Luciano R. M.
vira-latas
Não há nada melhor do que a espera.
Especialmente quando se trata de
esperar você em frente ao seu trabalho
(no último hospital da terra, você, a última
enfermeira da terra, com o último uniforme
sexy e fetichista da terra).
E, enquanto espero, fumo um cigarro.
O último detetive deste mundo e, também,
o último poeta (não por escrever, pois acho
que isso é coisa para bêbados e afeminados,
mas por ser a última pessoa leiga com culhões
suficientes para ler coisas tão díspares quanto
Jorge Luís Borges e Henrik Ibsen - isso foi proibido
no ano de dois mil e trinta e três).
E eu sei que só não morri ainda pois não
fui capaz de solucionar o maior crime de todos:
o assassinato de todos os poetas verdadeiros
(que são de uma espécie distinta da minha)
e sua substituição por escritores de auto-ajuda
que mais parecem atores de filmes de ação.
Eu prolongo meus dias perdendo as pistas
de modo proposital. E, com isso, prolongo
também os seus: você só vive pois vai cuidar
de mim em meu leito de morte e logo em seguida
respirará pela última vez e ninguém vai se importar
de cumprir seu último desejo; o de não ser entregue
à terra, de não dar de comer aos vermes. Pois só
eu sei que você é a última enfermeira e que eu
a espero em frente ao último hospital.
Especialmente quando se trata de
esperar você em frente ao seu trabalho
(no último hospital da terra, você, a última
enfermeira da terra, com o último uniforme
sexy e fetichista da terra).
E, enquanto espero, fumo um cigarro.
O último detetive deste mundo e, também,
o último poeta (não por escrever, pois acho
que isso é coisa para bêbados e afeminados,
mas por ser a última pessoa leiga com culhões
suficientes para ler coisas tão díspares quanto
Jorge Luís Borges e Henrik Ibsen - isso foi proibido
no ano de dois mil e trinta e três).
E eu sei que só não morri ainda pois não
fui capaz de solucionar o maior crime de todos:
o assassinato de todos os poetas verdadeiros
(que são de uma espécie distinta da minha)
e sua substituição por escritores de auto-ajuda
que mais parecem atores de filmes de ação.
Eu prolongo meus dias perdendo as pistas
de modo proposital. E, com isso, prolongo
também os seus: você só vive pois vai cuidar
de mim em meu leito de morte e logo em seguida
respirará pela última vez e ninguém vai se importar
de cumprir seu último desejo; o de não ser entregue
à terra, de não dar de comer aos vermes. Pois só
eu sei que você é a última enfermeira e que eu
a espero em frente ao último hospital.
