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"Seja você também um vencedor" [L]

Eruanno Ifindë Sardillon

Aspirante a Istar
Escrevi esse pequeno texto em 2008 e resolvi postar aqui para caso alguém tenha a curiosidade de ler. Não é longo. ;)


"Seja você também um vencedor"


Hoje, enquanto errava pelas ruas apertadas do centro da cidade, esbarrando em todo tipo de gente que corre atrás de seus sonhos, me deparei com um grande cartaz contendo essa frase.

Todos hoje querem ser vencedores. Essa palavra está na boca de todos. “Vencer na vida” pode ser considerado o ideal da nossa sociedade atual – e não falta gente para lutar e batalhar por esse ideal.

Não sei que mal se abateu sobre a sociedade para que todos hoje pareçam aristocratas. Sim, aristocratas; mesmo que falsamente modestos. Se lembra daquele ideal de nobre englishman, o verdadeiro gentleman aristocrata, aquela pessoa que nunca viu trabalho na vida? Pois eu afirmo que as pessoas de hoje estão todas assim – não em classe, mas pelo menos em atitudes.

A famosa classe aristocrata, que padece do mal chamado ennui, o vulgo tédio, por não ter que suar para ter pão em sua mesa nem se preocupar com as atribulações de uma vida normal, é conhecida por gostar de se atribular com o inútil, e por isso mesmo é acusada de ser fútil. Esses aristocratas, na falta de terem o que fazer, criam seus próprios obstáculos, chiques obstáculos, com o intuito de se divertirem superando-os.

O obstáculo pode ser conhecer o maior número de pessoas possíveis, ou viajar para o maior número de lugares possíveis, ou ter alguns hobbies quase impossíveis, ou tentar se comportar devidamente à mesa com um sem número de regras inúteis e verdadeiramente impossíveis de se lembrar.

Alguns desses passatempos, geralmente os de uma classe específica, tem um nome popular: jogo. Não que os outros também não o sejam; qualquer etiqueta que não tenha como finalidade a higiene e a educação para mim não passa de “jogo de mesa”. Um dia ainda espero poder ter um neto que me pergunte como se ganha no “jogo de mesa”, e que ainda exija um bom prêmio, já que as regras são tão complicadas. Essa seria uma divertida história infantil para se contar aos amigos. Por enquanto vamos fingir que foi um sobrinho meu que fez essa confusão.

Enfim: a vida de um aristocrata é jogar, para combater o ennui.

“A vida é um jogo”, dizem. E as pessoas encaram como se fosse mesmo, e fazem de tudo para vencer. As pessoas jogam. Não porque elas não tenham mais o que fazer da vida, nem porque não tenham que trabalhar para sobreviverem, mas ainda assim elas possuem certa espécie de ennui. Vazio existencial, tédio, como você quiser chamar. De qualquer forma, é para vencer esse vazio que as pessoas jogam na vida. Não que esse seja o único motivo, mas possui peso considerável na soma de forças que se aplica à vida comum. Como um comentário à parte, outro fator de peso é o orgulho: afinal, que ego não gosta de saborear a glória de uma vitória? O meu gosta tanto que me dá até medo.

“A bolsa é um jogo”, outros dizem. Agora tudo é jogo. Até sustentar a família é um jogo – principalmente se você trabalha num cassino.

Tem gente que leva o ideal do jogo tão a sério que joga até nas religiões. “Diversificação”, diz seu consultor financeiro, aquele que joga na bolsa. É estratégia de investimento. Você “aposta” em várias empresas; se uma quebrar, você ainda ganha nas outras. Isso diminui o potencial de lucro, mas dá segurança. As pessoas andam fazendo isso com as religiões. Como não sabemos nada sobre a vida após a morte, fica realmente difícil apostar todas as fichas num credo só. Vai que a empresa quebra? Só não quebram mesmo as igrejas evangélicas, que cada dia estão mais prósperas. Algum consultor de investimentos, percebendo essa dificuldade, teve a arguta idéia de diversificar suas crenças. Então você dá uma rezadinha aqui, dá uma esmolinha ali, faz uma yogazinha acolá (que ainda serve pra endurecer o bumbum); talvez acenda uma vela para um santo, derrame uma cachacinha para a Iemanjá e peça orientação dos espíritos de luz no tempo livre. Sem esquecer da sabedoria oriental, é claro, mas vamos de leve aqui porque é mais fácil admirar a sabedoria oriental do que entendê-la.

O problema é que essa idéia fica muito cheia de “inho”: é santinho, velinha, yogazinha, meditaçãozinha, leiturazinha, medalhinha. Nenhum “ão”, já que isso é coisa de fanático, e de qualquer forma só gente maluca aposta tudo que tem num único número da roleta.

Acontece que mesmo que a vida fosse um jogo, as pessoas ainda jogam mal.

O bom jogador sabe que se deve sair do jogo quando se está ganhando, exatamente no ápice da vitória. Se a vida fosse um jogo, faria sentido para a mais feliz das pessoas dar um tiro na sua própria cabeça no ápice da sua felicidade. Já ouviu alguém dizer que “explodiu de alegria”? É por aí.

Mas a vida não é um jogo. É o oposto, até – pelo menos de acordo com algum ponto de vista, como o que acabamos de ver.
Talvez então seja melhor ser um perdedor.

“Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, esse a salvará.” – Lucas 9:23-25
 

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