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A Sociedade da Neve (Pablo Vierci)

thesunrises

Usuário
Li no jornal hoje que alguns sobreviventes do acidente envolvendo os uruguaios nos Andes em 1972 foram visitar os mineiros chilenos presos desde o dia 5.

Lembrei, então, que a Cia das Letras lançou esse ano o livro A Sociedade da Neve contando sobre os uruguaios presos na neve.

Alguém já leu?
Acabei de colocar na minha lista de futuras leituras :)
Espero dividir minhas impressões com vocês em breve.
 
é daquele acidente que eles tiveram que comer os corpos dos que tinham morrido para sobreviver?
 
é bem desse filme que eu conheço a história XD legal, não sabia que chegou a sair livro tb :sim:
 
Comprei esse livro faz alguns meses... está na fila dos livros que comprei e preciso ler.

Me chamou a atenção após ler a indicação do livro no site do correio Braziliense... vou colar aqui:

Livro A sociedade da neve é um relato definitivo do drama enfrentado por 16 jovens uruguaios
Para sobreviver, eles foram obrigados a comer carne dos amigos que pereceram em acidente aéreo

José Carlos Vieira
Publicação: 16/06/2010 08:31 Atualização: 16/06/2010 08:38
Peço desculpas, leitor, por escrever esta resenha em primeira pessoa.Tinha acabado de completar 12 anos quando assisti num recém-comprado aparelho de tevê Telefunken à história do resgate de 16 sobreviventes de um acidente aéreo na Cordilheira dos Andes. A notícia dos jovens uruguaios que conseguiram enfrentar a morte por 72 dias comendo a carne dos que pereceram correu o mundo.

Na escola não se falava em outra coisa. A tragédia ficou registrada em minhas lembranças. Por muito tempo essa história percorreu pesadelos e reflexões sobre o que tinha acontecido lá em cima. Trinta e sete anos depois, em 13 de novembro de 2009, tive a honra de conhecer um dos personagens dessa aventura triste, o artista plástico Carlos Páez Vilaró, em Punta Del Este, no Uruguai. Ele me presenteou com o livro que narra sua luta para resgatar o filho Carlitos Miguel do inclemente frio dos Andes. Sim, Carlito era uma das 45 pessoas (entre tripulantes e passageiros) que estavam a bordo do Fairchild 571, um turboélice F-227, fretado da Força Aérea Uruguaia, que se espatifou nas rochas geladas dos Andes em 13 de outubro de 1972.

Carlitos integrava a equipe de rúgbi amador do Old Christian Rugby Club, formado por ex-alunos de um colégio irlandês em Montevidéu. Os rapazes iam fazer uma partida amistosa no Chile. O livro de Vilaró, com belas ilustrações, carrega o poético título Entre meu filho e eu, a lua.

De volta ao Brasil, num voo da Pluna, continha as lágrimas ao ler o drama incessante de um dos principais artistas sul-americanos em busca do filho, para muitos, já sem vida sob a neve do Vale de las Lágrimas, entre os vulcões Tinguiririca e Sosneado. Afinal, 10 dias depois da tragédia, as autoridades chilenas já haviam encerrado as buscas. Nada de sobreviventes, admitiram oficialmente. Mas Vilaró não perdera a fé em encontrar seu filho vivo. Assim como a notícia na Telefunken em 1972, o livro do artista uruguaio moveu as janelas de onde eu via o mundo.

Agora recebo da editora Companhia das Letras, um exemplar de A sociedade da neve, de Pablo Vierci, jornalista, "escrevinhador" e contemporâneo dos jovens que embarcaram em Montevidéu rumo ao Chile, principalmente de Nando Parrado, uma das vítimas que primeiro teve a ideia de contar o sofrimento daqueles dois meses e meio nas montanhas chilenas a 4 mil metros de altura e com uma temperatura média de 30 graus negativos.

