“Toda a verdade do mundo está contida nas histórias, você sabe”. Temor do Sábio, capítulo 49 – O Edena Ignorante, página 347.
Essa frase dita por Elxa Dal resume exatamente a essência da Crônica do Matador do Rei.
São nas histórias, nos versos e nas músicas que encontraremos a verdade sobre Kvothe e toda a sua jornada. Os mistérios antigos estão todos ali, aguardando nossa interpretação.
E eu resolvi que era hora de me voltar à obra primorosa de Patrick Rothfuss e voltar a fazer teorias.
Sim. Depois de um grande período adormecido, o blog voltou, e dessa vez com teorias sobre A Crônica do Matador do Rei.
As canções, histórias e poemas
Se nos pautamos nas histórias da Velha Ama para encontrar alguns indícios sobre o futuro de As Crônicas de Gelo e Fogo, em A Crônica do Matador do Rei me pautarei nas músicas e nas histórias contadas pelos personagens na trama.
Rothfuss nos dá, de maneira lúdica, informações sobre o passado e também sobre o futuro. Se percebermos com atenção, está tudo ali. Segredos escondido nas entrelinhas das estrofes de músicas cantadas na Eólica, ou nas estradas de Modeg, está camuflado em histórias de criança ou cantigas de ninar, ou até mesmo esquecidos nas páginas de antigos livros.
O livro traz muito disso em sua trama. A música e as histórias caminham intimamente interligadas a narrativa.
Então se um latoeiro cantar uma música, preste atenção.
Se uma criança na beira da estrada cantar alguns versos, preste atenção.
Se algum mercenário contar uma história ao redor de uma fogueira, preste atenção.
Se alguém for ler novamente os livros, procurem nas entrelinhas das músicas, poesia e histórias.
Agora se não quiserem ler novamente o livro ou procurar pistas, é so aproveitar os posts e usar o espaço para discutirmos sobre essa obra.
Sobre a obra de Rothfuss
Há um bom tempo, fiz um post sobre O Nome do Vento. Quem quiser dar uma olhada é só clicar aqui.
Não vou me estender aqui com novos elogios ao Rothfuss, pois sei que não vou parar tão cedo e o post ficará em segundo plano.
Mas só para não perder a oportunidade, Pat é, na minha opinião, o cara que vai elevar a literatura fantástica à um novo patamar.
É visível o conhecimento que ele tem e a paixão com a qual ele escreve. A narrativa é fascinante e os elementos criados por ele são sedutores.
Tenho certeza que A Crônica do Matador do Rei será sempre lembrada, por décadas e décadas.
As Portas de Pedra
O primeiro post da série “o que esperar de As Crônicas do Matador do Rei” tratará sobre o mistério que envolve o nome do terceiro livro: As Portas de Pedra
A escolha por esse tema faz sentido, pois é bom traçarmos ou tentarmos traçar qual o plot do próximo livro e, após, desvendarmos tudo o que está ao redor disso.
Então esse é o ponto de início das teorias do blog.
Mas é claro, assim como em todas as outras teorias que fiz, no decorrer do texto vocês perceberão que uma coisa puxará a outra e fatalmente estaremos tratando de assuntos que até então pareciam desconexos.
Eu iniciei minha pesquisa pelos livros, procurando pelas tais Portas de Pedra e para minha surpresa, encontrei muita coisa.
Sim, as Portas de Pedra já apareceram e já foram citadas algumas vezes no decorrer da trama.
Elas são citadas como algo quase sagrado por Bast.
"Você não faz ideia de quem eu sou.
O Cronista permaneceu muito quieto, mas não desviou o olhar.
– Juro por minha língua e por meus dentes – disse Bast, ríspido. – Juro pelas portas de pedra. Estou lhe dizendo três mil vezes: não há nada no meu mundo ou no seu que seja mais perigoso que o Cthaeh.” O Temor do Sábio – Interlúdio – Uma certa Doçura
Além de Bast, a Feluriana também cita as tais portas, mas essa citação eu vou mostrar mais a frente, pois tem uma importância ainda maior e serve para embasar alguns outros pontos da teoria.
A localização da Porta ou das Portas de Pedra
Ao que tudo indica, existe mais de que uma porta de pedra. Todos que citam elas, sempre as citam no plural.
Por isso fui pesquisar se havia mais de uma porta que se encaixasse. Teriam que ser portas misteriosas, que chamassem atenção de alguma forma mais contundente. E encontrei. Há pelo menos dois locais diferentes em que há portas assim.
Na Universidade, mais precisamente no Arquivo
No Arquivo existe uma estranha porta feita de pedra, sem fechadura e dobradiças (ao menos não aparentemente) que despertou a curiosidade de Kvothe.
"O garoto deu de cara com ela em sua primeira ida ao Arquivo.
Foi por mero acaso que topei com a porta das quatro chapas.
Era de um pedaço sólido de pedra cinzenta, da mesma cor das paredes circundantes. O umbral tinha 20 centímetros de largura, também cinzento e também feito de uma única peça inteiriça de pedra. A porta e o umbral tinham encaixes tão justos que seria impossível enfiar um alfinete em suas frestas.
Sem dobradiças. Sem maçaneta. Sem janela ou painel corrediço. Sua única característica eram quatro chapas duras de cobre. Ficavam grudadas na lâmina da porta, que se nivelava com a frente da moldura, a qual era nivelada com a parede ao redor. Podia-se passar a mão de um lado ao outro da porta praticamente sem notar qualquer divisão.
Apesar dessas ausências notáveis, aquela vastidão de pedra cinzenta era sem dúvida uma porta. Cada chapa de cobre tinha um furo no centro e, mesmo não sendo do formato convencional, certamente se tratava de fechaduras. Lá estava ela, imóvel como uma montanha, serena e indiferente como o mar num dia sem vento. Não era uma porta para ser aberta. Era uma porta para permanecer fechada.
No centro dela, entre as chapas imaculadas de cobre, se via uma palavra “gravada na pedra, em baixo-relevo: VALARITAS.
Havia na Universidade outras portas fechadas, locais em que coisas perigosas eram guardadas, onde dormiam segredos antigos e esquecidos, silenciosos e escondidos. Portas cuja abertura era proibida. Portas cujas soleiras ninguém cruzava, trancadas por segurança ou porque suas chaves tinham sido destruídas ou perdidas.
Mas todas se apequenavam se comparadas à porta das quatro chapas. Pus a palma da mão em sua superfície fria e lisa e empurrei, na vã esperança de que ela pudesse abrir-se ao meu toque. Mas era sólida e imóvel como um monólito cinzento. Tentei espiar pelas fechaduras nas chapas de cobre, mas não pude ver nada além da luz de minha vela.
Tamanha foi minha vontade de entrar que cheguei a saboreá-la. Provavelmente um componente perverso da minha personalidade transpareceu no fato de, apesar de estar finalmente dentro do Arquivo, cercado por segredos infindáveis, eu ter-me sentido atraído pela única porta fechada que encontrei. Talvez seja da natureza humana procurar coisas ocultas. Talvez fosse apenas a minha natureza.” O Nome do Vento, capítulo 34, O Caminho Bruxuleante.
Eu não prestei muita atenção nessa porta quando li O Nome do Vento pela primeira vez. E depois, quando voltei a ler em busca de evidências, fiquei extremamente intrigado.
Outro fato interessante de citar é… Percebam que Rothfuss já prepara Kvothe para voltar aqui. Voltar para essa porta. A curiosidade é o que move Kvothe muitas vezes e nessa passagem é possível ver a vontade que o garoto de cabelos vermelho tem de descobrir o que há ali.
O garoto até decide perguntar a Elodin sobre a misteriosa porta em O Temor do Sábio.
"À sua menção de segredos, minha mente se deteve em um que vinha me incomodando fazia meses. O segredo que estava no coração do Arquivo.
― E a porta de pedra do Arquivo? Aquela de quatro placas. Agora que sou Re’lar, o senhor pode me dizer o que há por trás dela?
Elodin riu.
― Ah, não. Não, não. Você não almeja segredos pequenos, não é? ― comentou, dando-me um tapinha nas costas, como se eu tivesse acabado de contar uma ótima piada. ― Valaritas. Santo Deus! Ainda me lembro de como fiquei, parado diante daquela porta, olhando, intrigado.” O Temor do Sábio, Capítulo 86 – O Fogo em Si
É praticamente um prelúdio do que nos espera. Grandes segredos envolvendo as Portas de Pedra e Kvothe. Disso não resta dúvidas. E ao decorrer do post provarei que isso realmente acontecerá.
Outra porta. Nos domínios da família Lackless
Existe uma outra porta de pedra, sem fechaduras ou dobradiças, bem parecida com a porta descrita no Arquivo.
Essa porta é considerada uma antiga relíquia familiar que pertencem aos nobres da família Lackless.
"– Que relíquia era essa? – indaguei.
Caudicus lavou as mãos numa cuba de porcelana e as sacudiu para secá-las.
– Ouvi dizer que, nas partes mais antigas das terras dos Lackless, na área mais antiga de sua propriedade ancestral, existe uma porta secreta. Uma porta sem maçaneta nem dobradiças.
Ele me olhou para se certificar de que eu prestava atenção e prosseguiu:
– Não há maneira de abri-la. Ela fica trancada, mas, ao mesmo tempo, não tem fechadura. Ninguém sabe o que há do outro lado” O Temor do Sábio, capítulo 59 – Propósitos
Sabemos então que há, pelo menos, duas portas de pedra na história e elas são cercadas de mistério. Nos resta saber o que ou quem essas portas guarda.
A família e o nome Lackless
Antes de adentrar no assunto “quem está atrás das portas de pedra” acho interessante passarmos a entender um pouco melhor sobre os nobres da família Lackless.
Até agora sabemos que os Lackless são uma família nobre e antiga em Vintas que guardam alguns segredos.
Há um mistério sobre o fato deles terem mudado tanto de nome conforme veremos, e por que guardam uma porta sem fechaduras ou dobradiças.
Chamo a atenção de vocês, pois desde O Nome do Vento, o nome dessa família é citado, e também é possível ver a citação das portas de pedra.
Algo que nem passou pela minha cabeça quando li pela primeira vez.
“Uma noite, quando eu preparava o fogo para meus pais cozinharem, mamãe me surpreendeu cantando uns versos que eu tinha aprendido na véspera. Sem que eu me desse conta de sua presença atrás de mim, ela me entreouviu recitar, distraído, enquanto batia com um graveto no outro:
Lady Lackless tem sete coisas não reveladas
Sob o vestido negro guardadas.
Uma é um anel, não para enfeitar,
Outra, uma palavra ardente, não para xingar.
Bem junto à vela do marido, secreta,
Fica uma porta sem maçaneta.
Numa caixa que nem tampa ou chave tem
Ficam as pedras do marido também.
Há um segredo que ela anda guardando:
Lackless não vem dormindo, mas sonhando.
Numa estrada que não é para viajar
Agrada-lhe seu enigma enredar.” O Nome do Vento, capítulo 11 – A Conexão de Ferro
Como eu disse, essas informações estão em uma singela música que Kvothe aprendeu em uma cidade pela qual sua família passou.
Então, receio que precisamos ir a fundo na história dessa família.
O nome Lackless deriva da palavra Lockless, em inglês “sem fechadura”. Só nessa explicação já sabemos da importância da família e de sua ligação intrinseca com as portas de pedra.
A visita de Kvothe ao maer em Modeg é extremamente rica em informações sobre essa família.
Lembrando que Kvothe está fazendo uma pesquisa sobre essa família a pedido do mear, pois ele quer cortejar a herdeira Lackless, e conta com a ajuda do garoto para realizar tal ato.
Segundo informações de Caudicus, eles são uma família muito antiga, e que mudaram de nome várias vezes no decorrer dos séculos.
"Às vezes os sobrenomes se baseiam em outros mais antigos. Quanto mais velho o nome, mais se aproxima da verdade. Lackless é um sobrenome relativamente novo na família, não tem muito mais de 600 anos.
Para quebrar a monotonia, não precisei fingir espanto.
– Seiscentos anos são uma coisa nova?
– A família Lackless é antiga – disse ele. Parou de andar de um lado para outro e se acomodou numa poltrona puída. – Muito mais antiga do que a casa de Alveron. Mil anos atrás, a família Lackless gozava de um poder pelo menos tão grande quanto o dos Alveron. Partes do que hoje são Vintas, Modeg e uma grande área dos Pequenos Reinos já foram terras dos Lackless um dia.
– Qual era o sobrenome deles antes disso?
Caudicus puxou da estante um livro grosso e folheou as páginas com im- paciência. – Aqui está. A família chamava-se Loeclos ou Loklos, ou Loeloes. Todos se traduzem com a mesma acepção de falta de trinco ou fechadura, na forma Lockless. A grafia era bem menos importante naquela época. O Temor do Sábio, capítulo 62 – Crise, página 566
Os Lackless e as Portas de Pedra
É possível presumir que os Lackless e a Porta de Pedra tem uma certa afinidade, não?
Eu acredito que essa família vem, desde sua origem, mantendo fechada essa porta.
Pode ser que hoje, os herdeiros da família nem se lembrem o que há atrás daquela porta, e nem saibam mais abri-la.
Passou-se tanto tempo que ninguém mais se lembra de sua missão e guardam a porta como se fosse uma relíquia antiga. Mas uma hora lembrarão.
Fatalmente as perguntas que surgem disso tudo, são:
- Será que algum Lackless sabe o que existe atrás daquela porta?
- Será que apenas um Lackless pode abrira aquela porta?
- Se for isso, quais Lackless temos na trama?
Meluan Lackless
A única (será?) Lackless que conhecemos até o momento é Meluan Lackless. Meluan é a mulher que se apaixonou pelo maer, graças as cartas escritas por Kvothe.
Sabemos que ela é herdeira dos Lackless. Uma mulher bonita que guarda um ódio mortal pelos Edena Ruh.
Essas três informações bastam para iniciarmos uma pesquisa aprofundada sobre a personagem.
O sentimento de ódio pelos Edena Ruh
Sobre o ódio pelos Edena, até eu me assustei quando vi a frieza de Meluan. Até então um ódio infundado.
"– Como lhe pareceram as estradas, em sua vinda para Severen? – perguntei. Todos gostam de reclamar das estradas. É um assunto tão seguro quanto o clima. – Ouvi dizer que tem havido certas dificuldades com bandidos no norte – acrescentei. Tinha esperança de animar um pouco a conversa. Quanto mais ela falasse, mais eu poderia conhecê-la.
– As estradas estão sempre repletas de bandidos Ruh nesta época do ano – foi a resposta fria de Meluan.
Não só bandidos, mas bandidos Ruh. Ela proferiu a palavra com uma aversão tão fria pesando na voz que senti um calafrio ao ouvi-la. Meluan odiava os Ruh. Não era a simples antipatia que a maioria das pessoas sentia por nós, mas um ódio verdadeiro, nítido, contundente.” O Temor do Sábio, capitulo 67 – Observando Rostos
A beleza e o rosto familiar de Meluan
Simplesmente ter um rosto bonito não seria motivo para chamar atenção. Feila é bonita, assim como Denna, assim como Kvothe.
Mas apesar dela ter um rosto bonito, o que mais chama atenção na história é o modo como Kvothe fala de Meluan.
É necessário levarmos em consideração a insistência de Kvothe em deixar claro que já viu essa mulher em algum lugar. Ele acredita que aquele rosto lhe é familiar.
“Enquanto me sentava, tentei imaginar onde poderia tê-la visto. Se as terras dos Lackless não ficassem a 1.600 quilômetros de distância, eu teria suposto conhecê-la da Universidade. Mas isso era ridículo. A herdeira dos Lackless não estudaria tão longe de casa.
Meus olhos vagaram por aquelas feições irritantemente familiares. Eu a teria conhecido na Eólica?
“Não parecia provável. Eu me recordaria. Ela era admiravelmente encantadora, de queixo forte e olhos castanho-escuros. Eu tinha certeza de que, se a tivesse visto por lá…” O Temor do Sábio, capitulo 67 – Observando Rostos
Depois disso passei a prestar atenção a todas as passagens que citavam Meluan, e asei evidências interessantes, que comprovam minha teoria sobre quem é Meluan Lackless.
Ela não é uma simples personagem que apareceu na trama sem motivos. há um motivo para Kvothe conhece-la.
Vejamos:
O motivo do ódio pelos Edena Ruh
Depois de descobrir o motivo do ódio de Meluan pelos Edena, tudo se torna esclarecedor.
Há um momento em que Kvothe está lendo um livro que contém informações sobre os Lackless.
A passagem é bem simples e Rothfuss deixa tudo muito jogado, como quem não quer dar importância ao assunto. Mas a verdade é que ali reside informações importantes demais.
“Eu havia começado uma segunda garrafa de vinho quando li que a jovem Netalia Lackless tinha fugido com uma trupe de artistas itinerantes. Os pais a haviam deserdado, é claro, deixando Meluan como a única herdeira das terras dos Lackless. Isso explicou seu ódio pelos Ruh e me deixou duplamente satisfeito por não ter tornado público o meu sangue de Edena em Severen.” O Temor do Sábio, capítulo 74 – Boatos
Sendo assim, aqui encontramos mais uma integrante da família Lackless.
Netalia Lackless, a irmã de Meluan.
Uma garota que fugiu com uma trupe de Edena, deixando para trás sua vida de nobre, e desonrando a família. Tanto que a garota foi deserdada pelos pais. Sendo assim, Meluan passou a ser a herdeira da família.
Juntando esses indícios, chego a uma conclusão sobre a identidade da irmã de Meluan…
Quem é a irmã fugitiva de Meluan Lackless?
A mãe de Kvothe é Netalia Lackless, a irmã que fugiu de casa para se aventurar com seu amor Edena Ruh.
Se voltarmos em O Nome do Vento, encontraremos indícios que comprovam minha afirmação.
“Minha mãe tinha um talento natural para as palavras. Ambos eram bonitos, de cabelos pretos e riso fácil, eram Ruh até os ossos, e isso, a rigor, é tudo o que precisa ser dito; exceto, talvez, que mamãe tinha pertencido à nobreza antes de participar da trupe. Ela me contou que papai a seduziu a deixar “um inferno enfadonho e miserável” com melodias doces e palavras mais doces ainda.” O Nome do Vento, capítulo 08 – Ladrões, hereges e prostitutas
Isso explicaria o motivo pelo qual Kvothe acha Meluan estranhamente familiar, mas não se lembra de onde a conhece.
Uma mulher com o rosto vagamente parecido como de sua mãe.
É mais provável isso, do que acreditarmos que ele viu Meluan andando por Tarbean, ou nas redondezas da Eólica, sendo que as terras dos Lackless ficam há quilometros de distância da Universidade.
O Sangue Lackless
E se Netalia Lackless é a mãe de Kvothe, Kvothe tem sangue Lackless.
Com essa revelação, caso seja verdade que apenas um Lackless possa abrir as Portas de Pedra, Kvothe tem o que é necessário.
Lembrando que “para abrir as portas de pedra, talvez seja necessário ser Lackless” é apenas uma suposição minha, sem qualquer base. Mas que Kvothe faz parte dessa família nobre e misteriosa, isso está provado.
Quem está por trás das Portas de Pedra?
Feluriana sabe quem é o homem e já disse isso a Kvothe.
"Seu sorriso se desfez.
– mas havia um moldador que era maior que os demais. para ele, a criação de uma estrela não bastava. ele estendeu sua vontade pelo mundo e a puxou de sua casa.
Erguendo a pedra lisa para o céu, Feluriana fechou cuidadosamente um dos olhos. Inclinou a cabeça, como se tentasse encaixar a curva da pedra nos braços vazios da lua crescente acima de nós.
– aquele foi o ponto de ruptura. os antigos conhecedores compreenderam que discurso algum jamais deteria os moldadores. – Deixou a mão cair novamente na água. – ele roubou a lua e com isso veio a guerra.
– Quem foi? – perguntei.
A boca de Feluriana curvou-se num sorrisinho e ela piou como um mocho:
– quem-quem? quem-quem?
– Ele era das cortes dos Encantados? – insisti, com gentileza.
Feluriana balançou a cabeça, com ar divertido.
– não. como eu disse, isso foi antes dos encantados. o primeiro e maior dos moldadores.
– Como era o nome dele?
– nada de nomes aqui. não falarei daquele, ainda que esteja trancado além das portas de pedra. O Temor do Sábio, capítulo 102 – A Lua em Eterno Movimento
Um homem que roubou a lua e por causa de seu ato uma guerra começou. Ele era um grande moldador, o primeiro e maior de todos. E é ele que está do outro lado das Portas de Pedra.
Isso remete a uma história, contada ao redor de uma fogueira.
A história de Jax, o Sem Sorte
Lembram da história que Hespe, a mercenária?
Há um momento em que o grupo de mercenários de Kvothe, param para descansar e a mercenária do grupo conta uma história sobre um rapaz que se apaixonou e queria a Lua. (e quem é capaz de não se apaixonar e querem a lua?).
Quando li, achei a história bem inocente, mas a medida que ela se desenvolvia comecei a prestar atenção.
"– Era uma vez, há muito tempo e longe daqui – disse Hespe, ao nos sentarmos ao redor da fogueira depois do jantar –, um garoto chamado Jax, que se apaixonou pela lua. Jax era um menino estranho, pensativo. Um menino solitário. Algumas pessoas falavam: “O que se pode esperar de um menino que mora sozinho numa casa em ruínas, no fim de uma estrada destroçada?” Outras diziam que o problema era ele sempre ter sido orfão. E havia quem dissesse que ele tinha uma gota de sangue encantado nas veias e que era isso que impedia seu coração de conhecer a alegria. Era um menino sem sorte, não havia como negar. ”O Temor do Sábio, capítulo 86, A Estrada Destroçada.
Um menino sem sorte. Essa frase chama atenção.
Se voltarmos à citação de Caudicus, quando explica a origem e mudança do nome da família Lackless, podemos ver que há a grafia Luckless, ou seja “Sem Sorte”.
Algumas coisas fazem mais sentido em inglês. Eu espero que não haja mais elementos que façam sentido em inglês, e não façam em português. Existe uma preguiça em reler tudo em inglês. Mas… quem sabe.
Mais revelador é o infortúnio que vem de dentro: como pode uma família prosperar, quando o herdeiro primogênito abandona todos os deveres familiares? Não admira que seus detratores comumente os chamem de “Luckless”, “sem sorte”.”O Temor do Sábio, capítulo 64 – A Fuga
Sendo assim, Jax provavelmente é o primeiro da linhagem dos Lackless. Foi ele quem roubou a lua. O grande moldador, que está atrás das Portas de Pedra.
A caixa de Jax Luckless
Em resumo o garoto se apaixona pela Lua, e tenta prender seu nome dentro de uma caixa, sem fechadura, nem trincos.
"– E a caixa? – indagou Jax, que estendeu a mão e a apanhou. Era escura e fria. Tão pequena que ele podia encerrá-la no punho.
O velho estremeceu e desviou os olhos da caixa.
– Está vazia – disse.
– Como é que o senhor pode saber sem ver o interior?
– Escutando – respondeu o eremita. – Fico admirado por você mesmo não poder ouvi-la. É a coisa mais vazia que já escutei. Ela ecoa. Foi feita para guardar coisas em seu interior.
– Todas as caixas são feitas para guardar coisas em seu interior. O Temor do Sábio, capítulo 88 – Escutar
Mas ele não consegue fazer as coisas direito, e apenas uma parte do nome da Lua, fica presa.
