- No fim de junho eu estava no Condado, mas uma nuvem de ansiedade cobria
minha mente, e eu fui até a fronteira Sul da pequena terra; pois tinha pressentimento de
algum perigo, ainda oculto, mas que se aproximava. Ali, mensagens chegaram até mim,
contando sobre guerra e derrota em Gondor, e quando ouvi sobre a Sombra Negra, senti
um frio no coração. Mas nada encontrei, a não ser alguns fugitivos do Sul; mesmo assim
tive a impressão de que sentiam um medo que não mencionavam. Fui então em direção ao
Leste e ao Norte, e viajei ao longo do Caminho Verde; não muito longe de Bri, encontrei
um viajante sentado num barranco à beira da estrada, e seu cavalo pastando atrás dele. Era
Radagast, o Castanho, que numa época morou em Rhosgobel, perto das fronteiras da
Floresta das Trevas. Ele faz parte de minha ordem, e eu não o via fazia muitos anos.
- “Gandalf”, disse ele. “Estava procurando você. Mas sou um estranho nestas
partes. Tudo o que sabia é que você poderia ser encontrado numa região selvagem, com o
nome esquisito de Condado.”
- “Sua informação estava certa”, disse eu. “Mas não fale assim, se encontrar algum
habitante de lá. Você está perto da fronteira do Condado agora. E o que quer comigo?
Deve ser importante. Você nunca foi um viajante, a não ser por grande necessidade.”
- “Tenho uma missão urgente”, disse ele. “Minha notícia é má.” Então olhou ao
redor, como se as cercas-vivas tivessem ouvidos. “Nazgúl”, sussurrou ele. “Os Nove
estão de novo à solta. Atravessaram o Rio em segredo e estão indo par a o Oeste.
Tomaram a forma de cavaleiros vestidos de preto.”
- Soube então do que temia sem saber.
- “O Inimigo deve ter alguma necessidade ou propósito importante”, disse
Radagast; “mas o que o faz olhar em direção a estas partes distantes e desoladas, não
posso adivinhar.”
- “O que está querendo dizer?”, disse eu.
- “Disseram-me que, aonde quer que cheguem, os Cavaleiros pedem notícias de
uma terra chamada Condado.”
- “O Condado”, disse eu, mas meu coração ficou pesado. Pois mesmo os Sábios
podem ter medo de enfrentar os Nove, quando estão reunidos e sob o comando de seu
líder mortal. Antigamente, ele foi um grande rei e feiticeiro, e agora emana um pavor
mortal. “Quem lhe disse isso, e quem o enviou?”, perguntei.
- “Saruman, o Branco”, respondeu Radagast . “E me recomendou que dissesse a
você que pode ajudá-lo se precisar; mas que você deve procurar sua ajuda imediatamente,
ou será tarde demais.”
- E essa mensagem me trouxe esperança. Pois Saruman, o Branco, é o maior de
minha ordem. Radagast, claro, é um mago valoroso, um mestre das formas e das
mudanças de cores; tem muito conhecimento das ervas e dos animais, e os pássaros em
especial são seus amigos. Mas Saruman vem estudando há muito tempo as artes do
Inimigo, e desse modo conseguimos muitas vezes antecipar-nos. Foi pelos métodos de
Saruman que expulsamos o Inimigo de Dol Guldur. Podia ser que ele tivesse descoberto
armas para rechaçar os Nove.
- “Irei até Saruman”, disse eu.
- “Então deve ir agora”, disse Radagast, “pois perdi tempo procurando você, e os
dias estão se acabando. Recomendou -me que o encontrasse antes do Solstício de Verão, e
esse dia está chegando. Mesmo que você parta daqui, será difícil alcançá-lo antes que os
Nove descubram a terra que procuram. Quanto a mim, voltarei imediatamente.” E com
isso montou no cavalo e teria partido naquele instante.
- “Espere um minuto”, disse eu. “Vamos Precisar de sua ajuda, e da ajuda de todos
os seres que possam cooperar. Envie mensagens a todos os animais e pássaros que são
seus amigos. Diga-lhes para trazerem notícias de tudo o que se relacione a esse assunto de
Saruman e Gandalf Envie mensagens a Orthanc.”
- Farei isso”, disse ele, e partiu como se os Nove estivessem em seu encalço.
- Não pude segui-lo naquele momento e daquele lugar. Já tinha cavalgado muito
longe naquele dia, e estava tão cansado quanto meu cavalo, e precisava pensar nas coisas.
Passei a noite em Bri, e decidi que não tinha tempo para voltar até o Condado. Nunca
cometi um erro tão grande!