Oi, Breno.
Não acho que você seja maluco, pelo contrário, só acho que você está reagindo um pouco além das medidas, nesse caso. Me espantou sua forma de reagir transformando o Suassuna num louco perigoso, como se ele fosse um skinhead sectarista. Pensamento totalizante por pensamento totalizante, a globalização é muito mais opressiva e assustadora.
A fala do Suassuna pode parecer perigosa por que ela pretende que os sujeitos tomem consciência do seu valor. E nisso ele é intransigente, o que constrói uma imagem caricata, até. Mas, você mesmo circunscreve o poder de influência das ideias do Ariano, ou seja, mínima.
O que o Suassuna questiona é: se saber das minhas origens deveria me fazer respeitar com mais força tudo aquilo que me formou, como eu deixo de prestar atenção nisso e me sinto inferiorizado diante de coisas que são, apenas, opressivamente divulgadas e de qualidade duvidosa?
Uma constatação política: quanto escritores famosos nacionalmente (atualmente) do nordeste ou de outras regiões fora do eixo sul-sudeste, você conhece? Por trás dessa questão que parece assustadora, há todo um contexto pré-estabelecido de construção de valores, que nem a internet consegui quebrar. O regional (e não, apenas, o regional brasileiro, mas o regional de qualquer país) ainda não é bem aceito e essa é a briga que precisa ser "brigada" agora. O Suassuna assusta mas por que o contexto é assustador.
Uma pergunta: você percebeu que esse livro é pautado em cima do pensamento sebastianista? E que todos os personagens apresentam essa configuração em sua construção?
N'A Pedra do Reino não estamos vendo, apenas, uma rebafulação aos moldes europeus de acontecimentos no interior de Pernambuco, mas um verdadeiro embate entre a estagnação e a opressão das mudanças que são impostas aos sujeitos.
Talvez, o "xenofobismo" deixe de ser infantil ao perceber que combater a influência estrangeira e que reconhecer o valor daquilo que formou o presente não são excludentes. Quer dizer, não preciso negar o passado para valorizar outra forma de relação com o mundo. Claro que A Pedra é influenciada pelas histórias de cavalaria europeias, pois o sertão é forjado nisso. A cultura interiorana brasileira, principalmente a nordestina, é resultante do mundo europeu medieval: vide os cordéis, que são um modo medieval de divulgação de literatura. Agora, não se pode estagnar nisso, nem aceitar qualquer coisa por parecer importante, só por que é importada.
É preciso ver o que o Suassuna diz, mas é preciso perceber, também, o contexto no qual ele diz.
Por isso, calma. O perigo é de outra ordem. =D