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"Juntos e shallow now"

Béla van Tesma

Nhom nhom nhom
Colaborador
Paula Fernandes, jogue juntos e shallow now no lixo
Versão para canção de Lady Gaga é uma piada, uma vergonha e um acinte

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Paula Fernandes convida Luan Santana para fazer dueto da versão brasileira de ‘Shallow’ - Divulgação

20/05/2019 Publicado às 09h14

Atualizado em 20/05/2019 às 10h52


O Brasil tem uma longa tradição em boas versões para o português. Desde a década de 1940, pelo menos, sucessos internacionais vêm sendo traduzidos para a nossa língua. “All of Me” virou “Disse Alguém”, na voz de João Gilberto. “Banho de Lua”, de Cely Campello, nasceu como a italiana “Tintarella di Luna”. “Stop the Wedding” fez muito mais sucesso como “Pare o Casamento”, um dos maiores hits de Wanderléa.

Essa tradição continua nas montagens nacionais para musicais da Broadway. Em “Sunset Boulevard”, por exemplo, em cartaz em São Paulo, os letristas Mariana Elisabetsky e Victor Mühlethaler conseguem a façanha de manter o sentido das letras originais, respeitar a métrica e ainda rimar lindamente.

Aí vem dona Paula Fernandes e comete um “juntos e shallow now”. A expressão inusitada, que não faz sentido em língua nenhuma, foi incluída em “Juntos”, a versão que ela e Luan Santana gravaram de “Shallow”, a canção do filme “Nasce uma Estrela”, que rendeu um Oscar a Lady Gaga.

Paula sabia que tinha dinamite nas mãos. Tanto que, na sexta passada (17), a cantora divulgou apenas um trechinho de “Juntos” na internet – justamente o que trazia as palavras infames. A música completa só foi lançada no domingo (19).

A intenção era essa mesma: causar balbúrdia. Paula Fernandes primeiro disse que queria homenagear a letra original. Depois, admitiu que está se divertindo muito com os memes e piadas que “Juntos” vem gerando.

Piada, “Juntos” é mesmo. Parece uma sátira, feita por algum programa de humor. Uma letra que fala de um amor que se aprofunda cada vez mais – "we're far from the shallow now”, algo como “não estamos mais no raso” – se metamorfoseou em seu extremo oposto: algo raso, rasteiro, insignificante.

“Juntos” já é o hino extraoficial dos tempos boçais em que vivemos. É uma ode ao obscurantismo. Uma homenagem aos ignorantes que se gabam da própria ignorância, não querem aprender e têm raiva de quem sabe mais do que eles.

O sertanejo, vertente da música brasileira em que Paula e Luan se encaixam, nunca primou pelas letras. As metáforas foram varridas do mapa: tudo tem apenas um sentido, dito de forma direta, muitas vezes sem caber na melodia. Algumas canções funcionam muito bem, como é o caso de “50 Reais”. No entanto, quase sempre é de uma pobreza poética de dar dó.

“Juntos e shallow now” vai além dessa pobreza para se esbaldar na arrogância de quem acha que toda e qualquer regra pode ser quebrada. Até pode, dentro de um contexto artístico ou de uma proposta revolucionária. “Juntos” passa longe de tudo isso.

Por isso eu imploro: Paula Fernandes, respeite o trabalho dos letristas. Deixe de ser pão-dura e contrate um profissional. Ou deixe de ser preguiçosa e se esforce um pouco mais. A letra de “Shallow” não tem versos alexandrinos, é até simples de verter para o português. Coragem!

Claro que meu apelo cairá em ouvidos moucos, porque “juntos e shallow now” já se transformou em um fenômeno. Criou marola na internet e isto basta. É a cara desse governo, desse país, desse ano horrível que não chegou nem na metade.

Um dia, quem sabe, Paula Fernandes vai perceber que não estamos rindo com ela. Estamos rindo dela. E chorando também, pela nossa cultura tão rasa e inconsequente.
 

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