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PABLO NERUDA

  • Criador do tópico Angélica
  • Data de Criação
A

Angélica

Visitante
Eu ouvia falar muito em seu nome. Depois alguém comentou sobre o filme O Poeta e O Carteiro então pensei "preciso saber mais" e comecei a ler sobre ele e também os seus poemas. Me encantei com tamanha sensibilidade. Por fim, resolvi assistir o filme e me encantei de vez...

Eis uma das poesias que gosto muito:


OS TEUS PÉS

Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,

Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
A duplicada púrpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram vôo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.

__________________________________________________________

Eis algumas informações sobre ele.

O poeta chilene Pablo Neruda é considerado um dos maiores poetas do mundo.Suas belas poesias encantaram e ainda encantam um grande número de pessoas.

Esteve no Brasil em diversas oportunidades e, numa delas, declamou seus poemas e poesias perante grande massa popular concentrada no estádio do Pacaembu, em São Paulo.
____________________________________________________________________________________________________________
Sensibilizado com o tratamento repressivo que era dado aos trabalhadores de minas no Chile começa a fazer discursos contra o então presidente chileno Gonzáles Videla e por isso, acaba sendo exilado na Itália.
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Recebeu os prêmio Stalin da Paz em 1953, recebeu o título honoris causa da Universidade de Oxford (Inglaterra), em 1965, e em outubro de 1971, recebe o Prêmio Nobel de Literatura.


bjs da angel ;)
 
Uau, Angélica! Esse é um dos meus monstros sagrados.
Confesso que vivi é o livro que me cativou.
Eu era leitora e se alguém pedisse uma descrição de mim, eu responderia com uma pergunta, é claro, seguida da resposta: "Quem sou eu? Uma leitora! Daí aparece esse cara e diz na minha "lata" Confesso que Vivi.

Minha descrição pessoal ficou pobre
Sempre que leio um livro, sou acompanhada por ele em sonhos, em reflexões, ou seja, ele me persegue por um tempo. E, eu me imaginei sexagenária, dizendo a todos, parei em uma janela a vida inteirinha tomando conhecimento da forma como viviam os outros, suas sensações, suas divagações, seus aprendizados. :wall:
Bem, chamei ele de filho-da-mãe inúmeras vezes! Adivinha se fez eu me sentir melhor? NÃO!

Uma estratégia maravilhosa, bem montada, bem elaborada, segura e de indiscutível bom gosto, que acompanharia um título nobre de "Pessoa Culta" jogada ao chão, pisoteada, por um (na hora da raiva) João Ninguém fdp, um desconhecido.

Então, por que a poesia Quem morre?, citada abaixo me incomodava pra valer?
Culpado! É o meu veredito. Pablo Neruda é o responsável legítimo pela guinada que dei em minhas escolhas de vida.
[size=x-small]
Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa
com quem não conhece.

Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os “is” em detrimento
de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples facto de respirar.

Somente a preserverança fará com que conquistemos
um estágio pleno de felicidade.

[align=right]Pablo Neruda
[/align][/size]
 
Angélica que bom que você trouxe o Neruda pra cá! Eu sou fascinado pelas poesias dele, de tanto que no curso se falava do tal Pablo, de sua obra, seus escritos, e desse Ill Postino ae, que é O Carteiro e o Poeta, ainda não tive a oportunidade de ver...

Um boa página na net, é essa que contém bastante coisa sobre ele, e sua obra, tem inúmeros escritos:
http://www.paralerepensar.com.br/pabloneruda.htm
 
Essa que a Angélica postou é mesmo muito linda, mas a minha preferida é essa aqui:

O Vento na Ilha

Vento é um cavalo:
ouve como ele corre
pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como ele corre o mundo
para levar-me longe.
Esconde-me em teus braços
por esta noite erma,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama galopando
para levar-me longe.
Como tua fronte na minha,
tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa levar-me.
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
enquanto eu, protegido
sob teus grandes olhos,
por esta noite só
descansarei, meu amor.
 
Fernando, dos elementos da natureza me identifico mais com o vento (e depois com o sol e depois com as estrelas e depois...)

Se alguém me falasse que o vento é um cavalo eu iria "morder" pode ter certeza, mas desde que tal definição chegou a mim através do Neruda, não tenho do que reclamar...

Essa poesia tb é uma das minhas preferidas e só não a postei pq já havia feito isso em outro espaço poético, pra variar, entendeu, né?

É isso aí, galerinha, muito legal saber que aqui há pessoas que curtem o Neruda...

bj da angel
;)
 
Angélica disse:
Fernando, dos elementos da natureza me identifico mais com o vento (e depois com o sol e depois com as estrelas e depois...)

Se alguém me falasse que o vento é um cavalo eu iria "morder" pode ter certeza, mas desde que tal definição chegou a mim através do Neruda, não tenho do que reclamar...

Essa poesia tb é uma das minhas preferidas e só não a postei pq já havia feito isso em outro espaço poético, pra variar, entendeu, né?

É isso aí, galerinha, muito legal saber que aqui há pessoas que curtem o Neruda...

bj da angel
;)

Ah...quando é através do Neruda, tudo é aceitável, afinal, ele é um mestre supremo do arranjo de palavras! Essa poesia que você postou foi uma das primeiras que eu vi no meu curso de espanhol pela escola, porque a professora era obcecada por ele, tanto que toda aula ela dava um jeitinho de falar ou inserir ele no contexto, e fazia isso a qualquer custo XD...
 
a professora era obcecada por ele, tanto que toda aula ela dava um jeitinho de falar ou inserir ele no contexto, e fazia isso a qualquer custo XD..

Uiiii, que dó de quem não curtia o Neruda¹ Acho isso meio impossível mas nunca se sabe, tinha quem não gostava dele Fernando, conta aí...

bj da angel ;)
 
Angélica disse:
Uiiii, que dó de quem não curtia o Neruda¹ Acho isso meio impossível mas nunca se sabe, tinha quem não gostava dele Fernando, conta aí...

bj da angel ;)
Pior que tinha sim, e essas pessoas compraram uma briga feia com a professora até o final do ano huahahua...
025.gif
 
Neruda é realmente bom, mas eu tenho lá minhas ressalvas quanto a ele... Na verdade quanto ao fato de eles considerado tão grande no Chile (talvez mesmo na literatura de língua espanhola como um todo - no século XX ao menos), eclipsando outros autores.
 
Luciano, menino, eu gosto de Neruda pelo poeta que ele é, também gosto de outros, mas, sem análise e comparação alguma, já disse por aqui que sou totalmente leiga, sou apenas leitora, mas gostaria de ver algumas colocações suas sobre essas ressalvas, adoraria adquirir alguns conhecimentos :)

bjs da :lily:
 
Sou fascinada por Neruda, conheci por acaso e me apaixonei.
Gosto dos livro das perguntas dele, meninas imaginam serem cantadas com poemas de Neruda? Santo Dio...

Citarei um aqui...

"Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo."
 
Tá. Vamos lá. Comecei a ler os Cem Sonetos de Amor dele e estou achando uma bosta (estou quase terminando e só os sonetos 14, 17 e o 66 se salvam).

Mas, como eu sei que o Neruda é Poeta com P maiúsculo, vou persistir mais um pouco. Ao que me consta, o Canto Geral é a obra mais pauleira dele, a obra de teor mais épico, mas queria saber também onde encontrar outros poemas também mais cute-cute, mais líricos, mais ooooowwwnnnnnn :grinlove:

Por exemplo, neste tópico, o Poema XX de Vinte Poemas de Amor é bem o que eu procuro e sei que o Neruda tem mais. O "O Vento e a Ilha" que o Fernando postou parece ser igualmente desses que procuro...

Enfim. Alguém sabe se existe uma edição onde esses poemas estejam concentrados, encurralados nas arestas de um livro?
 
O lance com poesia é de frequência emocional. Poesia, para eu ler, precisa que haja alguma ebulição em mim, senão não acho graça. Mesmo assim, de cada livro, se sai três poemas que fazem sentido, já pagou o livro.

O cara era um apaixonado, perdia a cabeça e era todo sentimentos. Dele eu tenho, hoje, "Vinte poemas de amor e uma canção desesperada".
Tem que ser versos dele?
 
É que três poemas em cem eu acho bem pouco, sabe? Com Camões, por exemplo, dos 200 e tantos sonetos devem ter no máximo uns 20 que eu não acho bons (minha classificação seria: intragável - ruim - mediano - bom - excelente; e, no caso do Camões, de excelentes devem ter no mínimo uns 50).

Mas acho que essa implicância está sendo com esse livro dele, em específico. Acho que se ler o "Canto Geral" eu vou passar a admirar mais o cara (e, quem sabe, olhar os sonetos com bons olhos).

Estava procurando, na verdade, por um livro que contivesse esses poemas de amor, esses, digamos, "poemas pra colocar na traseira de caminhão", sabe? Pelo que pesquisei, o "Vinte poemas de amor e uma canção desesperada" parece ser bem o que eu estou procurando... Vou ler ele e dar um feedback aqui.
 
É que Camões é entusiasta tudo o que escreve parece-me em dourado, é lindo, descreve as belezas que vê, parece um elfo, encanta. Sofisticado o cara.
Já Pablo é apaixonado, pretende incendiar, pretende trazer o leitor para o que é íntimo, toda a opinião é intensa.

Camões para quem está amando, Pablo pra quem se apaixona.
 
fugindo um pouco do assunto...
uma biografia que gostei de ler é a do poeta Neruda, o livro”Confesso que Vivi”. Recomendo. uma passagemque está relatada na autobiografia, Pablo Neruda ainda criança escreveu umpoema e mostrou para o seu pai e logo depois de ler a arte poética perguntou ao filho “ De quem (autor) você copiou esse poema” mais ou menos com essas palavras. Ali nascia o poeta.
 
fugindo um pouco do assunto...
uma biografia que gostei de ler é a do poeta Neruda, o livro”Confesso que Vivi”. Recomendo. uma passagemque está relatada na autobiografia, Pablo Neruda ainda criança escreveu um poema e mostrou para o seu pai e logo depois de ler a arte poética perguntou ao filho “ De quem (autor) você copiou esse poema” mais ou menos com essas palavras. Ali nascia o poeta.

Já falei isso em algum lugar, mas vou repetir.
Quando li esse livro (em mil novecentos e antigamente, claro), resolvi que queria dizer isso também quando estivesse na maturidade. E fui a luta. Percebi que contava muito a experiência dos outros, quis ter as minhas.
 
Sempre gostei muito de gatos (na realidade, um dos testes que eu fazia para saber se uma pessoa não tinha muita moral era verificar se gostava ou não de gatos; geralmente pessoam que dizem odiar gatos não são boas pessoas....sim, não é nada científico, mas para mim essa percepção sempre deu certo); um dos poemas que mais gosto de Pablo Neruda é sobre os gatos.

É chamado "Ode ao Gato"; acho que nesse poema muito do que é especial sobre esses animais foi capturado:

ODE AO GATO

Pablo Neruda
tradução: Eliane Zagury

Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite .

Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gato, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.

Adoro sobretudo essa parte:

quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Adoro como os gatos são elegantes e delicados; como pisam o solo com uma leveza incomparável; é realmente como se tivessem desdém pela terra. Acho que esse é um dos motivos pelos quais muitas pessoas não gostam de gatos: eles não bajulam, não aparentam estar muito preocupados conosco, ao passo que os cães parecem ser mais dependentes, e estão sempre em nossos pés, a abanar o rabo. Já o gato...se ele quiser carinho ele virá até nós, mas se estiver atarefado, ou com preguiça, ou algo assim, ele apenas olha de longe com aquela cara de enjoado e não move um só músculo. Para muitos isso é irritante, mas eu gosto desse sinal de independência.
 

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