Olha, até onde eu sei não existe armadura de placas em Tolkien não. Armaduras de placas são algo do período pré-Renascentista, pra não dizer Renascentismo mesmo. Elas inclusive nem foram quase utilizadas na história, pois restringiam demais os movimentos, eram pesadas, feitas sob medida e necessitavam de muito auxílio para serem vestidas, eram caras e nessa época, com o surgimento dos arcabuzes e mosquetes primitivos, a armadura exercia pouca influência no sentido de proteção; trocando por miúdos, não compensava. A obra do Tolkien não reflete o renascentismo, e sim a Idade Média.
É fantasia, tudo bem, mas somos também influenciados demais nesse sentido pela fantasia da aparência romântica do cavaleiro andante, alvo na sua armadura reluzente e seu cavalo imponente.
Mesmo assim, todas as referências de armaduras são para com cotas, a excessão dessa, e somente dessa, que cita uma armadura negra. Se houver algum tipo de placa nessa armadura, seria algo profundamente rudimentar. Uma cota de malha com algumas placas engastadas, por exemplo, ombreiras, mesmo assim duvido muito em algo nesse sentido. As mais renomadas armaduras da Terra-média eram as feitas pelos anões. Armadura reflete o conjunto de proteção do indivíduo, por exemplo: uma cota-de-malha completa + elmo perfaziam uma armadura. Muita gente tem a visão da cota-de-malha sendo um colete de anéis metálicos interligados. Isso não é necessariamente verdade. Falamos de cotas-de-malha, e não coletes de cotas-de-malhas.
Não obstante, a cota-de-malha é a base para a armadura de placas. Tal qual é o corselete de couro uma base para a cota-de-malhas.
É, sabe o Frodo usando a cota de mithril direto na pele? Pura besteira, aquilo não existia. Usava-se um corselete de couro por baixo da malha metálica. As armaduras do filme são apelo cinematográfico. É pra ficar mais bonito, não mais que isso. Querendo ou não, a armadura de Morgoth, mesmo que fosse de placas, tinha cota-de-malha.
Assim sendo, a armadura negra pode muito bem se referir ao conjunto como um todo: uma cota de malha, junto com a coroa, prováveis botas e talvez uma túnica, todos negros, formando, em conjunto de uma armadura negra. Não muito mais que isso.
Devemos lembrar que a forjaria das "forças do mal" era algo realmente tosco. No sentido puro da palavra: mal acabado, mal lapidado. É até mesmo possível de conceber que os exércitos de Melkor mal sabiam fazer uma cota-de-malha, ferreiros anões capturados e escravizados provavelmente ensinaram ou fizeram eles mesmo cotas rústicas. Os anões eram demais invejosos com suas invenções.
Uma cota-de-malha era sempre dita em referência a algo belo, bem trabalhado, reluzente, leve, forte; a malha de elos unidos, inventada pelos anões, era sinônimo de beleza. Talvez a cota (digamos só cota) de Melkor nem fosse vista, realmente, como uma cota-de-malha por ser tosca, mal acabada; feia, por assim dizer. Da mesma forma em que no bem advém o "prateado", "reluzente", o mal trás o "ferro", o "negro", o "rústico". Uma armadura composta é uma proteção composta por uma malha e "pedaços" de outras armaduras: uma luva aqui, um elmo acolá, uns reparos ali, um corselete de couro lá; não era uma armadura de placas de modo algum, mas era uma
armadura composta; pois todo o
conjunto perfazia numa coisa só, de primária função:
proteção.
Eu acho que "armadura" no caso, se referia ao "conjunto proteção" de Melkor; e não à uma armadura de placas propriamente dita. É uma influência cultural do romantismo a crença de que a palavra "armadura" se reflita tão somente às armaduras de placas.