Depois de 36 anos da tragédia, Vierci ouviu, em 2009, os depoimentos definitivos dos 16 que saíram vivos - hoje, homens maduros em paz com suas consciências e suas vidas. Senhores capazes de compreender e processar tudo o que vivenciaram.

"Os sobreviventes - 29 logo após o acidente, 27 no dia seguinte, 19 depois de uma avalanche, e, por fim, 16 - tiveram de constituir uma comunidade pela incerteza e pelo pavor (...) isso fez com que regredissem aos primórdios dos tempos", destaca Vierci. Uma desconexão com o mundo exterior. Uma mistura de frustração, humilhação e dor. Depois de caminhar por 10 dias, Nando Parrado e Roberto Canessa, maltrapilhos e esqueléticos, avistaram o camponês Armando Serda, que trabalhava como peão para o tropeiro Sergio Catalán, que os levaram à civilização. Às 9h30 da manhã de 22 de dezembro de 1972, dois helicópteros saíram para resgatar o grupo.

O que aconteceu naquela montanha logo após a catástrofe? Em 1973, quando começaram a difundir versões infundadas da tragédia, eles chegaram a ser acusados de matar uns aos outros para comer. Por isso, eles resolveram contar, juntos, a história dos fatos. Daí surgiu o livro Os sobreviventes: a tragédia dos Andes, de Piers Paul Read. Já em A sociedade na neve, Vierci descreve, 37 anos depois, os relatos dos sobreviventes dos Andes. Histórias, caro leitor, comoventes, como as que vêm a seguir:

Roberto Canessa
"Quando surgiu a ideia de nos alimentarmos dos cadáveres, não me pareceu algo novo. Eu já tinha a base teórica, pois havia lido sobre metabolismo no curso de medicina. E ali estavam as proteínas dos corpos dos amigos, mas eu não tinha permissão de tocar neles, além do desespero adicional de não poder pedir essa autorização porque eles já estavam mortos.

Até que encontrei a paz para as nossas consciências quando nos ocorreu considerar que, se eu morrer, entrego meu corpo para que os outros o utilizem, que meus braços ajudem e minhas pernas caminhem e meus músculos se movam e façam parte do projeto de vida.

Quando me dei conta de que eu mesmo poderia vir a fazer parte da reserva de alimentos para os que estavam vivos, a única coisa que faltava era cortar um pedaço e engolir. Um passo difícil de ser compreendido em todas as suas dimensões "

O médico Roberto Canessa nasceu em 1953 e se especializou em cardiologia infantil. Casou-se com a namorada da época, Lauri, com quem teve três filhos.

Coche Inciarte
"Eu tinha decidido que iria morrer na noite de Natal, em 24 de dezembro (de 1972). Setenta e três dias depois de ter caído na montanha. Faltava pouco tempo. Adivinhando minha intenção, Adolfo Strauch, que naquele momento cuidava de mim como uma mãe, porque eu tinha deixado de lutar e passava o tempo todo deitado na fuselagem, disse que não iria me deixar fazer isso. Mas era fácil enganá-lo e deixar-se morrer!

No dia 18 dei início ao lento processo de minha morte. Perdi completamente o apetite, a comida me dava náuseas, eu distribuía para os outros a minha minúscula ração de carne, enquanto Adolfo Strauch me repreendia com o olhar, o que fazia com que a devolvessem para mim, mas eu voltava a dispensá-la escondido. (%u2026)"

Coche Inciarte nasceu em 1948. Está casado com a namorada da época, Soledad, com quem teve três filhos. Formou-se em engenharia agrônoma, dirigiu várias empresas, resolveu abandonar tudo e hoje dedica-se à pintura e a falar sobre os Andes.

Daniel Fernández
"Um dia antes da partida, minha mãe havia feito a minha torta de morango preferida. Naquela noite eu disse a ela: Guarda na geladeira, para eu comer na segunda-feira, quando voltar. E ali ela ficou. Guardada no congelador, intacta, pois ela não deixou que ninguém tocasse naquela torta. Quando voltei, em 24 de dezembro, mamãe tirou a torta do freezer como se fossa a coisa mais natural do mundo e me comunicou que a sobremesa estava servida, como eu tinha pedido. Enquanto comia, eu observava e pensava: o que foi que aconteceu, mamãe?

Durante muito tempo não consegui pensar em todo o processo pelo qual tivemos de passar na montanha, deixando de ser pessoas normais para nos transformar em homens primitivos, despojando-nos gradativamente. Setenta e dois dias sem banho, sem tirar a roupa e comendo carne humana, que num primeiro momento era apenas um pedacinho, mas depois se transformou em uma ração de comida e mais à frente era apenas ossos descarnados jogados por lá e aí alguém aparecia, os guardava no bolso do casaco para depois começar a chupá-los diante dos demais. A mente daquele que quer se salvar o salva, mas a daquele que se entrega e diz "daqui não sairei, vou morrer", morre em uma semana. "

Daniel Fernández nasceu em 1946. É engenheiro agrônomo, casou-se com Amaluia, sua namorada de então, com quem teve três filhos. Foi professor de vários departamentos da Faculdade de Agronomia da Universidade da República, no Uruguai.

Adolfo Strauch
"Naquele dia em que passamos nos alimentando de nossos amigos e companheiros que tinham morrido, eles nos davam a possibilidade de viver. Por isso, sinto que a minha vida pertence a mim, sim, mas sinto também que pertence também a eles. E é claro que tento agir como se eles tivessem pedido para fazer assim, e em tudo o que fiz, faço e farei em minha vida, vou procurar com todas as minhas forças não falhar diante deles. "

Adolfo Strauch nasceu em 1948, é engenheiro agrônomo. Está casado com Paula e tem quatro filhos.

Moncho Sabella
"Eu era aquele que tinha menos probabilidade de sobreviver. Era o mais magro de todos, muito baixo, com 21 anos. Tinha poucos amigos no grupo, pois vinha do Colégio Sagrado Corazón e não do Stella Maris-Christian Brothers, sofria de bronquite crônica e do mal da altitude. Mas, como ocorreu com tantos outros, fui aos poucos conhecendo o poder que a mente exerce sobre o corpo.Todos os jogadores de rúgbi pesavam mais de 80 quilos, eram puro músculo, enquanto eu pesava menos de 60. Eu sentia medo: esses sujeitos não seriam capazes de matar para sobreviver? Muito pouco tempo depois me dei conta do quanto me enganava. O grupo não só não era agressivo como era o mais afetuoso que conheci na vida Como pude pensar tamanho absurdo?"

Moncho Sabella nasceu em 1951 e é empresário. Casou-se aos 55 anos com Gloria, uma paraguaia. Em março de 2006, voltou a subir a montanha, apesar de padecer de enfisema em um pulmão e uma deficiência cardíaca.

Gustavo Zerbino
"Arturo Nogueira morreu nos braços de seu melhor amigo, Pedro Algorta, depois de ser mantido com vida por ele durante duas horas. Nessas duas horas apliquei respiração artificial, pressionei seu peito e ele respirava. Então eu segurava a mão dele por alguns segundos e a soltava devagar, mas aí ele me dizia "não me deixe", com a mesma mão, pressionando levemente a minha, eu dizia "calma, calma, Arturo". (...) Dessa última vez eu disse isso ao seu ouvido, e acabei beijando-o ali, na têmpora, até que ele afinal aceitou e partiu. (...)"

Gustavo Zerbino nasceu em 1953. É casado com Maria e tem seis filhos. Desde 1992 preside a Câmara Farmacêutica do Uruguai.



Confesso que, logo após acabar de ler a reportagem já fui à caça do livro de Vilaró (Entre meu filho e eu, a lua). Não encontrei...:(:doh:
 

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