• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Mr. Nobody

  • Criador do tópico Criador do tópico Anica
  • Data de Criação Data de Criação

Anica

Usuário
[imdb]0485947[/imdb]

Acabei de ver o trailer lá no Ambrosia e estou boba. Tem tudo para ser lindo, muito lindo.


edit: ativem o caption para ver as legendas em inglês
 
Última edição por um moderador:
Ahh, eu também me interessei muito pelo filme!
A história parece ser bem boa, e algo diferente to que andam fazendo no cinema ultimamente. =B
 
eu ñ via um filme de ficção-científica romântico decente desde o vanilla sky. o jared leto com 118 anos de idade está perfeito. as principais teorias científicas atuais ñ são explicadas, são demonstradas em ação: big bang, big crash, 9 dimensões, eterno retorno, vida em marte e por aí vai. sem falar da trilha sonora q é uma verdadeira viagem.
 
:susto:
Quero ver! Quero ver!

Valeu pela dica, Anica (putz #facepalm). Não tinha ouvido falar!

@Anica: pergunta (que o google pode responder, mas a preguiça é grande e por aqui é mais fácil): ele chegou a passar no cinema aqui em Ctba? vai passar? cê sabe? :D
 
o que eu fiquei sabendo sobre o mr. nobody até uns meses atrás é que ele não tinha distribuidor nem nos estados unidos, que dirá aqui. passou em festivais lá fora e teve estreia oficial em poucos países europeus, mas só. o que tá rolando é que ficou mais fácil achar o arquivo do filme e legendas na inet, aparentemente.
 
Também quero ver!

Fiquei muito interessado depois de ver o trailer e ler a sinopse. :D

Só deve estrear por aqui em outubro, segundo consta na ficha do filme no Filmow. Se não aguentar a espera, terei de assistir de alguma outra maneira.
 
Então, vi o filme.
Divertido! É muito legal!
Minha namorada dormiu depois de 20 minutos XD, mas eu achei bem bom.

No meio do filme, tem uma digressão sobre tempo, e eles falam da seta do tempo termodinâmica :happyt:. E não falam nenhuma besteira, o que é um milagre!!!

Curti, recomendo pra quem curte ficção-científica =D

O final é showdebola XD
 
Esse filme é muito foda. Tava assistindo uns sci-fi recentes (Jupiter Ascending, Elysium, Prometheus) que não gostei, fiz bem em apelar para um sci-fi um pouco mais antigo. Procurando falar apenas do que já é estabelecido no filme aos dez minutos: o filme gira em torno de Nemo Nobody, um sujeito muito velho em um cenário muito futurista, que será o último homem a morrer de velhice. Ele tem problemas de memória, não sabe direito quem é, e ao tentar relembrar as coisas, acaba contando histórias de vida contraditórias. Eis o trailer:


Ainda não sei bem o que pensar sobre o final, ainda estou digerindo, e sem falar de alguns tropeços em física...

Me parece bem questionável a ideia de que o aumento de entropia e a seta do tempo estão ligadas diretamente a expansão do universo, e que eventual contração [Big Crunch] permitiria uma diminuição de entropia ou inversão na seta do tempo, e infelizmente essa ideia fundamenta o final do filme.

De qualquer forma acho que dá para contornar esses eventuais tropeços e ainda assim termos muitas ideias interessantes através do filme.

A ideia do Big Crunch pessoal na morte é uma ideia muito interessante, e sempre tive em mente essa metáfora para entender as visões de certos filósofos idealistas sobre a morte, afinal para esses filósofos o tempo só existe para o sujeito do conhecimento, para a mente, e com o fim da mente o próprio tempo chega ao fim. Surpresa assim achar um filme que adota metáfora idêntica. Citando Schopenhauer de cabeça, com eventuais inexatidões na transcrição, "é equivalente dizer que a morte chegou ou que não mais existo, ou que o universo chega a seu fim".

