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Prefácio de ''O Simbolismo da Cruz'' - René Guenon

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Paganus

Visitante
''A cruz, dissemos, é um símbolo que, sob formas diversas, se encontra por quase todas as partes, e isso desde as épocas mais remotas; por conseguinte, está muito longe de pertencer própria e exclusivamente ao cristianismo, como alguns poderiam ser tentados a crer. É mister dizer, inclusive, que o cristianismo, ao menos em seu aspecto exterior e normalmente conhecido, parece haver perdido um pouco de vista o caráter simbólico da cruz para já não considerá-la mais que como um signo de um fato histórico; na realidade, estes dois pontos de vista não se excluem de nenhum modo; e inclusive o segundo dele não é, em certo sentido, mais do que uma consequência do primeiro; mas esta maneira de considerar as coisas é tão estranha à grande maioria de nossos contemporâneos que devemos nos deter nela por um instante para evitar todo mal-entendido. Com efeito, com muita frequência se tem a tendência de pensar que a admissão de um sentido simbólico deve levar ao rechaço do sentido literal ou histórico; uma tal opinião não resulta mais do que da ignorância da lei da correspondência que é o fundamento mesmo de todo simbolismo, e em virtude da qual cada coisa, ao proceder essencialmente de um princípio metafísico do qual retira sua realidade, traduz ou expressa este princípio à sua maneira e segundo sua ordem de existência, de tal modo que, de uma a outra ordem, todas as coisas se encadeiam e se correspondem para concorrer à harmonia universal e total, que é, na multiplicidade da manifestação, como um reflexo da unidade principial mesma. Por isso é que as leis de um domínio inferior podem ser sempre tomadas para simbolizar as realidades de uma ordem superior, onde têm sua razão profunda, e que é a uma só vez seu princípio e seu fim; e podemos lembrar nesta ocasião, tanto mais quanto traremos aqui mesmo exemplos disto, o erro das modernas interpretações ''naturalistas'' das antigas doutrinas tradicionais, interpretações que invertem pura e simplesmente a hierarquia das relações entre as diferentes ordens de realidades.

Assim, os símbolos ou os mitos jamais tiveram por função, como pretende uma teoria muito difundida em nossos dias, representar o movimento dos astros; senão que a verdade é que se encontram frequentemente neles [nos símbolos] figuras inspiradas neste e destinadas a expressar analogicamente outra coisa, porque as leis deste movimento traduzem fisicamente os princípio metafísicos de que dependem. O que dizemos dos fenômenos astronômicos pode ser dito igualmente, e ao mesmo título, de todos os demais gêneros de fenômenos naturais: estes fenômenos, pelo fato mesmo de que derivam de princípios superiores e transcendentes, são verdadeiramente símbolos destes; e é evidente que isso não afeta em nada a realidade própria que estes fenômenos como tais possuem na ordem de existência a que pertencem; pelo contrário, é isso mesmo que funda esta realidade, já que, fora de sua dependência em relação aos princípios, todas as coisas não seriam mais que um puro nada. E ocorre com os fatos históricos o mesmo que com tudo o mais: eles também se conformam necessariamente à lei de correspondência de que acabamos de falar, e, por isso mesmo, traduzem segundo seu modo as realidades superiores, e realidades das que não são de certo modo mais do que uma expressão humana; e acrescentaremos que isso é o que constitui todo seu interesse no nosso ponto de vista, inteiramente diferente, não é necessário dizê-lo, daquele em que se colocam os historiadores ''profanos''. Este caráter simbólico, ainda que comum a todos os fatos históricos, deve ser particularmente claro naqueles que dependem do que se pode chamar mais propriamente de ''história sagrada''; e é assim como se encontra concretamente, de uma maneira mais destacada, em todas as circunstâncias da vida de Cristo. Se o que acabamos de expor foi bem compreendido, se verá imediatamente que isso não só não é razão para negar a realidade destes acontecimentos e para tratá-los de ''mitos'' puros e simples, senão que, pelo contrário, esses acontecimentos deviam ser tais e que não poderiam ser de ouro modo; além disso, como se poderia atribuir um caráter sagrado ao que estaria desprovido de todo significado transcendente? Em particular, se Cristo morreu na cruz, é, podemos dizê-lo, em razão do valor simbólico que a cruz possui em si mesma e que sempre foi reconhecido por todas as tradições; é assim que, sem diminuir em nada seu significado histórico, se pode considerá-lo como não sendo mais que derivado deste valor simbólico mesmo.''

René Guénon, prefácio de ''O Simbolismo da Cruz''
 

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