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A Pérola (John Steinbeck)

Lucas_Deschain

Biblionauta
[size=medium][align=center]A Pérola (John Steinbeck)[/align][/size]

[align=justify]A história, considerada pelo autor como uma parábola, tem como personagens principais Kino, um índio mexicano, sua esposa Juana, seu filho Coiotito, o povo do vilarejo, e ela… a pérola do mundo. Como personagens secundárias o livro apresenta o primo de Kino, o médico da cidade e um comprador de pérolas da cidade de Kino.
Ao ser picado por um escorpião o filho de Kino, Coyotito passa mal e encontra-se sobe risco de morte. Kino então tenta ajuda na cidade, porém sendo considerado sub-raça (ou um animal qualquer) pelo médico, não consegue atendimento.
Decorrido um tempo, Kino põe sua canoa ao mar e se lança as águas com a esperança de conseguir uma pérola para que pudesse pagar pelo tratamento de seu filho, com as benção de Juana. Acontece que Kino de fato consegue a pérola, a pérola do mundo, a maior pérola jamais vista, um "presente" que trouxe a Kino não a paz e a alegria, mas o mal e a tristeza. Quando a tenta vender, todos os compradores de pérolas nao a compram por ser muito grande e nao haver comprador para ela e por isto oferecem uma ninharia por ela... Kino revoltado nao aceita as propostas dos compradores e argumenta que vai à capital vender a pérola... Com um estilo literário atrativo, John Steinbeck desponta como um dos maiores escritores estadunidenses de todos os tempos, ao lado de Hemingway e Faulkner. Steinbeck fora ainda laureado com o prêmio Nobel e o Pulitzer.[/align]

Fonte: Wikipedia

[align=justify]Depois de ler uma enxurrada de livros do Steinbeck, peguei mais essa aí. O livro é curtinho, rapidinho para ler, e traz uma história bem legal, que não é tão profunda mas que mesmo assim consegue fazer você pensar sobre algumas coisas, como a ganância e o preço das suas escolhas. O autor chamou o livro de parábola e alguns chamam de fábula. Particularmente não sei dizer se é qualquer um desses dois, embora a história guarde lá uma moral ou mensagem interessante. Não colocaria entre as melhores histórias do Steinbeck, mas tem vários traços característicos de suas obras, como o realismo, a conflitosidade das classes sociais, a opressão das classes mais baixas etc. [/align]
 
[align=justify]Quando foi laureado com o Nobel de Literatura, as obras de Steinbeck foram lembradas pela solidariedade para com os necessitados, a simpatia que ele e sua obra manifestavam com as pessoas com menores condições sociais, e que, muitas vezes eram marginalizadas por conta disso.

Essa preocupação, que varia entra a denúncia do descaso e a busca por melhorias, encontrou ao longo da carreira de Steinbeck, as mais diversas manifestações, que perscrutavam não somente a condição humana de modo geral, mas também a própria questão social, mostrando nesse sentido, as contradições da convivência humana em sociedade e toda a tensão que ronda essas relações sociais.
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De repente, eu me lembrei de que li esse livro, há tempos atrás, em uma versão simplificada, como exigência de um curso de inglês que fazia à época. Eu nem tinha notado que o livro era obra de um laureado com o prêmio Nobel.
 
Por isso que digo que é um livro prosaico. A abrangência dela é menor, em um formato menor, sem grandes detalhamentos mas que traz aqueles traços bem característicos do Steinbeck: a preocupação social e a solidariedade com os despossuídos.

Ele escreve algo mais ou menos assim no início do livro: se esse livro é uma parábola então espero que todos os que o leiam possam tirar um sentido para suas vidas.

Acho muito legal, ele sempre pareceu ter essa preocupação de mostrar como suas histórias estavam acontecendo (com algumas mudanças) na realidade, bastava olhar para o lado. Estou lendo agora O Inverno de Nossa Desesperança (e certamente farei uma resenha, pois o livro é muito bom) e ele escreve nesse algo muito similar ao que escreveu em A Pérola.
 
