• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

A Pedra do Reino - Ariano Suassuna (ou Arriando Sua Sunga)

Breno C.

Usuário
Ganhei a Pedra do Reino da minha mãe, segundo ela eu preciso ler mais obras nacionais. O problema é que tenho um preconceito muito grande com tudo o que vem do nosso "querido" escritor nordestino Ariano Suassuna. Acho que a postura ultra ufanista (ou nacionalista, nunca sei qual é o certo) do Suassuna transpira nas suas obras de uma forma um tanto quando "adolescente", o que me faz terminar de ler frases como "aquela naçãozinha estrangeirada dos Franceses" pra começar a ter vontade de varar o livro pela janela.

Enfim... ainda estou lendo, porque, apesar de todos os meus preconceitos, acredito que é uma obra boa que conta, de forma lúdica, um episódio real (que só interessa aos nordestinos, mas...).

Então tô querendo a opinião de vocês sobre a obra e quem sabe até começar uma discussão sobre o estilo de escrita do autor.
 
Estou com ele em casa tb (minha namorada ganhou do município). Gosto muito da pessoa Ariano Suassuna.... figura bacana. Mas, certamente, não vou começar na obra dele por esse calhamaço de 900 (?) páginas. Talvez eu leia uma de suas peças (também tenho em casa)

Boa sorte, Breno! lol
 
Estou com ele em casa tb (minha namorada ganhou do município). Gosto muito da pessoa Ariano Suassuna.... figura bacana. Mas, certamente, não vou começar na obra dele por esse calhamaço de 900 (?) páginas. Talvez eu leia uma de suas peças (também tenho em casa)

Boa sorte, Breno! lol

Minha velha também ganhou do Município, uma edição com a capa bordo
 
Minha velha também ganhou do Município, uma edição com a capa bordo


A mesma edição que tenho aqui. E segundo a orelha do livro, esta é a primeira edição em muito tempo.


Dá uma certa raiva ser capturado por um livro de 800 páginas. Li as primeiras páginas e decidi ir em frente... Curti os elementos sebastianistas.... putz... mas é graande demais.


Vamos que vamos!

Vai ler? :)
 
A mesma edição que tenho aqui. E segundo a orelha do livro, esta é a primeira edição em muito tempo.


Dá uma certa raiva ser capturado por um livro de 800 páginas. Li as primeiras páginas e decidi ir em frente... Curti os elementos sebastianistas.... putz... mas é graande demais.


Vamos que vamos!

Vai ler? :)

To indo de pouquinho em pouquinho, até porque estou meio pegado aqui no trampo.

Depois que passei do sexto folheto, notei que o pedantismo na forma de escrita é meio que suplantado pela obra em si.
Você vai seguindo porque a leitura, que teoricamente deveria ser difícil, se torna super simples. Como se alguém do seu lado disse "vai, você pode ler mais um pouquinho, sua mente ainda não cansou". Não estou afirmando que mudei minha opinião sobre o que está escrito até esse ponto, mas é um tiro que saiu pela culatra, porque o livro não chega a ser "forte". E nem estou minimizando a história.

Na real, o que me faz dar pausas gigantescas na leitura é o conteúdo em si. É uma visão tão pouco realista, tão forçada na "melhora" de algo que eu já conhece e sei como é, tão puxado na expectativa de não tentar ser fantasia... que acaba sendo falso.
 
Nossa, fiquei chocada lendo esse tópico. Li esses dias "o santo e a porca" e adorei.

Na real, o que me faz dar pausas gigantescas na leitura é o conteúdo em si. É uma visão tão pouco realista, tão forçada na "melhora" de algo que eu já conhece e sei como é, tão puxado na expectativa de não tentar ser fantasia... que acaba sendo falso.


Meu Deus do Céu, explica melhor isso que me deu ataque nervos ao ler isso. ><'
 
Estou só no terceiro Folheto e gostando muito.... impossível não ver a relação com Dom Quixote..... belas imagens... como a de Deus e do mundo como duas onças e a descrição da "comitiva".. a narrativa é cheia de símbolos, e não venho me prendendo muito às coisas que não entendo.. (detalhes de heráldica e as múltiplas referências literárias/proféticas dos "santos" que previram a chegada do rei...

Dá pra ver até aqui que o Quaderna (narrador) não é lá muito confiável. Simpático e amalucado.... :)
 
Nossa, fiquei chocada lendo esse tópico. Li esses dias "o santo e a porca" e adorei.



Meu Deus do Céu, explica melhor isso que me deu ataque nervos ao ler isso. ><'[/COLOR]

Quando eu era moleque vi uma entrevista do Suassuna e achei o cara um velho decadente que estava falando mal de coisas inevitáveis e pregando um "nacionalismo" quase perigoso. Anos depois, com o advento da internet, comecei a ver mais e mais entrevistas dele e conclui que não estava tão errado na minha primeira impressão. Até ai ok, porque a postura do autor nem sempre transparece na obra ao ponto de estragar a leitura.

Cheguei a ler alguns textos isolados e vi que no caso do Suassuna, as obras dele são mais do que meramente "infectadas", elas são meio que construídas encima do personagem Ariano Suassuna.
Com o tempo dei de ombros, porque não havia uma urgência em conhecer o autor. O problema é que agora eu estou lendo o que deveria ser a maior obra do cara (segundo ele mesmo) e vejo cada vez mais que o velhinho inunda A Pedra do Reino com sua ideologia anti estrangeirismos.

Desculpa se eu me deixo levar por esses detalhes que alguns consideram pequenos, mas não dá pra ficar lendo muito tempo (entenda como mais de duas horas) um livro que tenta criar uma história de cavalaria num país que não viveu isso. Rola um processo de tentar fantasiar dentro de uma cenário que está muito próximo do leitor, atitude que fica feia e falsa. Perco dois minutos pesquisando sobre São José de Belmonte e percebo o quanto o autor está crescendo a história e penetrando nela uma apresentação de um Brasil que nunca existiu e de tão absurdo, não serve como fantasia. Muito parecido com aqueles filmes sobre favela, que tentam mostrar uma realidade usado a caricatura e conseguem ser ainda mais caricatos, beirando o ridículo.

Entendeu agora?
 
Quando eu era moleque vi uma entrevista do Suassuna e achei o cara um velho decadente que estava falando mal de coisas inevitáveis e pregando um "nacionalismo" quase perigoso. Anos depois, com o advento da internet, comecei a ver mais e mais entrevistas dele e conclui que não estava tão errado na minha primeira impressão. Até ai ok, porque a postura do autor nem sempre transparece na obra ao ponto de estragar a leitura.

Cheguei a ler alguns textos isolados e vi que no caso do Suassuna, as obras dele são mais do que meramente "infectadas", elas são meio que construídas encima do personagem Ariano Suassuna.
Com o tempo dei de ombros, porque não havia uma urgência em conhecer o autor. O problema é que agora eu estou lendo o que deveria ser a maior obra do cara (segundo ele mesmo) e vejo cada vez mais que o velhinho inunda A Pedra do Reino com sua ideologia anti estrangeirismos.

Desculpa se eu me deixo levar por esses detalhes que alguns consideram pequenos, mas não dá pra ficar lendo muito tempo (entenda como mais de duas horas) um livro que tenta criar uma história de cavalaria num país que não viveu isso. Rola um processo de tentar fantasiar dentro de uma cenário que está muito próximo do leitor, atitude que fica feia e falsa. Perco dois minutos pesquisando sobre São José de Belmonte e percebo o quanto o autor está crescendo a história e penetrando nela uma apresentação de um Brasil que nunca existiu e de tão absurdo, não serve como fantasia. Muito parecido com aqueles filmes sobre favela, que tentam mostrar uma realidade usado a caricatura e conseguem ser ainda mais caricatos, beirando o ridículo.

Entendeu agora?


Eu, particularmente, embarco na ideia de que a idade média nunca acabou no sertão. A transposição-épico-mouro-ibérica não se pretende verossímil, é uma fantasia dos diabos. Lendo, recordei Tom Zé, que dizia que em algum lugar da mitocôndria do nordestino fica a idade média.

A apresentação do livro (que já é livro!!!) já deixa claro o "aluamento" do Quaderno, que dirige o livro "aos magistrados", às donzelas, aos leitores em geral.....


No nordeste, nunca paramos de reencenar as batalhas de cavalaria e afins.... A leitura do livro me leva direto pra minha adolescência em Alagoas:

 
Última edição por um moderador:
Ganhei a Pedra do Reino da minha mãe, segundo ela eu preciso ler mais obras nacionais. O problema é que tenho um preconceito muito grande com tudo o que vem do nosso "querido" escritor nordestino Ariano Suassuna. Acho que a postura ultra ufanista (ou nacionalista, nunca sei qual é o certo) do Suassuna transpira nas suas obras de uma forma um tanto quando "adolescente", o que me faz terminar de ler frases como "aquela naçãozinha estrangeirada dos Franceses" pra começar a ter vontade de varar o livro pela janela.

Enfim... ainda estou lendo, porque, apesar de todos os meus preconceitos, acredito que é uma obra boa que conta, de forma lúdica, um episódio real (que só interessa aos nordestinos, mas...).

Então tô querendo a opinião de vocês sobre a obra e quem sabe até começar uma discussão sobre o estilo de escrita do autor.

Breno,

Quando resolvo ler algo de um escritor ou estilo que tenho preconceitos, tento, eu disse tento, me esvaziar destas resevas pra realmente julgar a obra/escritor da forma mais justa possível. Lógico que é um trabalho super dificil, mas não impossível. A partir daí você realmente vai perceber se sua visão sobre determinado autor é ou não justificável. Também é legal não ler uma obra só do mesmo autor e daí já fazer julgamentos acerca do mesmo.
Depois disso, se mesmo assim você não gostar, não tem jeito, você não combina com este autor e isso não é crime.
No meu caso, só li 1 livro do Suassuna para um trabalho da faculdade e gostei muito, espero ler mais dele para saber se realmente gosto da escrita do autor ou só gostei de uma obra específica.
 
Oi, Breno.

Parece um pouco estranho quando vemos escritores nacionais defendendo a valorização da nossa cultura, principalmente, aquela fora dos grandes centros urbanos. E parece mais estranho ainda quando essa cultura é mostrada como equivalente ao padrão estrangeiro.

Em A Pedra do Reino, Suassuna reinventa todo um conjunto de acontecimentos nascido do messianismo sebastianista e das "loucuras" que essas ideias levaram os homens do sertão a realizar.

Como o Vinnie falou, um conjunto de representações simbólicas ainda continua viva no interior do Brasil; uma idade média sendo recriada e revivida de formas outras, mas que encontram analogias com a própria idade média europeia. Não tivemos cavaleiros, mas tivemos e temos vaqueiros tangendo o gado e vivendo uma vida muito próximas as dos homens de armas medievais.

Os ares de majestade e de corte que os personagens e seus núcleos ganham eram a forma que os viventes dessa região percebiam seu patrões fazendeiros e suas famílias.

O Suassuna não é partidário de um fechamento à cultura estrangeira, o que ele se pergunta é por que valorizar o que vem de fora quando temos algo de nível poético igual e, às vezes, superior aquilo que é importado. É a essa subserviência da nossa população (e muitas vezes da população culta) que ele renega. Ele e os participantes do movimento Armorial.

Suassuna não é perigoso, ele alerta para o perigo que corremos. :sim:

Abraço!
 
O Suassuna não é partidário de um fechamento à cultura estrangeira, o que ele se pergunta é por que valorizar o que vem de fora quando temos algo de nível poético igual e, às vezes, superior aquilo que é importado. É a essa subserviência da nossa população (e muitas vezes da população culta) que ele renega. Ele e os participantes do movimento Armorial.

Suassuna não é perigoso, ele alerta para o perigo que corremos. :sim:

Oi,

Então cara... eu ainda não sou maluco. Faz pouco tempo, mas consegui aprender a arte da interpretação de texto, e bem... o Suassuna é perigoso sim.
A visão política do Ariano, seja nas entrevistas que ele deu no passado ou expressada pelos personagens, mostram um padrão de lógica que me assusta, porque é muito próxima ao de alguns escritores escravistas, ou escritores fascistas e nazistas. A diferença é que ele tá "meio que" sozinho nesse movimento. Fora o Suassuna, não existem grandes nomes da literatura nacional que apoiam os mesmos pontos (incluso a marginalização do estrangeirismo).