É curioso que o filme cite tanto física mas não tente fazer nenhuma analogia com aspectos da mecânica quântica que se encaixariam perfeitamente. Em especial no que concerne a trajetórias - em mecânica clássica apenas uma trajetória é possível, trajetória que obedece a certo requisitos, mas em mecânica quântica há um entendimento de que em certo sentido todas trajetórias acontecem. A passagem de todas trajetórias acontecendo quanticamente para apenas uma trajetória acontecendo macroscopicamente seria um fenômeno de emergência, assim como a seta do tempo que não existe microscopicamente. Assim, por exemplo, se uma série de partículas pode passar por dois orifícios para chegar ao outro lado, e eu não procuro determinar experimentalmente por qual dos dois orifícios elas passam, cada partícula passa em certo sentido pelos dois orifícios, e o que eu observarei do outro lado será o resultado da interferência entre os dois caminhos. Esse conceito encaixa-se perfeitamente com o fato de Nemo viver inúmeras vidas ao mesmo tempo, e ambas serem igualmente válidas, e terem inclusive certa interferência poética, coincidências entre as vidas.

E mais: conforme Nemo diz, citando um autor, todas aquelas vidas são igualmente significativas. O conceito de significado é mais filosófico, mas a ideia de que a existência tem o mesmo significado independente da história (que depende de condições de contorno um tanto quanto arbitrárias) é muito interessante também. Pois responde a certo tipo de questionamento, difícil de verbalizar racionalmente, mas que mais ou menos é "Por que vivemos em um universo onde o presente é dado por tais e tais características? Uma infinidade de universos com outras características seriam igualmente possíveis, se para tanto tivéssemos no passado tais e tais condições". A primeira vista o universo parece privilegiar injustificadamente uma história entre uma infinidade de histórias condizentes com as leis físicas. Para Schopenhauer, unicamente as leis físicas/químicas/biológicas determinam o significado último do fenômeno - o fato da lei da gravidade ser proporcional a 1/r² e não a 1/r³ por exemplo não seria em si mesmo explicado cientificamente, mas uma espécie de qualidade primeira da natureza, onde reside o significado do fenômeno. O significado, a essência da vida, seria assim atemporal, não reside nesse ou naquele acontecimento específico, mas nas leis que regem esse comportamento, os acontecimentos específicos seriam apenas aparições desse significado. Ora, aquelas diversas histórias condizentes com as mesmas leis físicas seriam assim igualmente significativas e não haveria porque o universo privilegiar uma história frente a outra - e de fato, segundo o filme, não privilegia, somos nós que temos a visão limitada de viver apenas uma história, limitação que Nemo por algum motivo não estava restrito.
 
Última edição:
Esse filme cresceu muito em minha mente nos últimos dias. Via uma certa 'discrepância' relativamente leve em duas cenas, que julgava ser parte daquela 'liberadade poética' chatinha que alguns diretores se dão ao luxo quando fazem cenas mais viajadas ou oníricas, mas pensando um pouco e depois pesquisando isso me levou a reparar em um aspecto da história que não tinha reparado.

Nemo no começo do filme morre na nave para Marte quando ainda estava sob suspensão. Mas mais para o final também morre na nave, porém ao lado de Anna. As mortes são muito parecidas... isso ocorre porque há duas rotas muito parecidas, duas rotas onde Nemo casa-se com Elise mas ela morre na explosão. As rotas são tão parecidas que não havia reparado que são diferentes. Mas analisando melhor fica evidente: em uma delas Nemo conhece Anna na nave, mas em outra Anna é a viúva de um colega de trabalho. Mas nessas duas rotas Nemo vai para Marte com as cinzas de Elise.

Sobre o final finalíssimo (últimos 10 min de filme), que como disse me incomodou:

Ainda me incomoda um pouco, mas tendo em mente o tom fantasioso do final, gosto de acreditar que todo o mundo futurista é um sonho, uma dimensão onírica vivenciada por Nemo, na medida em que ele toma a rota 'absurda' de não viver com o pai nem o mãe. Nessa rota que encontra-se o Nemo surtado, sob camisa de força, Nemo falando com quem seria sua mãe e não sendo reconhecido, Nemo falando com seu eu centenário na TV, e outras coisas absurdas (que parecem inclusive de alguma forma envolver todas rotas 'naturais', o que é esperado, já que a rota 'absurda' ocorre depois de Nemo vivenciar todas as rotas 'naturais').. E por fim o mundo futurista, onde Nemo não sabe quem é, tem inúmeras memórias e é um homem que "não existe". Todo o mundo futurista seria assim uma imaginação de Nemo, ou no máximo uma rota 'bugada', onde ele tem domínio das coisas que ocorrem, como em um sonho lúcido.

