• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

[L][Elring][Ilmedain]

Nha! Eu leio, vou lendo, lendo, e aí lembro que isso não é um livro e que você ainda está escrevendo.
Nha! Bem que podia ter mais umas 200 páginas disso!
 
Mais uma pausa na saga de Ormal, Valkiria e Brandal! Antes de prosseguir, farei um pequeno resumo dos acontecimentos que levaram os edain ao espaço. Espero que gostem!

Nesta linha de tempo, após a Guerra da Ira e da destruição de Beleriand, Sauron foi caçado por Oromë e Eonwë durante um longo tempo. Por milênios, o mais poderoso servo de Morgoth teve de escapar para as regiões mais distantes e esqucidas de Arda, lugares onde nem mesmo seu mestre e os Valar sequer haviam imaginado durante a concepção da Música Magnífica.

Este hiato de tempo permitiu o rápido crescimento das três raças: elfos, anões e homens. E foram os edain que mais rapidamente avançaram em tecnologia e se multiplicaram por toda a Terra-média.

Eriador era o centro cultural e comercial entre os povos antes que a ira de Eru se abatesse sobre os homens. Os elfos decidiram permanecer com suas vidas o mais simples possível e tendo como senhor Gil-Galad e sua fonte de riquezas em Ost-in-Edhil e Eregion. Os anões recosntruíram o que puderam de sua moradas nas Montanhas Azuis, em khazâd-dum e Erebor.

A Montanha Solitária tornou-se um grande ponto comercial entre humanos e naugrim. Os edain haviam descoberto outras maneiras de utilizar o minério da Montanhas de Cinza e das Colinas de Ferro em suas nau voadores e, depois de expulsarem os dragões da região, passaram a comprar todos os minerais de alta pureza a um preço exclente para os anões.

Com o fim dos humanos, os anões reinvidicaram pas si as antigas instalações edain, como Angrenost e Minas Anor. Lugar este muito reverenciado por eles e por terem descoberto um veio de mithril no Minolluin.

Círdan tornou-se Senhor dos Portos e impedia a navegação para a Ilha Proibida.
É isso!
 
Apesar do espanto que causou a todos, Brandal agradeceu do fundo do coração por terem deixado para o dia seguinte o interrogatório sobre o seu conhecimento secreto da língua dos edain; o confronto com os wargs deixou todos exaustos demais para exaurirem a pouca energia de que ainda dispunham. Ormal manteve-se vigilante, agachado e olhar fixo na direção de onde vieram os lobos. E com essa imagem, Brandal megulhou em um sono sem sonhos.

A hobbit acordou e levantou duas horas antes do nascer do sol. Ormal retirava da sela de Naharrín três sacas de viagem.

- Bom dia, mestre Ormal - sussurrou Brandal após colocar-se ao seu lado e com os olhos baixos. - Está zangado comigo?
- Mára aurë, Brandal. Zangado? Não. No entanto, foi uma noite cheia de surpresas. - sorriu o elfo, que entregou-lhe uma das sacas. - Desperte nossos viajantes, o caminho que tomaremos será definido pelas repostas que nos dará..., não tema! Ninguém lhe fará mal. Tem minha palavra.

O nervosismo que Brandal sentiu ao despertar com esta lembrança, diminiu com as palavras transmitidas por Ormal e, reunindo coragem, ela aproxima-se de Zimraphel e toca suavemente seu ombro:

- [Bom dia, Zimrrraphhhelll...]
- [Oh! Bom dia...hãããn...como se chama mesmo?] - responde a navegadora após lançar um sorriso encabulado para a hobbit.
- [Brranndalll!]
- [Bom-dia, Brandal.] - a jovem reconhece a voz suave e firme da capitã - [Poderia honrar-nos novamente com sua habilidade culinária para o desejum?]

Brandal leva um pouco de tempo para organizar as palavras de Valkiria, por causa do medo que sentiu ao vê-la desperta e dirigir-lhe um olhar inquisidor. - [Sim! Como quiser, líder Ilmedain!] - a hobbit olha para Ormal e como este assentiu positivamente, ela embrenha-se na mata para buscar ervas e um pouco de lenha.

- [Uuuaaahhh...espere! Não deve entrar sozinha na mata!] - exclama entre bocejos Valmir - [Vai com ela Zim!]

Zimraphel escancara a boca, pronta para desfilar uma série de insultos, mas para ao lembrar-se de que era de patente inferior à Valmir - Siiim...sssenhor! -sibila a navegadora.

Ormal aproxima-se de Valkiria e Valmir e coloca as duas sacas aos seus pés, o elfo volta seu olhar para o tenente e fala pausadamente sobre o conteúdo delas.

- Hum, capitã...digo...Valkiria. Ele me disse que há vestes locais nestes sacos e pediu para que nos trocássemos. Perece que vai nos levar para algum...esconderijo? - diz Valmir ao coçar a nuca. Ele já havia se habituado aos contatos mentais do elfo.
- Faremos isso após o retorno de Zim e da garota, Brandal. Precisamos saber como ela pode se comunicar em nosso idioma. Apesar de um tanto arcaico. - reponde Valkiria, ainda olhando com desconfiança para o elfo.
 
As duas retornam com alguns galhos secos e muitas ervas e legumes. Enquanto que a hobbit começa a descascar os legumes e colocá-los numa pequena caldeira, Valmir repassa rapidamente as instruções para Zimraphel, jogando a saca de forma rude.

- Todos já sabem o que isso significa. Provavelmente, há hostis espalhados por este quadrante - diz a capitã, retirando uma túnica, botas, luvas e capa de tonalidade cinza-escuro. Muito macias e bem trabalhadas. - Antes de nos trocarmos, passem suas loções de proteção dérmica. Elas regenerarão nossas células e as reforçarão contra as variações termais e climáticas.
- Sim, senhora! - responde Zimraphel, evitando um novo comentário sobre os efeitos colaterais.
- Detesto essa parte urticante do trabalho. - comenta Vilmar, sem ousar retirar os olhos de dentro da saca. Mas sentia o olhar fulminá-lo através do tecido.

Brandal estava provando o tempero do ensopado quando começou a tossir e ficar vermelhíssima. Ormal escovava de modo absorto seu cavalo. Ele vira-se intrigado para a hobbit que se afogava e reluzia como um rubi, sem entender dirige seu olhar para o trio que se despia. Valmir desfilava em pêlos, ou quase, com um curioso objeto pequeno e cilíndrico de onde saía uma pasta viscosa e transparente, com a qual ele besuntava seu corpo. Sentiu um ligeiro calor ao ver o corpo vigoroso de Valkiria, uma guerreira belíssima em todos os sentidos. E Zimraphel despia-se de forma diferente de seus companheiros: começara por baixo despindo botas, placas estranhas sobre as canelas, calças muito justas, peças íntimas e por último, o casaco pesado e de grossas camadas. Somente quando retirou seu espartilho de tecido mole e cavado, o elfo percebeu o seu cuidado: um par de seios avantajados que apontavam desafiante para o horizonte: - Elbereth... - balbuciou Ormal, que virou-se rapidamente para seu cavalo ao fitar o olhar furioso de Brandal.

Após longos e embaraçosos minutos, os três estavam sentados, em vestes élficas de viagem, e comendo animadamente o ensopado da hobbit. Alheios aos olhares constrangidos de seus anfitrões.

- [Bem... agora que estamos todos reconfortados...conte-nos como e onde aprendeu nossa língua, Brandal.] - diz Valkiria, sentada de pernas cruzadas e dedos das mãos entrelaçados.
- [Foi... em verão anterior a chegada de mestre Ooormal ao nosso vilarejo...] - começa a hobbit, olhando cuidadosamente para o elfo - [Meus irmãos e eu gostámos de...passear por lugares...prroibidos e antigos...morada de edain...nós entrar em... A-a-annúninas... ruínas...e achar...nós trrrês sala de...folhas co...contando...lendas...de Nnnúmmmenorrr... e povos de Errr...Erriador...e além...]
- [Continue, Brandal.] - diz a capitã, indiferente aos olhares de incredulidade de seus companheiros.
- [Eu...voltar muitas otras...sem irrmooss...depois...me prroibir de voltarrr lá...povo de Lindon...eu conseguirrr antes...levar...livros com seu...adûnaicôô e...estudar segredo...então...ninguém mais saber...] - A hobbit cala-se por alguns minutos e recomeça a contar rapidamente para Ormal, que absorvia toods os detalhes.
- [Creio que expresso a opinião de todos nós, Brandal.] - começa a capitã, pesarosamente - [Ficamos feliz por encontrar alguém neste lugar que ainda fala em nosso idioma. Porém, seus relatos nos atingiu em cheio como aquele meteorito, infelizmente... retornamos ao mundo do qual nossos ancestrais escaparam...]

Valmir e Zimraphel olham desolados para o ensopado. A descrição de Brandal sobre os locais mais sagrados e mantidos ao longo dos milênios por seu povo que vagava entre as estrelas, deixou-os completamente desanimados. Uma ironia cruel do destino do qual tentaram,em vão, fugir.
 
Valkiria relata com minúcia e pesar toda a jornada que seus antepassados empreenderam, além de Ilmen, por mais de dez mil anos. A oficial conta-lhes como era seu mundo antes da Grande Praga dizimar seu povo e sua convivência com outras raças que ela própria considerava pertencerem ao imaginário e registros míticos da ilha de Elenna. Apesar de descrever em detalhes a doença súbita que acometia os homens e mulheres em todas as regiões e os matava em poucos dias, Valkiria nada sabia sobre o que originou tamanha devastação de um único povo. Por diversas vezes ela procurou junto aos oficiais encarregados da guarda dos Registros Milenares uma explicação científica para a misteriosa doença - conhecida como Lágrimas Vermelhas - mas, nada pôde obter. Nem mesmo do Supremo Comandante da Vingilot, a nave mãe do tamanho de cem navios de guerra. O conteúdo que recontava as causas da desgraça foram ocultados do povo e somente o Comandante, o Guardião Milenar e o Chefe da Cura tinham acesso aos escritos.

Descreveu também sua intempéries como Exploradora de Mundos, uma missão tão arriscada que poucos a aceitavam por livre escolha. No entanto, aqueles que vergavam tal status, eram vistos e tratados como heróis; já que poucas vezes poderiam retornar à nau principal e, se porventura não encontrassem um mundo habitável - teriam que obrigatoriamente analisar sua estrutua geológica para encontrar minérios essenciais para a geração de energia e fabricação de metais para manutenção das defesas e naves. Claro, muitas coisas do que ela falou não foram sequer compreendidas por Brandal e Ormal. Somente o fato de estarem tentando imaginar como seria possível viver em uma nau que nunca cessava seu vôo, já causava-lhes enorme assombro. Também maravilharam-se com as descrições que os três faziam sobre a paisagem, o céu e as criaturas que habitavam estes mundos distantes.

E por saberem que haviam retornado ao mesmo mundo de onde seus antepassados partiram causou, além da tristeza, um certo receio de que, cedo ou tarde, eles poderiam ser acomentidos pela mesma doença. E se isso acontecesse, eles não teriam como enviar uma mensagem de alerta para a Vingilot e evitar que outra nave-exploradora viajasse em seu auxílio.

- Então. Se a Vingilot não receber nenhuma mensagem de vocês, outra tripulação virá para esta região? - pergunta mentalmente Ormal a Valmir, este repassa-a para Valkiria.
- [Sim. Sempre enviamos duas ou mais naves para tentar resgatar ou obter informações sobre os sobreviventes. E isso ocorre com muita freqüência. Cada planeta representa uma grande esperança para meu povo e enormes riscos para os Exploradores]. - responde
- [E porr que... não pooderr chamar por... eles?] - pergunta Brandal, cada vez menos receosa da líder edain - [Suasss... caixa de vozes na cabeça... não falar com aqueles no céu]?
- [Ah, não! Nossos transmissores não possuem um alcance tão longo!] - diz Valkiria aos risos - [Nosso equipamento de socorro não suportou o impacto da queda... e não creio que possamos reconstruir com potência suficiente para ultrapassar a atmosfera deste mundo].
- [Eu... não comprrreende o que falar...mas... talvez... em Ilha Proibida... exista algo...] - diz Brandal, que estava excitadíssima por uma aventura na ilha e temerosa da reação de Ormal.

O elfo estremece à menção do nome e lança um olhar sério para a hobbit. Apesar de não pertencer ao povo de Gil-Galad ou de Círdan, Ormal respeitava a imposição do Rei Supremo dos noldor sobre a Ilha Proibida.

- [Que excelente notícia, Brandal!!!] - exclama Zimraphel.
- [Parabéns, pequena!] - cumprimenta Valmir - [E ainda poderemos decobrir o que causou a Lágrimas Vermelhas!!!]
- [Pode nos levar até a ilha, Ormal?] - pergunta Valkiria, levantando-se e olhando-o com a determinação renovada.
 
O elfo permanece em silêncio. Uma sombra pairava sobre o seu coração sempre que voltava seus pensamentos para a ilha abandonada dos edain. A fúria dos Senhores do Oeste fora implacável para com os poderosos navegadores do Ar e da Terra. E o que provocou tamanho extermínio daquela raça, somente o Rei-Supremo dos noldor de Lindon, Círdan e Galadriel sabem e não revelam.

O pedido de Valkiria era quase impossível de se realizar, nenhuma embarcação tinha a permissão para chegar até Elenna e o próprio Ossë fora designado para desencorajar o mais intrépido marinheiro. E Ormal não sabia qual seria a reação de seus parentes ao tomarem conhecimento do retorno dos edain das estrelas. Poucos eram aqueles que demonstravam algum interesse sobre a cultura dos homens e seus engenhos fantásticos. O ódio e o desprezo pelos edain era muito forte em Lindon e na Grande Floresta Verde.

- [Vamos cruzar o vau do Gwathló. Depois decidiremos por qual caminho seguiremos.] - diz o elfo de modo lacônico para Valmir - [Uma patrulha virá de Ost-in-Edhil para inspecionar a área onde a nave de vocês caiu. Peço que caminhem o mais suave possível, ou eles tomarão vocês como orcs e nos caçarão sem descanço].

Valmir repete o que Ormal lhe contou. A oficial crispa os lábios. Ela não gostou nenhum pouco da última parte que falava sobre caçada sem trégua; e, se esses patrulheiros são da raça de Ormal, o trio estaria em sério perigo. Já que, suas armas revelaram-se inofensivas no ataque das criaturas lupinas.

- [O quanto mais suave você quer que andemos, senhor Ormal?] - pergunta Valkiria.

O elfo afasta-se alguns metros do grupo e começa a caminhar de forma furtiva.

- [Espere! Espere! Eu pensei que nos mandaria caminhar sem fazer ruído algum. Agora, sem deixar rastros no chão?! Que tecnologia de levitação é essa?!] - exclama Valmir, com os olhos esbugalhados e rente ao solo.
- [Ih! A pequena também não deixa pegadas!] - Zimraphel solidariza-se com seu colega em assombro.
- [Infelizmente não poderemos contar com o calibradores de pressão em nossos trajes para diminuir o impacto das botas contra o solo]. - ele suspira - [Não percamos mais tempo! Por onde iremos, Ormal]?
- [Há uma espécie de carroça movida à vela do outro lado do rio, oculto por aquelas árvores, ao norte. Encontrei-o ao acaso quando passeava com minha mãe pelo bosque. Era utilizado pelo seus antepassados para transportar madeira por um tipo de caminho de ferro]. - Ormal aponta para uma linha que brilhava em pontos intercalados sob a terra e adentrava a floresta fechada.
- [Eu posso guiá-lo!] - diz Brandal efusisamente - [Se tem velas, eu sou a melhor navegadora do Vilarejo!]
 
Última edição:
A caminhada levou a manhã inteira e sem sobressaltos. Zimraphel e Valmir seguiam maravilhados alguns passos atrás para analisarem o solo, plantas e a topografia em geral. Um aroma vigoroso exalava do bosque que, séculos depois, exibia-se majestosamente após seu quase extermínio por parte da derrubada incessante das árvores por três séculos e que, sem a intervenção de Celeborn e Galadriel, teriam desaparecido.

- [Aqui está a carroça]. - aponta Ormal para um pequeno e curioso navio com rodas de ferro e um longo mastro negro. Estava coberto por arbustos e musgo. A linha de metal que passava sob o navio seguia seu curso por entre as escuras árvores.
- [Sim. E se não me falha a memória. Isto é um veículo para transportar o material de embarcações fluviais por terra.] - diz Valkiria, vistoriando com atenção e admiração as reais condições do veículo. - [Incrível! Depois de tantos milênios de exposição climática, ele ainda está intacto! Zim! Veja se o trilho está obstruído!]

