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Torto Arado (Itamar Vieira Junior)

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Não sei quem é a moça da Batalha. Também não sei o que ela fez com a Izze.
Não sigo o moço do Torto Arado em nenhuma rede social, e não tô entendendo nada do que tá acontecendo, mas quero participar da cirandinha de esquerda, aí vim postar aqui.

P.S.: Ainda bem que meu autor preferido não tá vivo.​
 
A treta continua. Texto do Itamar na Folha:

[...]
Pessoas brancas são imbatíveis quando nos destinam adjetivos. Se rebatemos a piada racista, somos extremistas e estamos atacando a liberdade de expressão. Se escrevemos sobre nossas dores, somos maniqueístas, nunca será porque essa é a nossa história.

Acabei de colocar um romance na rua e nele mais uma vez segui meu propósito de narrar a história da minha gente, daqueles que me antecederam e daqueles que me cercam. Estou no meio literário há pouco tempo, mas já acumulei repertório suficiente para escrever uma etnografia desse grupo. É claro que eu esperava racismo por minha insubordinação de continuar a escrever. Esperava que alguém me lembrasse, como o professor branco, que meus pés jamais deveriam ter deixado a senzala.
[...]
Eu não quero me manifestar todas as vezes que cospem na minha cara, mas Vini Jr. me lembrou que precisamos erguer nossa cabeça, pois tê-la curvada nunca nos ajudou em nada.

Então vou contar para vocês os adjetivos que ganhei de uma professora branca em redes sociais simplesmente porque decidi ignorar a "cusparada": "sujeito" (alguém inferior que não pertence à sua classe e raça), "arrogante" (já vi o mesmo adjetivo destinado a outros corpos negros altivos, como Djamila Ribeiro, Luiza Bairros e Silvio Almeida) e "preguiçoso mental" (será que é um insulto xenófobo por eu ter nascido e ainda viver na Bahia?).

Texto completo: https://www1.folha.uol.com.br/colun...-a-cabeca-e-ir-ate-o-fim-contra-racismo.shtml

E ela já rebateu:
 
Itamar Vieira Júnior escreveu um texto sobre Vini Júnior. Nele, o escritor, a pretexto de manifestar solidariedade ao jogador, contesta uma crítica ao seu novo romance. Diz ele:

“Acabei de colocar um romance na rua e nele mais uma vez segui meu propósito de narrar a história da minha gente, daqueles que me antecederam e daqueles que me cercam. Estou no meio literário há pouco tempo, mas já acumulei repertório suficiente para escrever uma etnografia desse grupo. É claro que eu esperava racismo por minha insubordinação de continuar a escrever. Esperava que alguém me lembrasse, como o professor branco, que meus pés jamais deveriam ter deixado a senzala.”
“Então vou contar para vocês os adjetivos que ganhei de uma professora branca em redes sociais simplesmente porque decidi ignorar a "cusparada": "sujeito" (alguém inferior que não pertence à sua classe e raça), "arrogante" (já vi o mesmo adjetivo destinado a outros corpos negros altivos, como Djamila Ribeiro, Luiza Bairros e Silvio Almeida) e "preguiçoso mental" (será que é um insulto xenófobo por eu ter nascido e ainda viver na Bahia?).”

Curioso, fui atrás do quiproquó.

Li, primeiro, o texto de Lígia G. Diniz. E, nele, estes trechos que devem ter irritado sobremaneira o escritor:

“Talvez, no entanto, a literatura de Itamar Vieira Junior encarne, mais do que qualquer outra no país, o espírito do tempo, e isso as vendas mostrarão melhor do que uma resenha. É mesmo um mérito saber sintetizar assim uma tendência. Para a literatura brasileira, porém, esse sucesso aponta o status enfraquecido da ficção imaginativa e o triunfo da narrativa didática e moralizante, que se esquiva da complexidade humana e finca o pé na prescrição de como o mundo deve ser encarado.
Não se trata só de sucesso de público, no entanto, e é preciso refletir acerca das razões para que esse tipo de literatura obtenha tanto espaço institucional — dos prêmios à atenção recebida pela mídia, o que inclui esta longa resenha. É frustrante que essas razões apontem para o caminho do autoflagelo fácil, e nada produtivo, de uma elite ilustrada que, para expurgar a culpa por seus privilégios, celebra narrativas maniqueístas (e, ironicamente, muito cristãs) em que miséria é sinônimo de virtude, e a desigualdade brasileira se explica pelas ações de monstros muito, muito malvados.”

É verdade que a autora da crítica, a julgar pela foto dela numa rede social, é branca. Mais que branca, pelo que vi: é ruiva e tem olhos claros. O que talvez, de um certo ponto de vista, a desqualifique de uma vez por todas para tratar do texto de um homem pardo. (Penso agora que talvez eu mesmo, apesar de não ser totalmente branco na Europa por conta da costela árabe, sendo suficientemente branco aqui, devesse ser forçado a calar a boca nesse caso.)

