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Autor da Semana George Orwell

Morfindel Werwulf Rúnarmo

Geofísico entende de terremoto
George Orwell

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Foto de George Orwell em seu crachá de jornalista, tirada em 1933

Infância e Adolescência

Eric Arthur Blair nasceu em 25 de junho de 1903 em Motihari, Bihar, na Índia britânica. Seu bisavô, Charles Blair, tinha sido um rico homem do campo em Dorset, que havia se casado com Lady Mary Fane (filha de Thomas Fane, 8º Conde de Westmorland) e se sustentara como senhorio ausente de uma fazenda escravocrata na Jamaica. Seu avô, Thomas Richard Arthur Blair, havia sido um clérigo da Igreja Anglicana. Embora tenha herdado o título de nobreza, o mesmo não ocorreu com a fortuna da família; Eric Blair descrevia sua família como sendo de "classe média-alta inferior". Seu pai, Richard Walmesley Blair, trabalhava no Departamento de Ópio do Serviço Civil Indiano, agência do governo britânico que regulava o serviço público na colônia. Sua mãe, Ida Mabel Blair (nome de solteira: Limouzin), cresceu na Birmânia, onde o pai dela, de origem francesa, estava envolvido em empreendimentos especulativos. Eric tinha duas irmãs: Marjorie, cinco anos mais velha, e Avril, cinco anos mais jovem. Quando Eric tinha um ano de idade, sua mãe o levou para morar na Inglaterra.

Muda-se para a Inglaterra em 1911, e vai para um internato. De 1917 a 1921, estuda no Eton College, uma das mais tradicionais escolas inglesas, onde tem aulas de francês com o escritor Aldous Huxley. Em 1922, recusa uma bolsa para a universidade e volta à Índia para trabalhar na polícia imperial.

Birmânia

A avó de Blair morava em Moulmein e, devido à família que possuía naquela área, decidiu trabalhar na Birmânia (atual Myanmar). Em outubro de 1922, navegou a bordo do SS Herefordshire via Canal do Suez e Ceilão (atual Sri Lanka) para assumir o seu posto na Polícia Imperial Indiana na Birmânia. Um mês depois, chegou a Rangum e partiu rumo a Mandalay, onde se localizava a escola de formação policial. Depois de uma curta passagem por Maymyo, principal posto policial das montanhas da Birmânia, foi enviado, no início de 1924, para o posto fronteiriço de Myaungmya no Delta do Irrawaddy.

A vida enquanto policia imperial trouxe responsabilidades consideráveis para o jovem Blair, enquanto a maioria dos seus conhecidos estavam na universidade na Inglaterra. Quando ele foi enviado para Twante como oficial sub-divisional, era responsável pela segurança de cerca de 200.000 pessoas. No final de 1924, foi promovido a Assistente de Superintendente Distrital e enviado para Sirião, mais perto de Rangum. Em setembro de 1925, foi para Insein, onde se localiza a segunda maior prisão da Birmânia. Em Insein mantinha "longas conversas sobre todos os assuntos possíveis" com uma amiga jornalista, Maria Elisa Langford-Rae (que mais tarde se tornaria esposa de Kazi Lhendup Dorjee), que observou o seu "senso de justiça absoluta nos mínimos detalhes".

Em Abril de 1926, mudou-se para Moulmein, onde morava a sua avó. No final daquele ano, foi para Katha onde, em 1927, contraiu dengue. Ele tinha o direito de voltar para a Inglaterra naquele ano e, devido à doença, foi autorizado a voltar para casa mais cedo, em Julho. Enquanto estava de licença na Inglaterra no ano de 1927 reavaliou a sua vida e demitiu-se da Polícia Imperial Indiana, com a intenção de se tornar escritor. A sua experiência como policial na Birmânia inspirou o romance Burmese Days (1934) e os ensaios "A Hanging" (1931) e "Shooting an Elephant" (1936).

Retorno à Europa

Em janeiro de 1928, pediu demissão e retornou à Europa, onde viveu um período difícil, mendigando e trabalhando como lavador de pratos.[sup] [/sup] Em 1933, publica seu primeiro livro, Na Pior em Paris e Londres.

Na Inglaterra, Orwell passou a escrever na imprensa socialista e trabalhou como livreiro, professor e jornalista. Ganhava o suficiente para sobreviver. Nessa fase, publica Burmese Days (Dias na Birmânia), um romance antiimperialista.

