 2001, apresentou uma diferença entre o seu melhor e o seu pior DEC de apenas 8 vezes (3,47 em Belo Horizonte e 27,58 na região de Araçuaí), e uma diferença de 5 vezes no que diz respeito ao FEC (3,04 em Belo Horizonte e 14,76 em Araçuí). No nível dos estados, observa-se que a diferença entre os melhores e os piores no quesito qualidade dos serviços de eletricidade no Rio de Janeiro é de mais de 300 vezes no caso do DEC (Leblon 0,32 e Barracão dos Mendes 130,61) e de mais de 260 vezes no caso do FEC (Leblon 0,28 e Varre-Sai 73,74), enquanto que no Estado de Minas Gerais a diferença é de apenas 8 vezes no DEC e de 5 vezes no FEC, como visto.