Esse anime é relativamente pouco conhecido, tem o jeitão de ser um slice of life fofinho e descompromissado, mas tem alguns aspectos que ele se aproxima muito do filme e levanta questões interessantes. Especialmente no final: quase todo mundo que assiste o anime fica com a impressão que se trata de um final extremamente feliz e mágico, onde Ayu mesmo em coma vive uma experiência extra-corpórea e faz milagres. Porém, um dos personagens levanta explicitamente uma hipótese um tanto quanto perturbadora: que aquele mundo se trata do sonho de Ayu, e sua capacidade de fazer milagres se dá pelo fato natural dos sonhadores terem certo domínio sobre seus sonhos. Conforme ela se dá conta do seu sonho, ela se desestabiliza, como é natural ao percebermos que estamos sonhando, havendo a tendência inclusive de tentar acordar. O anime mostra ela acordando do coma, e os personagens que vivenciaram os milagres lidam com ela - é natural acreditar num primeiro momento que então tudo foi mesmo um milagre extra-corpóreo. Ora, mas ela acordando do coma, porém, pode ser interpretado como um sonho dentro de um sonho, fenômeno bem natural também - você sofre uma perturbação (no caso dela, a lembrança do acidente e seu estado comatoso) mas adiciona essa perturbação em um novo sonho (no caso, no novo sonho ela acorda do coma). Então ela pode ainda estar em coma e tudo ser um sonho, é uma versão bem mais realista da história. Tanto no anime quanto no Mr. Nobody os personagens lidam com a possibilidade de serem um sonho de outra pessoa com naturalidade que parece exagerada. Em Mr. Nobody: "You don't exist. Neither do I. We only live in the imagination of a 9 year old child. We are imagined by 9 year old child, faced with an impossible choice". Essa naturalidade seria facilmente aceita e entendida por Schopenhauer, onde o mundo onírico tem mesmo estado ontológio que o mundo conhecido quando desperto. No trecho abaixo dele disserta sobre o caráter onírico da vida, o que vai de encontro ao filme, onde as várias vidas, incluindo a rota mais absurda, são como sonhos diferentes de um mesmo sonhador:

upload_2015-10-21_0-4-4.webp

Sem dissentir:
Se você chegou até aqui, parabéns.
 
Última edição:
Pessoal vejam esse filme, não me conformo o quão desconhecido ele é. :lol:

(postei o trailer ali em cima, mas acho legal nem vê-lo, ele estraga certas surpresas dos primeiros 20 min de filme, entender do que o filme se trata é uma parte interessante desse começo).
 
Última edição:
Filmaço. Estava com medo de me decepcionar depois de tantos anos longe do filme, mas felizmente não foi o caso, pelo contrário, gostei ainda mais do filme. Até porque mudei algumas interpretações do filme nessa segunda assistida, no que diz respeito à minha segunda postagem aqui no tópico...

Esse filme cresceu muito em minha mente nos últimos dias. Via uma certa 'discrepância' relativamente leve em duas cenas, que julgava ser parte daquela 'liberadade poética' chatinha que alguns diretores se dão ao luxo quando fazem cenas mais viajadas ou oníricas, mas pensando um pouco e depois pesquisando isso me levou a reparar em um aspecto da história que não tinha reparado.

Nemo no começo do filme morre na nave para Marte quando ainda estava sob suspensão. Mas mais para o final também morre na nave, porém ao lado de Anna. As mortes são muito parecidas... isso ocorre porque há duas rotas muito parecidas, duas rotas onde Nemo casa-se com Elise mas ela morre na explosão. As rotas são tão parecidas que não havia reparado que são diferentes. Mas analisando melhor fica evidente: em uma delas Nemo conhece Anna na nave, mas em outra Anna é a viúva de um colega de trabalho. Mas nessas duas rotas Nemo vai para Marte com as cinzas de Elise.

Sobre o final finalíssimo (últimos 10 min de filme), que como disse me incomodou:

Ainda me incomoda um pouco, mas tendo em mente o tom fantasioso do final, gosto de acreditar que todo o mundo futurista é um sonho, uma dimensão onírica vivenciada por Nemo, na medida em que ele toma a rota 'absurda' de não viver com o pai nem o mãe. Nessa rota que encontra-se o Nemo surtado, sob camisa de força, Nemo falando com quem seria sua mãe e não sendo reconhecido, Nemo falando com seu eu centenário na TV, e outras coisas absurdas (que parecem inclusive de alguma forma envolver todas rotas 'naturais', o que é esperado, já que a rota 'absurda' ocorre depois de Nemo vivenciar todas as rotas 'naturais').. E por fim o mundo futurista, onde Nemo não sabe quem é, tem inúmeras memórias e é um homem que "não existe". Todo o mundo futurista seria assim uma imaginação de Nemo, ou no máximo uma rota 'bugada', onde ele tem domínio das coisas que ocorrem, como em um sonho lúcido.

Esse anime é relativamente pouco conhecido, tem o jeitão de ser um slice of life fofinho e descompromissado, mas tem alguns aspectos que ele se aproxima muito do filme e levanta questões interessantes. Especialmente no final: quase todo mundo que assiste o anime fica com a impressão que se trata de um final extremamente feliz e mágico, onde Ayu mesmo em coma vive uma experiência extra-corpórea e faz milagres. Porém, um dos personagens levanta explicitamente uma hipótese um tanto quanto perturbadora: que aquele mundo se trata do sonho de Ayu, e sua capacidade de fazer milagres se dá pelo fato natural dos sonhadores terem certo domínio sobre seus sonhos. Conforme ela se dá conta do seu sonho, ela se desestabiliza, como é natural ao percebermos que estamos sonhando, havendo a tendência inclusive de tentar acordar. O anime mostra ela acordando do coma, e os personagens que vivenciaram os milagres lidam com ela - é natural acreditar num primeiro momento que então tudo foi mesmo um milagre extra-corpóreo. Ora, mas ela acordando do coma, porém, pode ser interpretado como um sonho dentro de um sonho, fenômeno bem natural também - você sofre uma perturbação (no caso dela, a lembrança do acidente e seu estado comatoso) mas adiciona essa perturbação em um novo sonho (no caso, no novo sonho ela acorda do coma). Então ela pode ainda estar em coma e tudo ser um sonho, é uma versão bem mais realista da história. Tanto no anime quanto no Mr. Nobody os personagens lidam com a possibilidade de serem um sonho de outra pessoa com naturalidade que parece exagerada. Em Mr. Nobody: "You don't exist. Neither do I. We only live in the imagination of a 9 year old child. We are imagined by 9 year old child, faced with an impossible choice". Essa naturalidade seria facilmente aceita e entendida por Schopenhauer, onde o mundo onírico tem mesmo estado ontológio que o mundo conhecido quando desperto. No trecho abaixo dele disserta sobre o caráter onírico da vida, o que vai de encontro ao filme, onde as várias vidas, incluindo a rota mais absurda, são como sonhos diferentes de um mesmo sonhador:

Ver anexo 67311

Sem dissentir:
Se você chegou até aqui, parabéns.

Acima, havia interpretado o filme na vibe de "a vida é um sonho e o sonho é uma vida", ou "é claro que isso está acontecendo em sua mente, Harry...". Isso basicamente para dar importância à rota onírica em que Nemo é um homem que não existe. Baseado nisso, via as histórias que se passavam em Marte como histórias reais, e o fato de serem escritas por Nemo em certas vidas se deveria meramente (1) à sua intuição aguçada em perceber o que ocorre em outras de sua vidas, (2) a coincidências poéticas entre essas diversas vidas, coincidências estas que parecem ocorrer mesmo entre vidas que são reais, (3) a meramente toda história ficcional ser como um sonho e portanto, em algum sentido, real. Nisso interpretava que, quando Nemo se encontrava pela primeira vez em Marte com Anna, isso não poderia corresponder a uma vida em que ele já havia encontrado com ela na Terra. Essa é uma leitura que se encontra em alguns diagramas na internet...[2][3]

Mas estou mais materialista/realista e menos idealista do que há uns anos atrás: sonho é sonho, ficção é ficção e realidade é realidade. Faz mais sentido encarar as histórias de Marte como histórias escritas pelo próprio Nemo que concluem simbolicamente três de suas linhas do tempo (5.3, 5.4 e 5.5, vide abaixo). Dessa forma, por exemplo, Nemo se encontrando com Anna em Marte e falando brevemente com ela é uma visão simbólica de Nemo se encontrando com Anna na Terra e também falando brevemente com ela. Nemo enquanto homem que não existe realmente não existe, mas isso não tira o significado e a importância da história que assistimos, porque é uma história tanto munida de verdade simbólica quanto com correspondência a eventos reais. E o próprio filme parece dar duas chaves interpretativas nessa direção: (1) a primeira é na cena dos "angels of oblivion", notadamente absurda e infantil, mas que, de alguma forma, parece descrever a realidade no que concerne à origem dos poderes de Nemo; (2) a história ficcional de Elise e Stefano no cabeleireiro, história este que vemos o Nemo criança (o Nemo que, em um lapso de instante na estação de trem, vivenciou todas as linhas do tempo) assistir: o fato de assisti-la atesta sua importância e realidade ainda que simbólicas. Outra dica, nesse sentido, é (3) Anna prever o Big Crunch em 2092 em uma das histórias em Marte. Ao menos que creiamos que o mundo realmente iria acabar em 2092 nessa linha real do tempo, aquela história tem que ser ficcional. O que parece ser a interpretação mais redonda: o Big Crunch é simbolicamente o fim do próprio Nemo e da humanidade de forma geral, mas não é um evento histórico, que ocorrerá naquela data para o universo todo.

Isso posto, diferentemente da minha primeira impressão, agora eu gosto bastante do final. Do mesmo jeito que a cena dos "angels of oblivion" tem um tom infantil e fantasioso (conta até com um unicórnio!) e com pitadas de cristianismo, refletindo a bagagem infantil do Nemo, as cenas futuristas refletem, dessa vez, a bagagem do Nemo adulto, que na maioria das rotas é um "divulgador" científico e escritor de ficção científica. Dessa forma, o final, em que o tempo volta e tudo parece redimido, é antecipado com linguagem cientifica. Evidentemente tem que ser uma justificativa imperfeita, porque não é uma ideia justificável cientificamente, a ciência serve meramente como ilustração. Infelizmente é usada uma frase gritantemente errada ("(...) a seta do tempo, resultado da expansão do universo"), mas agora vejo isso como uma questão menor. A frase bem poderia ter sido escrita como "(...) a seta do tempo, na direção da qual o universo se expande"… Seja como for, a linguagem científica é meramente usada para antecipar uma ideia não-científica. Isso é, vemos uma espécie de redenção cristã pós-apocalíptica através de uma linguagem superficialmente científica oriunda da bagagem imaginativa do Nemo adulto. A redenção ocorre tanto com a ressurreição de corpos quanto com estabelecimento de uma vida perfeita que não pôde ter lugar na realidade (como Anna e Nemo juntos desde a infância ou o casamento dos pais de Nemo ter permanecido intacto).

Portanto, a minha interpretação esquemática da timeline do filme é...

1) Visão fantasiosa, com ares infantil e cristão, do pré-vida: dimensão em que agem os "angels of oblivion".

2) Nemo vê Anna próximo ao rio. Mas não se aproxima dela, porque, nas proximidades, vê sua mãe com um interesse romântico extra-conjugal. Logo em seguida, seus pais rompem.

3) Nemo deve escolher entre seu pai e sua mãe.

4.1) Corre até o trem em que está sua mãe. Seu tênis não quebra. Nemo chega ao trem. Passa a viver com sua mãe.​
5.1) Nemo diz que "não nada com idiotas" e termina sozinho. Linha que serve apenas para estabelecer claramente que decisões humanas, e não apenas fenômenos caóticos físicos, estabelecem rotas diferentes de vida.​
5.2) Nemo confessa que não sabe nadar. Fica com Anna e, após várias desventuras, casa com ela. Mas seu carro cai no rio e ele morre afogado. Mesmo com seu par romântico ideal, a felicidade total é impossível.​
4.2) Corre até o trem em que está sua mãe. Mas seu tênis quebra e Nemo não chega ao trem. Passa a viver com seu pai.​
5.3) Se interessa por Elise, mas não é recíproco, pois ela escolhe Stefano. Sofre acidente e fica em coma. Durante o coma, "escreve" uma história ficcional em que morre imobilizado a caminho de Marte, quando sua nave passa por uma chuva de asteroides. Antes, durante a viagem, chama semi-consciente por Elise. Não teve a oportundiade de se encontrar com Anna enquanto adultos.​
5.4) Se interessa por Elise, casa com ela, mas ela morre numa explosão. Dessa vez é o carro de um colega de trabalho que cai no rio. Esse colega vem a ser justamente o marido de Anna. Ele intui que Anna tem um grande significado para ele, mas não consegue estabelecer grande conexão. Em uma histórica ficcional, leva as cinzas de Elise até marte, se encontra com Anna e tem um breve diálogo com ela. Sua nave também passa por uma chuva de asteroides e é destruída, matando ambos.​
5.5) Se interessa por Elise, casa com ela, tem filhos com ela, mas ela sofre de depressão e o abandona. Escreve uma história ficcional, em que Elise leva uma vida banal como cabeleira, não nota e não é notada por Stefano, apesar de almejar por ele. Essa história é mostrada como sendo presenciada por Nemo cósmico (vide abaixo).​
5.6) Se interessa por Elise, mas não é recíproco, pois ela escolhe Stefano. Casa com Jean, escolhe tomar controle total de sua vida e ficar rico. Dessa vez é ele que sofre de depressão. Morre após abandonar qualquer previsibilidade e se colocar em perigo desnecessariamente.​

4.∞) Ao correr ao trem, em um lapso de segundo, Nemo ativa seus "poderes" e vivencia todas as rotas que sua vida pode levar. Nemo cósmico.​
5.7) Visão fantasiosa, com ares de sci-fi e absurdismo, do pós-vida:​
(I) Nemo não toma decisão alguma, não escolhe ir com seu pai nem com sua mãe. Vive em um universo em que ele não pode existir fisicamente, pois é o resultado da soma de todas as rotas (contraditórias) de vida. É um homem que "não existe" tanto por essa razão quanto por ser uma construção mental (um sonho) do próprio Nemo com poderes super-ativados. Mas, apesar de não existir e ser uma construção mental (assim como todas histórias ficcionais e como a visão dos "angels of oblivion"), é uma construção munida de verdade simbólica e correspondência com a realidade.​
(II) Nemo jovem vive uma espécie de limbo ou etapa inicial de um purgatório, extrema confusão mental.​
(III) Nemo velho vive em uma espécie de etapa final de um purgatório, em que atinge lucidez, entende o significado de suas vidas, a posição privilegiada de Anna com relação a ele, e termina em paz.​
(IV) Após a morte, todos os males são curados. Seus pais ficam juntos. Nemo vê Anna próxima ao rio, mas dessa vez pode se aproximar dela.​

No filme vermelho, azul e amarelo dizem respeito respectivamente à Anna, Elise e Jean, associadas ao amor, à tristeza e à riqueza. São as cores "primárias" do filme. Faz sentido usar o verde para representar momentos em que a ramificação nas sub-rotas azul e amarela ainda não ocorreu, e o filme de fato usa essa cor (ainda que desbotada) na casa do pai ou na jaqueta de Nemo na cena em que ele pede Elise em namoro (sendo que é a partir disso é que as rotas amarela e azul se separam). Uso ciano para a rota em que Nemo falha em ter Elise, fica em coma e pensa sobre ela em estado semi-consciente, pois faz sentido ser uma mistura de verde (Nemo ainda solteiro) e azul (Elise), e de fato é uma cor que aparece nas cenas em ambiente hospitalar. Roxo é a rota de Elise com pitadas de Anna. E laranja é meramente um headcanon, porque amarelo+vermelho é a única combinação que não foi direta ou indiretamente feita no filme, até porque esse Nemo "laranja" é pouco mostrado. Talvez o Nemo dessa rota tivesse um quê de riqueza, autocentralidade ou de previsibilidade (amarelo), até porque aparenta ser solteiro, somado a certo pesar por não ter ficado com Anna (vermelho). E por fim, o filme começa no branco e termina no branco, já que no começo e no fim todas as cores são unidas e Nemo conhece todas as suas vidas.

Outro ponto digno de nota é a trilha do filme, muito característica e eclética.[4][5] Músicas pops antigas e modernas, violão instrumental minimalista, músicas eruditas, Hans Himmer... O irmão do diretor sempre contribuiu na trilha original de seus filmes, e acabou falecendo antes de lançarem Mr. Nobody, sendo premiado postumamente. Mr. Nobody também parece ter sido a magnum opus do diretor, com os filmes anteriores antecipando certos elementos...
 
Última edição:

Valinor 2025

Total arrecadado
R$0,00
Termina em:
Back
Topo