Chegou uma época, perto do amanhecer, na véspera do início da primavera, em que Lúthien estava dançando numa colina verde. De repente, ela começou a cantar. Era um canto agudo, penetrante, como o canto da cotovia, que se ergue dos portões da noite e solta a voz entre as estrelas agonizantes, vendo o Sol por trás das muralhas do mundo. E a canção de Lúthien soltou as algemas do inverno; e as águas congeladas falaram; e flores brotavam da terra fria em que seus pés haviam passado.
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A Balada de Leithian conta como Lúthien escapou da casa em Hírilorn. Ela acionou suas artes de encantamento e fez com que seus cabelos crescessem até um comprimento enorme. Com eles, teceu um manto escuro que envolvia sua beleza como uma sombra; e esse manto também estava carregado com o encanto do sono. Dos fios que sobraram, ela fez uma corda que deixou suspensa da janela. Quando a ponta começou a balançar diante dos guardas que vigiavam ao pé da árvore, eles caíram em sono profundo. Lúthien então desceu de sua prisão e, envolta no manto de sombras, escapou de todos os olhares, desaparecendo de Doriath.
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Nessa hora, chegou Lúthien e, parada sobre a ponte que levava para a ilha de Sauron, entoou uma canção que nenhuma muralha de pedra poderia encobrir. Beren ouviu, e acreditou estar sonhando, pois as estrelas brilhavam no céu e nas árvores os rouxinóis cantavam. E em resposta ele cantou um hino de desafio que havia composto em louvor às Sete Estrelas, a Foice dos Valar, que Varda pendurou nos céus acima do norte, como um símbolo da queda de Morgoth. Então, todas as forças o deixaram e ele caju na escuridão. Lúthien, porém, ouviu sua voz em resposta e entoou uma canção de poder ainda maior. Os lobos uivaram, e a ilha tremeu. Lúthien postou-se então na ponte e declarou seu poder. E foi quebrado o encantamento que prendia uma pedra à outra, os portões foram derrubados, as paredes se abriram e as masmorras foram expostas.
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Diz-se que Huan perseguiu os filhos de Fëanor, que fugiram temerosos. E, ao voltar, ele trouxe para Lúthien uma erva da floresta. Com essa folha, ela estancou o ferimento de Beren, e com sua magia e seu amor o curou.
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Ora, Carcharoth divisou-os de longe e se encheu de dúvidas. Pois, havia muito tempo, notícias chegaram a Angband de que Draugluin estava morto. Logo, quando eles se aproximaram, foilhes negada entrada. Carcharoth mandou que parassem e se aproximou, ameaçador, farejando algo de estranho no ar em torno deles. De repente, porém, algum poder, vindo de outrora, herança de alguma raça divina, se apossou de Lúthien. E, afastando seu disfarce imundo, ela se apresentou, pequena diante da força de Carcharoth, mas radiante e terrível. Erguendo a mão, ela lhe ordenou que dormisse. - Ó espírito criado pelo mal, cai agora em total esquecimento e ignora por algum tempo o apavorante fardo da vida – E Carcharoth tombou, como se atingido por um raio.
Ali, Beren, na forma de lobo, esgueirou-se para baixo do trono; mas Lúthien foi despida do disfarce pela vontade de Morgoth, que voltou seu olhar para ela. Ela não se intimidou com os olhos de Morgoth. Disse seu nome e se ofereceu para cantar diante dele, como se fosse um menestrel. Morgoth, então, contemplando sua beleza, concebeu em pensamento um desejo maligno e um plano mais sinistro do que qualquer outro que lá passara par seu coração desde sua fuga de Valinor. Com isso, foi traído por sua própria maldade, pois ficou a observá-la, deixando-a livre por um instante e se deleitando com sua idéia. De repente, então, ela escapou de sua visão e, das sombras, começou uma canção de beleza tão insuperável e de tamanho poder de encantamento, que ele foi forçado a escutar. E uma cegueira se abateu sobre ele, enquanto seus olhos passavam de um lado para o outro, à procura de Lúthien.
Toda a cone foi lançada no mesmo sono, e todas as fogueiras ficaram mais fracas e se apagaram; mas as Silmarils que estavam na coroa na cabeça de Morgoth refulgiram de repente com o brilho de uma chama branca. E o fardo daquela coroa e das pedras preciosas fez pender sua cabeça, como se o mundo estivesse nela engastado, sobrecarregada com o peso da preocupação, do medo e do desejo, que nem mesmo a vontade de Morgoth poderia sustentar.
Lúthien, então, apanhando seu manto alado, saltou para o ar, e sua voz caía em gotas como a chuva em lagoas profundas e escuras. Ela passou o manto pelos olhos de Morgoth e o fez ter um sonho, escuro como o Vazio de Fora, onde no passado ele vagara sozinho. De súbito, ele caiu como uma colina deslizando em avalanche e desmoronou como o trovão de cima do trono, jazendo de bruços no piso do inferno. A coroa de ferro rolou de sua cabeça, ruidosa. Tudo o mais estava imóvel.