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Anulação do leilão da Vale!

  • Criador do tópico Fafa
  • Data de Criação
Só uma outra coisa, qdo dizem q o Valor de +ou- U$ 4bi por 50% das ações foi pouco em 97 já q a empresa vale hoje U$ 100bi é ignorancia já q a empresa só deu o boom em 2002, já 5 anos depois de privatizado devido a entrada do Roger Agnelli na compania. Em 2001 a empresa ainda valia pouco mais U$ 13bi. Parte disso foi devido ao investimento pesado de U$ 2bi por ano enquanto havia uma média de U$ 200M por ano antes.
Eu gostaria de ter mais números nesse tópico. Tipo, como foi a compra da Vale, quantas e quais ações, quanto se pagou, quanto a empresa estava valendo na época e um ano depois, etc. Alguém se habilita?

E se possível, fontes.
 
Ana, dessa vez eu tenho q concordar com o TT1. E olha q isso é raro acontecer, ainda mais nos termos politicos.

A re-estatização da Vale não se passa de uma bravata do PCdoB, PSTU e outros mais. Não existe nada de concreto além da vontade da esquerda q isso aconteça. Não existe nada de realmente sério nessa discussão que deve ter sido lançada pelo jornal do Sindicato dos Mineradores, loucos pra virarem servidores publicos.
Mas Fingol, eu não disse que há qualquer coisa concreta ou provada. Eu só estava respondendo ao Logan, que tinha falado em não fazer nada para não "ameaçar a estabilidade econômica"; na minha opinião há indícios, e eles são suficientes para uma investigação.

Vinícius, se vc não coloca as aspas, como eu vou ter certeza de que vc está usando ironia? Eu não falei em re-estatizar, mas tvz em cobrar um preço justo, ou quem sabe pelo menos punir os responsáveis. E quanto a isso, não acho que seja bravata. E se for de fato uma ilusão, tanto pior.
 
Eu não falei em re-estatizar, mas tvz em cobrar um preço justo, ou quem sabe pelo menos punir os responsáveis.

Existe aqui um problema Ana. O leilão da Vale foi vendido por um preço abaixo do mercado e eu concordo com isso. Mas não estamos comparando 10bi do valor total da companhia em 97 com os 100 bi de hoje. Estamos falando de q as ações valiam +ou- 5bi e foram vendidas por 3.5 quase 4.

Lembrando que foi vendida apenas metade da vale, sendo que a maioria era de ações ON com direito a voto para dar o controle administrativo da empresa. Mas vale lembrar que o governo ainda tem direito a veto dentro do conselho executivo da empresa podendo vetar por exemplo a venda das ações da mesma para um grupo estrangeiro.

Não estou aqui dizendo que a venda da CVRD foi feito no mais legítimo dos processos não. Apenas que foi tão legítimo quanto qq outro negócio do governo. E isso nós sabemos q não significa muito.

Mas comparar o preço de venda em 97 com o preço de mercado 10 anos depois é pura bravata sim. Não sua, mas de quem faz isso.
 
Uma coisa que me incomoda é não entender de economia o suficiente pra assimilar algumas coisas. Meu conhecimento de economia se resuma às aulas de geografia do colégio, de economia política e direito empresarial da faculdade, e o basicão de jornal. Ou seja, quase nada.

O que eu queria saber é porque a Vale não poderia crescer ainda com capital majoritariamente público. Quais as reais vantagens para o país com o fato de ela ser administrada pela iniciativa privada, e não pela pública. É fácil ver que ela cresceu muito e que a administração pública tem problemas. Mas a Petrobrás, por exemplo, é uma sociedade de economia mista, considerada de natureza privada, mas com capital majoritariamente público.
 
Maglor, eu tb não tenho a capacidade de te responder com a complexidade desejada mas sei explicar algumas coisas. Vamos lá:

Não se pode comparar a Petrobras com a Vale pq a rentabilidade do petróleo é ABSURDAMENTE maior que a do Minério de Ferro. A Petrobrás extrai Petróleo a aproximadamente U$ 5 o barril e vende a U$ 60. Nem cocaína dá tanto lucro assim. Se a Petrobras fosse privada ela daria um lucro absurdamente maior, mas concordo que, em virtude do seu negócio, é melhor para o país continuar do jeito que está.

Já o minério de ferro é vendido a +ou- U$ 45 a tonelada. Já dá para ver a diferença aqui. O preço de um barril é maior doq o de uma tonelada de minério. Além disso existe um grande problema pq o Brasil está muito longe do maior mercado consumidor, a China. Pagamos quase outros U$ 45 por tonelada de frete pra levar o minério até lá. Nossos maiores concorrentes(BHP Tiliton, Rio Tinto e Anglo Américan) tem presença forte na Austrália e India. Com isso o preço do frete deles é muito mais competitivo.

Oq a CVRD fez então? Precisou de investimento. Investimento em navio, investimento em minas internacionais. Investimento em aumento de produção das minas aqui para diminuir sua margem de lucro mas ganhar em volume vendido.

O investimento da era Roger Agnelli foi em média 10x o investimento anterior(incluindo aí até os 3/4 primeiros anos após a privatização onde a CST comandava a CVRD mas tb com pouco investimento).

Ele também decidiu como política vender todos os negócios da vale e focar apenas em 2 áreas: mineração e logística. Com isso a CVRD vendeu parte que tinha em diversas siderurgicas e todo seu negócio de celulose e papel que era dos mais lucrativos. Com foco no negócio ele aumentou a lucratividade do seu carro chefe, o minério.

Po, será q o governo não podia investir na CVRD 10x oq investia e lucrar assim? Bem exitem 2 problemas nisso:

1o - custo de capital. O governo tem que priorizar seus investimentos. Ele até pode investir U$ 3 bilhões na CVRD todo ano, mas ele não pode investir 3 bi na CVRD, depois mais 3 bi na Petrobras, outros 3 bi em energia elétrica e na Saúde, Educação, Aviação etc etc etc.

Acho que assim como a Vale fez o governo precisa, para ganhar produtividade, competencia e crescimento, focar no seu core business que é governar, regulamentar e dar condições ao seu povo. Isso é um pensamento meio neoliberal mas eu acho que qdo o esforço é dividido oq é prioridade ganha atenção e oq não é fica deixado de lado, como foi com a CVRD.

2o - Existe um problema cultural. Qtas pessoas vc já não ouviu dizer que queriam virar servidores publicos pra trabalhar menos? O Kabral é um q disse isso no ultimo botão. Qdo existe a pressão por resultados a pessoa rende mais e a empresa cresce mais. Isso é natural. Infelizmente.

Por isso eu acho que cabe ao governo a questão regulamentadora, se envolvendo diretamente no mercado privado apenas para evitar distorções e "proteger a nação". Por exemplo, impedindo que o controle executivo da CVRD seja de um grupo estrangeiro.

Para quem não sabe, a CVRD foi comprada pelo grupo formado pela CST, Bradespar(Bradesco Participações) e a Previ. Em um primeiro momento a gestão foi da CST mas ela acabou saindo do grupo e desde então tem sido da Bradespar. No entanto o governo continua com forte presença nas ações(embora não na gestão) incluindo direito a veto em algumas negociações.
 
Última edição:
Maglor, na verdade a pergunta é inversa. Pq todas as estatais funcionam mal e a Petrobras funciona bem? Veja, a Petrobras é uma exceção, como o Luís explicou acima.

Ou seja, as estatais poderiam funcionar bem? Na teoria sim, mas na prática isso não acontece. Deus sabe lá como a Petrobras estaria se fosse privada. Provavelmente muito melhor - embora eu tbm não esteja defendendo sua privatização.
 
Eu não acho que essa discussão seja possível sem levar em conta outros aspectos, mais gerais, que também estão envolvidos nesse assunto. Tais como, globalização, imposição de determinado modelo econômico ao Brasil etc.

Acho que assim como a Vale fez o governo precisa, para ganhar produtividade, competencia e crescimento, focar no seu core business que é governar, regulamentar e dar condições ao seu povo. Isso é um pensamento meio neoliberal mas eu acho que qdo o esforço é dividido oq é prioridade ganha atenção e oq não é fica deixado de lado, como foi com a CVRD.

Meio não, isso é um pensamento totalmente neoliberal. :neutral:

A questão é que "governar, regulamentar e dar condições ao seu povo" envolve, em grande medida, ter controle sobre áreas estratégicas da economia do país.

Se para essa questão interessasse apenas "competência" e "produtividade", então vamos privatizar tudo. E tudo inclui polícia, hospitais, escolas e universidades, administração de rede de saneamento básico etc. Mas o que está em jogo, definitivamente, não é apenas "competência" e "produtividade".

Talvez não faça diferença para uma pequena parcela da população (representada em peso aqui no fórum) ter ou não escolas e hospitais públicos, mas certamente é essencial para a maior parte da população brasileira.

No final das contas, a discussão é sobre o papel do Estado na sociedade. Se é "governar, regulamentar e dar condições ao seu povo", então privatização, "liberalização" etc são assuntos que não podem ser pensados apenas através de categorias como produtividade e competência.

2o - Existe um problema cultural. Qtas pessoas vc já não ouviu dizer que queriam virar servidores publicos pra trabalhar menos? O Kabral é um q disse isso no ultimo botão. Qdo existe a pressão por resultados a pessoa rende mais e a empresa cresce mais. Isso é natural. Infelizmente.

Isso só é natural no capitalismo. É incrível como no capitalismo este cria a ilusão de ser o único sistema sócio-econômico viável, existente atualmente e historicamente.

Uma inversão é interessante nesse ponto: Porque as pessoas querem trabalhar menos?

Isso não é nada estranho, ainda que não seja natural, e provavelmente é parte da solução. Só em um sistema onde o trabalhador não reconhece resultado do trabalho como produto do seu trabalho que trabalhar é um sofrimento, um sacrifício ou uma imposição. Trabalho é, ou melhor, deveria ser, emancipação e não imposição.

E isso não é "cultural" da forma como você entende esse conceito (ou seja, como algo que está relacionado aos costumes nacionais, corrija-me se eu estiver enganado), mas cultural porque se desenvolve através de determinadas relações de produção, de forma nenhuma exclusivas do Brasil.
 
Paulo disse:
A questão é que "governar, regulamentar e dar condições ao seu povo" envolve, em grande medida, ter controle sobre áreas estratégicas da economia do país.

Se para essa questão interessasse apenas "competência" e "produtividade", então vamos privatizar tudo. E tudo inclui polícia, hospitais, escolas e universidades, administração de rede de saneamento básico etc. Mas o que está em jogo, definitivamente, não é apenas "competência" e "produtividade".
Concordo que ter controle sobre áreas estratégicas é importante, mas uma empresa (no caso da Vale, Petrobras, Eletrobras, Embratel, etc) é muito diferente das instituições de ensino, saúde e segurança pública. Além da óbvia relevância social de cada um deles, o processo de gestão é muito diferente, por conta da diferença de foco. edit: Concordo com o Luís que empresas não fazem parte do core business do Governo, e que por isso, ele se torna mal gestor.

Paulo disse:
Isso só é natural no capitalismo. É incrível como no capitalismo este cria a ilusão de ser o único sistema sócio-econômico viável, existente atualmente e historicamente.
Bom, isso aí já é outro viés da discussão. Se não estivéssemos num sistema capitalista, nem existiria a questão da privatização. Dentro do contexto atual, eu sou a favor de privatizações em geral (cada caso deve ser analisado independentemente).

Aliás, como acabei de dizer, ambos os lados, seja pró ou contra privatizações, deveriam ponderar um pouco e se dar conta que ambos têm sido radicais. Uns querem privatizar tudo outros não querem privatizar nada. Sendo que a análise de privatizar ou não, vai variar muito de empresa para empresa, a forma como vai ocorrer a privatização, e quais as condições impostas aos novos donos.
 
Última edição:
Concordo que ter controle sobre áreas estratégicas é importante, mas uma empresa (no caso da Vale, Petrobras, Eletrobras, Embratel, etc) é muito diferente das instituições de ensino, saúde e segurança pública. Além da óbvia relevância social de cada um deles, o processo de gestão é muito diferente, por conta da diferença de foco.

Ué, mas comunicações, energia etc são áreas estratégicas.

O processo de gestão é tão diferente quanto o da segurança pública e da educação.

edit: Concordo com o Luís que empresas não fazem parte do core business do Governo, e que por isso, ele se torna mal gestor.

Eu vou insistir nisso: Se os objetivos do governo são aqueles que o Luis mencionou, então é necessário o controle de áreas estratégicas da economia. Se a idéia fosse "ser um bom gestor" (seja lá o que isso signifique) então a privatização seria um bom negócio, mas, repito, a questão vai além disso.

Bom, isso aí já é outro viés da discussão. Se não estivéssemos num sistema capitalista, nem existiria a questão da privatização. Dentro do contexto atual, eu sou a favor de privatizações em geral (cada caso deve ser analisado independentemente).

Você descontextualizou a minha frase.

Eu não estava mais discutindo se esse era ou não um argumento válido a favor das privatizações, mas que não era natural.

Por outro lado, uma empresa estatal pode tentar escapar, ainda que minimamente, dessa lógica. E isso é ótimo.

Aliás, como acabei de dizer, ambos os lados, seja pró ou contra privatizações, deveriam ponderar um pouco e se dar conta que ambos têm sido radicais. Uns querem privatizar tudo outros não querem privatizar nada. Sendo que a análise de privatizar ou não, vai variar muito de empresa para empresa, a forma como vai ocorrer a privatização, e quais as condições impostas aos novos donos.

Isso está relacionado com o que eu falei no meu outro post. Essa discussão não pode acontecer, de forma satisfatória, sem levar em conta outros aspectos como globalização, o modelo econômico vigente no país etc.

E acredite, para os grandes interessados nas privatizações a idéia é realmente privatizar tudo. Debilitar o Estado o quanto for possível.
 
Bruce disse:
Concordo que ter controle sobre áreas estratégicas é importante, mas uma empresa (no caso da Vale, Petrobras, Eletrobras, Embratel, etc) é muito diferente das instituições de ensino, saúde e segurança pública. Além da óbvia relevância social de cada um deles, o processo de gestão é muito diferente, por conta da diferença de foco.
Paulo disse:
Ué, mas comunicações, energia etc são áreas estratégicas.

O processo de gestão é tão diferente quanto o da segurança pública e da educação.
E onde eu falei que comunicações e energia não são áreas estratégicas?

E sobre a diferença de gestão, negativo. O foco de um é prestação de serviço público, o foco de uma empresa é lucro, e em competição com setor privado. Isso faz toda a diferença. Polícia, escola, hospitais públicos, não são empresas. Vale, Eletrobras, Petrobras, Embratel, são, e apesar de serem ou terem sido empresas públicas, nunca prestaram serviço público.

Paulo disse:
Eu vou insistir nisso: Se os objetivos do governo são aqueles que o Luis mencionou, então é necessário o controle de áreas estratégicas da economia. Se a idéia fosse "ser um bom gestor" (seja lá o que isso signifique) então a privatização seria um bom negócio, mas, repito, a questão vai além disso.
A gente pode tentar discutir isso, mas acho que não vamos chegar a lugar algum. Eu não discordo que a relevância estratégica da empresa seja fundamental na discussão. Eu só acho que vc superestima esse ponto e praticamente ignora o fato da empresa ser mal gerida.

Paulo, uma estatal gigantesca como geralmente é, ser mal gerida, resulta em falta de produtividade da empresa e do setor, já que ela geralmente domina o monopoliza. Pouco é usada como ferramenta estratégica, mas é usada principalmente como ferramenta política interna. Ralo de gastos, cabide de empregos.

Mas a gente vai discutir interminavelmente enquanto eu não puder mostrar de fato o estudo de uma empresa e um setor específico.

Paulo disse:
Por outro lado, uma empresa estatal pode tentar escapar, ainda que minimamente, dessa lógica. E isso é ótimo.
Eu postei seu comentário pq vc não deixou claro se era ou não um argumento a favor ou contra privatização.
E bom, eu discordo da forma taxativa da sua afirmativa aí. Ela pode ser verdadeira em alguma situação, mas eu discordo não do fato "lógica capitalista x lógica comunista", mas pq uma lógica comunista pode não funcionar num contexto capitalista, assim como uma lógica capitalista não deveria funcionar num contexto comunista.
 
Última edição:
E onde eu falei que comunicações e energia não são áreas estratégicas?

Você não falou. O problema ali é o seu "mas". Porém, se concordamos que é importante para qualquer governo ter controle sobre áreas estratégicas da economia, e se comunicações e energia são áreas estratégicas, a privatização dessas áreas já parte de um erro.

O seu "mas" dá a entender que mesmo assim a privatização é um bom negócio. Mas isso contraria a lógica que estabelecemos antes (controle do Estado - áreas estratégicas - energia e comunicações).

E sobre a diferença de gestão, negativo. O foco de um é prestação de serviço público, o foco de uma empresa é lucro, e em competição com setor privado. Isso faz toda a diferença. Polícia, escola, hospitais públicos, não são empresas. Vale, Eletrobras, Petrobras, Embratel, são, e apesar de serem ou terem sido empresas públicas, nunca prestaram serviço público.

Esse é ponto central da discussão.

O foco primordial das estatais não é o lucro puro e simples. É muito mais do que isso: Estabelecimento de políticas desenvolvimentistas, integração do território nacional, servir ao bem público, ter relevância social etc.

E esse um dos grandes problemas da privatização. Quando o governo perde o controle da empresa, tudo isso vai junto. Você pode argumentar que a tão acalentada e super-valorizada "responsabilidade social" não muda tanto as coisas etc, mas nós sabemos que, para empresas privadas, uma prioridade muito maior do que "responsabilidade social" é o lucro.

Hospitais e escolas podem ser, ou melhor são, empresas que visam o lucro sim. Provavelmente o número de "escolas particulares" supera hoje o número de escolas públicas. Hospitais idem.

Polícia ainda não é uma empresa, isto é, se estamos desconsiderando as inúmeras formas de segurança privada, mas existem diversos projetos para que os presídios sejam privatizados. Assim como as redes de saneamento básico. Isso não é algo que pode ou não acontecer em um futuro distante, é algo que está sendo pensando hoje.

Serviço público não necessariamente significa "não cobrar nada pelo serviço", principalmente em áreas que precisam de investimentos constantes como as enumeradas por você. No entanto, a relevância social destas áreas, a idéia de cobrar tarifas baixas, a propriedade do Estado etc faz com que estas tenham um caráter público sim.

A gente pode tentar discutir isso, mas acho que não vamos chegar a lugar algum. Eu não discordo que a relevância estratégica da empresa seja fundamental na discussão. Eu só acho que vc superestima esse ponto e praticamente ignora o fato da empresa ser mal gerida.

Onde "mal gerida" significa o que? Não dar lucros milionários ou não cumprir o seu papel social?

Essa dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da UFRJ discorda de você.

O autor empreende um resumo muito interessante das principais linhas acerca dos impactos da globalização, do neoliberalismo e do modelo econômico imposto ao Brasil a partir dos anos 90. Como eu já falei algumas vezes aqui, discutir privatização sem levar estas questões em conta é bastante infrutífero.

O foco da dissertação, no entanto, é a "Privatização do setor de energia elétrica no estado do Rio de Janeiro", como diz o título da mesma.

Enfim, em determinado momento, já no final do trabalho, o autor empreende uma comparação entre a administração da Light, da Cerj e da Cemig. A primeira sendo a empresa de energia elétrica do RJ após a privatização, a segunda antes da privatização, e a terceira a empresa mineira de energia elétrica, que não optou por um processo de privatização, permanecendo sob o controle do Estado ainda que recebendo investimentos da iniciativa privada.

Ora, o que se quer mostrar com essa comparação entre os números da Light, da Cerj e da Cemig? Primeiro, que uma empresa não é necessariamente ineficiente, do ponto de vista da consecução de seu objetivo social, simplesmente porque está sob controle do Estado, como muitos ideólogos tentam fazer crer. Aqui ficou claro que a distribuidora estatal mineira cumpre melhor suas funções que as distribuidoras privadas fluminenses, e ainda assim consegue se manter superavitária. A Cemig, provavelmente, geraria lucros mais elevados se promovesse uma política mais ousada de corte de custos, todavia, isso significaria queda da qualidade dos seus serviços, e como seu compromisso primeiro permanece sendo o de distribuir energia com qualidade e de forma universalizada para o Estado de Minas Gerais, sua opção tem sido até aqui pela função social para a qual foi criada, ‘uma atitude perdulária a que se pode dar ao luxo uma empresa estatal’.

Segundo, que houve mais lucidez por parte do governo mineiro na hora em que se viu diante do desafio de encontrar meios alternativos para ter acesso aos recursos necessários à manutenção das atividades de sua empresa distribuidora de eletricidade, do que por parte do governo fluminense. A opção por ampliar a participação do capital privado sem abrir mão do seu controle garantiu um afluxo de recursos para a empresa, sem que, para isso, o Estado de Minas Gerais tivesse que se alienar desse instrumento fundamental à implementação de políticas de desenvolvimento socioeconômico e regional. Por seu lado, a decisão pela venda pura e simples de sua distribuidora, a Cerj, e pelo apoio à decisão do Governo Federal de dar o mesmo fim à sua companhia de distribuição no estado, a Light, diante dos resultados apresentados, em relação à opção mineira, se mostrou equivocada.

Estivesse o Governo do Estado do Rio de Janeiro menos preocupado com os resultados financeiros e políticos de curto prazo e menos tomado pelas ‘verdades’ ideológicas neoliberais, e mais comprometido com um projeto de desenvolvimento regional de longo prazo, certamente teria considerado com interesse a idéia de pôr em prática uma campanha de passagem do controle da Light para o governo estadual, e de sua posterior fusão com a Cerj, no intento de formar uma única grande empresa de distribuição de energia elétrica do estado, que seria responsável por algo em torno de 99% do território fluminense. Dessa forma, os lucros obtidos pela Light em sua área de atuação privilegiada deixariam de fluir para fora do estado, fato que ocorria quando de propriedade da União, podendo ser transferidos para a área de concessão sob responsabilidade da Cerj, no intuito de aprimorar e de ampliar os serviços de eletricidade nas regiões mais periféricas do estado. Ainda, a capacidade de intervenção do Governo, já potencializada com a união das empresas, poderia ser ampliada a partir da abertura dessa grande distribuidora fluminense para a participação do capital privado, mantendo o estado, contudo, o seu controle sobre a distribuidora por meio de participação acionária maior, como o fez o governo mineiro no caso da Cemig.

Todavia, a gestão Marcelo Alencar optou por uma saída à Consenso de Washington, e os seus resultados, que já podem ser percebidos, são: a) distanciamento das distribuidoras fluminenses dos seus objetivos sociais; b) permanência das desigualdades espaciais no que diz respeito à qualidade dos serviços de fornecimento de energia elétrica e, finalmente; c) tendência ao distanciamento dos valores tarifários cobradas no território, com as regiões mais desenvolvidas, na área da Light, dispondo de preços menores cobrados pela energia. Tudo isso tem o poder de comprometer, com alguma seriedade, qualquer projeto presente e futuro de desenvolvimento regional. Além disso, na disputa com Minas Gerais pelos escassos investimentos produtivos existentes na atual fase do modo de produção capitalista, o Rio de Janeiro perde com a alienação de suas concessionárias, uma vez que, detendo o controle da Cemig, o estado mineiro pode controlar tarifas, finanças e investimentos da Companhia no intuito de criar condições mais atraentes para investidores em processo de decisão locacional de empreendimentos.

MENDONÇA, Luciano da Cruz. Privatização do Setor de Energia Elétrica no Estado do Rio de Janeiro: reforma do Estado e espaço. 2004. 206 f. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional - UFRJ) - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pp. 130-131.

Disponível completa em pdf aqui.

Grifos meus.

A dissertação é muito interessante e esclarecedora, recomendo a leitura.

Ou seja: A Petrobras não constitui uma exceção. Empresas estatais podem ser produtivas, lucrativas e competentes.

Paulo, uma estatal gigantesca como geralmente é, ser mal gerida, resulta em falta de produtividade da empresa e do setor, já que ela geralmente domina o monopoliza. Pouco é usada como ferramenta estratégica, mas é usada principalmente como ferramenta política interna. Ralo de gastos, cabide de empregos.

A primeira parte está respondida acima.

Quanto a segunda, essa é a mesma lógica de que "para acabar com a miséria o mais "eficiente" é acabar com os miseráveis". Não é porque as empresas estatais não funcionam da forma como deveriam, devido a inúmeros fatores, que a melhor opção é a saída mais fácil: acabar com as estatais.

Eu fico espantado ao saber que os milhares de administradores do Brasil não conseguem pensar em meios alternativos de lidar com esse problema sem debilitar o Estado de forma cada vez mais predatória.

Mas a gente vai discutir interminavelmente enquanto eu não puder mostrar de fato o estudo de uma empresa e um setor específico.

Quebrei o seu galho e já fiz isso.

Eu postei seu comentário pq vc não deixou claro se era ou não um argumento a favor ou contra privatização.
E bom, eu discordo da forma taxativa da sua afirmativa aí. Ela pode ser verdadeira em alguma situação, mas eu discordo não do fato "lógica capitalista x lógica comunista", mas pq uma lógica comunista pode não funcionar num contexto capitalista, assim como uma lógica capitalista não deveria funcionar num contexto comunista.

Isso vai contra toda uma corrente de pensamento popularmente conhecida como "reformismo".

Na minha frase, o papel do "minimamente" é justamente mostrar que a empresa não tem como escapar "totalmente" dessa lógica (natural do capitalismo), mas que pode ser "minimamente" diferente. Isso está explícito acima, em relação às outras preocupações de uma estatal que vão além do lucro.
 
Paulo disse:
Você não falou. O problema ali é o seu "mas". Porém, se concordamos que é importante para qualquer governo ter controle sobre áreas estratégicas da economia, e se comunicações e energia são áreas estratégicas, a privatização dessas áreas já parte de um erro.
Concordo que é importante para o governo ter controle sobre áreas estratégicas da economia, mas isso não é determinante, porque é apenas um dos fatores a ser contemplado.

Paulo disse:
Onde "mal gerida" significa o que? Não dar lucros milionários ou não cumprir o seu papel social?

Essa dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da UFRJ discorda de você.
Paulo, quando eu falo de gestão, estou me referindo estritamente à eficiência do seu funcionamento. Mas concordo que além de ser eficiente, uma estatal deve ser uma ferramenta politica, econômica e socialmente estratégica. Destaque para o socialmente - papel junto à sociedade.

Pois bem, a dissertação que você postou tem dois problemas. 1) É parcial. O autor destaca verdades mas as aplica sobre o caso de forma conveniente. 2) É um exemplo também conveniente, dado o fato que a Light nem lucro dá.
O autor discorda de mim, mas o texto não nega o que digo. Ele mesmo destaca que "uma empresa não é necessariamente ineficiente, do ponto de vista da consecução de seu objetivo social".
Ou seja, a empresa pode ser socialmente ineficiente (e em geral são - não cumprem nem papel econômico [lucro] nem social). Ele nem discute a ineficiência no sentido produtivo.

Eficiência simplificadamente é a capacidade de se produzir mais com menos. Menos o quê? Menos dinheiro, menos recursos, menos tempo. Quanto se gasta com uma estatal, e qual o retorno social que ela dá?

Paulo disse:
Não é porque as empresas estatais não funcionam da forma como deveriam, devido a inúmeros fatores, que a melhor opção é a saída mais fácil: acabar com as estatais.
Concordo plenamente. Porém, 1) A esquerda não propõe maneiras de tornar as estatais mais eficientes. Em geral, em prol das causas sociais e trabalhistas, só pipocam propostas que piorariam sua eficiência. 2) O neoliberalismo prega justamente a redução do Estado, pq essa ineficiência seria intrínseca da sua presença. O Estado deve permanecer como regulador e fiscalizador.

Me aproveitando do termo que o autor da tese diz: É conveniente, como muitos ideólogos tentam fazer crer, que a ausência do Estado e a privatização, resultam necessariamente em desassistir a população de serviços e reduzir sua atuação social. A idéia da privatização (excluindo-se claro, eventuais interesses escusos e particulares) é justamente que uma estatal consome muito e retorna pouco. Retorna pouco para quem? Para a sociedade, oras. Tanto em dinheiro (lucro) como em serviços. A expectativa é que, depois de privatizada, e sob a fiscalização de órgão regulador competente, ela beneficie a cadeia produtiva, receba investimentos, aumente o número de empregos, expanda suas operações, renove a infraestrutura (em geral precária), melhore o nível de serviço, pague mais impostos. Tudo isso que eu citei, nada mais é que retorno social.

Ou seja: São duas correntes de pensamento e na minha opinião, nenhuma das está, a princípio, errada. O problema é na hora de aplicar. Alguns querem privatizar tudo, e outros não querem privatizar nada. A Light é um exemplo de uma privatização que eu pelo menos não percebi benefício algum. Não senti sensível melhora no serviço, e a mesma continua a dar prejuízo (basicamente as ligações clandestinas). Já a Vale, considero um dos melhores exemplos da privatização. A Petrobras é uma estatal eficiente, e a princípio eu não vejo motivos para privatizá-la. Correios, idem. Ainda preciso ser convencido sobre os benefícios da privatização dos Correios.
 
Concordo que é importante para o governo ter controle sobre áreas estratégicas da economia, mas isso não é determinante, porque é apenas um dos fatores a ser contemplado.

É um dos mais importantes. Muito mais do que "dá lucro" ou "dá prejuízo", o que parece ser a questão levantada na maior parte das vezes.

Paulo, quando eu falo de gestão, estou me referindo estritamente à eficiência do seu funcionamento. Mas concordo que além de ser eficiente, uma estatal deve ser uma ferramenta politica, econômica e socialmente estratégica. Destaque para o socialmente - papel junto à sociedade.

Concordamos em algum ponto. Mas acho que eu atribuo pesos diferentes a essas questões.

Pois bem, a dissertação que você postou tem dois problemas. 1) É parcial. O autor destaca verdades mas as aplica sobre o caso de forma conveniente.

A imparcialidade é um mito. E um mito que já caiu há muito tempo.

Qual é a "forma conveniente" de aplicação das "verdades"?

2) É um exemplo também conveniente, dado o fato que a Light nem lucro dá.

Nessa mesma linha eu também posso dizer que a Vale é um "exemplo conveniente".

Existem outros trabalhos, sobre outras estatais que foram privatizadas, mas eu não acho que esse caso possa ser descartado só porque é "conveniente". Ele explícita várias questões relacionadas ao processo de privatização, algumas específicas do caso da Light, outras gerais e aplicáveis a qualquer privatização.

O autor discorda de mim, mas o texto não nega o que digo. Ele mesmo destaca que "uma empresa não é necessariamente ineficiente, do ponto de vista da consecução de seu objetivo social".
Ou seja, a empresa pode ser socialmente ineficiente (e em geral são - não cumprem nem papel econômico [lucro] nem social). Ele nem discute a ineficiência no sentido produtivo.

Devagar. Você cortou a parte mais importante da frase.

"uma empresa não é necessariamente ineficiente, do ponto de vista da consecução de seu objetivo social, simplesmente porque está sob controle do Estado, como muitos ideólogos tentam fazer crer."

Você interpretou isso ao contrário, ou eu entendi ao contrário a sua frase. Uma empresa estatal, não necessariamente é ineficiente, no que diz respeito aos seus objetivos sociais, só porque é estatal.

Ele não disse que estatais são ineficientes, mas que não são necessariamente ineficientes só porque são estatais.

Mas é bastante claro que a empresa pode ser ineficiente, de qualquer ponto de vista, estatais e privadas. A diferença é que as estatais estão sujeitas à decisões do governo e pressões populares, ao contrário das privadas. Um estatal socialmente ineficiente hoje pode ser socialmente eficiente amanhã. Uma empresa privada socialmente ineficiente pode continuar assim até que seja lucrativo o contrário.

E sim, ele discute eficiência produtiva em diversas outras partes da tese. Um exemplo:

Onde,

"DEC é a duração equivalente de interrupção por conjunto de consumidores. Mede o tempo médio que um determinado grupo de consumidores (bairro, região, cidade, etc.) fica sem energia. Quanto menor o DEC, melhor a qualidade da distribuição.

FEC é a freqüência equivalente de interrupções por conjunto de consumidores. Em vez de medir o tempo médio do corte de energia, como o DEC, mede o número de vezes em que é interrompido o fornecimento de energia em determinado grupo de consumidores.
"

Mesmo permanecendo sob o controle estatal, a Cemig vem apresentando melhores desempenhos que os verificados nas áreas de concessão das distribuidoras fluminenses. No que diz respeito à qualidade dos serviços, em 2002, enquanto o Rio de Janeiro, atendido em sua quase totalidade pela Light e pela Cerj, apresentou um DEC de 14,52 e um FEC de 11,03, Minas Gerais, atendido em sua quase totalidade pela Cemig, ‘saiu-se’ com 12,90 de DEC e com 7,64 de FEC.

No quesito qualidade, a Cemig, que serve a uma área de 560 mil km2, extensão territorial equivalente a do território francês, tendo, para isto, que fazer uso de uma rede de distribuição de 330 mil km – tamanho que lhe daria o título de maior rede de distribuição da América Latina, e quarta do mundo6 –, atendendo as regiões mais e menos desenvolvidas economicamente do estado, alcança índices de qualidade bem próximos aos da Light, que atende apenas as regiões mais desenvolvidas do Estado do Rio de Janeiro, que, devido a essa característica, consegue garantir um faturamento líquido bem próximo ao da Cemig, com uma rede inferior mais de 20 vezes à dessa. Em 2002, o DEC da Light foi de 10,05, e o seu FEC de 6,93, enquanto o desempenho da Cemig foi de 13,01 e 7,34, respectivamente. Esse desempenho da distribuidora mineira se mostrou bem superior ao da Cerj, que , nesse ano, apresentou DEC na casa dos 22,38 e FEC de 18,947.

O satisfatório desempenho da Cemig nos indicadores que medem a qualidade dos serviços prestados pelas distribuidoras radica, possivelmente, na prudente gestão da empresa implementada por seus controladores. O fato de permanecer estatal, sob o controle do governo do estado onde atua, afastou a Cemig das temerárias políticas de endividamento implementada pelos gestores privados de várias distribuidoras brasileiras, incluindo aí as companhias Light e Cerj, políticas que as colocam hoje sob risco de colapso financeiro e, conseqüentemente, físico, mesmo depois das radicais políticas de aumento de lucratividade que adotaram8. A mesma prudência que parece ser uma das marcas da administração da concessionária mineira observa-se na comparação da aplicação de suas políticas de aumento de produtividade com as implementadas pelas distribuidoras fluminenses. Entre 1996 e 2001, a Light promoveu um corte de 25% do total de seu quadro de funcionários, enquanto a Cerj realizou uma diminuição da ordem de 69% (!) de seu pessoal. Já a Cemig, no mesmo período, fez desaparecer 3.635 postos de trabalho, 25% do seu total, passando de 14.923 para 11.288 funcionários em atividade na empresa. Com esses cortes, a distribuidora de Minas Gerais, no período em questão, passou de uma média de 286 consumidores por funcionário para 479. Em 2001, a Light apresentou uma média de 719 consumidores por funcionário; já a Cerj, 1.310!9 Ainda, como se não bastasse, no final de 2002, a Cemig cobrava uma das tarifas mais baixas da região Sudeste do Brasil, superior apenas à da Cerj, que ainda não havia realizado o seu reajuste anual, marcado para o último dia do ano, enquanto a Light cobrava as tarifas mais caras do país10.

Tudo isso, ao que tudo indica, se relaciona com o bom desempenho da distribuidora de Minas Gerais em outro indicador de qualidade, o que mede a satisfação dos consumidores, o ISC. Aqui, enquanto a estatal mineira apresentou, em 2002, índice de primeiro mundo, ou seja, 70,13% de satisfação, a Light se saiu com medíocres 64,07% e a Cerj com a péssima marca de 59,39%. Certamente, essa maior satisfação do consumidor da Cemig está relacionada ainda a uma atuação mais homogênea dessa Companhia em sua área de concessão, como se pode notar através da análise dos indicadores de qualidade desagregados. Esses fazem notar que, em 2001, na área de atuação da Light o melhor DEC foi superior ao pior em mais de 200 vezes, e que o melhor FEC superou em mais de 100 vezes o pior. Nessa área, o melhor índice de qualidade foi observado, nesse ano, no bairro da Zona Sul carioca do Leblon (DEC 0,32 e FEC 0,28) e o pior, na periferia de Xerém (DEC 65,76 e FEC 33,53). Por seu lado, a Cerj, no mesmo ano, teve seu melhor desempenho no quesito DEC em Tapera, localidade de Itatiaia, e o seu pior na localidade de Barracão dos Mendes, Nova Friburgo, apresentando uma diferença entre um outro de mais de 38 vezes (3,36 e 130,61); no FEC, essa diferença foi de 41 vezes a favor de Tapera em relação ao município de Varre-Sai, que apresentou o pior resultado no quesito (1,76 e 73,54). Já a Cemig, em 2001, apresentou uma diferença entre o seu melhor e o seu pior DEC de apenas 8 vezes (3,47 em Belo Horizonte e 27,58 na região de Araçuaí), e uma diferença de 5 vezes no que diz respeito ao FEC (3,04 em Belo Horizonte e 14,76 em Araçuí). No nível dos estados, observa-se que a diferença entre os melhores e os piores no quesito qualidade dos serviços de eletricidade no Rio de Janeiro é de mais de 300 vezes no caso do DEC (Leblon 0,32 e Barracão dos Mendes 130,61) e de mais de 260 vezes no caso do FEC (Leblon 0,28 e Varre-Sai 73,74), enquanto que no Estado de Minas Gerais a diferença é de apenas 8 vezes no DEC e de 5 vezes no FEC, como visto.

Eu realmente acho que vale a pena dar uma olhada, ainda que rápida, na tese inteira.

Eficiência simplificadamente é a capacidade de se produzir mais com menos. Menos o quê? Menos dinheiro, menos recursos, menos tempo. Quanto se gasta com uma estatal, e qual o retorno social que ela dá?

Repito: Assim como o critério não é apenas produtividade e/ou eficiência, também não o é "retorno social" somente, mas um conjunto de todas estas questões e algumas outras.

Uma das tarefas mais importantes de uma estatal responsável por fornecimento de energia é disponibilizar esta em locais que, a despeito do pouco lucro que podem dar, devem ser integrados à comunidade nacional.

Uma empresa privada não está preocupada com isso. Ou ao menos esta não é a principal preocupação.

Concordo plenamente. Porém, 1) A esquerda não propõe maneiras de tornar as estatais mais eficientes. Em geral, em prol das causas sociais e trabalhistas, só pipocam propostas que piorariam sua eficiência.

Isso não deveria ser uma iniciativa apenas da esquerda.

Se a conta é "direitos trabalhistas e causas sociais x eficiência", estamos começando pelo ponto errado. Não me adianta de nada um mundo eficiente e produtivo, brilhando e bonito se não há justiça social e redução da desigualdade.

O meu ponto de partida aqui, o meu axioma, é que justiça social e redução da desigualdade são os principais deveres do Estado. Isso eu não vejo como discutir.

Mas se a questão é como atingir esse objetivos, então a discussão existe e é benéfica. Se o papel do Estado deve ser menor ou maior, tendo em vista o alcance desta meta, é algo que podemos discutir. Negar essa meta é dizer que estamos falando em línguas diversas e então a discussão deve se estruturar em outras bases.

2) O neoliberalismo prega justamente a redução do Estado, pq essa ineficiência seria intrínseca da sua presença. O Estado deve permanecer como regulador e fiscalizador.

Isso é um outro viés da discussão, necessário porém extremamente amplo.

Me aproveitando do termo que o autor da tese diz: É conveniente, como muitos ideólogos tentam fazer crer, que a ausência do Estado e a privatização, resultam necessariamente em desassistir a população de serviços e reduzir sua atuação social.

Mas isso é algo óbvio. A não ser que você esteja considerando a tal da "responsabilidade social". Mas sobre isso eu já comentei antes.

A idéia da privatização (excluindo-se claro, eventuais interesses escusos e particulares) é justamente que uma estatal consome muito e retorna pouco. Retorna pouco para quem? Para a sociedade, oras. Tanto em dinheiro (lucro) como em serviços. A expectativa é que, depois de privatizada, e sob a fiscalização de órgão regulador competente, ela beneficie a cadeia produtiva, receba investimentos, aumente o número de empregos, expanda suas operações, renove a infraestrutura (em geral precária), melhore o nível de serviço, pague mais impostos. Tudo isso que eu citei, nada mais é que retorno social.

Tudo isso é o que geralmente não acontece. E tudo isso poderia acontecer sem que o Estado precise abrir mão do controle da empresa.

Mesmo sucateada e apresentando, ano após ano, prejuízos em seus balanços financeiros, a aquisição da Cerj vai ser defendida pelo presidente da Companhia, no Seminário promovido pela Firjan, como um ótimo negócio para os seus compradores, tendo em vista as expectativas de crescimento do seu mercado consumidor, que deveria ser impulsionado pelo aumento da demanda residencial nos anos posteriores. A distribuidora será assumida, de fato, em 1996, por um consórcio de empresas que tem, segundo Tolmasquim (2002), por característica trabalhar com um horizonte de investimentos de médio-longo prazo, como não podia ser diferente no caso da distribuidora, postura de mercado diferente da apresentada pela EDF, controladora da Light, que teria como uma de suas marcas a busca de retornos financeiros mais imediatos.

Todavia, a previsão de acelerado aumento da demanda por energia nos mercados consumidores atendidos pela empresa não veio a se confirmar: em 2001, a Cerj teria vendido um total de 6.682 GWh, registrando um aumento de 949 GWh em relação ao total de 1996, que foi de 5.733 GWh. Nesse período, nota-se inclusive uma redução do consumo por cliente na área atendida pela Cerj: em 2001, a Companhia vendeu para cada consumidor uma média de 3,95 MWh, enquanto em 1996 essa média foi de 4,78 MWh, ou seja, uma variação negativa de 0,83 MWh1.

Contudo, mesmo com essa discreta elevação da demanda em sua área de
concessão, a Cerj, entre 1996 e 2001, conseguiu registrar uma evolução bem positiva em seus balanços. Nesse período, a empresa saiu de um registro de -120,55% de Rentabilidade do Patrimônio Líquido, para -25,78; e de uma Rentabilidade sobre Ativo Total de -10,37 para - 1,02. Parte significativa dessa recuperação foi alcançada por intermédio de uma agressiva política de aumento de produtividade. Entre 1996 e 2001, a concessionária diminuiu seu quadro de funcionários em 3.042 postos, passando de um total 4.396 trabalhadores contratados para 1.345. A iniciativa fez com que o número de consumidores da empresa por funcionário passasse de 277, em 1996, para 1.249 clientes por empregado, em 2001; com isso, o seu faturamento líquido por funcionário, que era da ordem de R$ 106 mil, passou para R$ 983 mil. Finalmente, a partir dessas iniciativas, a Cerj, no período considerado, 1996-2001, conseguiu passar de um faturamento líquido de R$ de 362,62 milhões para mais R$ 1,3 bilhão, ou seja, uma variação absoluta da ordem de R$ 967,7 milhões em seu faturamento2.

No entanto, tais números não foram suficientes para colocar a empresa numa situação de sustentabilidade financeira. Segundo Tolmasquim, a Cerj, da mesma forma que as demais distribuidoras privatizadas no Brasil, inclusive a Light, foi utilizada pelos seus gestores no intuito de alavancar financeiramente os seus grupos controladores, para que pudessem, assim, assumir novos ativos de outras empresas do setor infra-estrutural do país, sendo transformada, dessa forma em uma espécie de “empresa-plataforma”, isto é, em empresa que serve de base para novas aquisições dos seus controladores. Por conta disso, a Cerj, assim como a Light e outras distribuidoras Brasil afora, assumiu uma política temerária de endividamento em moeda nacional e, principalmente, estrangeira, em dólares, que fugiu ao seu controle, bem como das demais concessionárias, com a desvalorização do Real, em 1993.

Levada às últimas conseqüências, tal situação de endividamento sem controle ameaçaria a própria existência da Cerj, e de outras companhias, como a Light, que, diga-se de passagem, também lançou mão, após a sua privatização, de ousadas políticas de aumento de sua arrecadação, incluindo aí políticas de aumento de produtividade.

Com isso, nota-se que a Cerj e, da mesma forma, a Light, depois que foram passadas para o controle da livre iniciativa, antes de estarem a serviço da coletividade, uma vez que possuem a função de distribuir um bem público essencial à vida e ao desenvolvimento social e econômico, estiveram, antes, até aqui, a serviço dos seus controladores, dos seus lucros, o que não causa surpresa, posto que passaram a ser empresas capitalistas.

Ou seja, aumento de produtividade nem sempre é o melhor, tendo em vista outras questões como retorno social etc.

Ou seja: São duas correntes de pensamento e na minha opinião, nenhuma das está, a princípio, errada. O problema é na hora de aplicar. Alguns querem privatizar tudo, e outros não querem privatizar nada. A Light é um exemplo de uma privatização que eu pelo menos não percebi benefício algum. Não senti sensível melhora no serviço, e a mesma continua a dar prejuízo (basicamente as ligações clandestinas). Já a Vale, considero um dos melhores exemplos da privatização. A Petrobras é uma estatal eficiente, e a princípio eu não vejo motivos para privatizá-la. Correios, idem. Ainda preciso ser convencido sobre os benefícios da privatização dos Correios.

O problema aqui é que o receituário neoliberal prevê a privatização de absolutamente tudo. "Estado mínimo" não é um eufemismo. A idéia é que o Estado mantenha somente o seu aparelho de repressão e "justiça", o que é óbvio, visto que com a progressiva diminuição das condições de vida, a população tenda a se sublevar.
 
Repito: Assim como o critério não é apenas produtividade e/ou eficiência, também não o é "retorno social" somente, mas um conjunto de todas estas questões e algumas outras.

Uma das tarefas mais importantes de uma estatal responsável por fornecimento de energia é disponibilizar esta em locais que, a despeito do pouco lucro que podem dar, devem ser integrados à comunidade nacional.

Uma empresa privada não está preocupada com isso. Ou ao menos esta não é a principal preocupação.
Sim, e por isso que, do mesmo jeito que hospitais e escolas, tb acho que a energia não deveria nunca ter sido privatizada. O problema é que já foi.

Se a conta é "direitos trabalhistas e causas sociais x eficiência", estamos começando pelo ponto errado. Não me adianta de nada um mundo eficiente e produtivo, brilhando e bonito se não há justiça social e redução da desigualdade.
Nisso eu discordo. Com o aumento da produtividade o preço tende a cair e consumidores que não tinha acesso ao produto passam a ter, isso tb é uma forma de justiça social.
 
Desde que não coloquem de novo na mão do governo...
Porque se isso acontecer vai virar mais um cabide de cargos e tudo o que foi conseguido pela empresa será perdido.
E tem outras, os ganhos com os impostos que a Vale paga superam em muito qualquer lucro que poderia ser obtido pela venda...
Ta bem melhor assim, a VRD, a contribuição fiscal aumenta junto, temos uma ótima opção de investimentos e menos um 'filão' para a corrupção...
 
Sim, e por isso que, do mesmo jeito que hospitais e escolas, tb acho que a energia não deveria nunca ter sido privatizada. O problema é que já foi.

Assim como empresas podem ser privatizadas, estas também podem ser re-estatizadas.

Os Estados têm (ou deveriam ter) soberania para esse tipo de processo. Principalmente em um privatização tão cheia de irregularidades como a da Vale.

Nisso eu discordo. Com o aumento da produtividade o preço tende a cair e consumidores que não tinha acesso ao produto passam a ter, isso tb é uma forma de justiça social.

Eu não acho que esse tipo de justiça social seja suficiente. Essa questão é mais complexa. Para muitos autores aumento da produtividade é igual à aumento da taxa de exploração de cada trabalhador.

Desde que não coloquem de novo na mão do governo...

A idéia é justamente essa.

Porque se isso acontecer vai virar mais um cabide de cargos e tudo o que foi conseguido pela empresa será perdido.

Eu queria ter uma bola de cristal.

E tem outras, os ganhos com os impostos que a Vale paga superam em muito qualquer lucro que poderia ser obtido pela venda...

Isso é discutível.

Ta bem melhor assim, a VRD, a contribuição fiscal aumenta junto, temos uma ótima opção de investimentos e menos um 'filão' para a corrupção...

Não existe corrupção em empresas privadas? O processo de privatização não foi suficientemente corrupto?

Isso de que estatais não dão lucro ou não funcionam como deveriam é besteira. A Vale poderia crescer sob o controle do Estado.

"opção de investimentos"?

Um dos principais argumentos para a privatização da Vale é que o governo não teria como investir o que foi necessário para a empresa crescer. Isso é um tanto quanto esquisito. O BNDES investe milhões na Vale.
 
Por consideração ao meu caro Eru, estou retirando o link do fórum dele e postando algo mais divertido.
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