A navegadora aproxima-se, passa um rápido olhar por sobre o transporte arcaico e segue mata adentro.

- Olhe, mestre Ormal! Um navio que desliza sobre a terra!!! - diz Brandal em júbilo - Para onde será que ele vai?
- O caminho de ferro segue por algumas milhas ao lado do rio Cinzento e faz uma suave curva para o noroeste, passa pelas Terras Ermas, passa por entre as Colinas do Sul, onde havia uma olaria utilizada por ourives humanos e anões, por Andrath e para em uma cidadela comercial chamada Bri. Tudo o que era produzido em Lindon, Eregion e Lond Aldarion era vendido ou negociado naquele local e levado de Oeste para Leste, Sul e Fornost. Foi um período de intensa troca entre os povos. - Ormal suspira - Não, eu nasci alguns séculos após a partida dos edain e não vivi aquela época mágica. Meu povo agora evita tais locais, então, não seremos importunados durante a viagem. A não ser por algum bando de orcs ou lobos.

Brandal, não ouvira a última parte do relato do elfo e já encontrava-se sobre o veículo, ajudando Valkiria a hastear a vela.

- [Veja estas plantas, Ormal!!! E que aroma!!! O que são]? - exclama Valmir, correndo com algumas flores de cor dourada nas mãos.
- [Ah! Athelas! São plantas com grande poder de cura e vindas do Extremo Oeste como presentes de Yavanna para seu povo]. - Ormal aspira com regojizo o perfume intenso e revigorante das plantas. - [Guarde-as com você, mestre Valmir. Um dia ela nos salvará].
- [São medicinais? Que ótima notícia! Vou colher mais algumas! É uma lástima ter perdido todo meu equipamento de análise]! - O médico chefe retorna rapidamente para a margem do rio.
- O trilho segue sem obstáculos por oitocentos metros, Val! - grita Zimraphel após sair da mata - E continua até onde a vista alcança por uma planície. Sem vestígios de cidades ou vilas, segundo minha varredura topográfica e biológica.
- Excelnte trabalho, Zim! Descanse um pouco! Acho que teremos de empurrar o veículo até o limite da floresta. Sem barreiras e se o vento estiver ao nosso favor, não precisaremos andar por milhas! - comemora a capitã.
- [A vela estarrr sem...prrooblemas, capitã!] - diz Brandal - [Quando ir?]
- [ Não desejo permanecer aqui por mais tempo, mas não posso arriscar uma viagem noturna e sem o abrigo das árvores. Ainda falta retirar o musgo e arbustos dos eixos e não findará até o air da noite]. - a oficial retira o pesado capuz, deixandos os braços corados e vigorosos à mostra - [Creio que iremos jantar mais uma vez aqui. Você pode providenciar os legumes e a fogueira, Brandal]?
- [Clarrro...estar aqui prra issso...] - sibila a hobbit, sentindo-se desprezada como uma criança humana que não pode ajudar em tarefas de esforço físico. "Sim, ela é alta...e tem braços fortes...mas não sou fraca! E não sou cozinheira de ninguém! Ela se parece com meus irmãos idiotas!"

Bufando muito, Brandal adentra mais uma vez no bosque para repetir um ritual já cansativo e odioso para ela. Preparar o jantar.
 
O Sol erguia-se majestosamente em um céu sem nuvens. O vento soprava com intensidade quando Valkiria, Ormal, Zim e Valmir venceram os últimos metros de mata fechada. A estranha embarcação de ferro despontou para a vasta planície que surgiu de modo abrupto. A grama alta e verdejante estendia-se como um imenso mar esmeraldino revolto diante de uma admirada hobbit que soltara seus longos cabelos avermelhados e postara-se n proa da nau terrestre.

Sua alegria, no entanto, foi breve. O que parecia ser uma grande vela negra que encobria o veículo era uma proteção contra as intempéries do tempo. Assim que Valkiria terminou de retirar o pano, Brandal pousou seu olhar assombrado e desanimado para aquele fantástico engenho de cor prata, linhas curvas como a de um grande cisne e asas que pareciam feitas de cristais azuis, assentos brancos e um balcão negro como ônix a frente com desenhos e botões sem nexos algum.

- Ora, vejam! Se não estou enganada, este é um transporte de passageiros e materiais eólico muito antigo! - exclama Zilmraphel, saltando para dentro da cabine e acionando com um leve toque o painel de comando. Este, por sua vez, iluminou-se com um série de mostradores digitais que revelaram a navegadora o real estado do veículo. - Que ótimo! Val! O transporte está operacional! As células de captação solar estão carregadas!

Um zumbido irrompe do interior do transporte. Lentamente, finas placas de metal começam a subir do assoalho para a ponta do mastro; em poucos minutos, a embarcação ostenta uma grandiosa vela metálica.

- [Para onde este transporte irá nos levar, Ormal?] - pergunta Valkiria, já sem o receio de ter a mente acessada pelo elfo.
- [Para a olaria dos anões entre as Colinas do Sul. Os edain construiram esta...curiosa nau para levar os moldes cerâmicos de jóias dos ourives de Lindon para Bri e para Lond Aldarion. Dizem que a terra daquela região é a melhor para extrair a cerâmica para as forjas de Eregion e Khazâd-dum; é a que possui maior resistência ao calor. Atualmente ela está abandonada. Os naugrim estão concentrados em escavar o Mindolluin e meu povo empolgado com um estranho senhor élfico de nome Annatar que, dizem, possui conhecimentos fabulosos na forja de itens de poder.] - reponde Ormal, sem tirar os olhos da vela de metal que parecia uma grande tramado de pesca. - [Como esta vela funciona, mestre Zimraphel?]
- Subam todos e verão! - diz Zim - Quer ter a honra de guiar o transporte, Brandal?
- [E-eu? Como... poder conduzir sssem...mar...ou cordas?] - geme a hobbit, que sentou-se ao lado da navegadora.
- [Aqui. Sente-se no meu lugar, capitã Brandal! Está vendo esta tela com o desenho de um pequeno tramado em vermelho?] - a hobbit acena positivamente - [Toque o desenho com seu dedo e deslize-o devagar para baixo.]

Brandal obedece e, no mesmo instante em que desliza o indicador sobre o desenho, o tramado metálico da vela começa a fechar-se, como por encantamento. Assim que a vela sela-se, o veículo sofre um violento empuxo para frente e pára. Zimraphel mostra-lhe outra tela e pede para executar o mesmo movimento. Suavemente, o transporte inicia sua longa jornada sobre o mar verde da planície em direção a olaria dos anões nas Colinas do Sul.
 
Última edição:
- Então, o Gwaith-i-Mírdain de Eregion deram ouvidos ao estranho Annatar? Isto é uma lástima. - Suspira Gil-Galad, após ouvir o relato de um dos mensageiros das Emyn Beraid encarregados de levar uma mansagem de advertência e cautela a respeito daquele senhor élfico. O Rei franzia o cenho enquanto lançava um olhar vago para o baía de Lûn, avermelhada pelo Sol poente. - O que faremos, Mestre Elrond?
- A decisão cabe, agora, ao Povo dos Joalheiros, majestade. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Meu coração prevê que o destino de Eregion pende por um fio neste momento. Há algo de perverso por trás daquela bela aparência de Annatar. O que ele ofereceu ao povo de Celebrimbor desconheço, no entanto, temo o quanto esta generosidade possa custar-lhes num futuro não muito distante.

As palavras de Elrond pareciam escurecer ainda mais o final daquele dia paz aparente. Gil-Galad pressentia que o Mal agitava-se em algum lugar oculto da Terra-média. Apesar de os Senhores do Oeste terem empurrado Morgoth Baughlir para além da Muralhas da Noite, alguma outra força havia escapado da destruição de Beleriand. Desde a destruição dos sobreviventes de Doriath pelos filhos de Fëanor em Belfalas, Gil-Galad não tinha seus sentidos tão alertas. Ele senta-se em seu trono cravejado de safiras e diamantes e começa a meditar sobre a intransigência de Eregion. Será que a Profecia de Mandos ainda pairava sobre os remanescentes noldorim? Ainda havia a questão da Ilha Proibida. E se Annatar, ou alguém apoderar-se dos engenhos de destruição que repousam nas câmaras profundas e seladas sob Armenelos? Seu povo tornara-se pacífico e desprecavido após a partida dos Edain para as estrelas. Sim, em Elostirion, a maior das Torres Brancas, estava as chaves que desativavam os portões do arsenal de Armenelos. Talvez fosse o momento de encontrar um novo local para ocultá-las.