Ok, isso não muda o fato de que o cara sabe escrever. Já estou na segunda metade do livro e deu para sacar que a forma como ele compõem o texto, transpira qualidades de um bom escritor. Mas os momentos, as vezes completamente desnecessários, em que rola esse ataque a cultura estrangeira, mostram um xenofobismo infantil. E digo que é infantil, porque tem muita coisa n'A Pedra do Reino que é visivelmente retirado de histórias de cavalaria europeias.
 
Oi, Breno.

Não acho que você seja maluco, pelo contrário, só acho que você está reagindo um pouco além das medidas, nesse caso. Me espantou sua forma de reagir transformando o Suassuna num louco perigoso, como se ele fosse um skinhead sectarista. Pensamento totalizante por pensamento totalizante, a globalização é muito mais opressiva e assustadora.

A fala do Suassuna pode parecer perigosa por que ela pretende que os sujeitos tomem consciência do seu valor. E nisso ele é intransigente, o que constrói uma imagem caricata, até. Mas, você mesmo circunscreve o poder de influência das ideias do Ariano, ou seja, mínima.

O que o Suassuna questiona é: se saber das minhas origens deveria me fazer respeitar com mais força tudo aquilo que me formou, como eu deixo de prestar atenção nisso e me sinto inferiorizado diante de coisas que são, apenas, opressivamente divulgadas e de qualidade duvidosa?

Uma constatação política: quanto escritores famosos nacionalmente (atualmente) do nordeste ou de outras regiões fora do eixo sul-sudeste, você conhece? Por trás dessa questão que parece assustadora, há todo um contexto pré-estabelecido de construção de valores, que nem a internet consegui quebrar. O regional (e não, apenas, o regional brasileiro, mas o regional de qualquer país) ainda não é bem aceito e essa é a briga que precisa ser "brigada" agora. O Suassuna assusta mas por que o contexto é assustador.

Uma pergunta: você percebeu que esse livro é pautado em cima do pensamento sebastianista? E que todos os personagens apresentam essa configuração em sua construção?

N'A Pedra do Reino não estamos vendo, apenas, uma rebafulação aos moldes europeus de acontecimentos no interior de Pernambuco, mas um verdadeiro embate entre a estagnação e a opressão das mudanças que são impostas aos sujeitos.

Talvez, o "xenofobismo" deixe de ser infantil ao perceber que combater a influência estrangeira e que reconhecer o valor daquilo que formou o presente não são excludentes. Quer dizer, não preciso negar o passado para valorizar outra forma de relação com o mundo. Claro que A Pedra é influenciada pelas histórias de cavalaria europeias, pois o sertão é forjado nisso. A cultura interiorana brasileira, principalmente a nordestina, é resultante do mundo europeu medieval: vide os cordéis, que são um modo medieval de divulgação de literatura. Agora, não se pode estagnar nisso, nem aceitar qualquer coisa por parecer importante, só por que é importada.

É preciso ver o que o Suassuna diz, mas é preciso perceber, também, o contexto no qual ele diz.

Por isso, calma. O perigo é de outra ordem. =D
 
A Pedra do Reino foi um dos livros que mais me marcaram --- positivamente.

Ele dá um tratamento fantasioso à cultura do nordeste, mas isso faz muito sentido dentro da estrutura do livro e, especialmente, dentro das características do Quaderna. Se o Romance é uma espécie de Don Quixote, como já disseram aqui e dizem sempre, é preciso lembrar (o Vinnie, aí acima, já o fez) que é um Dom Quixote narrado pelo próprio; ou seja: os moinhos nunca deixam de ser gigantes. As ambições do Quaderna são análogas justamente ao que você critica no livro: a intenção de aumentar os acontecimentos e dar um tom monárquivo aos fatos narrados.

Eu gosto muito de narradores cujas características obrigam o leitor a questionar a narração --- é parte do que me faz amar o Romance e, por exemplo, O Livro dos Peixes de William Gould, do Richard Flanagan (que, aliás, recomendo a qualquer um que tenha a chance de gastar os sessenteitantos reais que tavam cobrando por ele da última vez que vi).

De todo modo, à parte tudo isto, é um livro muito bem escrito, com momentos maravilhosos e que dá muito prazer, mesmo, de ler.
 
Estou na página 260... rindo bastante..... É um livro de múltiplos gêneros literários... cordel, auto de defesa, memória....
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo