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Pequenos Rituais Cotidianos

Shaytan

Usuário
[align=center]Pequenos Rituais Cotidianos[/align]

[align=justify]Diariamente por volta das 5 da manhã José estava de pé, preparado para o Cooper de 40 minutos em um parque próximo de onde morava. Vestiu seu moletom, calçou o tênis e deu um beijo na testa da esposa adormecida. Antes de sair bebeu um copo de água bem gelada e deu comida ao gato que se entrelaçava em suas pernas só de o ver próximo a sua vasilhinha.
A corrida, além de ótimo exercício é uma boa maneira para refletir sobre a vida, enquanto dava as oito voltas ao redor do lago artificial aproveitava para planejar mentalmente o seu dia, pensava no trabalho, no aniversário de casamento que estava se aproximando, teria que fazer algo diferente esse ano, afinal são 10 anos de casado.
O parque estava sempre vazio àquela hora, poucas pessoas tinham o hábito de correr assim tão cedo, o silêncio só era quebrado quando seu relógio de pulso despertava, 06h45min, é hora de voltar para casa. No caminho comprou o jornal na banca da esquina e cumprimentou o jornaleiro.
? Bom dia Ricardo.
? Bom Dia José, como foi a corrida?
? Revigorante, mande um abraço para sua esposa.
?Pode deixar, cuide-se!
As notícias no jornal não eram muito diferentes das de sempre, Crise Econômica responsável pela demissão de 200 mil na Inglaterra, Jovem de 25 anos encontrado morto na porta de casa, a polícia não tem nenhum suspeito e não foram achadas as cápsulas dos disparos, Futebol: Ronaldo pode jogar o segundo tempo no clássico contra o Palmeiras.
Quando chegou a casa o café já estava na mesa, e sua esposa de saída para o trabalho.
? Devo chegar meia hora atrasada hoje, não poderei pegar a Camila no Balé, você faz isso pra mim?
? Para você faço qualquer coisa ? Respondeu, dando em seguida um beijo caloroso em sua boca.
? Quando eu chegar podemos assistir ao filme que aluguei ontem, e quem sabe se as crianças estiverem dormindo e você se comportar direitinho pode ganhar um presente especial ? Disse com um olhar malicioso, logo em seguida fechando a porta.
? Sem dúvida terei que fazer algo especial para esse aniversário de casamento, não é todo cara que tem a sorte de arrumar uma esposa como a minha ? pensava enquanto subia para acordar as crianças. Uma hora depois estava na frente do colégio, dando aos filhos o conselho de sempre, para comportarem-se e prestar atenção nas aulas.
O horário flexível de seu trabalho vinha bem a calhar, enquanto a esposa trabalhava durante o dia, ele podia tomar conta das coisas em casa e fazer o almoço para os filhos quando chegassem da escola.
O tempo passa rápido com os pequenos afazeres do dia a dia, consertar o portão da garagem e fazer o almoço consumiu a manhã toda, logo estaria saindo de casa para levar o filho para a escolinha de futebol e a filha para o balé, e nesse intervalo poderia se sentar um pouco para ler um livro, já que não tinha muito que fazer durante a tarde, a não ser buscar a filha, que hoje era sua incumbência, o filho vinha a pé, porque a escolinha ficava apenas a três quadras de distância.
O balé terminava as sete, dava tempo de ir jogar umas partidas de sinuca com os amigos antes de buscar a menina. O Old School era um bar antigo e tradicional no bairro, todo mundo dava uma escapadinha para La depois do trabalho para tomar um chopp e fazer hora antes de ir para casa. O local não estava muito cheio, encontrou apenas um de seus amigos.
? Preparado para perder umas rodadas para mim hoje, Paulo?
? Acho que hoje você me ganha Zé, já tomei alguns copos aqui sozinho, vai ficar fácil.
? E desde quando isso fez alguma diferença em nossa disputa? Talvez assim você jogue melhor do que quando está sóbrio. ? Disse José ao amigo em tom divertido.
? Está bem, vamos ver então, vou jogar sério ? Paulo resmungou.
Após anos de jogatinas semanais José adquirira um talento razoável como jogador de sinuca, tanto que na maioria das vezes quando jogava com os amigos podia se dar ao luxo de errar propositalmente para o jogo não ficar sem graça, e assim a conversa poderia render mais.
? Você viu quantas pessoas estão sendo demitidas nessas ultimas semanas? ? Perguntou Paulo.
? Li no jornal hoje de manhã ? Respondeu José de maneira tranqüila.
? Estou preocupado, estão dizendo lá na fábrica que chegou uma lista de cortes, espero que eu não esteja nela. E o seu trabalho Zé? Como estão as coisas? ? A voz de Paulo já estava ficando um pouco arrastada com o efeito das cervejas.
? Meu trabalho sempre tem muita demanda, tenho alguns clientes que nunca deixam de fazer encomendas. ? Respondeu José olhando para o Relógio, em seguida emendou ? Tenho que ir buscar a Camila no Balé. É melhor você ir para casa também, ou sua esposa vai ter colocar para dormir no jardim se você chegar a sua casa, bêbado uma hora dessas.
Antes de encontrar com a filha, entrou no supermercado e comprou uma garrafa de vinho do porto que sua mulher adorava. ? Ela perde a cabeça quando bebe uma taça dessas ? falou em pensamentos, com um sorriso.
Quando a mulher chegou, ele já tinha feitos as crianças comerem e ido deitar-se. A mesa estava arrumada, uma vela no meio, e um balde de gelo com a garrafa de vinho.
? Em que você esta pensando heim, mocinho? Por acaso esta tentando me embebedar? ? Perguntou com seu ar malicioso.
José era apaixonado por esse olhar. ? Tão linda como da primeira a vez que a vi ? pensava. ? Você sabe que eu não seria capaz de pensar em uma coisa dessas não é, Amor? ? Respondeu com uma pergunta.
? Acho bom! ? Disse Michelle de maneira divertidamente repressiva, como uma professora censurando alguma travessura.
Depois do jantar romântico foram para o sofá, a fim de assistir o filme de que ela falara pela manhã. Não demorou muito para que a proximidade de dois corpos atrapalhasse a concentração, ainda mais depois de uma taça de vinho, que era o ponto fraco da mulher. Colocaram o travesseiro no chão e passaram para o tapete, fizeram amor ali mesmo, cobertos com uma manta, em frente à lareira. Nem se lembravam mais do filme.
Estavam abraçados cochilando quando o telefone tocou. ? Hora de trabalhar. ? Pensou José enquanto se levantava para atender. A ligação foi breve. ? Emerson, Rua Antonieta º 53 ? Disse a voz do outro lado da linha.
? Amor, vá para nosso quarto, estou indo trabalhar. Você deve estar cansada depois do dia de hoje. ? José falou ternamente aos ouvidos da esposa enquanto lhe acariciava a face.

? Está bem, cuide-se e venha direto para casa. ? Disse Michelle sonolenta subindo a escada.
Eram onze da noite quando saiu, o endereço ficava em um bairro a trinta minutos de onde morava. A rua indicada estava vazia, e era pouco iluminada, foi preciso dar duas voltas pelo quarteirão para descobrir o numero. As luzes da casa estavam totalmente apagadas, o morador com certeza já estava dormindo. O muro era baixo, foi fácil transpassar. Uma vez dentro da pequena residência, bastava encontrar o quarto certo, o que não foi difícil, pois eram apenas três. A encomenda estava dormindo à altos roncos.
? Nem todos têm a mesma sorte que esse, morrer assim, dormindo. ? pensou, enquanto se posicionava ao pé da cama, tirando as luvas do bolso, e colocando o silenciador na arma. Um tiro. A cápsula escorregou diretamente para um saco plástico embutido embaixo da pistola. A distância do disparou não permitiu qualquer respingo de sangue em suas roupas. Aguardou alguns segundos para conferir se o alvo estava realmente morto, deu meia volta em direção a saída e rumou para casa, tinha prometido à esposa que voltaria cedo.

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Shaytan,

Muito bom seu conto! Diálogos bem escritos, descrições na medida certa e um final inesperado. Gostei muito, mande mais!
 
É cara... você tem a força.
Muito bom mesmo seu conto.
Achei bem legal a suavidade e ritmo que você deu a ele, até o assassinato teve um ritmo suave e tranquilo. Aliás, o final foi mesmo bastante inesperado. Muito bom.
 

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