A partir de 1936, Orwell combateu na Guerra Civil Espanhola, numa milícia do POUM (Partido Operário de Unificação Marxista).[sup] [/sup] Essa experiência influenciou decisivamente suas concepções políticas, em especial, sobre o socialismo.[sup] [/sup]

Durante a Segunda Guerra Mundial, Orwell trabalha como correspondente de guerra para a BBC. Orwell ganhou fama a partir da publicação de A Revolução dos Bichos – em agosto de 1945, quando os EUA demonstravam o seu poderio armado, bombardeando Hiroshima e Nagasaki. Em 1949, publicou outra obra-prima da literatura política: Nineteen-Eighty-Four (1984).

Morte

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Orwell morreu em Londres vítima de tuberculose, aos 46 anos de idade. Tendo solicitado um funeral de acordo com os ritos anglicanos, foi enterrado na All Saints' Churchyard, Sutton Courtenay, Oxfordshire, com o simples epitáfio:
"Here lies Eric Arthur Blair, born June 25, 1903, died January 21, 1950"
("Aqui jaz Eric Arthur Blair, nascido em 25 de Junho de 1903, falecido em 21 de Janeiro de 1950"); nenhuma menção é feita a seu célebre pseudónimo.

Legado: Suas maiores Obras

O século XX será lembrado como uma época de utopias negativas, ou seja, de distopias, do pesadelo social, das sociedades completamente imperfeitas, e isso não apenas no plano das efetividades sociais - os campos de concentração resumem o assunto - mas também no âmbito das formulações literárias.

Eric Arthur Blair - mais conhecido como George Orwell (1903-1950) - é, com Aldous Huxley, o antiutopista mais famoso do século passado. O primeiro de seus contos utópicos, Animal farm (1945), mesmo não sendo o mais conhecido, é talvez o melhor do ponto de vista literário. O tom faz lembrar Swift ou Voltaire. Certo dia os animais, em uma fazenda, cansados dos maus tratos e guiados pelos porcos, se rebelam contra os homens e libertam-se da opressão. A nova república procura elevar o espírito das massas, que infelizmente são pouco influenciáveis, sobretudos as ovelhas. Reduzem-se portanto os princípios a um só, facilmente assimilável:
"Quatro patas é bom; duas pernas é mau",
ilustração de um radical maniqueísmo. Logo surgem as discórdias, a situação piora para a maioria, enquanto os porcos no poder isolam-se nos privilégios. O slogan fundamental se torna:
"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros".
Reduzidos novamente à escravidão, os bichos verão os porcos entrarem em acordo com os fazendeiros vizinhos para explorá-los. Contundente e cortante, amargamente irônico, esse breve conto é a obra de um idealista desiludido.

Foi dito que Orwell desencadeou uma crítica geral a todos os totalitarismos, e que o javali Napoleão encarna ao mesmo tempo Stálin, Hitler, Mussolini e Franco. Pode ser, mas não se deve ignorar a abundância de detalhes que se referem claramente à URSS. O padrão da fazenda é o aristocrático-czarista que suscitou o descontentamento do qual nascerá o discurso de Major, o teórico (Lênin); Napoleão-Stálin elimina Snowball-Trotsky; a festa dos animais cai no dia 12 de outubro; a construção de um moinho lembra o primeiro Plano Quinquenal; o episódio do encontro de Napoleão com os fazendeiros lembra os encontros entre Stálin e os governos do Ocidente, e por aí vai. Animal farm mostrou a dissolução de todas as revoluções, sempre instrumentalizadas por alguns. Mas isto não faz de Orwell um esquerdista arrependido: ele não desafoga o seu ressentimento com relação ao socialismo, mas contra um socialismo, e a sua amargura se alimenta de uma questão particular.

Uma luz muito mais trágica ilumina 1984, a obra mais famosa de Orwell, publicada em 1949 e nascida de uma gama de terrores gerada pelas hediondas forças sociais liberadas pela política moderna. Fala da anulação da identidade individual, da corrupção da linguagem através da manipulação ideológica, da falsificação e perda da memória histórica pela ação dos meios de comunicação de massa. Neste famoso romance, Orwell mostrou como um partido único se apodera das mentes, as submete e entrega sem resistência ao Estado onipotente. A guerra permanente entre as superpotências mantém viva a psicose do terror; e foi inventada para
"consumir inteiramente os produtos da máquina sem elevar o padrão geral de vida",
porque as massas devem permanecer pobres e ignorantes para serem dominadas. Os três super-Estados possuem de fato o mesmo sistema político, e esta guerra não busca outro fim a não ser o de
"manter intacta a estrutura da sociedade".
Isto explica o slogan "A guerra é paz", que eliminaria todo dissídio interno diante do perigo externo. Em resumo, busca-se o poder pelo poder. Quando estiver destruída a família, erradicado o instinto sexual e absorvida a vontade individual, então
"não existirá mais amor senão aquele pelo Grande Irmão".
Para alcançar este fim, a filosofia do Partido é simples: não existe realidade exterior à mente que a concebe: dominai as mentes e dominareis a realidade.

1984 é uma profecia sobre as coisas que virão? Ou, como na sátira swiftiana, um ataque ao presente e uma advertência para que esperemos o pior se não fizermos nada para mudar? Uma anatomia de forma grotesca dos regimes nazista e bolchevique? Para Umberto Eco, pelo menos três quartos desta obra não é distopia, é História. 1984 é um romance, uma obra de imaginação, e como tal pode carregar diversas temáticas com vários níveis de significados. Dela herdamos conceitos como novilíngua, duplo-pensar, Grande Irmão etc, que entraram para o vocabulário político do Ocidente.

Nenhuma distopia contemporânea deu margem a tantas discussões sobre seu significado como 1984, e isso é fácil de entender: 1984 foi publicado no ápice da primeira onda histérica da guerra fria, aparecendo no meio do desenvolvimento do mais importante acontecimento político do nosso tempo.Foi inevitável seu uso como uma das armas da guerra fria. Conservadores apoderaram-se da obra, gratos, e usaram-na como propaganda contra a Rússia.

Os simpatizantes da esquerda podiam por sua vez pensar que o alvo de 1984 fosse o stalinismo, não o socialismo. 1984, como Animal farm, denuncia uma ditadura pessoal e não o socialismo, do qual foi um fervoroso defensor. O romance é obra de um homem que, no clima da guerra fria, vê com angústia formar-se um grande bloco político, diante do qual a revolução russa se degenera numa hipócrita tirania. Isso era suficiente para desiludi-lo, não para fazer dele - como apressadamente se disse - um "conservador moderado". A posição política de Orwell estava publicada em 1937, na sua obra The road to Wigan Pier:
"Eu faço parte da esquerda e a essa dedico a minha obra, do mesmo modo como odeio o totalitarismo russo e a sua venenosa influência sobre este país".

Para os admiradores da obra como fascinante produto de imaginação literária que é, prevalecia que a questão da veracidade ou não da "profecia" orwelliana não dificultasse a compreensão e o valor da obra. Em anos recentes, de fato, proliferaram as interpretações desta obra como alegoria, sátira, autobiografia (lembrança dos internatos da infância), religião etc. Apesar do surpreendente caráter do seu romance, Orwell não é um inovador. O seu mundo é aquele da II Guerra Mundial, porém mais tétrico e desolador.

Considerava Orwell em 1944, em carta a H. J. Willmett, que
"o mundo parece mover-se na direção das economias centralizadas",
e junto a isso
"avançam os horrores do nacionalismo emotivo e uma tendência à desconfiança na existência da verdade objetiva, enquanto os fatos devem ajustar-se à palavras e às profecias de qualquer führer infalível. Já em certo sentido a história deixou de existir; isto é, não há nada que possa ser universalmente aceito como a história de nosso tempo".

Este é, no essencial, o seu juízo.

Os dilemas do intelectual militante de esquerda

Contra o capitalismo e o comunismo soviético

Crítico do totalitarismo, numa época em que a doutrina oficial marxista-leninista, capitaneada pelos países e partidos comunistas, era considerada dogma, a obra orwelliana afrontava diretamente os ideólogos do socialismo autoritário, isto é, a esquerda oficial. O autor de A Revolução dos Bichos se tornaria, então, um ícone dos que combatiam o stalinismo e todas as ideologias totalitárias.

George Orwell simboliza os dilemas vivenciados pelo intelectual que se engaja nas lutas sociais adotando uma perspectiva ideológica à esquerda: silenciar ou correr o risco de ser utilizado enquanto arma teórica contra as idéias igualitárias da esquerda. Não faltarão os democratas e liberais de última hora, os quais reduzem a crítica antiautoritária e anticapitalista à crítica ao socialismo em geral. Não por acaso, a obra orwelliana atrai simpatias e, para o crítico que se coloca no campo da esquerda e do socialismo, impõe o discernimento do seu alcance e caráter.

O ensaísta Louis Menand nota como o discurso orwelliano foi apropriado por amplos setores, com destaque para a classe média intelectualizada, tendo como efeito o esvaziamento do seu significado político original:

“Nunca houve um exército tão heterogêneo do ponto de vista ideológico quanto esse exército orwelliano. Autor de "George Orwell - The Politics of Literary Reputation" [A Política da Reputação Literária, ed. Transaction Pub], publicado em 1989, John Rodden registrou o fato à exaustão. Ao longo dos anos, tal exército incluiu ex-comunistas, socialistas, anarquistas de esquerda, libertários de direita, liberais, conservadores: cada grupo com um uniforme diferente, mas com o mesmo button na lapela -"Orwell tinha razão". A única coisa que os admiradores póstumos de Orwell têm em comum, além do button, é o anticomunismo.” (Folha de São Paulo, 01.06.03)​

Não é possível, nesse espaço, discutir as diversas versões de comunismo. Mas quem conhece minimamente a história do movimento comunista internacional sabe que são muitos os caminhos imaginados para se chegar à sociedade utópica. É claro que entre os admiradores de Orwell incluem-se muitos que se assumem comunistas, ainda que críticos ao modelo expressado pela ex-URSS e seus satélites. Sem essa observação, induz-se ao erro de considerar que todos os críticos à esquerda são anticomunistas.

Porém, ao agregar a simpatia de tendências políticas da direita à extrema-esquerda, Orwell demonstra o quanto é difícil ser um intelectual que critique concomitantemente a sociedade capitalista e o socialismo real. Esse intelectual encontra-se numa posição limítrofe: entre a esquerda oficial e a direita. A primeira, em geral, reage com virulência e se fecha em suas verdades; a segunda, tende a manipular seus argumentos. Como observa Menant:

“As manipulações do texto de A Revolução dos Bichos não demoraram a acontecer. No fascinante estudo "The Cultural Cold War" [A Guerra Fria Cultural, ed. New Press], Stonor Saunders relata que, logo após a morte de Orwell, a CIA (Howard Hunt era o agente encarregado do caso) comprou secretamente da viúva do autor os direitos para filmar o livro e mandou produzir na Inglaterra uma versão em desenho animado, por ela distribuída no mundo inteiro. Nessa versão, omite-se a cena final do romance, na qual já não se podem distinguir os porcos (isto é, os bolcheviques na alegoria de Orwell) dos exploradores de animais que os precederam, os humanos (ou seja, os capitalistas). Cria-se um novo fim para a história, no qual os animais atacam e tomam a casa da fazenda ocupada pelos porcos, libertando-se outra vez. Assim, depois de morto, Orwell foi submetido às fraudes e aos estratagemas da propaganda ideológica, pelas mãos dos combatentes americanos da Guerra Fria que viriam a exaltá-lo como o maior inimigo dessa mesma propaganda.” (Id.)​

A manipulação da obra de Orwell não passou despercebida a vários dos seus comentadores. Thomas Pynchon observa que o sucesso alcançado por A Revolução dos Bichos teve como efeito a ocultação da posição do autor à esquerda da esquerda. Isso explica porque 1984 foi publicado nos EUA,
“como uma espécie de panfleto anticomunista, em plena vigência do macarthismo. Nessa época, o “comunismo” era oficialmente condenado como uma ameaça mundial monolítica, e a idéia de traçar uma distinção entre Stálin e Trótski seria considerada tão absurda quanto a de ensinar os carneiros a fazer sutis discriminações entre diferentes tipos de lobo”,
enfatiza.

Nessa engenharia própria dos tempos da guerra fria, destrói-se a memória e o significado político da sua obra e militância são instrumentalizados. Prevalece a lógica da política enquanto antagonismo amigo-inimigo: Orwell é transformado em amigo do capitalismo. A vida parece imitar a arte! Em A Revolução dos Bichos, os personagens ilustram como a política adquire o status de antagonismo amigo-inimigo, o que transmuta todo e qualquer crítico ao socialismo soviético em inimigo e, portanto, amigo dos capitalistas. O inimigo é transformado no bode expiatório, necessário para justificar os insucessos da “construção do socialismo”.

Ao leitor desatento pode, portanto, passar despercebido o fato de que George Orwell critica tanto o capitalismo quanto os regimes de partido único. Os que raciocinam em termos da política amigo-inimigo têm dificuldade em aceitar essa crítica e tendem a incluí-lo entre os intelectuais que “fazem o jogo da direita”.

A função da dissidência

Para uns a função da dissidência é apenas cumprir o papel de bode expiatório; outros veem os intelectuais dissidentes apenas como individualistas pequeno-burgueses incapazes de assumir a luta do proletariado; há quem imagine que tudo se resume ao narcisismo intelectualista, como se a vaidade fosse um privilégio. Desconsideremos os ressentidos, os que se consideram apóstolos da nova sociedade – que exigem a submissão do intelectual – e os fanáticos e intolerantes.

Para muitos, a dissidência se assemelha a um crime e o dissidente deve ser tratado enquanto criminoso – no mínimo, porque ele representa perigo à ordem estabelecida. Sociologicamente, há algo de verdadeiro nesse argumento. O insuspeito Durkheim, por exemplo, vê positivamente – sem trocadilho! – o papel do crime, e por conseguinte, da heresia:

“Quantas vezes, com efeito, o crime não é uma simples antecipação da moral futura, um encaminhamento para o mundo futuro! Segundo o direito ateniense, Sócrates era um criminoso e a sua condenação era justa. Contudo, o seu crime, a saber a independência de pensamento, era útil não só à humanidade como também à sua pátria, pois servia para preparar uma moral e uma fé novas de que os atenienses necessitavam nesse momento porquanto as tradições em que se tinham apoiado até então já não estavam em harmonia com as condições de existência.” (DURKHEIM, 1983: 122)​

E já que estamos tratando de heresias, recorramos a um religioso. Frei Betto, num livro sobre os que adotaram o caminho da luta armada contra a ditadura militar, escreveu:

“É através das dissidências que a história acerta os seus passos. Há um momento em que as possibilidades de uma proposta – religiosa ou política – parecem esgotar-se sob o peso dos anos, da rigidez de seus princípios, da inflexibilidade de sua disciplina, da intransigência de seus dogmas, da prepotência de seus líderes. Como a fonte seca à beira da estrada, incapaz de saciar a sede dos peregrinos que atraiu, a proposta vê-se rejeitada por seus discípulos dispostos a caminhar sem a tutela que lhes atrasa o passo”. (BETTO, 1982: 46)​

Historicamente, os dissidentes representam as novas forças sociais que anunciam o futuro. Por expressarem a crítica ao status quo, ficam à margem das instituições formais – ou não encontram respaldo no interior destas –, o que os impulsionam a criar novas instituições. Peter Burke observa que os humanistas renascentistas se opuseram ao saber convencional das universidades medievais:

“Embora a maioria dos humanistas tivessem originalmente estudado nas próprias universidades que criticavam, as figuras mais criativas, de Petrarca a Erasmo, passaram a maior parte de suas vidas fora do sistema. Eram um grupo marginal, no sentido de Thorstein Veblen. Para encontrarem-se e discutirem suas idéias, fundaram instituições formais conhecidas, em deliberada homenagem a Platão, como “academias”. (BURKE, 27.08.00)​

O saber formal não via com bons olhos os intelectuais oriundos de fora do círculo universitário (como Rousseau, filho de um relojoeiro; e, Diderot, filho de um faqueiro). As novas idéias sofriam a resistência do status quo acadêmico.
Adam Smith, por exemplo, foi professor de filosofia na Universidade de Glasgow. Quando quis escrever sua obra prima, a “Riqueza das Nações”, pediu exoneração de sua cátedra (em 1764)”,
escreve Burke.

A dissidência política segue esse padrão. Em condições normais, isto é, quando sobrevive às lutas políticas, o dissidente termina por romper com a organização original, construir uma nova ou optar pelo isolamento. No campo acadêmico ou na política, desenvolve-se uma relação de amor e ódio: ao mesmo tempo em que nega as instituições oficiais, necessita-se de reconhecimento e legitimidade. Nesses casos, ou os hereges constituem suas próprias instituições ou se adaptam às existentes, combatendo para assumir o seu controle.

O interessante nesse processo histórico é que os antigos hereges, tão logo assumam posições de poder e constituam as novas igrejas, garantindo-lhes legitimidade e o monopólio, tendem a se tornar refratários às críticas: surgem novas dissidências e novos hereges.

É verdade que nem toda dissidência aponta para futuro. No pensamento político há os que imaginam poder fazer a história retroceder: são os românticos e saudosistas vinculados a um passado lírico e imaginário que só existe em suas cabeças. Mas, a liberdade, como ensinou Rosa Luxemburgo, é sempre a liberdade de pensar diferente. Tais idiossincrasias devem ser respeitadas...

A dissidência desempenha um papel positivo – por mais minoritário que seja seu pensamento, expressa a consciência crítica da maioria. Ou, como escreveu Durkheim:

“A liberdade de pensamento de que gozamos hoje nunca poderia ter sido proclamada se as regras que a proibiam não tivessem sido violadas antes de serem abolidas. No entanto, nesse momento, esta violação era um crime que ofendia sentimentos que a generalidade das consciências ainda ressentia vivamente. Contudo, este crime era útil, pois era o prelúdio de transformações que de dia para dia se tornavam mais necessárias. A livre filosofia teve como precursores os heréticos de toda a espécie que o braço secular abateu durante toda a Idade Média e até a véspera da época contemporânea.” (DURKHEIM, 1983: 122)​

Durkheim relaciona a heresia na categoria de crime para frisar, do ponto de vista sociológico, que este é um fato social normal. O sociólogo é original ao tratar a heresia dessa forma. Pelo menos argumenta e demonstra o quanto o herege é necessário para a evolução social. Há quem não se dê ao trabalho de lê-lo, porém trata os dissidentes como criminosos – com a diferença de que, para estes, herege bom é herege morto.