- Majestade Ereinion! Mestre Elrond! Ainda há outro assunto que ouvi de um de meus cavaleiros que vigiam as estradas de Eriador. - diz Hênhir, o Lugar-Tenente das Emyn Beraid - Alguns dias atrás, ele presenciou a queda de um enorme objeto do céu... e não era como uma daquelas pedras que incendeiam-se antes de tocar o solo. Esta era feita de metal e com adornos estranhos após abrir um enorme sulco, próximo de Ost-in-Edhil.

Gil-Galad e Elrond entreolham-se e, como num consenso, evitam tecer mais comentários sombrios sobre o que eles mais temiam acontecer. O retorno dos Edain.

- Hênhir! Conduza um pelotão de seus melhores soldados e os mais velozes cavalos e vá para o local onde caiu o tal objeto! - exclama Gil-Galad - Oremos a Elbereth para que ninguém de Ost-in-Edhil encontre o objeto e o leve para Annatar.
 
Última edição:
O dia começava devagar em SempreCalmo, o vilarejo de pescadores as margens do Vesperturvo. Alguns hobbits caminhavam despreocupados em direção aos estaleiros onde estavam suas pequenas embarcações. Na deserta rua central, um jovem hobbit de vestimentas elegantes e andar garboso caminhava a passos rápidos. Sua expressão era tensa; a todos os sonolentos e carrancudos pescadores, o jovem perguntava sobre a casa dos Tocafunda. E a resposta era a mesma, próxima das colinas Vista Bela. Ainda era crepúsculo quando o hobbit avistou luzes e ouviu vozes saindo da pequena, mas bem construida, toca dos Tocafunda:

- Mas, querida!!! Nós nunca fomos além das ruínas assombradas do castelo que os dúnedain chamavam de Fornost! E... éramos jovens!!! - exclamou Delgo Tocafunda, o marido de Aurora. O hobbit arfava com peso de sua sacola de viagem muito bem presa as costas por sua impaciente esposa.

- Cale-se!!! Já faz mais de um mês que nossa filha partiu com aquele elfo esquisito, sabe-se lá para onde! Oh, Delgo... o que fizemos para que Brandal se tornasse tão rebelde? - suspirou Aurora, sentando na cadeira de madeira da cozinha e apoiando a cabeça entre as mãos. No fundo, ela sabia que sua filha jamais se acostumaria a uma vida como a sua, casada com um marido bêbado e sem planos para o futuro. Aurora fora uma jovem impetuosa como Brandal, ansiosa por aventuras e histórias de reinos distantes e mágicos. E foi para o, então, aventureiro Delgo que seu coração voltou-se. Alegre, jovial e boa pinta, Delgo gostava de passear para além das fronteiras de seu vilarejo com sua intrépida turma. Também enfrentaram as hostilidades dos mais velhos e de seus pais. E a todas estes, respondiam com uma alegria primaveril; caminharam por lugares desconhecidos, viram paisagens inesquecíveis... e tudo isso, para quê? O tempo foi passando, os sonhos se desfazendo como a névoa da manhã, as obrigações da vida cotidiana cobraram seu tributo; os filhos, e a vida como pescadores a beira um lago com cada vez menos peixes... frustações e amarguras que vieram à tona em Aurora ao perceber que sua filha seguia a mesma senda que a levou para esta situação. Não, com sua filha seria diferente! Por dois anos, Aurora observou todos os pretendente a marido de Brandal. E apenas um encaixava no perfil ideal: o jovem Michel Montês. Filho de uma rica família de criadores de cabras nas Colinas de Evendim - a sudoeste do Vesperturvo - das quais, dizem, produzem o melhor leite para os famosos queijos Montês, Michel apaixonou-se à primeira vista por Brandal durante uma visita sua a feira de peixes em que ela trabalhava na época do Festival do Vesperturvo. A hobbit, no entanto, não gostava nenhum pouco do jeito afetado de falar daquele garoto de cabelos ondulados como os de uma donzela e sua pele alva; e apesar de achar atraente suas feições delicadas como as de um elfo, detestava sua fala enfadonha e suas história sobre a origem do queijo Montês e de suas ancendências exasperantemente chatas, como Brandal dizia. Pouco importava a opinião dela, Aurora descobriu um pretendente que, além de rico, jamais daria a sua filha uma vida inssossa à beira de um lago. - Vamos, Delgo!!! É hora de relembrar os seus tempos de aventureiro! Vamos buscar nossa filha!!!

Aurora encaminhava-se para a porta com seu antigo bastão de viagem e, ao abri-la, deu de cara com um hobbit curvado com a cabeça na altura da maçaneta.

- Se-senhora Aurora! - gaguejou Michel, vermelhíssimo como um pimentão - E-eu ouvi o que dizia e... se me permitir... partirei com vocês! Dinheiro para a viagem não será problema! Eu arcarei com os custos! A vida de Brandal vale mais do que cada centavo de minha família! - seus olhos brilharam com uma intensa determinação.

Aurora sorriu de alegria. Delgo, bufou e suspirou tentar ao imaginar se aquele fedelho afetado conseguiria dormir uma única noite ao relento e sem os mimos de sua aconchegante casarão em Bri. - E para qual direção iremos, querida?

- Para a doca dos barcos, ora! - retrucou - Esqueceu que ela pegou o nosso? No mínimo devem ter seguido por todo o Brandevim até aquela cidade... lá longe... como era mesmo o nome? Sei que era elfo o nome.

- Era... Oste-alguma-coisa... - disse Delgo, franzindo a testa com o esforço mental.

- Não importa! É para lá que iremos!

- Hãããã... senhora Tocafunda... se me permite... meu tio Urzal, que é dono do Pônei Saltitante em Bri, pode nos fornecer uma carroça com pôneis. E todas as estradas passam por lá. Certamente, alguém deve ter visto um...elfo acompanhado de uma bela senhorita.

Aurora lança um olhar de desgosto para o futuro genro, ela destestava as pessoas estranhas de Bri. Não havia alternativa - Está bem! Vamos para Bri! E rápido!
 
A milhas de distância da casa dos Tocafunda, próximo das margen do Rio Cinzento, um grupo de quatro vultos encapuzados caminhava silenciosamente em meio aos restos do acampamento de Ormal, Brandal e dos sobreviventes da cápsula de fuga. O mais alto dos vultos agacha-se como um animal de quatro patas e começa a inspirar de forma ruidosa o chão e o ar ao redor:

- Sssiiiimmm!!! Após dez mil anos, ainda reconheço o cheiro... EEEEEEENGWAAAAAAAR!!! - a floresta estremece com o som lúgubre e profundo de sua voz, cheia de ódio e rancor.

- Engwar... - repetem os outros num sussurro seco.

- Malditos!!! Enfermiços!!! Temerosos da noite!!! Númenorianos portadores de nossa desgraça!!! ELES VOLTARAM!!!

Com um urro, a capa de mais alto é lançada para trás. Um elfo de cabelos cinza opacos surge, seus olhos avermelhados brilhavam com a intensidade de seu desprezo pelos dúnedain. Seu nome era Alphrandir, antes de ser apanhado pelos homens da Ilha Proibida, há dez mil anos atrás, agora, é chamado de Gilmor. Ele e muitos dos elfos que moravam em Lindon foram surpreendidos, presos e levados para as masmorras de Armenelos. Lá sofreram a maior de todas dores possíveis impostas a uma criatura viva. Os Homens do Rei estavam a procura de uma fórmula que lhe desse a juventude eterna dos eldar. Por anos, eles ocultaram de Gil-Galad e Círdan suas experiências abomináveis relizadas em cerca de duzentos elfos e elfas. O resultados destes feitos nefastos desencadeou a doença que ficou conhecida como Lágrimas Vermelhas e que dizimou quase todos os homens da Terra-média.

