Eru- o Ilúvatar
Usuário
Um assunto me passou pela cabeça dia desses quando, em um outro fórum, me deparei com uma questão que me deixou intrigado.
Um garoto, que devia ter por volta de 15 anos, me cria um tópico perguntando se os membros mais velhos do fórum, o povo na faixa dos 20 pra cima, tinha inveja dos mais novos, que vivenciam nessa era de internet e afins mais experiências no âmbito sexual etc... Mas não foi o tema em si que me chamou atenção, mas os enunciados por trás dele.
Será que realmente a geração que cresceu com a internet deve ser invejada, ou deveriam eles ter inveja de nós? Vou explicar: A geração "baby boomer", a geração X (pré-computador) e mesmo a geração ainda nascida na primeira metade da década de 80 passaram por determinados tipos de experiência que foram sendo sistematicamente substituídas por um automatismo e empobrecimento sob uma série de aspectos, que vão da precocidade com que se iniciam sexualmente, assim como em uma série de outros aspectos da vida adulta (não, não estou sendo "careta", mas acredito que essa precocidade é muito mais indusida do que espontânea e mata uma etapa importantícima da vida da pessoa, a infância). O próprio contato com pessoas mais velhas pode levar uma criança a ter um amadurecimento externo precoce e forçado, levando ou ela a suprimir e reprimir sua infância cedo demais, ou surtar, como acontece as vezes e já deve ter acontecido aqui no fórum.
Me lembro que há até alguns anos atrás, brincavamos de gente grande, os meninos com seus brinquedos de montar ou carrinhos, as meninas com suas bonecas. Hoje até a televisão incentiva a brincadeira de médico para um público de crianças facilmente influenciáveis, mas que não convencem a mais ninguém senão a eles próprios. Saíndo do âmbito sexual, vemos crianças que desde cedo se envolvem com coisas que parecem bobas mas não são, vide papos com gente mais velha (discutir temas adultos) e mesmo empreendimentos virtuais. A internet confere a vantagem do anonimato, e crianças que poderiam muito bem estar aprendendo alguma coisa se ocupam de assumir identidades falsas pra "brincar de adultas" e tentar conversar em pé de igualdade com gente com muito mais bagagem, e em um mundo de gente grande. Lembram do moleque que conseguiu quebrar um banco na Argentina enquanto brincava de comprar e vender ações na bolsa daquele país?
Aí em começo a pensar no meu caso, com mais calma, e lembrar de coisas que eu tive e não se encontram mais, salvo em situações muito específicas:
Eu fui da última geração que jogou bola na rua e o dia todo (no sentido genérico mesmo), que soltou pipa, que ia pra praia com a família sem a neura de ficar conectado. Eu fui de uma geração que ainda viu programação infantil de qualidade, e que não foi profundamente influenciada por material de qualidade duvidosa, como pilhas de yaoi (aquelas porcarias de mangás incitando e incentivando relações homossexuais) e outras porcarias que são vendidas aqui com forte apelo. Eu fui da geração que ainda pode ouvir Raul Seixas, Cazuza, que viu o Rock-BR 80 no zênite e Armação Ilimitada. Fui da geração que participou de momentos importantes da história do país (minha mãe me levou pra bater panela na Rua no dia das Diretas Já) e por aí vai. Joguei bola de gude, peão, totó, botão e outras coisas que não se vêem mais quase. Eu lia livros, eu pesquisava em enciclopédias, eu descobri o RPG quando ainda era novidade por aqui. Eu vivi experiências únicas com meus amigos e amigas, eu vi Top Gun no cinema, comi Lolo, colecionei O Mundo dos Animais, presenciei Queen lançando sucessos, vi o The Police e o REM surgirem, acompanhei o auge do metal com Power Slave em 1985, vi filmes como ET, Conan e o Feitiço de Áquila quando eram novos, acompanhei uma trilogia descente de Star Wars e cresci por anos sob o mito de uma saga de ficção que valia a pena. Meu primeiro beijo de língua não foi o vulgar mais um de uma fila de várias pessoas num troca-troca, mas com uma menina que namorei por anos. Minhas amizades já duram há décadas, como não vejo durarem as amizades forjadas online. Meus ídolos no futebol ainda jogavam a vida toda no mesmo clube, eu acompanhei o lançamento do Atari, do Nintendo, do Master, e cada um era uma grande novidade, e não mais um video-game em uma interminável lista de consoles que não duram um ano no mercado, eu fiz festa americana, eu pulei quadrilha, eu fazia amigos e amigas no mundo real e nossos encontros não eram todo dia no icq, mas no playground para andar de bicicleta ou brincar de polícia e ladrão. Eu assisti a queda do muro de Berlin, eu lembro de Paul McCartney tocando no Rio, eu ri com os Trapalhões quando o Didi ainda não era apenas a ridícula lembrança de um passado em que tinha graça. Eu vivi uma vida toda no mundo real.
E aí paro, olho em volta e vejo, que de repente não ter me agarrado com um monte de meninas pra quem eu seria apenas mais um não faz tanta diferença. Vejo que a geração net cresce privada de muita coisa, seja por uma carência criativa, uma ressaca de virada de milênio, seja pela própria forma como estão sendo educadas as crianças no mundo virtual. Eu lembro qe no colégio, em véspera de prova, eu me concentrava pra estudar, e estava sempre lendo algo em Off. Meu português aos 16 anos era ótimo. E eu não era a exceção. Meus amigos escreviam maravilhosamente bem, pelo menos os que passavam em boas escolas. E vejo na geração que agora contorna a casa dos 16 um aculturamento de escrever errado, um virtuês, otakês ou sei lá o que é, que torna o texto escrito por adolescentes uma verborréia por vezes ininteligível. Além disso, vivem em um cenário de pobreza artística onde as grandes obras de arte são adaptações de obras mais antigas, salvo raríssimas exceções, e onde porcarias são supervalorizadas (os É o Tchans, as Globelezas e afins).
Não, não estou aqui com um discurso de que "como no meu tempo era melhor", embora isso saia quase que naturalmente. Acho que inclusive os adolescentes de hoje tem muita coisa legal pra aproveitar que eu não tive! Mas por outro lado, vejo que esse é um bom tema pra discussão e não podia passar em branco.
Enfim, aguardo opniões. Alguém se habilita?
Um garoto, que devia ter por volta de 15 anos, me cria um tópico perguntando se os membros mais velhos do fórum, o povo na faixa dos 20 pra cima, tinha inveja dos mais novos, que vivenciam nessa era de internet e afins mais experiências no âmbito sexual etc... Mas não foi o tema em si que me chamou atenção, mas os enunciados por trás dele.
Será que realmente a geração que cresceu com a internet deve ser invejada, ou deveriam eles ter inveja de nós? Vou explicar: A geração "baby boomer", a geração X (pré-computador) e mesmo a geração ainda nascida na primeira metade da década de 80 passaram por determinados tipos de experiência que foram sendo sistematicamente substituídas por um automatismo e empobrecimento sob uma série de aspectos, que vão da precocidade com que se iniciam sexualmente, assim como em uma série de outros aspectos da vida adulta (não, não estou sendo "careta", mas acredito que essa precocidade é muito mais indusida do que espontânea e mata uma etapa importantícima da vida da pessoa, a infância). O próprio contato com pessoas mais velhas pode levar uma criança a ter um amadurecimento externo precoce e forçado, levando ou ela a suprimir e reprimir sua infância cedo demais, ou surtar, como acontece as vezes e já deve ter acontecido aqui no fórum.
Me lembro que há até alguns anos atrás, brincavamos de gente grande, os meninos com seus brinquedos de montar ou carrinhos, as meninas com suas bonecas. Hoje até a televisão incentiva a brincadeira de médico para um público de crianças facilmente influenciáveis, mas que não convencem a mais ninguém senão a eles próprios. Saíndo do âmbito sexual, vemos crianças que desde cedo se envolvem com coisas que parecem bobas mas não são, vide papos com gente mais velha (discutir temas adultos) e mesmo empreendimentos virtuais. A internet confere a vantagem do anonimato, e crianças que poderiam muito bem estar aprendendo alguma coisa se ocupam de assumir identidades falsas pra "brincar de adultas" e tentar conversar em pé de igualdade com gente com muito mais bagagem, e em um mundo de gente grande. Lembram do moleque que conseguiu quebrar um banco na Argentina enquanto brincava de comprar e vender ações na bolsa daquele país?