"Talvez Jax tenha demorado muito a fechar a caixa. Talvez tenha-se atrapalhado com o fecho. Ou talvez fosse simplesmente azarado em tudo. Mas, no fim, só conseguiu pegar um pedaço do nome da lua, não a coisa toda. O Temor do Sábio, capítulo 88 – Escutar
O nome da Lua foi aprisionado, ao menos metade dele, dentro de uma caixa.
E se a caixa era de Jax, e ele é um Lackless, receio que a caixa que o maer e Lady Meluan mostram para Kvothe continha o nome da Lua.
"Com expressão reverente, Meluan entregou-me um pedaço de madeira escura, do tamanho de um livro grosso. Segurei-o com as duas mãos.
A caixa tinha um peso inusitado para seu tamanho e sua madeira era lisa como pedra polida. Ao deslizar as mãos sobre ela, descobri que as laterais
[...]
– Como se faz para abri-la? – perguntei. Virei-a nas mãos e senti algo mudar de lugar em seu interior. Não havia dobradiças ou tampa óbvias, nem sequer uma junção que pudesse indicar uma abertura. A coisa tinha toda a aparência de ser uma única peça de madeira escura e pesada. Mas eu sabia que era um tipo de caixa. Dava a sensação de caixa. Pedia para ser aberta. O Temor do Sábio, capítulo 139 – Sem Fechadura
A idade e os segredos da relíquia dos Lackless
"– É uma relíquia de família – respondi, com naturalidade. – Muito antiga…
– Que idade você diria que tem? – interrompeu avidamente Alveron.
– Talvez 3 mil anos. Mais ou menos. O Temor do Sábio, capítulo 139 – Sem Fechadura
Perceberam que a caixa talvez tenha mais idade do que o início da família Lackless?
“É muito regular para ser acidental. Como é possível que a senhora não o tenha notado até hoje? Não é mencionado em nenhuma das suas histórias?
Meluan assombrou-se.
– Ninguém pensaria em escrever sobre a caixa Lockless. Eu já não disse que este é o maior de todos os segredos?” O Temor do Sábio, capítulo 139 – Sem Fechadura
Tenho certeza que nessa caixa está escondido o nome da Lua.
Mas há algo ainda estranho nisso tudo. Não sabemos se o Luckless é bom ou mal. Ao que me parece, aos encantados ele iniciou um guerra. E aos não encantados?
Algo que me intrigou, foi o fato dos olhos do grande moldador ser semelhante com os olhos de Kvothe. Mas se o maior de todos moldadores for ancestral de Kvothe, é possível entender a mutabilidade no olhar, e o grande poder do garoto.
Feluriana cita ele como alguém que tem um olhar diferente.
"– esse moldador de sombrio e mutável olhar a mão estendeu para o puro céu negro tocar. arrancou a lua, mas não a manteve parada. e agora ela oscila entre mortal e encantada.” O Temor do Sábio, capítulo 102 – A Lua em Eterno Movimento
Os segredos permeiam essa série, e tentaremos desvendar todos, ou quase todos, até termos As Portas de Pedra em mãos para lermos a conclusão dessa saga fantástica.
Conclusão
Bom… Chegamos ao fim do primeiro post, e chegamos a algumas conclusões:
- As Portas de Pedra existem e já apareceram na história.
- Sabemos que a família Lackless tem uma grande importância relacionada à essas Portas, desde o significado do nome familiar, até a relíquia que eles guardam em suas terras ancestrais.
- Concluímos também que Kvothe tem sangue Lackless, pois sua mãe era Netalia Lackless, herdeira que fugiu com um artista de trupe (Arliden).
- Sabemos quem está atrás das Portas de Pedra. É o maior moldador de todos. E ao que tudo indica ele é ancestral de Kvothe.
- O nome da Lua está em poder dos Lackless, mas até o momento é impossível abrir a caixa onde ele está preso.
Kvothe está muito mais ligado às Portas de Pedra, do que eu pensava no início. Disso não tenho dúvidas.