Só li esse do Steinbeck e não sei se é uma marca da escrita dele ou se é algo particular do livro. Também não sei se foi a tradução.

O lance é que a linguagem é muito simples e cheia de utilização de nomes repetidamente e frases curtas. Tem-se a impressão, enquanto se lê o livro, de sentar junto com os indígenas da comunidade pra ouvir a história de Kino e sua família, dada a não-elaboração da linguagem.

Entretanto, eu não acho que a obra contém realismo. Parece-me mais uma espécie de romântico com o mito do bom selvagem respaldando a retaguarda do que algo mais calcado no real. O final trágico acaba sendo mais chocante que prozaico.

Achei o livreto muito bom, gostei de verdade, apesar de não ser aquela brastemp toda.
 
[align=justify]Tenho que discordar de você Pescaldo, pois a obra apresenta uma visão e uma história com elementos do real que procuram mostrar um lado nada apreciável do homem, aliás, dos homens ricos: a ganância, o "interesseirismo", a não-solidariedade etc.

Enquanto isso, os homens humildes, pobres, de menores e mais difíceis condições sociais são mostrados em facetas bem diferentes: valentes em sua resistência a opressão (mesmo que essa resistência seja por vezes silenciosa), fraternos e solidários uns com os outros; defensores dos "seus" etc.

O que tu disse sobre a linguagem não-estilizada ou não-elaborada faz sentido sim e concordo, pois Steinbeck procura te convencer (tendo sucesso muitas vezes no meu caso) de que aquela humildade dos depossuídos é mais agradável e calorosa de humanidade, mais do que qualquer fortuna e casas gigantescas.

O que parece ter um peso enorme nesse livro é a Pérola, ela é quase um personagem da trama. Ela pode ser entendida como uma metáfora de dinheiro, riqueza etc. E é justamente essa riqueza que vem alterar toda a convivência humana, ela é maléfica, e embora prometa melhorias, acaba sempre corrompendo tudo a sua volta, acaba mostrando o que há de pior nos homens. Isso é algo recorrente nos livros de Steinbeck, o dinheiro é visto como um causador de tristeza, de dor, de preocupação, de sofrimento, de desconfiança, destrói amizades e indispõem companheiros. (Boêmios Errantes tem uma passagem bem legal nesse sentido, tenho que me lembrar exatamente de como é mas vou postar aqui assim que achar, pode deixar).

Quando disse prosaica estava me referindo a outras obras de Steinbeck, como As Vinhas da Ira e A Leste do Éden, que tem um maior alcance e uma maior abrangência e profundidade. Longe de mim querer vulgarizar o livro, usei essa palavra por conta do livro apresentar uma simplicidade maior, mas isso não significa que ele é ingênuo ou que tem menos significado, afinal, a obra está aí e não me deixa mentir, não é?[/align]
 
Que existe elementos do real isso existe, mas é bem claro o maniqueísmo do livro: indígenas = bons, galera rica = maus. Você não encontra um personagem vestido de cinza e nem uma possível corrupção vinda de Kino e da esposa que, sempre, estão bastante lúcidos quanto ao que a Pérola pode representar pra eles.

Kino não pensa em vingança ou coisa do tipo, pensa só em como isso pode ser bom pra eles e como faria bem pro seu filhote.

No final das contas, não há uma mistura entre o que é bom ou o que é mal. Tem o preto e tem o branco, nunca um cinza. Além disso, o dinheiro ser visto sempre como algo corrompível e nunca como algo passível de melhoras puras, torna a obra bem dicotômica.

No livro o dinheiro passa a ser algo imoral, enquanto que, na realidade, ele é amoral.
 
[align=justify]Concordo, afinal quem confere valor ao dinheiro somos nós seres humanos mesmo, porque trata-se de papel impresso ou metais cunhados em forma de disco.

Esse maniqueísmo que tu apontaste faz o maior sentido, e é algo que se estende às demais obras do Steinbeck. Os "disposessed" da Crise de 29 (que, aliás, já eram "disposessed" mesmo antes da grande Depressão) são sempre retratados como pessoas virtuosas, honestas e íntegras, e que, se cometem alguma digressão, essa só se dá pelas condições adversas em que eles se encontram.

A simpatia por essas pessoas (pobres, meeiros que tiveram suas terras expropriadas, moradores de acampamentos de beira de estrada, desempregados, famintos, mendigos, imigrantes etc.) foi uma das características ressaltadas quando Steinbeck recebeu o Nobel de Literatura, em 62. A simpatia que ele tinha por essas pessoas influenciou suas obras, que procuraram mostrar a situação calamitosa dessas pessoas. As Vinhas da Ira nada mais é do que isso: uma odisséia pelos Estados Unidos pós-crise de 29, seguindo pela Rota 66 junto com uma multidão de famintos e famílias em busca de emprego e meios de ganhar a vida.[/align]
 
[align=justify]Poxa, eu não vi esse maniqueísmo todo não, pelo menos não entre os ricos e pobres. Os indígenas também são mostrados como maus, invejosos quando
tentam roubar a pérola três vezes, cavam o chão atrás da pérola e queimam a casa de Kino e inutilizam seu barco.

Há é uma oposição entre os que sabem, os que detêm algum conhecimento (opressores) e os que não sabem, não detém conhecimento sistematizado (oprimidos). Por exemplo, o médico sabe, Kino desconfia dele e o odeia por não poder ter certeza. O padre também sabe e trata os pescadores indígenas como crianças e usa uma linguagem bíblica enrolada para enrolar eles. Seu irmão diz que na capital pode ser que a pérola seja comprada por um preço maior, mas ele pergunta como eles podem saber. O maior desejo de Kino é usar a pérola para que o filho vá à escola e também saiba e possa libertá-los da opressão. Essa é a grande ideia revolucionária. E como o padre prega todo ano, o que aguarda quem tenta se rebelar contra esse sistema é o inferno.

Para mim a realidade de uma cidadezinha é muito bem retratada nas descrições, nas comparações, no poder do padre e do médico, as autoridades que visitam Kino. É infernal. O início do 3 capítulo é até muito engraçado nisso, porque cada um vê a pérola como se fosse sua. Kino é que está entre eles e seus sonhos. E daí o veneno. Não é quando não vende a pérola que Kino atrai o mal é quando a acha.

Enfim, acho que há bastante coisa para se discutir aqui também, apesar de o livro ser curto.[/align]
 
[align=justify]Não sei não obnóxio, esse teu ponto de vista tem fundamento sim e me deixou pensativo, mas em se tratando de Steinbeck acho que o que ele vivenciou com a Grande Depressão e o que está também registrado nos outros livros dele, me parecem querer atribuir um sentido que evidencie e agudize os conflitos entre classes sociais (ricos x pobres).

Maniqueísmo pode ter sido um termo infeliz, pois parece tirar a humanidade dos atos dos seres humanos e submetê-los a uma interpretação limitada de enquadramento deles em uma eterna batalha entre bem e mal.

Tua leitura me parece pertinente sim, pois, se pensarmos que Steinbeck constrói toda a sua crítica com base na Literatura, talvez ele veja sim esse crescimento intelectual e esse acesso a educação, sabedoria e cultura como uma forma de libertar-se desses grilhões que "oprimem os oprimidos".[/align]

Quanto ao roubo da pérola para os índios da comunidade de Kino, não creio que ela contribua para construir uma imagem negativa deles, já que, a meu ver, o autor mostra com isso que a penúria da condição deles lhes fazia cometer tais atos. Roubar a pérola para satisfazer necessidades primordiais como comer, vestir, beber e habitar não está necessariamente associado a "maldade" ou "mau-caratismo", mas a simples carência e necessidade de sobrevivência.
 

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