Aí em começo a pensar no meu caso, com mais calma, e lembrar de coisas que eu tive e não se encontram mais, salvo em situações muito específicas:
Eu fui da última geração que jogou bola na rua e o dia todo (no sentido genérico mesmo), que soltou pipa, que ia pra praia com a família sem a neura de ficar conectado. Eu fui de uma geração que ainda viu programação infantil de qualidade, e que não foi profundamente influenciada por material de qualidade duvidosa, como pilhas de yaoi (aquelas porcarias de mangás incitando e incentivando relações homossexuais) e outras porcarias que são vendidas aqui com forte apelo. Eu fui da geração que ainda pode ouvir Raul Seixas, Cazuza, que viu o Rock-BR 80 no zênite e Armação Ilimitada. Fui da geração que participou de momentos importantes da história do país (minha mãe me levou pra bater panela na Rua no dia das Diretas Já) e por aí vai. Joguei bola de gude, peão, totó, botão e outras coisas que não se vêem mais quase. Eu lia livros, eu pesquisava em enciclopédias, eu descobri o RPG quando ainda era novidade por aqui. Eu vivi experiências únicas com meus amigos e amigas, eu vi Top Gun no cinema, comi Lolo, colecionei O Mundo dos Animais, presenciei Queen lançando sucessos, vi o The Police e o REM surgirem, acompanhei o auge do metal com Power Slave em 1985, vi filmes como ET, Conan e o Feitiço de Áquila quando eram novos, acompanhei uma trilogia descente de Star Wars e cresci por anos sob o mito de uma saga de ficção que valia a pena. Meu primeiro beijo de língua não foi o vulgar mais um de uma fila de várias pessoas num troca-troca, mas com uma menina que namorei por anos. Minhas amizades já duram há décadas, como não vejo durarem as amizades forjadas online. Meus ídolos no futebol ainda jogavam a vida toda no mesmo clube, eu acompanhei o lançamento do Atari, do Nintendo, do Master, e cada um era uma grande novidade, e não mais um video-game em uma interminável lista de consoles que não duram um ano no mercado, eu fiz festa americana, eu pulei quadrilha, eu fazia amigos e amigas no mundo real e nossos encontros não eram todo dia no icq, mas no playground para andar de bicicleta ou brincar de polícia e ladrão. Eu assisti a queda do muro de Berlin, eu lembro de Paul McCartney tocando no Rio, eu ri com os Trapalhões quando o Didi ainda não era apenas a ridícula lembrança de um passado em que tinha graça. Eu vivi uma vida toda no mundo real.
E aí paro, olho em volta e vejo, que de repente não ter me agarrado com um monte de meninas pra quem eu seria apenas mais um não faz tanta diferença. Vejo que a geração net cresce privada de muita coisa, seja por uma carência criativa, uma ressaca de virada de milênio, seja pela própria forma como estão sendo educadas as crianças no mundo virtual. Eu lembro qe no colégio, em véspera de prova, eu me concentrava pra estudar, e estava sempre lendo algo em Off. Meu português aos 16 anos era ótimo. E eu não era a exceção. Meus amigos escreviam maravilhosamente bem, pelo menos os que passavam em boas escolas. E vejo na geração que agora contorna a casa dos 16 um aculturamento de escrever errado, um virtuês, otakês ou sei lá o que é, que torna o texto escrito por adolescentes uma verborréia por vezes ininteligível. Além disso, vivem em um cenário de pobreza artística onde as grandes obras de arte são adaptações de obras mais antigas, salvo raríssimas exceções, e onde porcarias são supervalorizadas (os É o Tchans, as Globelezas e afins).
Não, não estou aqui com um discurso de que "como no meu tempo era melhor", embora isso saia quase que naturalmente. Acho que inclusive os adolescentes de hoje tem muita coisa legal pra aproveitar que eu não tive! Mas por outro lado, vejo que esse é um bom tema pra discussão e não podia passar em branco.
Enfim, aguardo opniões. Alguém se habilita?