Sob o subterfúgio de partirem em busca do Destino dos Homens, os poucos sobrevivente do povo de Elenna partiram em sua naus aéreas de modo abrupto, deixnado tudo o que tinha para trás, inclusive as suas horrendas experiências nos elfos cativos. Quando Gil-Galad e Círdan tomaram conhecimento de tais atrocidades, destruíram todas as masmorras, livros de pesquisa e libertaram os poucos elfos das câmaras de cristal.

No entanto, ao depararem com suas próprias aparências, muitos jogaram-se ao mar em desepero. Os que permaneceram, receberam a permissão do Rei para morarem onde quisessem. Isto foi recebido pelos elfos cativos como uma exclusão da sociedade e da convivência com seus irmãos. Seus aspectos causavam repulsa e poucos se dispunham a uma aproximação maior, por temerem sofrer a mesma doença dos cativo.

Com dor e revolta, partiram para as regiões inóspitas e desrtas de Eriador com um único objetivo: o de esperarem o retorno daqueles que o marcaram com crueldade e a partir daquele momento, ficaram conhecidos como Úmathrim, o Povo Infeliz. Todos os demais elfos os temem e não tocam neste assunto, por ser dolorosa a lembrança e a vergonha por não terem lhes estendido a mão.

- Vamos, meus irmãos! A hora de nossa vingança chegou!!!

- Para onde iremos, mestre Gilmor? - perguntou Rúthiel, a única elfa do grupo.

- Noooorte... seguindo o cheiro amaldiçoado dos homens!!! Estelia!!! Convoque os demais para a guerra!!!
 
Com os olhos fixos na miríade de estrelas que cingiam o escuro do espaço, um homem alto de rosto carrancudo e porte majestoso mantinha-se de pé diante da grande janela horizontal. Por duas horas não se moveu e nem disse uma palavra aos seus subordinados que trabalhavam frenéticamente no deck de comando. Mapas de regiões longínquas e estranhas eram retalhados por mãos habilidosas dos engenheiros de navegação, centenas de linhas brilhantes pulsavam no monitores de freqüência e traduzidas pela equipe de comunicação. Todos tinham e expressão tensa e aflita. A nave exploradora, comandada pela capitã valkiria, não enviou mais nenhum relatório de suas pesquisas nas últimas três semanas. Nenhum pedido de socorro foi interceptado e isso era um mal presságio para o Alto-Comandante-de-Esquadra que impacientava-se a frente da janela.

- General Ghimil!!! Onde está a Vingilot!!! - bradou o Alto-Comandante

- A-ainda não temos notícia, Comandante! - respondeu num gemido o general - Mas conseguimos traçar uma trajetória aproximada do quadrante onde a nave desapareceu...é a Antiga Rota de Fuga, senhor...

O Alto-Comandante gira nos calcanhares e caminha lentamente na direção do pálido general - Está me dizendo que a nave reencontrou o antigo mundo do qual nossos ancestrais escaparam??? - Ghimil acena positivamente - Não pode ser...

O Comandante afasta-se, em seu semblante todos os piores temores que havia imaginado para a queda da Vingilot em um planeta hostil concretizaram-se da pior forma possível. De todas as maneiras, o Comandante tentou impedir o alistamento voluntário de Zimraphel para o posto de navegadora da nave. Pressionou o Imperador para cancelar as viagens desnecessárias de grupos de exploração; era uma afronta a Casa Real e aos costumes de Ponente que permitissem o rebaixamento da herdeira direta do trono para uma reles função em um serviço de extremo perigo, como era o dos Exploradores. A verdade, porém, era impedir que a filha do Imperador fugisse de seu compromisso de casamento com um membro da família real, mais precisamente, com ele! Há muito tempo o Alto-Comandante está arquitetando um meio de tornar-se o novo Imperador do Menelië, o Povo Celeste. E por causa da antiga lei que impedia o casamento entre parentes em primeiro grau, o Comandante teve de utilizar de outros mecanismos para mudar esta lei. Desde a morte misteriosa de todos os familiares, até a campanha maciça contra o modo pacífico e zeloso com que conduzia as equipes de Exploradores na descoberta de um novo lar. Atualmente, possuía dois terços da frota ao seu comando, mas sem o aval do Conselho Palantír e a posse da nave real, nada poderia fazer contra o Imperador. E Zimraphel era a chave-mestra de seu plano de ascenção ao trono.

- General Ghimil!!! Trace curso para a Antiga Rota!!! Vamos resgatar Zimraphel!!!

- Sim, Ar-Pharazôn!!!
 
O vento frio da manhã soprava sobre as Colinas do Sul, o céu límpido e estrelado. No alto de um monte voltado para o norte estava Ormal agachado e pensativo. Sua mente procurava por alguma trilha ou rota que os levasse em segurança até Mithlond. Era impossível. As sentinelas e os cavaleiros de Lindon não relaxavam em sua função, mesmo em tempos de paz. A situação era grave, três representante da raça dos edain cairam em seu mundo depois de dez mil anos e, mesmo este longo hiato de tempo, não foi suficiente para curar as cicatrizes dos eventos que os levaram a quase extinção. E também havia Brandal. Apesar de esperta e segura, a jovem hobbit ainda não sabe o quão perigosa está sendo esta jornada. Daqui para frente, serão elfos que terão de enfrentar, na pior das hipóteses. E só de imaginar-se empunhando uma espada contra um parente de sangue fez Ormal arrepiar-se. O risco valia a pena? "Agora não há mais retorno, Ormal!" - repreendeu-se o elfo - "Até quando posso mantê-los oculto dos olhares de meu povo, não arrisco prever. Talvez, se apenas Valkiria e eu nos apresentarmos para o rei Gil-Galad como embaixadores, tenhamos uma remota chance de obter uma permissão especial até a Ilha Proibida".

A poucos metros abaixo, no acampamento improvisado entre a relva que crescia em torno dos antigos fornos de barro dos anões e protegida da friagem dentro de um colchonete térmico, Valkiria fitava absorta o vulto imóvel do elfo.

- Hum... parece que a antiga "Conquistadora" está de volta...- provoca Zimraphel, deitada as costas da capitã.

- Hã...o quê? Nada disso, Zim! Só estava... pensando em como vamos chegar até a ilha para encontrar algum transmissor...

- Ele é lindo, não? Nunca tinha visto um humanóide ser tão... perfeito! O rosto, a voz, os olhos, o cabelo... e sem falar em um senhor corpão...

- Ô Zim! Não estou compreendendo onde quer chegar com essa conversa! - sibila Valkiria, mantendo o tom de voz em um sussurro rouco para não despertar os demais - Não estamos neste mundo a passeio!

- Como se isso fosse algum problema pra você, capitã! - sorri a navegadora - Se não estou enganada, foi em um turno seu na ponte de comando da nave de meu pai que você e o sargento oficial quase destruiram o sistema de navegação do painel durante...

- Êêêêpa... isso foi lá e bem lá no passado e... eu era somente uma jovem e inconseqüente piloto recruta... - interrompa a ruborizada capitã - A situação era outra

- Mas os riscos são iguais...

- E quanto a você e Pharazôn?! - disparou Valkiria, que logo depois engoliu em seco e remoendo-se por ter sido tão baixa - Eu... me desculpe, Zim... saiu sem querer...

- Tudo bem - sua expressão tornara-se séria e altiva, a princesa Ar-Zimraphel estava desperta - Fiquei um tanto quanto efusiva com as lembranças. (suspiro) E quanto à Ar-Pharazôn, espero que ele tenha explodido em algum canto remoto do espaço.

- Não entendo, Zim... porque não permaneceu na Casa Real, ao lado de seu pai, Tar Palantír? Você é a herdeira de direito do Cetro. O povo a adora, assim como a maioria das naves-colônias! Porquê optou por tornar-se uma simples navegadora em uma nave de Exploração?

Zimraphel ergue os olhos marejados para Valkiria - De todas as pessoas que me cercavam, com a excessão de meu pai, você foi e é minha única amiga de verdade. E também a única que não teme Ar-Pharazôn. Se você não tivesse entrado daquele jeito impetuoso na cabine dele, para reinvidicar melhores naves, aquele ser asqueroso teria consumando seu ato...

- Não vamos mexer mais no passado, Zim. Continuemos a olhar com esperança para frente e encarar o que vier!

- Certo, capitã!

- ... até que aquele Ormal tem uma bundinha interessante... - Valkiria lança um olhar maroto para o elfo que havia descido a colina e escovava seu cavalo, Naharín.

- De fato... Conquistadora!
 
"Cai a tarde sobre os ombros da montanha... opa! Frase errada! Maldita hora que foi tocar essa música... volta para a história, seu bastardo filho dum cão!"


- Que dia lindo! Não é Brandal? - exclama Zimraphel, enxugando o suor do rosto após a manutenção do veículo, a navegadora sorria com a suave brisa do entardecer.

- [Dias lindos são maus agouros...] - diz entre os dentes a hobbit, que lançava um olhar intenso para Valkiria e Ormal. Os dois conversavam afastado do grupo e só retornaram meia hora depois.

E o que disseram azedou por completo o ânimo de Brandal. Por iniciativa de Ormal, o grupo será dividido assim que avistarem a sebe alta que cerca Bri. Zimraphel, Valmir e Brandal irão para a estalagem em busca de repouso seguro. Lá, os anões e hobbits não saberão a diferença entre humanos e elfos. Desde que não falem muito e Brandal ficará como a interlocutora do grupo para obter as informações necessárias. Ela protestou, mas no fim cedeu à contragosto. Valkiria acompanharia Ormal na arriscada tentativa de se apresentarem ao rei de Lindon para persuadí-lo para ajudar os edain caidos das estrelas. Teriam de ser muito convincentes em sua argumentação. Infelizmente, não havia outro plano para chegar até a Ilha Proibida.

O grupo chega ao limiar da Colina dos Túmulos e de lá avistam as primeiras luzes da estalagem de Urzal, o dono do Pônei Saltitante. Era o fim do segundo dia de viagem desde o último acampamento. Valmir e Zim encobrem o veículo com arbustos secos que cresciam ao pé da colina. Retiram todos os equipamentos e os ocultam nos sacos de viagem. Depois de muita súplica. Valkiria permite o uso dos trajes de combate por baixo das túnicas. A capitã cedeu ante a reposta incisiva do médico: "-Mas, capítã! O tecido dos trajes é feito com polímeros multiforme! Se adaptam a qualquer situação!" "-Você é desagradável, doutor Valmir!" - foi a resposta.

A capitã encobre a cabeça com o capuz de sua longa túnica e monta na garupa de Naharín. Zimraphel entrega-lhes o restante dos mantimentos e um pouco das cápsulas de recomposição de proteínas, para o caso de ficarem sem alimento antes de atingirem as Emyn Beraid. A cavalgada seria longa e cansativa através da Velha Estrada do Oeste.

- Boa sorte aos dois! Capitã...- Valmir presta-lhe uma grande continência.

- Doutor... - Valkiria repete o gesto.

- Naharín! Noro lín!

O magnífico meara parte veloz como o vento das estepes do Folde Ocidental de onde surgiu. Brandal acompanha com um olhar perdido o rápido afastamento de seu grande amor.
 
Naharín prossegue incansável através das planícies verdejantes que margeiam a Velha Estrada Oeste/Leste. Ormal mantinha-se em silêncio taciturno. Valkiria negara-se a manter a cabeça oculta sob o capuz cinzento. Não poderia explicar ao elfo o que era sentir o vento no rosto após anos de confinamento em naves pressurizadas e luz artificial. Por um longo trecho, a oficial manteve seus sentidos apurados para cada aroma silvestre; o ar começava a adquirir um cheiro estranho, úmido e intenso. Ela percebe o tórax de Ormal espandindo e contraindo lentamente. O elfo retira o capuz, um sorriso encantador surge em seu rosto.

- [Ah! Estamos próximo do Mar!] - diz Ormal.

Valkiria retira do bolso seu analisador e assombra-se com a informação correta do elfo. Os sensores mostravam uma imensa massa líquida após as cordilheiras que mal apareciam por detrás de uma série de colinas. No entanto, não fez nenhum tipo de comentário sobre a distância do oceano, ainda restavam duzentas milhas.

A capitã mal tinha guardado seu aparelho discóide quando sentiu as costas de Ormal pressionarem com violência o seu peito. Naharín relincha em protesto pela parada súbita.

- [Coloque seu capuz, Valkiria! De agora em diante, não diga nada até chegarmos em Lindon! Um grupo de cavaleiros vem em nossa direção.]

Valkiria tenta forçar a visão. Não viu nada além de colinas, morros e uma estrada sinuosa que seguia em frente. Com muito esforço viu a fina nuvem de poeira erguer-se timidamente a quinze quilômetros de distância, segundo seus cálculos.

Ormal dá um leve tapa no pescoço de seu cavalo e este prossegue em um suave trote. - Pelas vestes, são soldados das Emyn Beraid. Creio que já nos viram também. Só rogo à Elbereth que não a tenham visto sem o capuz. Não há registros de donzelas que tenham nascido com cabelos cor de fogo após a destruição dos noldor em Beleriand... nem mesmo em Eregion.

Os dois são vistos por Hênhir, dois batedores são enviados na frente para interceptá-los. O cavaleiro de Naharín já era conhecido por todos daquela região. O filho de Nárthan era muito respeitado pela guarda de Lindon por causa das exelentes espadas que fabricava... isso há alguns séculos atrás. O Lugar-tenente jamais admitiu a derrota para Ormal em um duelo de espadas. E desde aquele dia fatídico, ansiava por desafiá-lo novamente.

- Almarë! Hênhir, filho de Linhir! - saúda Ormal com a expressão fechada.

Hênhir acena com a cabeça num gesto de provocação. - O que faz o andarilho da Vila dos Pesqueiros tão longe de casa? Pensei que seus parentes habitavam Ost-in-Edhil?

- Tenho assuntos importantes a tratar com o Senhor de Lindon, Lugar-tenente das Emyn Beraid. E pela sua urgência, imagino que não tenha vindo para escoltar-nos até os palácios...

- Está correto! Um rei não enviaria valorosos soldados para escoltar o filho de um ferreiro. - os comapanheiros de Hênrir soltam risadas de deboche, o duelo de "gentilezas" estava ficando interessante. - Temos pressa. O que há com sua amiga? O silêncio seria um sinal de educação, se ela tivesse nos cumprimentado também.

Dois cavaleiros aproximam suas montarias por trás de Naharín. - Vamos! Identifique-se! Diga-nos quem é e porque se esconde como um ladrão orc ou edain!

Ormal segura rapidamente o pulso da irascível oficial que tocara em sua espada. - Ela não pode falar... teve a língua cortada por ladrões orcs...

O soldado engole em seco as palavras que soltara, enquanto os demais xingavam e amaldiçoavam o grupo que havia praticado tamanha selvageria à uma donzela.

- Peço que nos perdoe, senhorita. - Responde Hênhir, apiedando-se da jovem sob o capuz. Imaginava todo o sofrimento e a vergonha que ela estava passando. - Garanto que estes vermes nunca mais irão tocar em outra criatura viva deste mundo, se o encontrarmos. Está levando-a aos Portos, não?

- Sim.

Sem mais palavras, o grupo de soldados despede-se com acenos e gestos de solidariedade a companheira de Ormal.

- [A língua cortada? Você foi muito cruel em sua resposta, Ormal.] - ri Valkiria.

- Ele mereceu mais este golpe.
 
- Já faz catorze dias que eles partiram... - disse em voz baixa Brandal enquanto olhava sem muito interesse o movimento dos anões pela estrada em frente ao Pônei Saltitante. Desde que separaram-se na bifurcação e tomaram o caminho em direção de Bri, poucas vezes a jovem hobbit saiu do quarto em que estava hospedada e na companhia de Zimraphel. Valmir estava no quarto em frente. A imagem da líder dos edain abraçada na cintura de Ormal lhe atormentava dia e noite, assim como outra imagens nada comportadas do que aqueles dois poderiam estar fazendo enquanto pernoitavam sob as estrelas. O céu cinzento, o vidro embaçado e o cheiro de mofo não ajudavam a melhorar o seu ânimo. Também não sentia vontade de voltar para a cama. Na verdade, sentia vontade de sair gritando daquele lugar e correr como uma alucinada atrás de Ormal. A hobbit deixa escapar um sonoro suspiro de aborrecimento.

- O que houve, Brandal?!! - exclamou a navegadora no idioma westron que a hobbit tinha ensinado aos dois. Ela estava calculando mentalmente o tempo que o pedido de socorro levaria para chegar até a nave-mãe - Não me diga que está pensando outra vez naquele nativo... como é mesmo o nome dele?

- Ormal... e ele é um elfo de renome em Eregion. - repondeu secamente.

- Olha. Admiro o que sente pelo seu mestre, mas acredite. A capitã não está interessada nele. Pela enésima vez, pare de se torturar!

- Eu sei... não posso evitar. Penso nele o tempo todo... e você não entende o quanto ele significa para mim... - reponde Brandal, desenhando no vidro embaçado a palavra "amor" em quenya, a língua que Ormal havia lhe ensinado um ano atrás.

- Então, por quê não disse o que sentia por ele todo este tempo em que ficavam sentados na colina perto de sua casa? - perguntou Zim, relembrando um trecho das longas conversas que teve com a jovem hobbit sobre suas origens, família, o mestre Ormal e sua paixão secreta por ele.

- Tentei algumas vezes... tenho medo do que ele pode pensar de mim...uma camponesa da raça dos hobbits, filha de um pescador e de uma tecelã? E apaixanada por um elfo que é filho de um noldo de Eregion e de uma Senhora Élfica da Floresta? Não sou nem considerada bela em meu vilarejo por não possuir pêlos em minhas pernas... como posso me comparar com a menor das donzelas élficas?

- Sei como se sente. Por causa de minha situação na Casa Real, perdi alguns pretendentes por causa de suas origens humildes. A imposição familiar me impediu de ser feliz com aqueles por quem me apaixonei. No entanto, quanto maior era a posição social daqueles pretensos príncipes, maior a minha repulsa diante de tanta leviandade e cinismo. O que enxergavam não era uma princesa, e sim, um troféu. Ou um trampolin para se apossarem do cetro de Annúminas. Infelizmente, fui prometida ao mais asqueroso dos Númenoreanos, Ar-Pharazôn. Diante de meu pai e do Conselho, um homem íntegro! Destemido e honrado. Para aqueles que o conhecem intimamente, como eu, uma criatura abjeta e cruel. Capaz de tudo para assumir a Casa Real e transformar nossas naves em esquadrilhas de guerra. - a expressão de Zimraphel torna-se colérica com as lembranças que passou ao lado de Pharazôn; e rapidamente suaviza - Oh Brandal! Creio que o seu amor será muito difícil de se realizar, caso haja a sua família, a dele e a sociedade não aceitem uma união entre raças diferentes. O pouco que me contou sobre as lendas dos elfos, nunca houve uma união entre vocês e elfo... ou humanos...

- ...ou anões!!! - exclamou Valmir, que entrou subitamente no quarto das hóspedes.

- Valmir!!! Como ousa?!! Estava com a orelha colada na port...

- Ssshhhhh!!! Não digam nada!!! Eu não estou aqui!!! Digam que saí para colher amostras!!! Qualquer coisa!!! - sibila entre os dentes o médico-chefe, antes de se ocultar velozmente embaixo de uma das camas.

A porta estremece sob uma série de pancadas. Vacilante, Brandal puxa lentamente o ferrolho. Zimraphel posiciona-se ao lado dela com um castiçal na mão. Um sorridente anão, com o rosto raspado e trajando um avental bordado, adentra saltitando com uma grande bandeja:

- Uma boa tarde, meus nobres viajantes! - saúda o estranho anão, com uma voz afetada e rouca - Trouxe-lhes o desejum da tarde! É uma cortesia da casa para abrir o apetite, antes de servirmos o baquete em nossa taverna! E vocês são nossos convidados... ora... onde está aquele galante elfo de conversa engraçada? Bati no quarto em frente e ele não estava lá...

- Ah... fala de Valmir, o nosso companheiro? - perguntou Brandal, fazendo um esforço tremendo para não sorrir e evitando de olhara para Zimraphel, que tinha corrido para a janela e colocado a cabeça para fora. - Ele foi colher... flores... eu acho.

- Flores?!! Bem, bem... comam! E venham ao nosso banquete... e diga ao belo viajante que aceitarei de bom grado sua oferta - diz o estranho, com o rosto e o nariz vemelhíssimos. - Até a noite!

Assim que Brandal observou a cabeça anã desaparecer na escada para o andar de baixo. As duas riram estrondosamente e não pararam mesmo diante dos acenos frenéticos de Valmir que, lívido, enxugava a testa.

- O que há com as duas?! Acham a situação engraçada? Nem dei um bom dia para aquela criatura e ela saiu detrás do balcão com uma enorme caneca daquele troço, a pinga anã! Queria me embebedar...que nojo!!! - Valmir faz uma careta de asco que fez as duas rirem outra vez.

- Ah, Valmir! Coitada da moça! - Repreende Brandal, com os olhos rasos d'água.

- Quêêêê??! Moça!!! Que brincadeira é essa, Brandal!!! - retrucou o médico, com a rosto ainda mais retorcido pelo pavor - Viu o tamanho dos braços?!! E aquele vozeirão pastoso?!! Só porque tirou aquela barba trançada, você acha que aquilo é mulher?!!

- É sim. As anãs são parecidas fisicamente com os anões. E parece que ela gostou muito de você... para ter tirado a barba... mas ela é uma mulher, viu? Em tudo...

- Chega, Brandal! Não quero detalhes! E agora! Só faltava essa! Uma anã barbada interessada em minha pessoa! Que pesadelo!

- É Brandal.. acho que o amor entre raças diferentes é possível...

E as duas rolam de rir sobre a cama, sob o olhar fulminante de Valmir.
 
- Que os Valar me perdoem pelo que vou dizer... mas estou feliz que minha filha, Míriel esteja longe daqui! - suspirou um senhor de cabelos e barba brancos, alto, trajes majestosos na cor negra com detalhes dourados e olhar marejado. Sua expressão abatida revelava o doloroso conflito interno pelo qual passava. - Os tempos anuviam-se para a Casa de Elros Minyatur, meu bom amigo Telumendil.

- É o que parece, majestade. - responde um senhor de cabelos negros, olhos cinzentos, pele alva e trajes azul-escuro. O Conselho está agitado. A morte de seu irmão, Gimilzôr, acentuou ainda mais a divisão entre nosso povo. Ar-Pharazôn está reunindo o máximo de apoio para tentar alterar as leis de sucessão do trono de Armenelos. Por direito, apenas sua filha Míriel Ar-Zimraphel é a nova rainha dos Númenoreanos. Como não ocorreu a união nupcial, Pharazôn não pôde reinvidicar o Cetro de Annúminas.

- Tenho total ciência da questão, Telumendil. Por isso, rogo aos Senhores do Oeste Antigo que meu sobrinho jamais consiga a aprovação do Conselho para enviar nossas esquadras para aquele planeta. - Tar-Palantír senta-se em seu luxoso assento, apesar de confortável, o velho Rei parecia cansado e curvado por causa de sua preocupação com Míriel. Enquanto ela permanecesse distante de Armenelos, a nau-cidadela, Ar-Pharazôn nada poderia fazer contra os Fiéis, aqueles que nunca participaram das experiências cruéis perpetradas contra os elfos na Ilha de Númenor. Desde a fuga dos númenoreanos para o espaço - na esperança de encontrarem o Destino dos Homens e de fugir da doença que haviam criado - A população dividiu-se entre os que culpavam os eldar pela desgraça e os que assumiam a responsabilidade pelos atos funestos. E o passar dos milênios apenas acentuaram o rancor entre as duas Casas: as do Senhores de Andúnië e a Casa de Elros, que agora é conhecida como a Casa dos Homens do Rei. Os inimigos implacáveis dos Elendili. E o ápice da desavença atingia o seu momento mais crítico com a morte prematura de Gimilzôr.

- Majestade, infelizmente a maioria dos membros do Conselho de Armenelos é partidária dos pensamentos belicistas de Ar-Pharazôn. E mesmo entre os Fiéis, muitos já estão cansados de vagarem entre as estrelas. Todos desejam, no fundo de seus corações, um novo lar, um mundo onde possam reconstruir suas casas e respirar ar puro e sentir o calor de um sol em seus rostos.

- Sim... todos desejam isso... menos meu sobrinho. O que ele deseja é poder para tornar-se o maior de todos os Reis que Númenor já teve. E minha filha é o único obstáculo a impedí-lo de atingir tal objetivo. Retornar a Arda significará muito mais do que a confirmação de seu direito ao trono, representará ou nossa ruína ou a daqueles povos que lá ainda habitam... e creio que os eldar não nos esqueceram nem o que fizemos a eles...
 
