Re: Obras de Frederic Nietzsche
Nietzsche é o filosófo mais importante para entendermos a mentalidade atual, povoada de niilismo e sentimento de decadência, já pronunciadas de forma extremamente elaborada por Nietzsche.
A crítica que Nietzsche faz aos judeus (e ao judaísmo) é o mesmo tipo de crítica que ele faz a Lutero, por exemplo. Para o filósofo, Lutero é culpado por salvar o cristianismo quando este se encontrava em franca decadência rumo ao desaparecimento completo. E usa do mesmo tom ao criticar Bach e outros artistas de grande vulto da Europa que se utilizavam de temas cristãos e religiosos para criar suas obras de arte.
Penso que esses são, antes de tudo, exemplos claros do mordaz senso de humor de Nietzsche, sempre carregado de sarcasmo e ironias.
No próprio Ecce Homo ele chega a se pronunciar de forma indireta contra a irmã e o cunhado por terem um comportamento anti-semita. Vale esclarecer que o cunhado pretendia fundar uma colônia no Paraguai apenas para pessoas de sangue puro ou qualquer outra imbecilidade parecida.
Acho que tu pegou meio leve (ou pesado, depende do ponto de vista) com ele aí...
Nietzsche era sim ateu. Completa e totalmente ateu. E disse também que Deus está morto. Mas ao dizer isso, não queria proclamar apenas a morte de uma divindade, mas a morte de todos os valores dominantes até então através do cristianismo. Valores que não serviam mais ao homem, que perderam o seu propósito e validade. Portanto, Deus, e tudo o que ele representa, morreu, segundo o filósofo.
E ele até chega a se pronunciar o Anticristo, o inimigo da Igreja. Nas portas da loucura, é verdade. Mas novamente em nível mais filosófico do que teológico, é aí que está o "pulo do gato". Sempre fez parte da teoria nietzschiana a oposição entre Deus x Dioniso, moral x vida, etc.
Na verdade, a crítica contra os judeus só surge a partir do momento que seus reis são destronados e em seu lugar surge a elite clerical, que dominará até o fim de Judá. Ele até elogia o Deus judaico, antes da ascensão dos clérigos como os donos do poder. Mais ou menos como os Gibelinos e os Guelfos, a luta entre Império e Igreja na nossa Idade Média.
O problema de Nietzsche com o Cristianismo é mais em conta de sua religião ter um certa disposição ao acomodamento, um certo distanciamento da realidade, que a elite guerreira, como líderes, não deixava "infectar" a sociedade como um todo. Enquanto o Cristianismo foi um propulsor para mudanças e conquistas, como nas Cruzadas, e liderado principalmente pelo Imperador, eu acredito que Nietzsche não via grandes problemas (ele até mesmo elogia fortemente Frederico II, muito embora este fosse um rei cristão). Entretanto, com a vitória da Igreja, houve uma inversão de papéis. O aspecto contemplativo conquistou o aspecto guerreiro da religião, sendo este agora o ideal. É como se as pessoas não mais tivessem como ideal o conquistar por Cristo, mas sim orar e orar. O Cristianismo deixou de ser um propulsor para algo maior (note-se que após este momento, na Europa praticamente todas as expansões vão ser motivadas por motivos econômicos, tendo um verniz religioso).
Entretanto, no Renascimento, Nietzsche enxergou uma possibilidade das coisas voltarem ao seu lugar natural. De fato, com a Igreja muitas vezes sendo questionada, sem entretanto a fé o ser, temos uma espiritualidade, ainda que diferente da eclesiástica. Era um possível retorno ao Império, ou ao menos à sua mentalidade. Porém, e aí entra a sua crítica a Lutero, vem a Reforma, e novamente o "cristianismo eclesiástico", com a Reforma e a Contra-Reforma, pode impor sua mentalidade, tanto do lado protestante quanto do lado católico.
Logo, Nietzsche não era anticristão em absoluto. Era apenas um grande crítico do que a Igreja(novamente, lembrar que esta, mesmo na Idade Média, não era a única entidade espiritual católica) havia feito, ao retirar de cena um componente essencial de qualquer escola filosófica, de qualquer povo ainda vivo e saudável, a "Vontade de Poder", por ser algo contra a ordem natural das coisas, e em especial do Cristianismo do seu tempo, no qual essas tendências estavam muito mais que acentuadas.
editei porque tinha errado feio numa parte aqui
