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Galera, primeira vez que vou postar alguma coisa minha aqui! Não é o texto final, é rascunho mas sei lá... espero que vocês vejam =D, se puderem criticar, melhor ainda!!!
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Consequências
Dois trens já partiram desde que cheguei à estação terminal norte. Nem o persistente esvoaçar do sobretudo faz o lânguido jovem de cabelo cinzento se mover. Parado em frente à plataforma cinco, fita constantemente o nada com uma expressão vazia. Antes de abandonar o frio assento cimentado no
chão, o relógio do alto da torre me aponta que o último trem chegará em cinco minutos. Tangido pelo som de minha gélida respiração, sinto a voz do inconsequente ecoar como um trovão em minha cabeça
- É uma bela noite gelada. Sempre é... gelada, mas hoje também está estonteante. Para mim, lá na torre a vista montanhosa é melhor, é vertiginosa, sensacional!
Silenciosamente observo a torre, sacando um velho cigarro esquecido no bolso do casaco. Tentava medir a altura até o relógio quando o eco toma minha atenção novamente
- Essa rotina tem se tornado muito cansativa. Não sei ao certo se o trem tem uma falha mecânica ou meu bilhete é que está errado porque há sempre empecilhos para pegar esse trem. Da última vez em que o observei da torre, funcionava bem e lotava tanto que fazia suar. O frio sempre despeja em mim um silêncio repreensivo que não lembra nada essa descrição, mas consigo manter fixa a imagem atrás dos olhos.
Um vendaval indigo corta a paisagem grafitada, anunciando a proximidade do trem.
- Sempre faço o que quero, mas confesso que hoje notei que minhas tolices me engoliram. O inverno não me deixa pensar direito... queria me vomitar!
Olhando para a torre outra vez, penso que talvez seja a noite que escureça a sensatez.
- Mas apesar de tolo, guardo os conselhos do meu pai desde criança : "Faça o que quiser, mas enfrente as consequências, Alexandre". É por isso que vou para casa dizer a ele que não penso mais em fugir.
Pela primeira vez o inconsequente tentou ser sensato, apesar de teimoso. Percebo que luzes se apagam com a chegada do trem.
- Chegou antes do esperado!
Esse simples fato deu brilho aos olhos do contraditório falador, farto da rotina! Constatei a surpresa verificando o horário e quando ia tirar o cigarro, que não consegui acender, da boca a força do vento o lança aos trilhos. As portas do trem se abrem para todas as plataformas exceto para a plataforma cinco.
- Quanto tempo terei que esperar?
Ninguém entra ou sai do trem a não ser a escuridão que assola a estação. Os olhos vazios agora são os mesmos de quando o observei minutos atrás. Em meio a uma névoa fria, o teimoso volta a ficar imóvel.
Os sinos da igreja já noticiam a missa programada quando de costas para o trem, o jovem cansado verifica seu ticket de embarque com a expressão mais confusa desde que me deparei com ele.
- Aqui sempre diz que posso retornar. Talvez amanhã?
O cansaço obriga a pensar ... e depois de algum tempo, finalmente rompendo o ar frio, minha voz leva um bom senso aos ouvidos.
- Os bilhetes sempre darão direito a retorno, mas há limites para onde se pode ir... - e pensei, então de que me serve esse se não pode me levar para onde quero?
De repente o inconsequente se foi...
- É pai, o senhor tem razão. Para que eu enfrente as consequências. Talvez seja hora para isso.
Com um breve sorriso e intenção de lágrimas nos olhos, começo a rasgar o bilhete lançando os pedaços pelo chão cinzento da plataforma, finalmente partindo para fora da estação acompanhado pelo sol, que agora parece prometer mudar o clima.
Um raio de sol chama minha atenção para a porta de entrada e pela primeira vez em exatamente um ano, observo uma placa de alerta que informa novas medidas de segurança impedindo o acesso à torre. Leio
para os meus ouvidos :
- "Em memória de Alexandre Gaia (1990-2009)".
E com a visão quase invisível, leio em pensamento uma última observaçao com letras tortas rabiscada no canto inferior esquerdo da placa:
"Que Deus tenha misericórdia de ti"[/align]
Este texto foi escrito por Fabíola Rozendo em maio de 2009.
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Consequências
Dois trens já partiram desde que cheguei à estação terminal norte. Nem o persistente esvoaçar do sobretudo faz o lânguido jovem de cabelo cinzento se mover. Parado em frente à plataforma cinco, fita constantemente o nada com uma expressão vazia. Antes de abandonar o frio assento cimentado no
chão, o relógio do alto da torre me aponta que o último trem chegará em cinco minutos. Tangido pelo som de minha gélida respiração, sinto a voz do inconsequente ecoar como um trovão em minha cabeça
- É uma bela noite gelada. Sempre é... gelada, mas hoje também está estonteante. Para mim, lá na torre a vista montanhosa é melhor, é vertiginosa, sensacional!
Silenciosamente observo a torre, sacando um velho cigarro esquecido no bolso do casaco. Tentava medir a altura até o relógio quando o eco toma minha atenção novamente
- Essa rotina tem se tornado muito cansativa. Não sei ao certo se o trem tem uma falha mecânica ou meu bilhete é que está errado porque há sempre empecilhos para pegar esse trem. Da última vez em que o observei da torre, funcionava bem e lotava tanto que fazia suar. O frio sempre despeja em mim um silêncio repreensivo que não lembra nada essa descrição, mas consigo manter fixa a imagem atrás dos olhos.
Um vendaval indigo corta a paisagem grafitada, anunciando a proximidade do trem.
- Sempre faço o que quero, mas confesso que hoje notei que minhas tolices me engoliram. O inverno não me deixa pensar direito... queria me vomitar!
Olhando para a torre outra vez, penso que talvez seja a noite que escureça a sensatez.
- Mas apesar de tolo, guardo os conselhos do meu pai desde criança : "Faça o que quiser, mas enfrente as consequências, Alexandre". É por isso que vou para casa dizer a ele que não penso mais em fugir.
Pela primeira vez o inconsequente tentou ser sensato, apesar de teimoso. Percebo que luzes se apagam com a chegada do trem.
- Chegou antes do esperado!
Esse simples fato deu brilho aos olhos do contraditório falador, farto da rotina! Constatei a surpresa verificando o horário e quando ia tirar o cigarro, que não consegui acender, da boca a força do vento o lança aos trilhos. As portas do trem se abrem para todas as plataformas exceto para a plataforma cinco.
- Quanto tempo terei que esperar?
Ninguém entra ou sai do trem a não ser a escuridão que assola a estação. Os olhos vazios agora são os mesmos de quando o observei minutos atrás. Em meio a uma névoa fria, o teimoso volta a ficar imóvel.
Os sinos da igreja já noticiam a missa programada quando de costas para o trem, o jovem cansado verifica seu ticket de embarque com a expressão mais confusa desde que me deparei com ele.
- Aqui sempre diz que posso retornar. Talvez amanhã?
O cansaço obriga a pensar ... e depois de algum tempo, finalmente rompendo o ar frio, minha voz leva um bom senso aos ouvidos.
- Os bilhetes sempre darão direito a retorno, mas há limites para onde se pode ir... - e pensei, então de que me serve esse se não pode me levar para onde quero?
De repente o inconsequente se foi...
- É pai, o senhor tem razão. Para que eu enfrente as consequências. Talvez seja hora para isso.
Com um breve sorriso e intenção de lágrimas nos olhos, começo a rasgar o bilhete lançando os pedaços pelo chão cinzento da plataforma, finalmente partindo para fora da estação acompanhado pelo sol, que agora parece prometer mudar o clima.
Um raio de sol chama minha atenção para a porta de entrada e pela primeira vez em exatamente um ano, observo uma placa de alerta que informa novas medidas de segurança impedindo o acesso à torre. Leio
para os meus ouvidos :
- "Em memória de Alexandre Gaia (1990-2009)".
E com a visão quase invisível, leio em pensamento uma última observaçao com letras tortas rabiscada no canto inferior esquerdo da placa:
"Que Deus tenha misericórdia de ti"[/align]
Este texto foi escrito por Fabíola Rozendo em maio de 2009.