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Quarentenando com Clarice Lispector

Qual leremos?

  • A Cidade Sitiada

    Votos: 0 0,0%
  • A Hora da Estrela

    Votos: 0 0,0%
  • A Legião Estrangeira

    Votos: 0 0,0%
  • O Lustre

    Votos: 0 0,0%
  • Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres

    Votos: 0 0,0%
  • Outro (Citar no tópico)

    Votos: 0 0,0%

  • Total de votantes
    8
  • Votação encerrada .

Melian

Período composto por insubordinação.
Em uma primeira leitura, o título deste tópico pode gerar um equívoco, por isso, preciso dar um aviso: está todo mundo proibido de morrer! Isso significa que não é para quarentenarmos com a Clarice, que está morta (jura?), mas, sim, lendo um de seus livros. Ou seja, foi uma metonímia, troquei a obra pela autora. Com esse ponto esclarecido, permitam-me dizer o seguinte: se for possível, evitem começar títulos com o uso do gerúndio. E, claro, evitem seguir os meus conselhos.

A ideia para a criação deste tópico surgiu no tópico oficial para falarmos sobre a obra de Clarice Lispector. Vi que algumas pessoas comentaram que ainda não leram Clarice ou que leram poucas coisas dela. Para preencher essa lacuna na vida desses leitores, apresentei a proposta de fazermos um "Clube de leitura avulso", com um livro da Clarice, mas sem prazos estipulados, para que todos pudessem participar. Eu, assim como outras pessoas que manifestaram o interesse em participar dessa empreitada, estou lendo mil coisas ao mesmo tempo; inclusive, estou engajada em algumas releituras. Ou seja, não é para isso aqui se transformar em uma coisa chata/obrigatória, é para ser aquele cantinho para o qual vamos, com um café (ou chá, porque sei que tem gente que, ao contrário de mim, não é viciada em cafeína) e um cobertor, para deixar que a literatura limpe as nossas feridas.

O universo ficcional de Clarice pode ser resumido na luta interior do ser humano para racionalizar a própria existência. A literatura de Clarice é uma literatura que olha para dentro, que tenta refletir o interior, não o exterior. Em época de pandemia, acho que é interessante fazermos uma experiência literária que nos permita olhar para dentro, pois como Jung já disse: "quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta". Embora seja possível perceber localizações geográficas nos textos de Clarice, essas especificações, no espectro geral, não são de tanta importância. Isso porque, todas as suas produções, sejam crônicas, contos ou romances, exibem, indiferentemente, um intimismo introspectivo em que, segundo Malcolm Silverman: "uma nota abafada de angústia ante a condição humana nega a esperança de um termo de autoflagelação".

Ainda não escolhemos qual livro leremos, e eu queria sugerir um livro que ainda não li, mas não sei se os companheiros de leitura chegaram a ler: Um sopro de vida. Foi o último livro que a Clarice escreveu, e ele, como a tônica da sua literatura, foi seu último gesto "de procura". (Eu não tenho o livro, mas é possível encontrá-lo por aí, o que seria uma vantagem para todos os que quisessem participar da leitura). A crítica literária costuma classificar Um sopro de vida - ao lado de A hora da Estrela - como o livro mais bem elaborado da Clarice Lispector. Que tal percorrermos as estradas da elaboração literária desse livro?
 
@Melian, peço-lhe licença para sugerir que, para começar a ler Clarice Lispector, pudesse ser com alguma obra mais curta dela, como por exemplo um dos inúmeros contos que ela escreveu. O que acha?
 
@Melian, peço-lhe licença para sugerir que, para começar a ler Clarice Lispector, pudesse ser com alguma obra mais curta dela, como por exemplo um dos inúmeros contos que ela escreveu. O que acha?

Se não estou enganada, a gente tentou ler um conto dela, no Clube de Leitura: "A Bela e a Fera ou a Ferida Grande Demais". Acho que não deu muito certo, mas a gente pode tentar com uma crônica, dessa vez, como "introdução ao estilo Clarice de escrever". Será que ajuda?

Eu gosto, bastante, de "Medo da Eternidade". Crônica na qual, a partir de um tema banal, simples, como a goma de mascar, Clarice faz reflexões sobre o medo que temos do "para sempre", o medo que temos diante da "eternidade".


MEDO DA ETERNIDADE – Clarice Lispector

Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava
para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
– Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
– Como não acaba? – Parei um instante na rua, perplexa.
– Não acaba nunca, e pronto.
– Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a
pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia
acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para
chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente,
tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
– E agora que é que eu faço? – perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
– Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a
mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
– Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos
para a escola.
– Acabou-se o docinho. E agora?
– Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa
cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na
verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de
medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu
mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no
chão de areia.
– Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. – Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
– Já lhe disse – repetiu minha irmã – que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a
gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo
que o chicle caíra da boca por acaso. Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.

Jornal do Brasil, 06 de junho de 1970
(A descoberta do mundo, p.289-91)
 
Dei a sugestão de um conto da Clarice, uma vez que eu tenho o livro Todos os Contos, que saiu pela Editora Rocco. Para mim seria legal.

Tenho também alguns dos romances que ela escreveu: A Paixão segundo G.H., A Hora da Estrela, Felicidade Clandestina e Laços de Família.

Se pudesse ser um desses que eu mencionei para mim seria melhor.
 
Também tenho todos os romances citados, e não tenho o Um sopro de vida (mas dá para achar no vasto mundo da internet hahaha, até achei, inclusive). O que o pessoal escolher, eu leio (ou releio). Vamos esperar mais pessoas se posicionarem. Caso o povo não dê sugestões, a gente escolhe um dos romances que você tem, para facilitar.

Ah, eu esqueci de comentar que tenho muito amor por "Laços de Família", porque ele caiu no meu vestibular. Tá, geralmente, as pessoas odeiam ler livro para vestibular, mas eu fiz Letras, né? Devorei os treze contos numa sentada.
 
Última edição:
Boa, @fcm.

Vocês acham que a gente deve colocar romances e livros de contos na enquete ou deve selecionar um dos gêneros?
 
Eu nunca li nada de Clarice Lispector, dos poucos autores brasileiros que li, a maioria eu achei chato, então nunca me empolguei muito. Pois bem, gostei do título do tópico, gostei do que vocês escreveram sobre e fui dar uma pesquisada. Acho que me interesso por laços de família, principalmente por se tratar de contos que eu posso ler mais esporadicamente, já que não estou conseguindo ler nada por esses dias. Vi que tem a versão para o kindle na Amazon por apenas 15 mangos, então fica fácil de comprar pra quem, como eu, não tem.
 
Sem querer ser tendenciosa, mas já sendo, se a gente for ler Laços de Família eu vou adorar porque, como já mencionei, foi um dos livros que tive de ler para fazer o vestibular, e a memória afetiva fala mais alto. Mas eu leio qualquer um que a gente escolher.
 
Não sei quantas opções é possível colocar na enquete (eu não me lembro mais dos detalhes da vida em fórum de internet hahaha), mas acredito que, até dez opções, está ok. Sendo assim, proponho colocarmos os seguintes livros na enquete:

A Cidade Sitiada
A Hora da Estrela
A Legião Estrangeira
A Paixão Segundo G.H.
Laços de Família
O Lustre
Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres
Um Sopro de Vida
Outro (Citar no tópico).

Tem oito livros na lista: uma mescla de livros de contos e romances. A Hora da Estrela é o menor. Na minha edição, tem 87 páginas.

Alguém quer incluir mais algum ou a gente já pode pedir a algum moderador para criar a enquete?

@Ana Lovejoy, vai tentar participar com a gente? (É uma leitura livre. Sem prazos e tal. Você pode ler umas duas páginas por semana, para não atrapalhar as outras leituras hahaha).

Pessoal, uma coisa importante: eu sei que é gostoso votar em enquete, mas vamos tentar votar apenas se tivermos o intuito de participar, ok? Como eu disse, a ideia é que seja uma leitura leve, sem cobranças, mas se você não tiver nenhuma intenção de participar, seria injusto escolher o livro que os outros lerão, não é?
 
@Melian, para não acumular tantas leituras, será que não seria melhor, para nós, começar a ler a Clarice Lispector após encerrarmos o romance Jane Eyre?
 
bora lá.

na hora de abrir a enquete é só avisar que eu abro =]

Eba! :pula:

Vamos ver se o povo sugere mais algum livro e, depois, a gente te pede para criar a enquete.

@Melian, para não acumular tantas leituras, será que não seria melhor, para nós, começar a ler a Clarice Lispector após encerrarmos o romance Jane Eyre?

Nós dois demoraremos a acompanhar o resto do grupo, é verdade. Mas seria ruim fazê-los esperarem enquanto a gente termina Jane Eyre. Eu ainda estou na página 305, e o romance tem 527 páginas.

A gente escolhe o romance da Clarice, e vai lendo aos poucos, uma gotinha por dia, só para não perder o vínculo com o projeto, e para poder incentivar a galera. Acho, até, que é mais provável que eu termine de ler o livro da Clarice que escolhermos antes de terminar de reler Jane Eyre. E olha que estou numa parte que eu amo do romance da Charlotte Brontë. hahahahahaha
 
Última edição:
Podemos fazer a enquete ou vocês querem a inclusão de algum outro livro?

ObrasClarice.jpg

Gente, eu adoro as artes das capas dos livros da Clarice dessa edição da Rocco. Provavelmente, deve haver outras edições, mas as cores suaves e as formas geométricas na composição das edições que tenho são bonitas demais da conta! Adoro o efeito causado pela monocromia.
 
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Reactions: fcm
A Cidade Sitiada
A Hora da Estrela
A Legião Estrangeira
A Paixão Segundo G.H.
Felicidade Clandestina
Laços de Família
O Lustre
Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres
Um Sopro de Vida
Outro (Citar no tópico).

Incluí Felicidade Clandestina, @Spartaco.

Acho que, agora, já dá para fazer a enquete, né? @Ana Lovejoy, você pode fazer para nós?
 

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