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Crônicas

Fingolfin

Feitiço de Áquila
Estou criando esse tópico para que possamos postar Crônicas em geral... assim podemos trocar crônicas que lemos ou recebemos e de tão boa dá aquela vontade de passar pra todo mundo.

Essa é a melhor crônica q eu já li... mesmo pq ela retratar 90% da minha infância... e não é só pra quem gosta de futebol não...

Futebol de Rua
Luis Fernando Veríssimo


Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando. Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora.

Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim:

DA BOLA - A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão menor, que sairá correndo para se queixar m casa. No caso de usar uma pedra, lata ou outro objeto contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De preferência os novos, do colégio. Quem jogar descalço deve cuidar para chutar sempre com aquela unha do dedão que estava precisando ser aparada esmo. Também é permitido o uso de frutas ou legumes em vez de bola, recomendando-se nestes casos a laranja, a maçã, o chuchu e a pêra. Desaconselha-se o uso de tomates, melancias e, claro, ovos. O abacaxi pode ser utilizado, mas aí ninguém quer ficar no gol.

DAS TRAVES - As traves podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu irmão menor e até o seu irmão menor, apesar os seus protestos. Quando o jogo é importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para agüentarem o impacto. A distância regulamentar entre uma trave e outra dependerá de discussão prévia entre os jogadores. Às vezes esta discussão demora tanto que quando a distância fica acertada está na hora de ir jantar. Lata de lixo virada é meio gol.

DO CAMPO - O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, rua e a calçada do outro lado e - nos clássicos - o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua.

DA DURAÇÃO DO JOGO - Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.

DA FORMAÇÃO DOS TIMES - O número de jogadores em cada equipe varia, de um a 70 para cada lado. Algumas convenções devem ser respeitadas. Ruim vai para o gol. Perneta joga na ponta, a esquerda ou a direita dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque.

DO JUIZ - Não tem juiz.

DAS INTERRUPÇÕES - No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada numa destas eventualidades:

a) Se a bola for para baixo de um carro estacionado e ninguém conseguir tirá-la. Mande o seu irmão menor.

b) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar não mais de 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isso não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa ou apartamento e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação. Se o apartamento ou casa for de militar reformado com cachorro, deve-se providenciar outra bola. Se a janela atravessada pela bola estiver com o vidro fechado na ocasião, os dois times devem reunir-se rapidamente para deliberar o que fazer. A alguns quarteirões de distância.

c) Quando passarem pela calçada:

1) Pessoas idosas ou com defeitos físicos.

2) Senhoras grávidas ou com crianças de colo.

3) Aquele mulherão do 701 que nunca usa sutiã.

Se o jogo estiver empatado em 20 a 20 e quase no fim, esta regra pode ser ignorada e se alguém estiver no caminho do time atacante, azar. Ninguém mandou invadir o campo.

d) Quando passarem veículos pesados pela rua. De ônibus para cima. Bicicletas e Volkswagen, por exemplo, podem ser chutados junto com a bola e se entrar é gol.

DAS SUBSTITUIÇÕES - Só são permitidas substituições:

a) No caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer a lição.

b) Em caso de atropelamento.

DO INTERVALO PARA DESCANSO - Você deve estar brincando...

DA TÁTICA - Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o Futebol de Verdade (que é como, na rua, com reverência, chamam a pelada), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina, é córner.

DAS PENALIDADES - A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar um adversário dentro do bueiro. É considerada atitude antiesportiva e punida com tiro indireto.

DA JUSTIÇA ESPORTIVA - Os casos de litígio serão resolvidos no tapa.
 
hmmmkay...

:think:

não deixem de citar referência completa. e, se receberem a crônica por e-mail, de checarem se é de quem se fala que é (acho que vocês já conhecem as histórias sobre as crônicas do Jabor na internet, não? :obiggraz: )
 
Hum... Acabei de ler um livro de crônicas. Era Trem-Bala, da Martha Medeiros. Achei muito legal a maneira que ela escreve. :D Às vezes, parece que ela captava o meu pensamento e colocava no papel...

Essa é uma das crônicas do livro. Retirei do site www.prosaepoesia.com.br
Ah... como o Luís Fernando Veríssimo acima, esta é também uma escritora gaúcha. :mrgreen:

Não Basta Amar
Martha Medeiros


Por mais que o poder e o dinheiro tenham conquistado uma ótima posição no ranking das virtudes, o amor ainda lidera com folga. Tudo o que todos querem é amar. Encontrar alguém que faça bater forte o coração e justifique loucuras. Que nos faça entrar em transe, cair de quatro, babar na gravata. Que nos faça revirar os olhos, rir à toa, cantarolar dentro de um ônibus lotado. Tem algum médico aí?? Depois que acaba esta paixão retumbante, sobra o que? O amor. Mas não o amor mistificado, que muitos julgam ter o poder de fazer levitar. O que sobra é o amor que todos conhecemos o sentimento que temos por mãe, pai, irmão, filho. É tudo o mesmo amor, só que entre amantes existe sexo. Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja. O amor é único, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus. A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue, a sedução tem que ser ininterrupta. Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna. Casaram. Te amo prá lá, te amo prá cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas. Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Agressões zero. Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência. Amor, só, não basta. Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber levar. Amar, só, é pouco. Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas prá pagar Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar. Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar. Entre casais que se unem visando a longevidade do matrimônio tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo prá cada um. Tem que haver confiança. Uma certa camaradagem as vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar, "solamente", não basta. Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado. O amor é grande mas não é dois. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.
 
Essa crônica foi escrita pelo João Ximenes Braga na sua coluna do jornal O Globo no dia 5 de Outubro.

Acho que quem mora ou morou no Rio vai entender melhor... mas é válido para qq pessoa.

Leblão
João Ximenes Braga


Eu tenho um blog. Uma coisa estranhíssima que me obriga a ler o que os outros pensam sobre o que escrevo, mesmo sem fazer muita questão. Então outro dia me manifestei lá sobre a história das termas no Leblon. Para minha surpresa, uma leitora perguntou se eu tinha preconceito contra o bairro. Preconceito contra... o Leblon?!?!

Escrevi o seguinte: “Como todo mundo sabe, morador do Leblon é muito preocupado com a qualidade de vida no bairro. Agora, eu nunca soube de termas atrapalharem a vida da vizinhança. É um negócio cuja alma é a discrição e o silêncio. Então fico com a impressão de que os moradores do Leblon, a fina flor de nossa elite, estão é horrorizados com a idéia de que vai ter gente fazendo — imaginem só! — sexo nas imediações. Já pensou? Sexo! Em pleno Leblon! O que os vizinhos de Ipanema vão pensar?”.

Nunca faria humor com minorias que sofrem preconceito no mundo real. Não por ser politicamente correto, mas por achar que esse tipo de humor quase nunca tem graça. Mas agora a gente não pode fazer mais piada nem com o Leblon?! Justo nosso bairro mais por cima da carne-seca? Ou estamos politicamente corretos demais, ou o lobby do Leblon é muito poderoso.

É verdade que tenho antipatia por certas associações de moradores da Zona Sul. Por vezes elas me parecem fazer parte de um complô para transformar o Rio numa cidade do interior (como se precisássemos disso em pleno governo do diminutivo), fechando bares e boates e tentando impor toque de recolher.

Por vezes elas me parecem... gananciosas. Dia desses na coluna “Gente boa”, alguém se queixava que um hospital na Fonte da Saudade desvalorizaria seus imóveis de R$ 4 milhões. Soa como dizer “no meu pirão ninguém mete a mão, mermão ”.

Diante disso tudo, podem me bater, me xingar, mas vou exercer meu direito de fazer humor com o Leblon, sim! E vamos nós:

1. Quantos moradores do Leblon são necessários para trocar uma lâmpada?

Só um. Que vai contratar um morador da Rocinha para fazer o serviço.

2. Um rabino, um padre, um pastor e um morador do Leblon estavam perdidos no deserto. Mas não rendeu nenhum diálogo engraçado, pois o morador do Leblon não deixou ninguém falar. Ficou reclamando que paga um IPTU altíssimo mas têm três pedras portuguesas soltas no caminho entre o Jobi e a Guanabara.

3. Três mães almoçam no Zuka. A italiana diz ao filho pequeno:

— Come tudo senão eu TE mato!

A judia diz:

— Come tudo senão eu ME mato!

A do Leblon diz:

— Come senão vão pensar que eu não te ensinei a apreciar alta gastronomia!

4. Conhece aquela do papagaio que morava no Leblon? Ele não falava palavrão, claro. Só quando reclamava dos Gasparian não incluírem quiche de semente de girassol no cardápio do Café Severino.

5. Três moças no Sushi Leblon. Uma diz:

— Nós morenas seremos as primeiras mulheres a pisar na Lua!

Outra responde:

— Nós louras vamos ser as primeiras a pisar no Sol!

— Mas vocês vão morrer esturricadas.

— Hellooo! A gente vai pra lá de noite!

Só então a terceira moça se manifesta:

— Ih, eu moro no Leblon, não preciso ir a lugar nenhum. Aqui tem tudo.

6. O Juquinha pergunta à Mariazinha:

— Posso botar meu dedinho no seu umbiguinho?

Mariazinha responde:

— De jeito nenhum! Eu moro no Leblon. Tá me confundindo com a Mariazinha de Copacabana?

Tentei piadas sobre a Fonte da Saudade. Mas... É um bairro tão sem personalidade que nada saiu.
 
Bom... pelo visto só eu gostei da idéia de um tópico de crônicas... vou tentar mais uma... ver se o tópico sobrevive

MULHERES

Taí uma coisa pra ser pensada, repensada....
Outro dia, a Adriane Galisteu deu uma entrevista dizendo que os homens não querem namorar as mulheres que são símbolos sexuais. É isto mesmo. Quem ousa namorar a Feiticeira ou a Tiazinha? As mulheres não são mais para amar; nem para casar.São para "ver".

Que nos prometem elas, com suas formas perfeitas por anabolizantes e silicones? Prometem-nos um prazer impossível, um orgasmo metafísico, para o qual os homens não estão preparados...
As mulheres dançam frenéticas na TV, com bundas cada vez mais malhadas, com seios imensos, girando em cima de garrafas, enquanto os pênis-espectadores se sentem apavorados e murchos diante de tanta gostosura.

Os machos estão com medo das "mulheres-liquidificador". O modelo da mulher de hoje, que nossas filhas ou irmãs almejam ser (meuDeus!), é a prostituta transcendental, a mulher-robô, a Valentina", a "Barbarela", a máquina-de-prazer sem alma, turbinas de amor com um hiperatômico tesão.

Que parceiros estão sendo criados para estas pós-mulheres? Não os há. Os "malhados", os "turbinados" geralmente são bofes-gay, filhos do mesmo narcisismo de mercado que as criou. Ou, então, reprodutores como o Zafir, para o Robô-Xuxa. A atual "revolução da vulgaridade", regada a pagode, parece "libertar" as mulheres. Ilusão à toa.

A "libertação da mulher" numa sociedade escravista como a nossa deu nisso:Superobjetos. Se achando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor, carinho e dinheiro.

São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades. Mas, diante delas, o homem normal tem medo. Elas são "areia demais para qualquer caminhãozinho". Por outro lado, o sistema que as criou enfraquece os homens. Eles vivem nervosos e fragilizados com seus pintinhos trêmulos, decadentes, a meia-bomba, ejaculando precocemente, puxando sacos, lambendo botas, engolindo sapos, sem o antigo charme "jamesbondiano" dos anos 60. Não há mais o grande "conquistador". Temos apenas os "fazendeiros de bundas" como o Huck, enquanto a maioria virou uma multidão de voyeur, babando por deusas impossíveis.

Ah, que saudades dos tempos das bundinhas e peitinhos "normais" e "disponíveis"... Pois bem, com certeza a televisão tem criado "sonhos de consumo" descritos tão bem pela língua ferrenha do Jabor (eu).

Mas ainda existem mulheres de verdade. Mulheres que sabem se valorizar e valorizar o que tem "dentro de casa", o seu trabalho. E, acima de tudo, mulheres com quem se possa discutir um gosto pela música, pela cultura, pela família, sem medo de parecer um "chato" ou um "cara metido a intelectual". Mulheres que sabem valorizar uma simples atitude, rara nos homens de hoje, como abrir a porta do carro para elas. Mulheres que adoram receber cartas, bilhetinhos (ou e-mails) românticos!! Escutar no som do carro, aquela fitinha velha dos Beegees ou um cd do Kenny G (parece meio breguinha)... mas é tão boooom namorar escutando estas musiquinhas tranquilas!!!

Penso que hoje, num encontro de um "Turbinado" com uma "Saradona" o papo deve ser do tipo:
-"meu"... o meu professor falou que posso disputar o Iron Man que vou ganhar
fácil!."
"Ah "meu"...o meu personal Trainner disse que estou com os glúteos bem em forma e que nunca vou precisar de plástica".

E a música??? Só se for o "último sucesso (????)" dos Travessos ou "Chama-chuva..." e o "Vai Serginho"???...

Mulheres do meu Brasil Varonil!!! Não deixem que criem estereótipos!! Não comprem o cinto de modelar da Feiticeira. A mulher brasileira é linda por natureza!! Curta seu corpo de acordo com sua idade, silicone é coisa de americana que não possui a felicidade de ter um corpo esculpido por Deus e bonito por natureza. E se os seus namorados e maridos pedirem para vocês "malharem" e ficarem iguais à Feiticeira, fiquem... igual a feiticeira dos seriados de Tv: Façam-os sumirem da sua vida !!!

Arnaldo Jabor
 
Bom... pelo visto só eu gostei da idéia de um tópico de crônicas... vou tentar mais uma... ver se o tópico sobrevive

Eu ainda toh chegando na valinor, mas adorei o topico!!! Sou få incondicional de cronicas, e jah toh procurando uma pra postar tb... nao gostaria q o topico morresse......

Opa, faltou eu dizer: meu cronista favorito, alem do verissimo, eh o mario prata!

Recado da Joy: Moça, quando você esquecer de falar algo e o último post ainda for o seu, use o "Editar" que você ali no canto superior direito do seu post. :wink:
 
Gostei muito do tópico e vou postar umas cronicas aqui também! E meu cronista favorito é o Verissimo também! Adoro ele!

E aí vai uma cronica dele que eu adoro, daquele livro "A Mesa Voadora"

O come e não engorda

Ninguém é mais admirado ou invejado do que o come e não engorda. Voce o conhece. É o que come o dobro do que nós comemos e tem a metade da circunferencia e ainda se queixa:
- Não adianta. Não consigo engordar.
O come e não engorda é meu ídolo. Só não lhe peço autógrafo por inibição. Meu sonho é emagrecer e depois nunca mais engordar, por mais que tente. Quando eu diminuir, quero ser um come e não engorda.

Não se deve confundir o come e não engorda com o enfastiado. Este pertence a outra especie. Não é humano. Pode até ser melhor do que nós, um aperfeiçoamento, mas não é humano. Afinal, o que une a humanidade é o seu apetite comum. Não é por nada que partilhar da comida com o próximo tem sido um simbolo de concordia desde as primeiras cavernas. Até hoje as conferencias de paz se fazem em volta de uma mesa onde a comida, se não está presente, está implicita. Desconfie do enfastiado. Ele será um agente de outra galáxia ou um poço de perverções, ou as duas coisas. De qualquer maneira, mantenha-o longe das crianças. Quando encontrar alguém na frente de um prato cheio só emparelhando as ervilhas com a ponta da faca, notifique os orgãos de segurança. É um enfastiado e pode ser perigoso. Sempre achei que as pessoas que comem como um passarinho deviam ser caçadas a bodoque. O seu fastio, inclusive, é um escárnio aos que querem comer e não podem.

Já o come e não engorda compartilha do nosso apetite, só que não compartilha das consequencias. Ele repete a massa e não tem remorso. Pede mais chantilly e sua voz não treme. Molha o pão no café com leite! E ainda se queixa:
- Há quinze anos tenho o mesmo peso!

O come e não engorda só parou de mamar no peito porque proibiram sua mãe de ficar junto na quartel. Quando o come e não engorda nasceu, uma estrela misteriosa apareceu no Guide Michelin de restaurantes para aquele ano. O come e não engorda caminha sobre a sauce bernaise e não afunda. Multiplica os filés de peixe à meunière e os pães de queijo. Por onde o come e não engorda passa, as ovelhas se atiram para trás e pedem "me assa!". O come e não engorda tem o degredo da Vida e da Morte e, suspeita-se, o telefone da Bruna Lombardi. E ainda se queixa:
- Tenho que tomar quatro milk-shakes entre as refeições. Dieta.
Dieta! E voce ali, de olho arregalado.[/b]
 
Vou dar mais uma ressucitada no tópico. :mrgreen:

Simplicidade
Luiz Fernando Veríssimo


Quando tinha 14 anos, esperava ter uma namorada algum dia.

Quando tinha 16 anos tive uma namorada, mas não tinha paixão.

Então percebi que precisava de uma mulher apaixonada, com vontade de viver.

Na faculdade sai com uma mulher apaixonada, mas era emocional demais. Tudo era terrível, era a rainha dos problemas, chorava o tempo todo e ameaçava se suicidar.

Então percebi que precisava de uma mulher estável.

Quando tinha 25 encontrei uma mulher bem estável, mas chata.

Era totalmente previsível e nunca nada a excitava. A vida tornou-se tão monótona que decidi que precisava de uma mulher mais excitante.

Aos 28 encontrei uma mulher excitante, mas não consegui acompanhá-la de um lado para o outro sem se deter em lugar nenhum. Fazia coisas impetuosas e paquerava com qualquer um que me fez sentir tão miserável como feliz. O começo foi divertido e eletrizante, mas sem futuro.

Então decidi buscar uma mulher com alguma ambição.

Quando cheguei nos 31, encontrei uma mulher inteligente, ambiciosa e com os
pés no chão.

Decidi me casar com ela. Era tão ambiciosa que pediu o divórcio e ficou com
tudo que eu tinha.

Hoje, com 40 anos, gosto de mulheres com bunda grande...

E só.


"Nada como a simplicidade..."


( Luís Fernando Veríssimo )
 

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