Aliás, “calar a boca” foi o motivo da tal briga em rede social a que alude Itamar. E foi assim: ele bloqueou a crítica numa das suas redes, e ela reclamou disso em público. Foi aí que disse que a recusa dele à crítica era preguiça mental e que o bloqueio foi prova de arrogância. Ele, por sua vez, na Folha, equiparou essa reclamação aos insultos recebidos por Vini Jr. e logo traduziu tudo em clave identitária. Afinal, além de ela ser branca, o editor da Quatro Cinco Um (segundo Itamar, pois eu não conheço ninguém ali) é branco!

Ora, mesmo correndo o risco de também ser equiparado à torcida espanhola que xingava Vini Jr. de macaco, devo dizer que a crítica da Lígia me pareceu rigorosa, coerente e sem ponta de racismo.

Por isso mesmo, creio que o Itamar, ao equipará-la aos torcedores espanhóis e ao se comparar ao Vini Jr. apenas reforça, confirma a propriedade da crítica que ela faz nos parágrafos transcritos.

Ou seja, sem absorver a crítica, ele optou por bloquear a autora dela, tirar-lhe o direito de fala no perfil dele, o que deve parecer grave para os que frequentam esse universo fervente que são as redes sociais. Caindo ela na esparrela de reclamar, Itamar conseguiu a resposta mais fácil e lucrativa ao texto dela: tratou logo de se engatar no Vini Jr, surfar na onda e faturar. Com um ganho adicional, qual seja o de prevenir-se de futuras críticas de pessoas não-negras ou não-pardas. Como quem diz: - olha aqui, brancos e brancas: vocês podem ler os meus livros, mas a atitude correta que lhes cabe é fazer logo um ato de contrição e calar a boca sobre qualquer reparo que queiram fazer aos meus produtos, seus racistas!

Paulo Franchetti, professor da Unicamp, no Facebook
 
Não tenho condições de opinar de maneira sóbria sobre esta parada. Sinto-me muito desconfortável, mesmo. O autor parece ter a tendência de ser reativo quanto às críticas negativas, — não o acompanho em nenhuma rede social, e só li Torto Arado (que não gostei, mesmo que quisesse gostar), embora queira, sim, ler Salvar o Fogo. A crítica em questão, por sua vez, parece ter tripudiado em demasia sobre a reatividade do autor. E, aqui, não falo sobre o fato de ela estar exercendo seu trabalho como crítica, falo sobre a questão do ego, mesmo, que fez com que ela lamentasse, por diversos tweets, segundo dizem as pessoas que estão acompanhando o imbróglio, sobre ele não querer dialogar com ela.

Realmente, para o crítico, deve ser extremamente frustrante não conseguir manter o canal de diálogo aberto, mas chega um ponto em que ela tem de entender que a escolha, feliz ou infeliz, de aceitar debater é dele. Há alguns dias, acredito que pouco depois de o autor ter feito o famigerado texto em que se compara ao Vini Jr., uma moça comentou no Twitter que, à época em que fez a crítica do livro novo do Itamar Vieira, a professora chegou a publicar um tweet que dizia algo parecido com: "acabei de desbancar um livro". A mesma moça disse que acreditava que o tweet havia sido deletado, após a confusão toda. Não quero me basear em um suposto tweet, mas se isso foi feito, para quê? (EDIT.: Não era sobre o livro do Itamar que a crítica estava falando. Ela disse que foi delicioso escrever que a poesia da Margaret Atwood é horrorosa).

Achei o tom da crítica dela beirando (tô sendo gentil) o preconceito de classe e flertando (mais gentileza minha) condescendentemente com a ideia de que "ele fala ao povo dele". E isso mirou o texto do Itamar e acertou algo além. Mas as pessoas só se concentram na reação do homem. "Ah, que ele já não aceita crítica."; "Ah, que ele não sabe reagir às críticas". Como o Itamar reagiu a um texto não tão perfeito quanto querem fazer parecer, pode ser um sintoma, mas não o maior dos problemas da literatura atual.

Outra coisa: por mais frustrada que ela estivesse com o fato de ter sido bloqueada nas redes sociais, acho exagerado taxar isso como uma atitude de preguiça mental do autor. É inferir muito sobre o outro. Parece-me que há um excesso de "se dar importância" das duas partes, sabe? Aí as coisas descambam de um jeito irremediável. Pergunto-me quantos textos mais surgirão de pessoas saindo em defesa da crítica literária, dizendo que o Itamar passou da linha, mas que, em momento algum, tocarão no fato de que ele não foi o único que o fez.​
 
Última edição:
Quando começar a ler, criarei um tópico para o livro. Lá, farei o relato do processo de leitura: "Mas o quê?" Tô criando coragem pra comprar a edição pra kindle. Tá trinta e uma Janjas e quarenta e um Lulinhas. Pensei em comprar no cartão e falar: "Que Deus te pague, Nubank!". Mas acho que vou esperar alguns meses, mesmo, porque tô com um tanto de trem pra ler, né?​
 

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