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Crônicas Escolhidas (Machado de Assis)

Bilbo Bolseiro

Bread and butter
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Comecei a ler este livro do Machado ontem. É um livro que a Folha de São Paulo distribuiu gratuitamente entre os assinantes que renovaram suas assinaturas, muitos anos atrás.
É uma coletânea de crônicas que o Machado escreveu pra jornais, comentando sobre os mais variados assuntos, desde questões políticas até a importância do estômago na vida das pessoas. Li cerca de um terço do livro até agora, e estou gostando muito, os comentários e insinuações irônicas dele são demais, muito inteligentes. Alguém mais conhece e/ou tem esse livro?



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Infelizmente não conheço esse livro mas, muito provavelmente, os contos que estão nele estão espalhados por outros livros de contos selecionados dele. Eu tenho um, pequenino, que trás alguns contos muito bons; um dos meus favoritos é o "A Cartomante".

Eu gosto muito de Machado de Assis. Viciei após ler o romance mais famoso dele, "Dom Casmurro". No entanto, não sei se é porque ainda não li boa parte de seus livros, mas tenho a impressão de que, mesmo sendo um ótimo escritor sob um ponto de vista geral, ele só alcançava a excepcionalidade que fez dele um dos maiores escritores do mundo nos contos curtos: o "O Alienista" é um conto que eu adoro e que leio muito mais do que o "Dom Casmurro", por exemplo. Mas talvez seja uma impressão minha, pois a única obra longa que li dele foi justamente a que citei. De qualquer forma, ele foi um escritor fantástico, cheio de estilo, elegância e inventividade. Ao lado de Fiodor Dostoiévski é o meu escritor favorito e, na minha opinião, estes são os dois maiores escritores que o mundo já produziu. Desconsiderando Tolkien e suas obras: seria covardia considerá-lo, visto que é o maior escritor e gênio literário de todo o Universo, rsrsrs.


[]'s!
 
Não, não são contos, são crônicas. Não são estórias de ficção, com começo, meio e fim, são comentários e dissertações dele sobre assuntos variados, que ele publicava nas colunas dos jornais.
 
Conheço de nome, mas nem tenho o livro, o que significa que NÃO foi uma boa ideia o senhor falar sobre ele aqui, Bilbo, porque, eu acho que o seu livro desaparecerá em SETE DIAS (palavras proferidas pela Samara). Eu já ouvi comentários sobre ele, mas não tem ninguém que eu conheço (estou falando de pessoas com as quais não me comunico pelo meio virtual), que é assinante da Folha (se conhecesse, eu já tinha o livro XD). O povo que eu conheço assina O Estado de Minas. Fale mais sobre ele, Bilbo. Cite alguns trechinhos das crônicas, só para eu sentir o gostinho ácido que só o Machado sabia dar às letras.
Se alguém ainda não percebeu, eu IDOLATRO o Machado de Assis. Se alguém ainda não percebeu, EU PRECISO DESSE LIVRO.
 
A Folha sempre costuma fazer essas promoções. Achei interessante esse novo livro "Crônicas Escolhidas". Faz um bom tempinho que não leio nada do Machado, acredito que desde o término do vestibular.

Minha tia é assinante da Folha, vou ver se ela recebeu o volume e pedir emprestado depois que terminar o que estou lendo atualmente.
 
Conheço de nome, mas nem tenho o livro, o que significa que NÃO foi uma boa ideia o senhor falar sobre ele aqui, Bilbo, porque, eu acho que o seu livro desaparecerá em SETE DIAS (palavras proferidas pela Samara). Eu já ouvi comentários sobre ele, mas não tem ninguém que eu conheço (estou falando de pessoas com as quais não me comunico pelo meio virtual), que é assinante da Folha (se conhecesse, eu já tinha o livro XD). O povo que eu conheço assina O Estado de Minas. Fale mais sobre ele, Bilbo. Cite alguns trechinhos das crônicas, só para eu sentir o gostinho ácido que só o Machado sabia dar às letras.
Se alguém ainda não percebeu, eu IDOLATRO o Machado de Assis. Se alguém ainda não percebeu, EU PRECISO DESSE LIVRO.
Desculpe a demora, só pude responder agora :oops:
Hehe, se ele sumisse daqui mas fosse parar nas mãos de alguém que merece, como você, eu nem ficaria tão triste. Eu procurei lá no Estante Virtual, e lá tem ele à venda, olha só: http://www.estantevirtual.com.br/discolivros/Machado-de-Assis-Cronicas-Escolhidas-50793865

Claro, posso citar trechos sim, na primeira crônica do livro sobre os bondes, que com certeza era um dos assuntos favoritos dele, ele diz, sobre supostas regras para se comportar de forma adequada neles:
"(...)Art. I — Dos encatarroados

Os encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.
Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os encatarroados têm dois alvitres: — ou irem a pé, que é bom exercício, ou meterem-se nas camas. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.
Os encatarroados que estiverem nas extremidades dos bancos devem escarrar para o lado da rua, em vez de o fazerem no próprio bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçõnico, vocação, etc., etc.(...)"

Em outra crônica, sobre touradas, ele diz o seguinte:
"(...)O certo é que se eu quiser dar uma descrição verídica da tourada de domingo passado, não poderei porque não a vi.
Não sei se já disse alguma vez que prefiro comer o boi a vê-lo na praça.
Não sou um homem de touradas; e se é preciso dizer tudo, detesto-as. Um amigo costuma dizer-me:
— Mas já as viste?
— Nunca!
— E julgas do que nunca viste?
Respondo a este amigo, lógico mas inadvertido, que eu não preciso ver a guerra para detestá-la, que nunca fui ao xilindró e todavia não o estimo. Há coisas que se prejulgam, e as touradas estão neste caso.(...)
(...)Repito: eu gosto simplesmente de o comer. É mais humano e mais higiênico."

Em outra crônica, uma de minhas favoritas das que li até agora, ele conta a técnica que desenvolveu pra escapar das pessoas que o irritavam com a pergunta "O que há de novo?" sempre que o encontravam:
"(...)Confesso que esta semana entrei a aborrecer semelhante interrogação. Não digo o número de vezes que a ouvi, na segunda-feira, para não parecer inverossímil. Na terça-feira, cuidei de lê-la impressa nas paredes, nas caras no chão, no céu e no mar. Todos a repetiam em torno de mim. Em casa, à tarde, foi a primeira cousa que me perguntaram. Jantei mal; tive um pesadelo; trezentas mil vozes bradaram do seio do infinito: — Que há de novo? Os ventos, as marés, a burra de Balaão, as locomotivas, as bocas de fogo, os profetas, todas as vozes celetes e terrestres formavam esse uníssono: — Que há de novo?
Quis vingar-me; mas onde há tal ação que nos vingue de uma cidade inteira? Não podendo queimá-la, adotei um processo delicado e amigo. Na quarta-feira, mal sai à rua, dei com um conhecido que me disse, depois dos dias costumados:
— Que há de novo?
— O terremoto.
— Que terremoto? Verdade é que esta noite ouvi grandes estrondos, tanto que supus seram as fortalezas todas juntas. Mas há de ser isso, um terremoto; as paredes da minha casa estremeceram; eu saltei da cama; estou ainda surdo... Houve algum desastre?
— Ruínas, senhor, e grandes ruínas.
— Não me diga isso! A Rua do Ouvidor, ao menos...
— A Rua do Ouvidor está intacta, e com ela a Gazeta de Notícias.
— Mas onde foi?
— Foi em Lisboa.
— Em Lisboa?
— No dia de hoje, 1 de novembro, há século e meio. Uma calamidade, senhor! A cidade inteira em ruínas. Imagine, por um instante, que não havia o Marquês de Pombal, — ainda não o era, — Sebastião José de Carvalho, um grande homem, que pôs ordem a tudo, enterrando os mortos, salvando os vivos, enforcando os ladrões, e restaurando a cidade. Fala-se da reconstrução de Chicago; eu creio que não lhe fica abaixo o caso de Lisboa, visto a diferença dos tempos, e a distância que vai de um povo a um homem. Grande homem, senhor! Uma calamidade! Uma terrível calamidade!
Meio embaraçado, o meu interlocutor seguiu caminho, a buscar notícias mais frescas. Peguei em mim e fui por aí fora distribuindo o terremoto a todas as curiosidades insaciávies. Tornei satisfeito a casa: tinha o dia ganho.(...)
(...) No sábado, notei que os perguntadores fugiam de mim, com receio, talvez, de ouvir a queda do império romano ou a conquista do Peru(...)"
Genial :lol:

A Folha sempre costuma fazer essas promoções. Achei interessante esse novo livro "Crônicas Escolhidas". Faz um bom tempinho que não leio nada do Machado, acredito que desde o término do vestibular.

Minha tia é assinante da Folha, vou ver se ela recebeu o volume e pedir emprestado depois que terminar o que estou lendo atualmente.
Sim, eles sempre faziam isso, além desse do Machado já recebi vários outros, um de poemas do Vinícius de Moraes, um com crônicas políticas de um correspondente da Folha em Brasília e um em comemoração aos cem anos do cinema, em 1995, com resenhas de filmes famosos. Se ela não tiver mais, já que o livro é antigo (de 1994), você pode tentar comprá-lo no site da Estante :)
 
Última edição:
Aquela parte do texto de encatarroados me fez lembrar a Melian falando. Tão doce. :rofl:

Ela vai ficar toda feliz com a comparação, estou até vendo. :p

Essa minha tia foi bibliotecária, acredito que deva ter. Ela tem muitos livros.

Gostei das passagens.
 
Aquela parte do texto de encatarroados me fez lembrar a Melian falando. Tão doce. :rofl:
Minha gentileza é lenda, pode admitir. Até no inferno, ela é lenda. Quer ir lá comprovar isso, Caio? :sacou:

Turgon disse:
Ela vai ficar toda feliz com a comparação, estou até vendo. :p
Aceitarei o elogio só seu eu puder fazer uso do meu jeitinho doce de falar enquanto faço o uso da nobre arte de trollar. XD

Os trechos que o Bilbo postou me deixaram com mais vontade de ler o livro todo. A poética do Machado se presentifica em quaisquer gêneros por meio dos quais seus textos se materializem. Eu tenho um apreço pela crônica que vira e mexe dou um jeito de falar algo sobre ela. Eu gosto muito do fato de ela ser um gênero "entre", que fica não só entre a Literatura e o Jornalismo, mas principalmente por ficar entre o leitor e o autor, como o operador de um diálogo. Porque uma das coisas mais gostosas da crônica é esse tom de "aparente conversa fiada", como já apontou Antônio Cândido. Eu gosto, bastante, de uma fala do Machado em "O nascimento da crônica":

Machado de Assis disse:
Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dizia que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopada do que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.

Encanta-me essa concepção de um tom despretensioso da crônica, porque a partir dele, podemos ler sem temer, e, nesse processo, acabamos percebendo que a crônica é um ótimo lugar para se fazer reflexões acerca de todas as coisas. Eu não sei se no seu livro tem uma crônica de 14 de maio de 1893, Bilbo, mas eu tenho uma antologia do Machado (que têm só textos dele relacionados, de alguma maneira, com a afrodescendência, "Machado de Assis afro-descendente"), que tem fragmentos dessa crônica, que faz uma referência à Constituição.
 
Que sorte a sua ter uma tia que já foi bibliotecária hein, Turgon, fiquei até com uma pontinha de inveja, hehe

Eu também gosto muito dessa informalidade presente nas crônicas, como você mesma ressaltou, Melian, em diversos momentos o Machado se dirige diretamente ao leitor, isso deixa a coisa ainda mais divertida e agradável. E no livro tem sim essa crônica que você postou um trecho, inclusive é a que abre o livro =)
 
Minha gentileza é lenda, pode admitir. Até no inferno, ela é lenda. Quer ir lá comprovar isso, Caio? :sacou:
Só para deixar claro, eu me referia no modo de postar no fórum. Gentileza que encontramos muito no tópico da Madame Melian, por exemplo. :mrgreen:
 
E foi também numa biblioteca acabei conhecendo esse livro.

Foi bem interessante conhecer esse lado cronista do Machado de Assis que até então eu nem sabia.
 
Pois é, tem autores cujo talento era tão grande que eles não se limitavam a apenas um estilo de escrita, tinham que fazer mais, hehe
 

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