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Esse filme cresceu muito em minha mente nos últimos dias. Via uma certa 'discrepância' relativamente leve em duas cenas, que julgava ser parte daquela 'liberadade poética' chatinha que alguns diretores se dão ao luxo quando fazem cenas mais viajadas ou oníricas, mas pensando um pouco e depois pesquisando isso me levou a reparar em um aspecto da história que não tinha reparado.
Nemo no começo do filme morre na nave para Marte quando ainda estava sob suspensão. Mas mais para o final também morre na nave, porém ao lado de Anna. As mortes são muito parecidas... isso ocorre porque há duas rotas muito parecidas, duas rotas onde Nemo casa-se com Elise mas ela morre na explosão. As rotas são tão parecidas que não havia reparado que são diferentes. Mas analisando melhor fica evidente: em uma delas Nemo conhece Anna na nave, mas em outra Anna é a viúva de um colega de trabalho. Mas nessas duas rotas Nemo vai para Marte com as cinzas de Elise.
Sobre o final finalíssimo (últimos 10 min de filme), que como disse me incomodou:
Ainda me incomoda um pouco, mas tendo em mente o tom fantasioso do final, gosto de acreditar que todo o mundo futurista é um sonho, uma dimensão onírica vivenciada por Nemo, na medida em que ele toma a rota 'absurda' de não viver com o pai nem o mãe. Nessa rota que encontra-se o Nemo surtado, sob camisa de força, Nemo falando com quem seria sua mãe e não sendo reconhecido, Nemo falando com seu eu centenário na TV, e outras coisas absurdas (que parecem inclusive de alguma forma envolver todas rotas 'naturais', o que é esperado, já que a rota 'absurda' ocorre depois de Nemo vivenciar todas as rotas 'naturais').. E por fim o mundo futurista, onde Nemo não sabe quem é, tem inúmeras memórias e é um homem que "não existe". Todo o mundo futurista seria assim uma imaginação de Nemo, ou no máximo uma rota 'bugada', onde ele tem domínio das coisas que ocorrem, como em um sonho lúcido.
Esse anime é relativamente pouco conhecido, tem o jeitão de ser um slice of life fofinho e descompromissado, mas tem alguns aspectos que ele se aproxima muito do filme e levanta questões interessantes. Especialmente no final: quase todo mundo que assiste o anime fica com a impressão que se trata de um final extremamente feliz e mágico, onde Ayu mesmo em coma vive uma experiência extra-corpórea e faz milagres. Porém, um dos personagens levanta explicitamente uma hipótese um tanto quanto perturbadora: que aquele mundo se trata do sonho de Ayu, e sua capacidade de fazer milagres se dá pelo fato natural dos sonhadores terem certo domínio sobre seus sonhos. Conforme ela se dá conta do seu sonho, ela se desestabiliza, como é natural ao percebermos que estamos sonhando, havendo a tendência inclusive de tentar acordar. O anime mostra ela acordando do coma, e os personagens que vivenciaram os milagres lidam com ela - é natural acreditar num primeiro momento que então tudo foi mesmo um milagre extra-corpóreo. Ora, mas ela acordando do coma, porém, pode ser interpretado como um sonho dentro de um sonho, fenômeno bem natural também - você sofre uma perturbação (no caso dela, a lembrança do acidente e seu estado comatoso) mas adiciona essa perturbação em um novo sonho (no caso, no novo sonho ela acorda do coma). Então ela pode ainda estar em coma e tudo ser um sonho, é uma versão bem mais realista da história. Tanto no anime quanto no Mr. Nobody os personagens lidam com a possibilidade de serem um sonho de outra pessoa com naturalidade que parece exagerada. Em Mr. Nobody: "You don't exist. Neither do I. We only live in the imagination of a 9 year old child. We are imagined by 9 year old child, faced with an impossible choice". Essa naturalidade seria facilmente aceita e entendida por Schopenhauer, onde o mundo onírico tem mesmo estado ontológio que o mundo conhecido quando desperto. No trecho abaixo dele disserta sobre o caráter onírico da vida, o que vai de encontro ao filme, onde as várias vidas, incluindo a rota mais absurda, são como sonhos diferentes de um mesmo sonhador: