[V][Considerações Sobre O Cotidiano]
Nada muito relevante...
Inimigos na cozinha
Uma coisa que eu não entendo são essas pessoas que dizem que não gostam de comer isso ou aquilo e nunca nem ao menos experimentaram. Se você não experimentou, como pode não gostar? É o maior dos paradoxos. E cada um deles tem um arqui-inimigo. Um déspota mortal, que nunca atravessa a fronteira de seu carrinho de supermercado: “Odeio palmito. Nunca comi.” Qualé? Como você pode ter tanta certeza? Você nem deu uma chance ao pobre coitado. Garanto que se você o conhecesse melhor ia acabar achando-o, no mínimo, simpático.
Se você conhece pessoas assim, nem tente forçá-los a experimentar o que quer que seja que eles não gostem, eles podem se tornar agressivos. Ou então dizer que não vão com a cara.
A segunda opção, acredite, é pior. Eles nem se dão ao trabalho de inventar uma boa desculpa, como um trauma de infância ou algo parecido. É só “Eu não vou com a cara”, como se o palmito fosse aquele indivíduo mal-encarado que fica te olhando no metrô.
A primeira coisa a se considerar na falta de lógica dessa filosofia esdrúxula, é que o palmito não tem cara. A segunda é que, por mais que você tente persuadi-los de todas as formas possíveis, você nunca vai arrancar deles uma história como: “O meu pai bebia muito e me espancava com um peixe fresco, é por isso que eu odeio peixe.” Se você ouvir algo parecido algum dia, não acredite. É mentira. Te contaram isso só pra você parar de encher o saco. A verdade é que eles não vão com a cara e pronto.
Um dia eu ainda vou ficar insistindo só pra ver até onde vai a resistência dessa gente contra seu antagonista gastronômico: “Vamos, experimente isso, você vai gostar.” “Não, eu já disse que não vou com a cara.” “Ah, o que que custa? Afinal, o que você tem a perder?” “Pára, você já está começando a me irritar.” “Vamos lá, o que não mata, engorda.” “Olha aqui, quando é que você vai entender? Eu e o palmito... a gente não combina. Talvez em outras circunstâncias, com temperos diferentes...”
Acredita nisso? Eles tratam comida como pessoas. Não vai com a cara? Vocês não combinam? Pelo amor de Deus. O palmito não é uma pessoa. Se ele não estiver estragado, não vai fazer mal nenhum a você.
Mas a falta de lógica não os impede de insistir. Essas pessoas costumam possuir uma teimosia sobre-humana. Eles estão dispostos a morrer sem nunca ter experimentado sua nêmesis culinária. Depois, você come um palmito estragado e eles se sentem vitoriosos “Tá vendo? Nunca confiei nesse sujeito”.
Trailers
Trailers são enganação. Só servem pra te enganar. É por isso que você acaba não gostando de certos filmes que você tinha certeza que ia adorar. Você viu o trailer.
Já percebeu que na maioria das vezes, um trailer muito bem feito acaba saindo bem melhor que o próprio filme? Não foi sem querer. Eles sabem que o filme não é lá essas coisas e te ludibriam na maior cara de pau. Fazem um trailer que te deixa com água na boca e você cai feito um patinho.
Deveriam criar uma nova categoria no Oscar: melhor trailer. Ganharia o melhor trailer de um filme meia-boca, ou seja, o que mais conseguiu convencer os trouxas a ir ao cinema ver aquela porcaria.
Só quero saber quem foi o infeliz que teve essa idéia primeiro. “Bom gente, não vamos nos enganar, todo mundo trabalhou duro, mas não deu. O filme vai ser um fracasso, não nos resta nada a fazer. A não ser que... ei! E se a gente fizesse aquele trailer?”
Você sabe como é. Já passou por isso. Aquele monte de cenas de ação, aquela música emocionante, aquele clima de tensão e, de repente, bum! Acabou. Tudo perfeito. Repare, no entanto, que você não viu nenhuma cena com mais de dois segundos. Mas você não se importa. Nessa hora, você foi fisgado.
Não se engane. O que você viu foram fragmentos de cenas estrategicamente arranjados para atiçar sua curiosidade e fazer você criar uma expectativa que eles sabem que o filme não vai cumprir. E você cria essa expectativa. Na verdade você não vê a hora de ver aquele filme. Você até vai ao cinema ver filmes que nem te interessavam, só pra ver o trailer de novo.
Então, num belo dia você finalmente vê o filme. E quando o filme acaba, você vira de boca aberta para a pessoa do lado. Inconformado. “O que aconteceu? Já acabou? Não é possível.” Você fica um momento atordoado, sem entender nada, achando que não prestou atenção em alguma parte ou algo parecido, mas você só está se enganando. É o primeiro sintoma da síndrome pós-decepção cinematográfica: a negação. Mas logo depois vem a raiva. Você fica indignado, se sentindo traído, porque achava que o filme ia ser o máximo mas, na verdade, foi uma droga. Sabe o que aconteceu? Você viu o trailer. Você esperava vinho, ganhou água. Você foi enganado. Foi isso que aconteceu.
E não dá pra considerar o trailer como um aspecto do filme, como quando você diz “Ah, a história é fraca, mas a ação compensa.” O trailer não compensa nada. O filme é uma porcaria e pronto. Nenhum filme é lembrado por ter um grande trailer. Na verdade, o trailer só serve pra duas coisas: pra você ficar esperando o filme (que você veio ver) começar; e pra você ficar esperando o filme (do trailer) entrar em cartaz. A utilidade do trailer se resume nisso: esperar.
E você sempre espera mais. O comentário padrão dos ludibriados é: “Eu esperava mais.” “E aí, como foi o filme?” “Fraco. Eu esperava muito mais.” É claro. Você viu o trailer. O que você queria? Aliás, quando é que você vai aprender? Você sabe como essa gente de cinema é. Você não achou que o filme ia ser tudo aquilo, achou? Achou? Seu otário.
É por isso que, se eu fosse produtor de cinema, só ia fazer trailers ruins. Assim todo mundo ia gostar dos meus filmes. “E aí, como foi o filme?” “Excelente. Eu esperava muito menos.”
Mais uma....
Boxe de torcidas
Só posso considerar ingênuas as pessoas que dizem que o boxe é violência gratuita.
Não tem nada de gratuito sobre o boxe, é um esporte que movimenta milhões no mundo todo, muitos dos praticantes são milionários e só não são mais milionários do que seus empresários. Estes fedem tanto a milhões que se passarem por um galinheiro, correm o risco de serem atacados.
Na verdade eu tenho que considerar ingênuas também as pessoas que dizem que o boxe é violência. Convenhamos: dois brutamontes que mais se agarram do que se socam e que, quando socam, tem que ser acima da cintura, rodando em um ringue e parando, a cada dois minutos, para um refresco... Cadê a violência? Se uma pessoa acha isso tão violento a ponto de chocar-se, ela deve ficar longe de crianças quando estão brincando. Pode traumatizá-la.
Os torcedores de futebol, esses sim. No esporte deles não tem golpe baixo, o ringue é umas quinhentas vezes maior, não tem intervalo e pode até lutar armado! Além disso, não se trata de uma luta mano a mano. Na verdade, são uns cem manos de um lado e cem do outro. Outra diferença é o juiz. O juiz de boxe é um baixinho de gravata borboleta, que provavelmente sairia correndo se encontrasse na rua o cara que perdeu a luta por nocaute técnico. Mas o juiz das torcidas é diferente. Pra começar, ele também não é um só. São vários, todos de cinza. E eles têm direito a capacetes, cassetetes e revólveres. E eles também têm o direito de descer a lenha e de prender. Por isso, o torcedor usa um recurso que seria ridículo se empregado no boxe: a fuga.
A fuga permite que o torcedor não seja preso nem morto e que fique livre para praticar seu esporte mais vezes. Ah, mais uma coisa. O torcedor não é recompensado pela sua atividade. Pelo contrário: você tem que pagar pra praticar esse esporte. Ao contrário dos pugilistas, que chegam a ganhar milhões, a única coisa que o torcedor ganha são escoriações, fraturas múltiplas, hematomas, hemorragias...
Isso sim é que é violência gratuita.
Vovô faz cem anos
Porque fazer tanta festa no aniversário de centenários? Afinal, o que tem de tão especial em fazer cem anos? Tudo o que aquele cara fez foi não morrer durante 1200 meses. Isso pode lhe parecer grande coisa, mas eu lhe garanto: não faz a mínima diferença se você tem cem anos.
O interessante é que na festa tem sempre uns cinco filhos, doze netos, trinta e seis bisnetos... duvido que o aniversariante saiba o nome de metade dessa gente. E o que falar quando se vai cumprimentá-lo? “Parabéns, cem anos. Vamos comemorar porque, você sabe, não foram muitos os que chegaram aí e muito menos os que passaram... então vamos comemorar esse. Sabe-se lá se vai ter outro...” No aniversário de um centenário, lembre-se que em boca fechada não entra mosca.
As festas de centenários eram complicadas antigamente, porque tinham que colocar cem velinhas no bolo. É por isso que poucos passavam desta idade, lá pela décima eles tinham um ataque do coração. Mas depois inventaram aquelas velinhas com números, o que reduziu o número de velinhas no bolo para três. Mas eu acho que, se você tem cem anos, apagar três velinhas é como apagar trezentas.
E que desejo ele deve fazer? “Por favor, que este seja o último”? Provavelmente não, ele já deve fazer esse desejo a uns vinte aniversários. E nunca deu certo.
Deve ser frustrante. Toda aquela gente bêbada, cantando desafinado, aquele bando de crianças correndo pra lá e pra cá e tudo o que o coitado quer é ficar em paz. Mas a gente fica tão fascinado que até esquece que aquele cara lá é só isso: um cara lá. Ele pode não ter feito nada de especial durante a vida toda. Pode ter sido o maior filho da puta, mas palmas para ele. Ele desafiou as estatísticas e alcançou uma idade com três dígitos.
Acho que o ser humano dá muita importância aos números.
Nada muito relevante...
Inimigos na cozinha
Uma coisa que eu não entendo são essas pessoas que dizem que não gostam de comer isso ou aquilo e nunca nem ao menos experimentaram. Se você não experimentou, como pode não gostar? É o maior dos paradoxos. E cada um deles tem um arqui-inimigo. Um déspota mortal, que nunca atravessa a fronteira de seu carrinho de supermercado: “Odeio palmito. Nunca comi.” Qualé? Como você pode ter tanta certeza? Você nem deu uma chance ao pobre coitado. Garanto que se você o conhecesse melhor ia acabar achando-o, no mínimo, simpático.
Se você conhece pessoas assim, nem tente forçá-los a experimentar o que quer que seja que eles não gostem, eles podem se tornar agressivos. Ou então dizer que não vão com a cara.
A segunda opção, acredite, é pior. Eles nem se dão ao trabalho de inventar uma boa desculpa, como um trauma de infância ou algo parecido. É só “Eu não vou com a cara”, como se o palmito fosse aquele indivíduo mal-encarado que fica te olhando no metrô.
A primeira coisa a se considerar na falta de lógica dessa filosofia esdrúxula, é que o palmito não tem cara. A segunda é que, por mais que você tente persuadi-los de todas as formas possíveis, você nunca vai arrancar deles uma história como: “O meu pai bebia muito e me espancava com um peixe fresco, é por isso que eu odeio peixe.” Se você ouvir algo parecido algum dia, não acredite. É mentira. Te contaram isso só pra você parar de encher o saco. A verdade é que eles não vão com a cara e pronto.
Um dia eu ainda vou ficar insistindo só pra ver até onde vai a resistência dessa gente contra seu antagonista gastronômico: “Vamos, experimente isso, você vai gostar.” “Não, eu já disse que não vou com a cara.” “Ah, o que que custa? Afinal, o que você tem a perder?” “Pára, você já está começando a me irritar.” “Vamos lá, o que não mata, engorda.” “Olha aqui, quando é que você vai entender? Eu e o palmito... a gente não combina. Talvez em outras circunstâncias, com temperos diferentes...”
Acredita nisso? Eles tratam comida como pessoas. Não vai com a cara? Vocês não combinam? Pelo amor de Deus. O palmito não é uma pessoa. Se ele não estiver estragado, não vai fazer mal nenhum a você.
Mas a falta de lógica não os impede de insistir. Essas pessoas costumam possuir uma teimosia sobre-humana. Eles estão dispostos a morrer sem nunca ter experimentado sua nêmesis culinária. Depois, você come um palmito estragado e eles se sentem vitoriosos “Tá vendo? Nunca confiei nesse sujeito”.
Trailers
Trailers são enganação. Só servem pra te enganar. É por isso que você acaba não gostando de certos filmes que você tinha certeza que ia adorar. Você viu o trailer.
Já percebeu que na maioria das vezes, um trailer muito bem feito acaba saindo bem melhor que o próprio filme? Não foi sem querer. Eles sabem que o filme não é lá essas coisas e te ludibriam na maior cara de pau. Fazem um trailer que te deixa com água na boca e você cai feito um patinho.
Deveriam criar uma nova categoria no Oscar: melhor trailer. Ganharia o melhor trailer de um filme meia-boca, ou seja, o que mais conseguiu convencer os trouxas a ir ao cinema ver aquela porcaria.
Só quero saber quem foi o infeliz que teve essa idéia primeiro. “Bom gente, não vamos nos enganar, todo mundo trabalhou duro, mas não deu. O filme vai ser um fracasso, não nos resta nada a fazer. A não ser que... ei! E se a gente fizesse aquele trailer?”
Você sabe como é. Já passou por isso. Aquele monte de cenas de ação, aquela música emocionante, aquele clima de tensão e, de repente, bum! Acabou. Tudo perfeito. Repare, no entanto, que você não viu nenhuma cena com mais de dois segundos. Mas você não se importa. Nessa hora, você foi fisgado.
Não se engane. O que você viu foram fragmentos de cenas estrategicamente arranjados para atiçar sua curiosidade e fazer você criar uma expectativa que eles sabem que o filme não vai cumprir. E você cria essa expectativa. Na verdade você não vê a hora de ver aquele filme. Você até vai ao cinema ver filmes que nem te interessavam, só pra ver o trailer de novo.
Então, num belo dia você finalmente vê o filme. E quando o filme acaba, você vira de boca aberta para a pessoa do lado. Inconformado. “O que aconteceu? Já acabou? Não é possível.” Você fica um momento atordoado, sem entender nada, achando que não prestou atenção em alguma parte ou algo parecido, mas você só está se enganando. É o primeiro sintoma da síndrome pós-decepção cinematográfica: a negação. Mas logo depois vem a raiva. Você fica indignado, se sentindo traído, porque achava que o filme ia ser o máximo mas, na verdade, foi uma droga. Sabe o que aconteceu? Você viu o trailer. Você esperava vinho, ganhou água. Você foi enganado. Foi isso que aconteceu.
E não dá pra considerar o trailer como um aspecto do filme, como quando você diz “Ah, a história é fraca, mas a ação compensa.” O trailer não compensa nada. O filme é uma porcaria e pronto. Nenhum filme é lembrado por ter um grande trailer. Na verdade, o trailer só serve pra duas coisas: pra você ficar esperando o filme (que você veio ver) começar; e pra você ficar esperando o filme (do trailer) entrar em cartaz. A utilidade do trailer se resume nisso: esperar.
E você sempre espera mais. O comentário padrão dos ludibriados é: “Eu esperava mais.” “E aí, como foi o filme?” “Fraco. Eu esperava muito mais.” É claro. Você viu o trailer. O que você queria? Aliás, quando é que você vai aprender? Você sabe como essa gente de cinema é. Você não achou que o filme ia ser tudo aquilo, achou? Achou? Seu otário.
É por isso que, se eu fosse produtor de cinema, só ia fazer trailers ruins. Assim todo mundo ia gostar dos meus filmes. “E aí, como foi o filme?” “Excelente. Eu esperava muito menos.”
Mais uma....
Boxe de torcidas
Só posso considerar ingênuas as pessoas que dizem que o boxe é violência gratuita.
Não tem nada de gratuito sobre o boxe, é um esporte que movimenta milhões no mundo todo, muitos dos praticantes são milionários e só não são mais milionários do que seus empresários. Estes fedem tanto a milhões que se passarem por um galinheiro, correm o risco de serem atacados.
Na verdade eu tenho que considerar ingênuas também as pessoas que dizem que o boxe é violência. Convenhamos: dois brutamontes que mais se agarram do que se socam e que, quando socam, tem que ser acima da cintura, rodando em um ringue e parando, a cada dois minutos, para um refresco... Cadê a violência? Se uma pessoa acha isso tão violento a ponto de chocar-se, ela deve ficar longe de crianças quando estão brincando. Pode traumatizá-la.
Os torcedores de futebol, esses sim. No esporte deles não tem golpe baixo, o ringue é umas quinhentas vezes maior, não tem intervalo e pode até lutar armado! Além disso, não se trata de uma luta mano a mano. Na verdade, são uns cem manos de um lado e cem do outro. Outra diferença é o juiz. O juiz de boxe é um baixinho de gravata borboleta, que provavelmente sairia correndo se encontrasse na rua o cara que perdeu a luta por nocaute técnico. Mas o juiz das torcidas é diferente. Pra começar, ele também não é um só. São vários, todos de cinza. E eles têm direito a capacetes, cassetetes e revólveres. E eles também têm o direito de descer a lenha e de prender. Por isso, o torcedor usa um recurso que seria ridículo se empregado no boxe: a fuga.
A fuga permite que o torcedor não seja preso nem morto e que fique livre para praticar seu esporte mais vezes. Ah, mais uma coisa. O torcedor não é recompensado pela sua atividade. Pelo contrário: você tem que pagar pra praticar esse esporte. Ao contrário dos pugilistas, que chegam a ganhar milhões, a única coisa que o torcedor ganha são escoriações, fraturas múltiplas, hematomas, hemorragias...
Isso sim é que é violência gratuita.
Vovô faz cem anos
Porque fazer tanta festa no aniversário de centenários? Afinal, o que tem de tão especial em fazer cem anos? Tudo o que aquele cara fez foi não morrer durante 1200 meses. Isso pode lhe parecer grande coisa, mas eu lhe garanto: não faz a mínima diferença se você tem cem anos.
O interessante é que na festa tem sempre uns cinco filhos, doze netos, trinta e seis bisnetos... duvido que o aniversariante saiba o nome de metade dessa gente. E o que falar quando se vai cumprimentá-lo? “Parabéns, cem anos. Vamos comemorar porque, você sabe, não foram muitos os que chegaram aí e muito menos os que passaram... então vamos comemorar esse. Sabe-se lá se vai ter outro...” No aniversário de um centenário, lembre-se que em boca fechada não entra mosca.
As festas de centenários eram complicadas antigamente, porque tinham que colocar cem velinhas no bolo. É por isso que poucos passavam desta idade, lá pela décima eles tinham um ataque do coração. Mas depois inventaram aquelas velinhas com números, o que reduziu o número de velinhas no bolo para três. Mas eu acho que, se você tem cem anos, apagar três velinhas é como apagar trezentas.
E que desejo ele deve fazer? “Por favor, que este seja o último”? Provavelmente não, ele já deve fazer esse desejo a uns vinte aniversários. E nunca deu certo.
Deve ser frustrante. Toda aquela gente bêbada, cantando desafinado, aquele bando de crianças correndo pra lá e pra cá e tudo o que o coitado quer é ficar em paz. Mas a gente fica tão fascinado que até esquece que aquele cara lá é só isso: um cara lá. Ele pode não ter feito nada de especial durante a vida toda. Pode ter sido o maior filho da puta, mas palmas para ele. Ele desafiou as estatísticas e alcançou uma idade com três dígitos.
Acho que o ser humano dá muita importância aos números.