Pois foi exatamente isso Kainof, a idéia do cíclico que quis invocar neste trato.
São Tomás de Aquino se baseia em Aristóteles, e por sua vez entende o cíclico, que mesmo não sendo aceito pela Igreja está presente no calendário cristão, e nas idéias medievais. Por isso faz-se necessário a adaptação dos dias da semana, como no calendário
juliano, pois o tempo cristão medieval se cunhava em festivais, que se repetiam, e propagavam o cíclico da Antigüidade.
Me desculpe Falca, mas Tomás de Aquino não era sarcástico, nem tão pouco crítico num ponto negativo, apenas via a cristandade com olhar aristotélico, e isso não foi aceito em vida, e não era muito bem encarado após sua morte (e sua canonização).
Porém, mais tarde a Igreja iria tomar Aquino como base, e as idéias aristotélicas como união de fé e razão, assim como a idéia de Agostinho o fez antes, unindo cristianismo e filosofia, e com isso Aristóteles se torna canônico, sendo que Giordano Bruno viria a morrer por contradizer Aristóteles.
A idéia da
Providência Divina de Tomás de Aquino, e a questão do sentido da história dão perfeitamente análogos as obras, e a religiosidade de Tolkien.
Perdoem-me se não fui tão claro, mas essas não são opiniões minhas, apenas uma leitura de Jacques Le Goff, cujo valor como medievalista é incontestável.
Estou me baseando no cápitulo IV,
Uma civilização toma corpo, do livro
Em busca da Idade Média de Jacques Le Goff.
A idéia de Providência de Tomás de Aquino se refere ao plano segundo o qual as coisas foram ordenadas a seu fim, Deus vela para que a história se desenvolva no
bom sentido. Sendo assim, o homem, para quem Deus deu o livre arbítrio, está livre para manchar essa
bondade, obscurecê-la.
Assim como Eru, e os seres de Arda, existe um plano, o qual nem mesmo Melkor está fora, e cuja idéia é seguir num
bom sentido, porém os seres são livres para manchar esse bom sentido.
O apocalipse de Tolkien lembra claramente o
Ragnarök nórdico, que por sua vez tem semelhanças com o apocalipse cristão. É uma analogia que me permito fazer, ao menos.
Quanto a questão do apocalipse, eu já me referia amigo Falca, e quanto a Melkor não se redimir, ou se redimir, a mim parece ainda obscuro. Porém compreendo sua colocação quanto a idéia tratada no
Silmarillion, e a comparação com Satanás, mas não acho que seria tão claro, a ponto de ser
alegórico. As menções que fiz são análogas, não alegóricas, nem anacrônicas.
A idéia aristotélica, antes disso, platônica, do
Eidolon, remete a idéia da Mente de Eru (Mundo das Idéias), Arda representa o plano físico, no qual os seres sofrem esse período de "decadência", Arda é maculada, para em um fim, apocalíptico, mais uma vez comtemplarem, agora de outra forma, o mundo do
eterno, das
idéias, o
Eidolon, a
Mente de Eru.
Por isso, amigo Kainof, que considerei válida essa idéia aristotélica, lida por Tomás de Aquino, e adaptado ao mundo medieval, e presente nas obras, mesmo que de forma indireta.
Quanto a visão traumática, e a compreensão de Ilúvatar, são as mesmas idéias cristãs, e por mais distante que pareça dos filósofos da Antigüidade, onde estar próximo do
Saber (
Deus para Santo Agostinho) é compreender o mundo, são a idéia de Paraíso de Agostinho, aceita pelo mundo medieval como canônica.
Lembrando que Agostinho é leitor de filósofos neo-plotinos, e tem suas bases em Platão, assim como Tómas de Aquino em Aristóteles, e o ambiente medieval ainda guarda reminiscências clássicas, que aliás, é o que Jacques Le Goof coloca em sua idéia de
Longa Idade Média, que estaria com germes no mundo Antigo, e perdura até hoje.
Espero ter sido um pouco mais claro em minhas colocações.
Abraços.