O dissidente da dissidência

Intelectuais como Orwell não podem ser compreendidos através do raciocínio dualista ou amparado em “ismos”. Orwell expressa o tipo de intelectual que dificilmente se enquadra em rótulos. Ele pertence ao rol dos que privilegiam a liberdade da crítica, a independência em relação aos grupos e panelinhas. Indivíduos como Orwell são dissidentes solitários – mas também solidários – prontos a criticar a própria dissidência e a aceitar os riscos inerentes à essa atitude.

Em determinadas circunstâncias históricas, esses homens que se colocam à margem dos espaços socialmente reconhecidos, verdadeiros outsiders, acentuam ainda mais o seu isolamento político. A autenticidade tem seu preço. O intelectual que não se enquadra, vê-se obrigado, muitas vezes, a confrontar os próprios amigos. Quando há maturidade suficiente para diferenciar divergências políticas e teóricas dos procedimentos próprios do relacionamento pessoal é possível superar essa dificuldade. Do contrário, ele sofrerá o dilema entre se manter fiel à sua consciência ou à amizade.

O intelectual outsider de esquerda têm dificuldades em se ajustar à disciplina das organizações partidárias – as quais, em geral, tolhem a liberdade de crítica. Em sua solidão, ele tem consciência da fragilidade da sua posição. A política se traduz em relações de força, expressão de interesses que se organizam e atuam coletivamente. Sem a atuação direta na política, os intelectuais tendem a cumprir o papel de D. Quixote em seus combates aos imaginários moinhos de ventos. A política partidária, por seu turno, exige compromissos nem sempre éticos e, mais do que isso, pressupõe fidelidade a um “ismo” e respeito à disciplina. Não é fácil ser dissidente da dissidência.

Concluindo…

O dilema do intelectual que milita na esquerda parece insuperável. Os que se exercitam em procedimentos autoritários não se conformam com a sua independência intelectual e tentam encaixá-lo em algum “ismo”. Um amigo pode lhe confidenciar, por exemplo, que o considera centrista; outro verá resquícios da formação cristã (como se isso fosse um grave pecado!); há, ainda, os que o ignoram ou são condescendentes, tratando-o como figura excêntrica.

Incompreendido por uns, malquisto por outros, ele sabe que o essencial é não silenciar e assumir as responsabilidades inerentes à militância solitária. Apesar de tudo, vale a pena correr os riscos de ser catalogado como quixotesco. Antes isso do que a omissão. George Orwell é um exemplo.

Bibliografia

Romances

• Burmese Days (1934) — (Dias na Birmânia (Brasil) ou Dias da Birmânia (Portugal))
• A Clergyman's Daughter (1935) — (A Filha do Reverendo (Brasil) ou A Filha do Pároco/A Filha de um Reitor (Portugal))
• Keep the Aspidistra Flying (1936) — (Mantenha o Sistema/Moinhos de Vento (Brasil) ou O Vil Metal (Portugal))
• Coming Up for Air (1939) — (Um Pouco de Ar, Por Favor!)
• Animal Farm (1945) — (A Revolução dos Bichos (Brasil) ou O Porco Triunfante/O Triunfo dos Porcos/A Quinta dos Animais (Portugal))
• Nineteen Eighty-Four (1949) — (1984)

Baseadas em experiências pessoais

Enquanto a substância de muitos dos romances de Orwell, particularmente Burmese Days, é tirado de suas experiências pessoais, as obras a seguir são apresentadas como documentários narrativos, ao invés de fictícios.

• Down and Out in Paris and London (1933) - (Na Pior em Paris e Londres (Brasil) ou Na Penúria em Londres e em Paris (Portugal))
• The Road to Wigan Pier (1937) — (A Caminho de Wigan (Brasil) ou O Caminho para Wigan Pier (Portugal))
• Homage to Catalonia (1938) — (Lutando na Espanha (Brasil) ou Homenagem à Catalunha (Portugal))

Ensaios, artigos e outros escritos

• "The Spike" (1931)
• "A Hanging" (1931)
• "Shooting an Elephant" (1936)
• "Bookshop Memories" (1936)
• "Charles Dickens" (1939)
• "Boys' Weeklies" (1940)
• "Inside the Whale" (1940)
• "The Lion and The Unicorn: Socialism and the English Genius" (1941)
• "Wells, Hitler and the World State" (1941)
• "The Art of Donald McGill" (1941)
• "Rudyard Kipling" (1942)
• "Looking Back on the Spanish War" (1943)
• "W. B. Yeats" (1943)
• "Benefit of Clergy: Some notes on Salvador Dali" (1944)
• "Arthur Koestler" (1944)
• "Raffles and Miss Blandish" (1944)
• "Notes on Nationalism" (1945)
• "How the Poor Die" (1946)
• "A Nice Cup of Tea" (1946)
• "The Moon Under Water" (1946)
• "Politics vs. Literature: An Examination of Gulliver's Travels" (1946)
• "Politics and the English Language" (1946)
• "Second Thoughts on James Burnham" (1946)
• "Decline of the English Murder" (1946)
• "Some Thoughts on the Common Toad" (1946)
• "A Good Word for the Vicar of Bray" (1946)
• "In Defence of P. G. Wodehouse" (1946)
• "Why I Write" (1946)
• "The Prevention of Literature" (1946)
• "Such, Such Were the Joys" (1946)
• "Lear, Tolstoy and the Fool" (1947)
• "Reflections on Gandhi" (1949)

Poemas

• "Romance"
• "A Little Poem"
• "Awake! Young Men of England"
• "Kitchener"
• "Our Minds are Married, But we are Too Young"
• "The Pagan"
• "The Lesser Evil"
• "Poem from Burma"

Citações

"Vivemos em um mundo louco onde os
contrários se convertem continuamente
entre si, os pacifistas se descobrem
adorando Hitler, os socialistas
tornam-se nacionalistas, os patriotas
colaboracionistas,os budistas oram pela
vitória do exército japonês, e a Bolsa
sobe se os russos preparam a ofensiva".
G. ORWELL, Horizonte, set.1943​

"A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Quando se concorda nisto o resto vem por si."

Fonte - 1984

"Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir."

"Quando se diz que um escritor está na moda, isso quer dizer que ele é admirado por menores de trinta anos."

"Cada geração se imagina mais inteligente do que a que veio antes, e mais prudente do que a que vem depois.”

“A linguagem política, destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez.”

”A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa.”

”O essencial da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas humanas, mas de produtos do trabalho humano. A guerra é um meio de despedaçar, ou de afundar nas profundezas do mar, materiais que de outra forma teriam de ser preservados.”

”O progresso não é uma ilusão. Ele acontece, mas de forma lenta. E, invariavelmente, termina nos desapontando.”

Assinatura


Fontes

§ http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252003000200038&script=sci_arttext

§ educacao.uol.com.br/biografias/george-orwell.jhtm

§ http://www.duplipensar.net/george-orwell/index.html

§ http://www.frasesfamosas.com.br/de/george-orwell.html

§ http://www.espacoacademico.com.br/026/26pol_orwell.htm

§ http://pt.wikipedia.org/wiki/George_Orwell

Tópicos sobre George Orwell

§ "1984" (George Orwell)

§ Meia Palavra - A Revolução dos Bichos (George Orwell)

§ Lutando na Espanha (George Orwell)

§ "A Revolução dos Bichos" (George Orwell)
 
Lembro que irritei um amigo, certa vez, quando ele disse que o Humberto Gessinger era um gênio por ter falado em "Ninguém = ninguém" que "são todos iguais, e tão desiguais, uns mais iguais que os outros". Ele se irritou porque falei que o Humberto não era gênio por isso. Isso demonstrava que ele tinha lido muita gente, inclusive, George Orwell, mas não que ele era gênio. Ele ficou ofendido. Nem entendi o motivo. Gosto de Engenheiros, adoro o Humberto, e adoro as composições dele, sim. E não o diminui por ser um bom leitor (não só de livros) mas do mundo em si, porque, como diria Paulo Freire "a leitura do mundo precede a leitura da palavra". Eu só quis dar a César o que é de César.
 
As vezes, é muito mais simples pensar que talvez Orwell, com tanta genialidade crítica e grande observador da realidade crua e nua da vida, apenas queria um lugar para cuspir ideias, e que essas ideias poderiam ser ultrapassadas agora, e na verdade não fariam qualquer sentido numa atualidade de tantos anos depois, como é a nossa, mas...

Quando se lê Orwell e todos necessariamente acredito que deveriam ler, não somente pelo conteúdo, que por sinal, não deixa a desejar, mas porque, lendo Orwell, é possível captar o mundo, perceber, observar e compreender o que transcorre em cada decisão de grandes e pequenos, o que tudo vem a acarretar, o que um passado tem e o que um futuro pode trazer quando olhando de forma espelhada no passado.
O que Orwell me diz constantemente, sempre que penso no que li, é: O passado tem mais coisas a dizer, basta ver as experiências, basta ver o que deu 'certo' (pouquíssimas vezes) e o que deu 'errado' (zilhões de exemplos), basta ir ao tópico do "Mein Kampf" do Morfs para se ter um pequeno exemplo, básico...
Mas o ser humano é ignorante, é orgulhoso e não se deixa observar por olhos ultrapassados, procura sempre ser seu próprio senhor e moldar seu caminho com suas pernas Intelectuais que se dizem independentes e superiores.

Orwell diz uma coisa a cada um, não posso explicar uma compreensão, quando eu mesma já disse que cada um pensa de um forma diferente, é uma das coisas que ainda nos distingue!

Mas então, leia Orwell e discuta comigo! ^^
 
Última edição:
Eu achei A revolução dos Bichos chaaaaaaaaaaaaata. Sério, eu estava em um vôo de 3:30 de duração, sem acesso a internet nem nenhum outro livro para ler, e mesmo assim eu quase abandonei. Acho que na verdade teria sido mais interessante se eu tivesse lido anos atrás; hoje, a quantidade de analogias e críticas ao sistema soviético que eu já vi/li é tão grande que a narrativa não conseguiu me manter interessada.

Já 1984 é um livro de que eu vou lembrar para todo o sempre. A questão da "mudança do passado" é assustadora e realista, a gente percebe sinais deste tipo de coisa o tempo todo...
 
Bom, eu me divorciei da esquerda há tempos, execro o marxismo mas não posso deixar de admirar George Orwell. Ainda não li 1984 mas li A Revolução dos Bichos e pra mim aquilo fez sempre o maior sentido do mundo, foi um banho de água fria nos meus sonhos utópicos de adolescência pseudo-rebelde e pseudo-socialista. Revi muitas coisas depois dessa leitura.

E o texto mostra bem isso: o intelectual como dissidente. Discordo de Durkheim quanto ao fato do progresso social se dar muito por causa dos hereges e dissidentes (discordo da noção dele de 'progresso' e da falta de referencial moral e filosófico nessa análise), mas concordo que a dinâmica de toda a intelectualidade necessitar de espaço pra respirar e mesmo contrariando determinada ordem que seja razoavelmente boa, o intelectual precisa se separar dela, romper com ela para criar, para ter espaço e tempo, liberdade de pensar mais livremente, alçar voos mais altos. Se a ordem social é viciada, então... que seja logo derrubada!

E eu vejo Orwell dessa forma mesmo, fiel aos seus princípios e sua noção muito particular e antitotalitária de socialismo manteve-se sempre em uma corda bamba não por nela se equilibrar mas por nela sempre ser submetido, encarado, visto, sentido. Sempre um lado ou outro irá instrumentáliza-lo para o bem ou para o mal, para a crítica ou panfletagem e isso gera uma identificação com ele de minha parte. Volta e meia me sinto nessa corda bamba, entre conservadorismo e liberalismo, capitalismo e socialismo, ordem e caos, virtude e pecado, sempre no meio-termo ou tentando pegar o melhor de cada lado e rejeitando o pior, e ir lapidando algum referencial que não seja duro como diamante ou mole como gema de ovo, mas flexível, adaptável, real, enfim!
 
Eu achei A revolução dos Bichos chaaaaaaaaaaaaata. Sério, eu estava em um vôo de 3:30 de duração, sem acesso a internet nem nenhum outro livro para ler, e mesmo assim eu quase abandonei. Acho que na verdade teria sido mais interessante se eu tivesse lido anos atrás; hoje, a quantidade de analogias e críticas ao sistema soviético que eu já vi/li é tão grande que a narrativa não conseguiu me manter interessada.

Já 1984 é um livro de que eu vou lembrar para todo o sempre. A questão da "mudança do passado" é assustadora e realista, a gente percebe sinais deste tipo de coisa o tempo todo...

Sobre a revolução dos bichos acabo por confessar o mesmo! ^^
Li por conta de prova na escola, leitura obrigatória tem um gostinho especial. rsrs
Assimilei o que tinha de assimilar, o que fosse interessante e iria acrescentar no meu entendimento, mas de Orwell me apaixonei por 1984. E foi por precisar ler a revolução dos bichos que eu encontrei 1984 na biblioteca.
É basicamente o livro que indico para quem quer ler algo dele, se eu dissesse para começar com 'A revolução dos bichos' muitos teriam desistido.
 
Eu achei A revolução dos Bichos chaaaaaaaaaaaaata. Sério, eu estava em um vôo de 3:30 de duração, sem acesso a internet nem nenhum outro livro para ler, e mesmo assim eu quase abandonei. Acho que na verdade teria sido mais interessante se eu tivesse lido anos atrás; hoje, a quantidade de analogias e críticas ao sistema soviético que eu já vi/li é tão grande que a narrativa não conseguiu me manter interessada.

Sobre a revolução dos bichos acabo por confessar o mesmo! ^^

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