Eu tenho uns textos interessantes aqui!
Publicado: 19/02/2000
Atualizado: 23/07/2000
GENTIL FALTA DE DEUS - INTRODUÇÃO
de Paul O'Brien
Viver sem um Deus não é fácil. Mas a vida em geral, com ou sem um Deus, é um tarefa desafiadora e capaz de frustrar até o melhor de nós. Como humanos, somos especiais no sentido de que guiamos nossas vidas de uma maneira relativamente inteligente e racional. Nós somos criaturas naturalmente reflexivas. Nós temos a capacidade de fazer mais do que simplesmente viver nossas vidas; somos capazes de dar um passo à frente da nossa situação física e analisá-la, avaliá-la, fazer julgamentos, e tomar decisões. Você não precisa ser um professor de filosofia para enfrentar problemas colossais, como lutar com sua humanidade ou tentar resolver problemas morais importantes.
Há um tipo de problema filosófico que enfrentamos de uma forma ou de outra : Deus. "Deus existe? Eu acredito em Deus?". Algumas pessoas podem responder a estas questões com relativa facilidade, porque suas mentes já estão decididas a este respeito. Muitos se contentam em crer, enquanto outros se contentam em duvidar. Não é para estas pessoas que estou escrevendo agora, apesar delas estarem convidadas a ouvir. Aliás, a estas pessoas, se estiverem em paz e contentes, desejo admiração e respeito.
Mas eu ouso dizer que a maioria de nós luta com este problema de Deus de alguma forma. Fomos certamente criados para acreditar em certas convicções religiosas. Alguns de nós foram até ensinados a ter mais do que idéias e princípios, mas sim rituais complexos para participar assim como muita literatura para ler. Mas chega um tempo nas nossas vidas em que precisamos ir um passo adiante do que fomos ensinados e fazer nosso próprio julgamento do assunto. Algumas vezes escolhemos ficar onde estamos, mas às vezes decidimos mudar de idéia.
Tenho visto vários líderes religiosos e filósofos defenderem suas posições com a maior certeza. Eles falam com convicção, e podem ser bastante persuasivos. Mas se tantas pessoas estão tão confiantes de si mesmas, por tantas delas ainda lutam para solucionar os problemas de Deus e religião? Apesar da resposta a esta pergunta ser na melhor das hipóteses incerta, acredito poder dizer com segurança, que lutamos por não haver uma resposta fácil. Pode parecer dolorosamente óbvio, mas por favor tente não deixar escapar este fato da sua cabeça. Quando você discute assuntos sérios, particularmente sobre Deus, você está entrando numa das atividades mas desafiadoras. Deus é um assunto de uma era, e permaneceu não esclarecido por milênios em todos os seus aspectos, da esistência metafísica até a mais pessoal das crenças.
Sou como muitas outras pessoas. Fui educado para acreditar em uma determinada religião, cheguei a uma idade em que tive de reavaliá-la, e apesar de ter tomado muitas decisões religiosas em minha vida, ainda luto para resolver muitos problemas espirituais. Pessoalmente fui criado como católico, mas desde os 14 anos de idade sou ateu. Mesmo sendo Deus um assunto delicado, o ateísmo parece ser ainda mais complicado. Tenho sido grosseiramente mal entendido por muitas pessoas, mas também tive meus mais significativos e acalorados debates filosóficos sobre Deus e ateísmo. Não tem sido fácil para aqueles de nós que são ateus, e se você olhar mesmo superficialmente como os ateus têm vivido ao menos nos dois últimos milênios, encontrará uma história de perseguição e incompreensão.
No entanto, os tempos mudaram. Ateus ganharam grande respeito, e o ateísmo aparenta ser muito mais popular e aceitável, especialmente nos meios acadêmicos e intelectuais. Considero este um bom sinal - não que eu acredite necessariamente que todo mundo deva ser ateu - mas as pessoas estão sendo educadas com uma mente mais aberta e toleramente a respeito de crenças religiosas alternativas. Apesar do assunto ficar mais aberto, ainda é necessário uma grande ajuda, e eis porque estou escrevendo este livro. Confesso que sou novato no assunto. Sou jovem e inclinado a mudar de idéia de vez em quando. Mas espero que minha falta de experiência seja compensada por minha tendência de manter a mente aberta e considerar este um assunto ainda não terminado. Tenho encontrado muitas pessoas que são firmes e inalteráveis em seus caminhos; não quero ser uma delas. Se possível, devemos todos ser receptivos às razões e argumentos daqueles que dicordam de nós.
O que quero discutir não é simples, mas espero provocar alguns pensamentos mais profundos. Primeiro de tudo, vou resumidamente mostrar alguns argumentos tanto a favor quanto contra a existência de Deus, mas isto faço apenas com o desejo de esclarecê-los e colocá-los lado a lado.Vou assumir que todos eles falham ao resolver o problema em questão, e mesmo se eles fossem aceitáveis, ainda seriam religiosamente não convincentes. Então irei primeiramente dar atenção ao que considero o mais essencial dos elementos da crença humana numa religião. Nesta discussão tentarei mostrar algumas idéias de por quê o ateísmo é uma crença viável e efetiva, não tão anárquica ou infundada como alguns aparentam achar. Ao considerar a religião tanto em termos pragmáticos quanto em termos emocionais, menos racionais. Tentarei mostrar que o ateísmo é uma opção viável de vida. Tentarei descrever o ateísmo, apesar do ateísmo não ser exatamente uma religião. O ateísmo é na verdade uma crença com algumas implicações religiosas mais sérias. Tentarei defender a validade destas implicações com alguns argumentos.
Isto certamente incluirá uma boa olhada no teísmo. Na verdade, o ateísmo e o teísmo precisam ser colocados lado a lado a fim de explorar suas verdadeiras características. Não vou degradar o teísmo nem glorificar o ateísmo, mas contudo, devo analisar cuidadosamente o ponto de vista teísta para determinar o ponto de vista ateísta. Minha intenção nunca será provar a existência ou inexistência de Deus, nem vou tentar convencer ninguém que pensamentos teístas são de alguma forma falsos ou idiotas. Ao invés disto, vou citar os méritos e falhas tanto do teísmo quanto do ateísmo com uma grande ênfase em por o teísmo sob profunda análise. Levantarei questões e dúvidas quanto ao teísmo neste processo, mas nada além disto.
Para concluir, levantarei questionamentos, que são o que mais me motiva a escrever este documento. De imediato estou ciente de estar aumentando um tópico já congestionado, mas tenho convicção de que posso tornar as coisas melhores, e não piores, ao escrever. Estou me dirigindo diretamente aos teístas, especialmente os cristãos, e aos ateístas. Aos cristãos, faço apelo de que se esforcem para pensar melhor sobre o ateísmo se o considerarem condenável. Ao ateus, faço um apelo especial para que reconsiderem também sua posição. Estou cansado de debates acalorados que levam a ofensas pessoais. Considero frustrantes os cristãos de mente fechada, mas também acho os ateus que falam de maneira sarcástica e desrespeitosa igualmente desapontadores.
Tentarei agir como mediador, e certamente estou fadado ao fracasso. Acho Deus um assunto fascinante, que é muito urgente e importante para tantos de nós; felizmente posso oferecer algo construtivo a analisar. Se eu falhar ao articular estes tópicos, e falhar ao expor o ateísmo de forma aceitável e inteligente, então ao menos resumo a isto meu esforço: ateísmo precisa ser tratado como uma crença positiva. Ateísmo não deve ser considerado algum tipo de pensamento que se coloca contra o teísmo, mas sim um pensamento que vai em outra direção. Se eu não conseguir dar uma boa exposição desta tese, encorajo alguma outra pessoa a fazer o que não consegui.
Explicações Preliminares
Estarei sempre pisando em ovos durante esta discussão, mas não permitirei que isto se torne um medo paralisante. Permita-me esclarecer alguns pontos delicados desde já a fim de uma passagem suave pelas discussões que invariavelmente irão aparecer.
Continuarei com a informalidade, e não porque subestimo a inteligência de alguém. Eu o faço porque considero que usar este tipo de linguagem irá aliviar alguns excessos de zelo freqüentemente encontrados na literatura acadêmica. Este é um assunto sobretudo humano e vou tratá-lo como se estivesse conversando pessoalmente: com seriedade, mas não de forma pedante. Tenho um trabalho a fazer, e se alguém não me entender, estarei falhando neste trabalho. Falando tecnicamente, o autor de um documento filosófico não precisa ser tão delicado quanto eu, mas o assunto Deus é especial e entendo que esta delicadeza é, senão necessária, ao menos prudente.
Pensadores experientes, aqueles com muito mais experiência do que eu, sem dúvida encontrarão falhas e enganos em alguns dos conceitos que vou usar. Felizmente não serão detalhes importantes. Se forem, por favor me corrija para que eu possa revisar minha posição a respeito. Se os enganos forem pequenos, não deixe que eles o afastem dos pontos principais, mas avise-me de qualquer forma.
Usarei muitas palavras e subtítulos, e sempre surgirão questões do tipo "o que quer dizer com isto?". Tentarei esclarecer muitos termos, mas pessoalmente me oponho a um estilo estritamente lógico e formal na discussão de um Deus. Entendo por que alguns são atraídos por este tipo de abordagem, já que é valiosa quando usada para a maioria dos argumentos e conceitos filosóficos. Mas não vou gastar muito tempo listando definições ou definindo termos, já que isto tornaria a discussão mais obscura. Pela intuição, prefiro um estilo mais simplista mesmo com o sacrifício da precisão técnica.
Quando eu estiver falando dos teístas, tenha em mente que falo usando como base a concepção ocidental de teísmo, especificamente o Cristianismo, e às vezes mais especificamente ao catolicismo. Não incluo outras interpretações não ocidentais da natureza de Deus simplesmente porque as desconheço. Mesmo se eu pudesse incluí-las, acabaria deixando de lado alguma religião que deveria ser incluída na opinião de algum leitor. Eu estou, como muitos, mais familiarizado com o cristianismo e não é a intenção ignorar ou desrespeitar outras religiões que poderiam ser igualmente plausíveis. Espero que mesmo se minha análise está muito dependente de idéias católicas específicas, que os membros de outros grupos cristãos sejam capazes de separar os pontos importantes e a mensagem principal.
Também leve-se em consideração que estou usando as palavras "Deus" e "deus", que creio eu possuem diferenças pequenas mas importantes. "Deus" com D maiúsculo representa o Deus cristão, exatamente como fazemos com nomes de pessoas, que começam por maíuscula por se referir a uma pessoa específica. Já "deus" em minúsculas é um termo mais geral referindo-se a qualquer tipo de conceito de um ser supremo. Cristãos podem considerar que não há diferença, já que há apenas um deus - o Deus cristão. Mas algumas culturas mantêm crenças em numerosas divindades. Neste caso "deus" refere-se a apenas um tipo de ser, assim como "homem" e "anjo" se referem a outras classes.
Se estas explicações parecem desnecessárias, então fico feliz por termos um bom começo; estarei me dirigindo a uma platéia tolerante. Se pareço muito amável, que isto não seja considerado alguma falta de convicção mas sim o desejo de ser compreendido e respeitado. Há uma quantidade considerável de oposição intelectual e animosidade a esta empreitada e não creio que estas barreiras sejam justificáveis. Estamos discutindo um assunto de interesse de ambos, um problema em comum, portanto nossos esforços devem ser construtivos. Quero encorajar mais respeito entre aqueles que discordam neste assunto, e não farei qualquer tentativa de confundir, enganar ou insultar ninguém.
Então deixemos nossas mentes flutuarem pelos ares, mas mantendo os pés no chão.
A publicação foi autorizada pelo autor do ensaio original.
O ensaio base original está disponível em
http://www.infidels.org/library/modern/paul_obrien/gentle/atheism1.html
As partes em itálico não devem estar corretamente traduzidas.
Traduções para espanhol e sugestões para correções na tradução e na gramática são bem-vindas.