Gênio é pouco para definir Tolkien, seu "mundo secundário" onde Tolkien viveu mais do que no mundo real, serviu como um abrigo para ele fugir dos horrores da Guerra, por isso seu mundo é perfeito, tinha que ser, um refúgio perfeito, uma obra maguinífica onde nenhuma outra irá se igualar. Tem uma curiosidade sobre Tolkien que vou postar aqui, acho que alguns de vocês já viram as cartas de Natal que ele mesmo escrevia ao filho se fazendo passar por Papai Noel, levando a magia do Natal , o cara era o máximo, vejam, vale a pena relembrar...
Em 1920, quando John, o primeiro filho de Tolkien e Edith tinha três anos de idade, surgiu a primeira carta daquelas que ficaram conhecidas como As Cartas do Pai Natal, escritas por J.R.R. Tolkien aos filhos. Parece que o pequeno John tinha andado a fazer perguntas acerca do Pai Natal, e esta foi a resposta que ele recebeu:
Casa do Natal – Pólo Norte
1920
Querido John:
Ouvi dizer que perguntaste ao teu papá como é que eu sou e onde vivo. Desenhei-me a Mim e à minha Casa para tu veres. Toma conta do desenho. Vou agora mesmo partir para Oxford com o meu monte de brinquedos... alguns são para ti. Espero chegar a tempo: esta noite, a neve está muito espessa no Pólo Norte.
Em cada Natal seguinte, à medida que John crescia e as outras crianças nasciam, as Cartas do Pai Natal foram-se tornando mais elaboradas e imaginativas. Depois do primeiro bilhete assinado “Com amor do Pai Natal”, foram surgindo novas personagens a cada ano que passava. Havia o Urso Polar, ajudante desastrado do Pai Natal que, na maior parte das vezes, atrapalhava mais do que ajudava; o Boneco de Neve, jardineiro do Pai Natal; o elfo Ilbereth, seu secretário, e uma hoste de outros personagens menores entre os quais se encontravam elfos da neve, gnomos e duendes maléficos.
Todos os Natais, Tolkien escrevia uma carta dirigida aos filhos, recorrendo à caligrafia trémula do Pai Natal ou às maiúsculas do Urso Polar, semelhantes a runas, ou à escrita fluente de Ilbereth, relatando as últimas notícias do Pólo Norte. Em 1925 houve um acidente quando o Urso Polar subiu até ao cume do Pólo Norte para recuperar o barrete do Pai Natal. O Pólo partiu-se ao meio e aterrou no telhado da casa do Pai Natal, com resultados catastróficos.
Em 1926, o Pai Natal conta mais uma aventura que ocorreu por causa do Urso Polar! Originou o maior fogo de artifício de sempre no Mundo, tornou o Pólo Norte PRETO, agitou todas as estrelas pondo-as fora do lugar, partiu a Lua em quatro, e o Homem de lá caiu no jardim do Pai Natal! Só depois de se “encher” com os chocolates de Natal, é que começou a arranjar os estragos… e ainda por cima, com tudo isto, as renas soltaram-se e andavam de um lado para o outro a deixar cair as prendas todas, que tiveram que ser embaladas novamente!!! Tudo por causa do seu desastrado ajudante: o Urso Polar!!! Uma véspera de Natal em cheio!
Casa do Natal – Pólo Norte
1928
Que acham que o velho urso teve a fazer desta vez? Caiu das escadas na quinta-feira! O urso insistiu para levar várias coisas na cabeça e nos braços lá para baixo e de seguida ouvi grunhir. Quando me aproximei ele estava no chão e vários objectos que carregava estavam espalhados. Desenhei o que vi. O urso ficou chateado porque todos os desenhos de natal gozavam com ele, então decidiu que me havia de apanhar numa situação ridícula e desenhar, mas isso nunca há-de acontecer. Ele ficou ainda mais irritado quando descobriu que estava a rir depois de me aperceber que não se havia magoado.
Aqui está o desenho do acontecido, que serve também para mostra o interior da minha enorme casa nova.
Casa do Natal – Pólo Norte
1929
É natal de novo e para felicidade do urso e surpresa minha os elfos libertaram todos os foguetes de uma só vez, como está no desenho. O fogo derreteu o gelo e acordou a Grande Foca (Great Seal). Decidimos ir para a Noruega e ficámos lá com um lenhador chamado Olaf. Depois voltamos com a sua pata ligada quando se aproximam os tempos trabalhosos.
Existem cada vez mais crianças para agradar, mas felizmente as horas não são iguais em todos os países, senão era impossível conseguir tudo, mesmo com o aumento dos meus poderes nesta quadra. Mas este ano estou preocupado, como é perceptível pelas fotos que envio. A primeira mostra o meu escritório e sala de embalar com o Urso Polar a ler nomes enquanto os escrevo. Com o calor o urso abriu uma janela antes que eu o pudesse impedir, o que espalhou todos os papéis e listas. Grande trabalheira, mas que não o impediu de rir.
Em 1932, mais uma aventura, o Urso Polar desapareceu! O Pai Natal estava a ficar preocupado quando um Urso das Cavernas apareceu e disse-lhe que o seu ajudante estava perdido numa gruta, ao pé da antiga casa do Pai Natal.
Descobriram que ainda vivia nessa caverna alguns Goblins, e que rapidamente começaram a assustar o Urso Polar que acabou por se perder! Encontraram umas pinturas nas cavernas:
Após mais algumas aventuras, conseguiram sair sãos e salvos da caverna!
Em 1936, o Urso Polar causa mais uma desgraça! Desta vez o Pai Natal escreve pouco, e quem se dedica mais à carta é o secretário do Pai Natal: o elfo llbereth. O Urso Polar foi tomar banho, mas adormeceu deixando as torneiras ligadas! Encheu tanto a banheira, que a água transbordou, inundou a casa de banho, e inundou a fábrica do Pai Natal como se pode ver na imagem:
Logicamente, o Pai Natal espera que as prendas não estejam molhadas quando as abrirem!!!
Ocasionalmente, o urso polar emitia uma pequena carta ele próprio, e uma vez revelou que seu nome verdadeiro era Karhu. Após uma aventura nas cavernas (a carta de 1932), Karhu inventou um alfabeto das marcas de Goblins que tinham visto nas paredes, e após os pedidos das crianças, emitiu-lhes o alfabeto.
Tolkien não se poupava a esforços sofisticados para conferir “realismo” às cartas. Acrescentava desenhos meticulosamente coloridos e delineados. Preenchia um envelope onde colocava um selo do Pólo Norte pintado à mão e onde escrevia: “Por correio gnomo. Urgente!”, de modo a aumentar a sua importância. Recorria também a esforços sofisticados para conferir “realismo” ao modo como as cartas eram entregues. Nos primeiros anos, eram deixadas junto à lareira, parecendo que tinham sido enviadas pela chaminé. Numa outra ocasião, deixou uma ostentiva pegada suja de neve no tapete, prova irrefutável de que o Pai Natal entregara pessoalmente a sua carta. Em anos posteriores, o carteiro da região tornou-se cúmplice e entregava ele próprio as cartas.
A última carta é muito enternecedora e fala de alguns problemas que deviam sentir-se na altura, devido à guerra.
ÚLTIMA CARTA
Casa do Natal – Pólo Norte
Estou contente por me escreveres outra vez este ano. O número de crianças que me escrevem é cada vez mais pequeno. Penso que o culpado seja esta maldita guerra. Até aqui temos encontrado vários problemas com a escassez nas lojas, por isso tenho de enviar o que posso e não o que querem.
Deves-te lembrar que tivemos alguns problemas com Goblins no passado, que pensávamos ultrapassados. Mas voltaram neste Outono e ainda pior. Eles atacaram a minha casa e levaram tudo, o que me fez temer que não existissem mercadorias de Natal por todo o mundo. Não seria uma calamidade? Não aconteceu e muito se deve ao urso polar, mas só no início deste mês foi possível enviar mensageiros. O Urso diz que vieram aos milhares, mas apesar de serem muitos, era um exagero.
Houve uma grande batalha e o Urso Polar foi indispensável para a nossa vitória (espero que não pense o mesmo). Mas é óbvio que ele é uma criatura realmente mágica e os Goblins pouco lhe podem fazer, cheguei a ver flechas fazerem ricochete no seu corpo.
Isto deve explicar porque não tive tempo para desenhar este ano, o que é uma pena, e também os motivos porque não posso oferecer o que pretendes.
Suponho que para o ano não pendures as meias. Tenho de dizer “adeus”, mais ou menos, mas nunca te vou esquecer. Vemo-nos de novo quando tiveres uma casa e crianças tuas…
As Cartas do Pai Natal foram publicadas postumamente pela família de Tolkien, em 1976, meio século após terem sido escritas. O seu considerável encanto é acentuado pelo facto de terem sido compostas unicamente por um pai para os seus filhos e por nunca se terem destinado a serem publicadas.
Tolkien para sempre seja lembrado!!