Agora o bicho vai pegar daqui pra frente :dente:


O vilarejo de Bri estava em polvorosa, há muitos anos não se via uma movimentação tão intensa de anões para o Pônei Saltitante. Rumores diziam que o dono da estalagem, o senhor Urzal, estava bancando a festa e que dezenas de barris de seu estoque particular da melhor cerveja de Dorwinion foram abertas. Uma cerimônia era celebrada pelo anfitrião a um jovem hobbit que havia chegado hoje de manhã, acompanhado por um casal muito arredio. Algum dos anões mais hábeis que trabalhavam no Pônei chamaram alguns de seus parentes para transformarem a taverna em um grande salão para festas.

A noite chegara, a música e a cerveja embalavam tanto o velho Urzal, quanto o seu sobrinho, o jovem Michel Montês. A face de ambos estava avermelhada. Abraços e felicitações eram dados ao seu afilhado pelos anões, assim como muitas outras gentilezas eram declamadas para a cerveja de Extremo Leste. O senhor Delgo e a Senhora Aurora eram cumprimentados por todos que passavam pela mesa onde estavam, a hobbit estava radiante com tudo aquilo, imaginado uma nova vida para sua família longe de SempreCalmo e com festas, muitas festas. O senhor Delgo era a emoção em pessoa. Lágrimas escorriam sobre sua face vermelha para disputar corrida com a cerveja entornada em cada brinde. E não foram poucos.

Todos os convidados cantavam e urravam em brinde para o jovem Michel. Apenas num canto afastado a alegria não ousava se aproximar. As semanas já eram um tormento sem fim para Brandal sem a companhia de Ormal, agora, com a chegada inesperada de seus pais e do empolado Michel Montês-fabricante-de-queijo, o mundo desmoronara de vez. A situação ficou ainda pior com o pedido súbito e público de Michel para casar-se com ela. E diante de seus pais e de seu tio! Urzal, muito rapidamente, providenciou todos os preparativos para a celebração do noivado. Sua mãe Aurora, não permitiu que Brandal reclamasse em momento algum. Seus amigos, Valmir e Zim, acompanhavam o drama da hobbit com curiosidade. Que poderiam eles fazer para evitar a trama bem orquestrada por sua mãe e Michel?

Enquanto era vestida e escovada por sua mãe nos aposentos superiores, seu futuro tio Urzal depachava vários pedidos aos alfaiates, ourives e mercadores das proximidades. Com muito custo, Brandal saiu do quarto ao cair da noite e entrou no de Zim. Lá dentro, ela e Valmir discutiam calorosomante, não em solidariedade à hobbit, e sim, por causa do vestido que a navegadora teimava em quere utilizar na festa. A roupa foi confeccionada pela atendente anã e, apesar de ter sido feito na numeração maior dos anões, o vestuário comprimia e acentuava as pernas e bustos de modo escandaloso. Além de ficar um palmo abaixo das nádegas. Zim somente retrucava, dizendo que era pura implicância do médico para com a atendente que estava interessada nele. E assim, desceram os três para receber os convidados. Um impasse constrangedor fora criado. Ninguém sabia para que olhar, à noiva ou para a deslumbrante visitante que deixava todos os anões boquiabertos com o seu... porte avantajado. Aurora não parava de beliscar Delgo.

Não demorou para que as confusões iniciarem. Um anão mais saidinho apresentou-se para ser o par de Zimraphel quando a música começou. Um outro não gostou e sugeriu que ele colocasse suas mãos de volta na caneca de onde jamais deveria ter tirado. O anão assanhado respondeu dizendo que suas mãos iriam socar um narigão intrometido se ele não apontasse para outro lado. E a briga aconteceu; e o salão dividiu-se entre os parentes e partidários do assanhado e do narigudo. Urzal não gostou nenhum pouco daquela cena. Brincadeira de anão tinha hora e lugar, mas não em sua estalagem! O dono do Pônei aproximou-se por trás e chamou pelo anão narigudo, que se virou para ver quem estava interrompendo a luta. Distração fatal, o murro deferido pelo assanhado fez o narigudo sair rodopiando pelo salão e cair próximo de Zim. Num ato de reflexo incosciente, o narigudo agarrou o vestido da navegadora antes de desabar. Os xingamentos, tapas e socos pararam instantaneamente e os rostos dos anões congelaram numa expressão coletiva de "Oooooooohhhhh....". Alguns esfregavam os olhos repetidas vezes, só poderia ser sonho! E Urzal não se conteve e soltou um sonoro "Urratouro!!!" O cérebro de Zim levou alguns segundos eternos para espantar o susto e cobrir com os braços seus seios. Brandal colocou uma toalha de mesa sobre a amiga e as duas subiram para os aposentos, seguidas por um furioso Valmir que sussurrava entredentes: "Eu te avisei!!!"

A festa, aos poucos, foi retornando. Graças ao providencial reforço de cerveja liberado por Urzal. A animosidades e desentendimentos foram esquecidos. Ninguém lembrava ou sequer falava da briga que ocorrera instantes atrás. Cada um, à seu modo só lembrava de uma cena maravilhosa. A estranha elfa em todo o seu esplendor... e que esplendores!!!

Naquela noite, nada poderia desmanchar o sorriso de dezenas de anões. A não ser a tragédia que se aproximava com olhos vermelhos de ira.
 
O céu estrelado e gélido dava boas vindas a uma pequena transeunte que caminhava tristonhamente pelas ruas de pedra molhada de Bri. Brandal aproveitara o efeito etílico da cerveja sobre os convidados e escapulira do Pônei Saltitante. Precisava respirar e absorver o golpe que seus pais e o infame Michel lhe aplicaram. Casamento! E com o afetado fabricante de queijo! A hobbit jamais tinha imaginado um fim tão trágico para sua aventura ao lado de seu amado Ormal." Tudo por culpa daquela estranha de cabelo vermelho!!!" - sibilou Brandal depois de chutar um pedrisco para longe. A noite parecia querer enregelar não só seu chale, mas também seu espírito sempre otimista. Os pensamentos escuros da jovem foram interrompidos por suaves passadas apressadas em sua direção. Não ficou surpresa ao deparar-se cara a cara com o esbaforido Michel Montês.

- E-espere, Brandal! Aonde vai a uma hora dessas?! - perguntou timidamente ao perceber o olhar gélido de sua futura noiva.

- Ainda não somos casados, senhor Montês. Então, não lhe devo satisfações de onde ou para onde irei.

- Porque me odeia tanto? O que fiz de errado?

- Pensei ter deixado bem claro meus sentimentos por você em SempreCalmo. Não estou interessada em sua fortuna. Não gosto do senhor e jamais permitirei que minha mãe tome as rédeas de minha vida! - A voz de Brandal ecoa além das cercanias de Bri para perder-se sobre as escuras e lúgubres Colinas do Sul.

- ... os meus não mudaram, Brandal. Quer que eu renuncie aos meus dotes? Eu renuncio! Vamos fugir juntos... sei que não sou nenhum guerreiro anão, ou caçador elfo, mas eu posso comprar uma fazenda e algumas cabeças em qualquer lugar! Por favor, Brandal! Eu... amo você...

A hobbit por um momento deixa seus ombros cair. Os olhos vagam para algum ponto no horizonte. O perfume suave de âmbar dos cabelos ondulados da hobbit inflamou ainda mais a coragem de Michel diante da hesitação de Brandal. Um erro fatal.

- O que me diz, Brandal?! Sei que não deseja mais voltar para aquela vila de pescadores fedorentos e nem terminar seus dias consertando velas para barcos! Venha comigo! Quem mais amaria uma hobbit sem pêlos nas pernas?

Os olhos de Brandal brilham de ódio. Então, ele também a acha uma aberração?

- Eu... nunca... me casarei com VOCÊ!!! - NUNCA!!!

Antes que o pobre Michel pudesse dizer algo para apagar o incêndio, um grito gutural e desesperado paralisa o jovem casal diante dos portões da cidade. Um anão corria cambaleante pela estrada:

- Fujam, meus jovens!!! Úmathrim!!! Úmathrim!!! Estão vindo!!!

"Oh, não!!! Zim e Val correm perigo!!! Preciso tirar eles de Bri, senão todos vão morrer!!!" - Pensa Brandal, enquanto disparava na direção do Pônei. Seguida por um cada vez mais distante Michel.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo