Melian
Período composto por insubordinação.
Quero ser Maria Semple. Não por ela ter nascido em 1964, ano que me dá arrepios. Quero ser Maria Semple. Não por ela morar em Seattle, onde chove o tempo inteiro. Quero ser Maria Semple, não apenas pelas coisas fantásticas que ela fez, como roteirista, em Mad About You, Ellen e Arrested Development, mas também, e principalmente, pelo que ela fez em "Cadê você, Bernadette?" e em "Hoje vai ser diferente". Acredito que, na literatura contemporânea, seja difícil encontrar escritores que consigam tecer, com os fios do humor, a história de personagens com vidas devastadas. Fui apresentada ao estilo de escrita de Maria Semple em "Cadê você, Bernadette?". Nesse livro, a escritora californiana, cujo estilo foi lapidado por uma vasta experiência como roteirista, nos brinda com algo bastante interessante: a narrativa em perspectiva. Somos apresentados às diversas versões das histórias vividas pelos personagens conforme há a alternância da voz narrativa. Até mesmo a versão de uma história, se contada duas vezes por uma mesma pessoa, sofre modificações drásticas na segunda vez em que é contada. Em "Hoje vai ser diferente", acredito que Maria Semple tenha aperfeiçoado a técnica que começou a desenvolver em "Cadê você, Bernadette?" (ela tem outro livro, que não foi publicado no Brasil; por isso, só estou citando os que li) a criação de um romance a partir do formato de um roteiro de Sitcom. Quero ser Maria Semple porque a escrita dela ressalta uma das coisas que eu mais amo no gênero romance: seu caráter híbrido e antropofágico.