Eru disse:
Primula disse:
Bem, incrivelmente também temos um sério problema com o armamento, gente... A classe média mata por "Se na periferia se mata por um desentendimento no jogo de cartas, a classe média extravasa a agressividade matando gente em rachas de carro ou brigas no trânsito, botando fogo em índios e mendigos, assassinando pai e mãe ou exterminando namorada. " (extraído do soudapaz.com.br)
Esse são casos patólógicos.
Não vou discutir que são patológicos. O ponto é que muitos patológicos já tem acesso a armas e estão matando e dando notícia na TV.
Seria necessário avaliar então... Quem é que vai analisar se um cidadão tem equilíbrio para portar uma arma?
Sim, temos muitos marginais... mas dar armas para todos é garantia de que a taxa de patológicos armados também vai aumentar. E como muitas patologias são "aceitáveis" para o brasileiro (como é aceitável e compreendido ser bandido), acontece como o caso do sr. Antonio Gissi Tomaz, que matou sua ex-namorada dois dias depois do caso Camila... o detalhe é que ele já respondia processo por matar sua esposa em acesso de ciúmes (bem do lado do quarto dos filhinhos), mas respondia o processo em liberdade por ser réu primário.
Então todos devíamos ser avaliados...? Ah, mas eu também conheço casos de psicológos que dão parecer tendenciosos demais (um lado apenas, deixando-se envolver emocionalmente com esse lado) que avaliam de forma errônea um homem apenas porque uma mulher disse que sofreu agressão.
Não acho nada saudável uma população à beira de um ataque de nervos se armar assim... além de me preocupar com o marginal, também tenho de me preocupar com o motorista que me fecha e acha que está no seu direito de sair costurando no trânsito e volta para meter uma bala no desafeto, teria medo do motorista de ônibus que numa simples discussão descarrega a arma (que devia ser para se defender em assalto no ônibus) em cima de um passageiro bêbado e chato.
Essa neurose toda só cria um clima de desconfiança maior ainda até de quem poderia vir em meu socorro, ou pior: eu teria medo de socorrer alguém pois ele poderia pensar que o bandido voltou para acabar com o serviço.
Fazendo um paralelo com economia de água: andando na rua, meio dormindo no ônibus ou no trem, volta e meia alguém fala que devíamos todos economizar, que é um abuso o desperdício que viu outro dia o sicrano fazer, empurrando uma folhinha com um jato de agua... mas eu fico encafifada: se eu escuto isso todo santo dia de alguma boca que nem sei porque é que só vejo todo mundo desperdiçando?
Resposta: é que novamente esperamos que o outro faça primeiro e não sejamos nós os primeiros trouxas. O Estado somos nós, mas sempre esperamos que o Estado faça algo. É algo paradoxal e broxante.
Uma pessoa não reagir em um assalto não significa que ela deva deixar a situação assim. Sim, a polícia é falha, blábláblá... mas reagir por reagir in loco é apenas uma forma de se matar. Principalmente quando você tem alguém a seu lado para proteger. (o caso do Fred da novela que tanto falam me vêm à mente)
E não reagir e dar a certeza de que não vai reagir também é uma forma potencial de se matar. Eu já reagi a dois caras armados que queriam entrar no meu carro e me levar sabe-se lá pra onde jogando o carro contra eles num cavalo de pau (sim, meu 1.0 pode ser considerado uma arma). Sabe-se lá onde eu estaria hoje se não tivesse feio isso naquela hora.
Situação diferente: você num congestionamento e um "franelinha" te aponta uma arma te mandando para o banco do passageiro.
Como disse, a reação vai depender de dois fatores: tenho chance de sobreviver, e qual vai ser o dano efetivo ao marginal.
Reação pra mim não é só descer cacete (que aliás muita mulher anda mandando bem) no bandido. Falta de reação é simplesmente "esquece isso acontece com todo mundo", e não é isso o que eu gostaria de ver nas pessoas. Reação é guardar aquilo na cabeça, ter um "já vi esse cara antes" quando ele vier se apresentar para pedir algo a você.
Tenho mania até de guardar direitinho o rosto de pedintes nas ruas e nos ônibus para saber há quanto tempo ele não quer sair dessa. (tem uma mulher que sempre entra no FEPASA, e um clone chorão do Frodo com seu cachorro na Liberdade e um cara de 47 anos que vive pedindo dinheiro em ônibus da Vila Angela e...)
Uma reação não-violenta, não significa fazer passeatas "chega de violência", mas uma mudança do que temos como sociedade hoje, para começar.
Um bom motivo porque temos esse tipo de violência em cidades grandes, é porque não temos noção de comunidade. No sentido de que o anonimato nos protege, é muita gente, ninguém guarda nossas caras.
Uma reversão nisso seria interessante. Saber quem é o seu vizinho, para começar. Saber quem é estranho no bairro.
Isso é interessante sim. Mas aí estariamos indo na contra-mão da história. O flaneur anônimo é uma figura urbana que já era denunciada no século XIX, quando a maior cidade do mundo (Londres) era 10 vezes menor do que São Paulo (a cidade). Mas de fato seria uma alternativa interessante. E sabe que eu gostei quando, não me lembro se foi o V, mencionou uma cena hipotética onde o ladrão aponta a arma pra vítima e imediatamente todos a volta apontam as suas pra ele. Gostaria de ver isso.
Apenas o simples ato de não ignorar já intimidaria. O simples fato de não ter UM herói, mas vários também intimida (não depois que a desgraça aconteceu e o bandido desarmado é pego já pela polícia).
Uma coisa que eu sempre digo para minha mãe: não assista esses Datena para saber que existe violência, mas para gravar o nome dos criminosos, o rosto deles.
Uma experiência que acho totalmente válida para tirar fora o glamour de bandido, a compreensão com o bandido, são as dramatizações com atores (semelhantes aos marginais). Já viram que todo mundo depois que é preso fica com cara de coitado? Exatamente o mesmo sentimento existe quando você conhece um cara que conta sua estória bárbara (do ponto de vista dele) e por isso não há denuncia sobre um foragido. A nova comunidade simpatiza com a estória do "coitado", sem nem ao menos verificar o outro lado.
Quanto a ir na contra mão da história... acho que minha proposta é exatamente pegar elementos da antiguidade: cidades pequenas onde todos se conhecem, sabem quem fez o que. Se não tem um "coroner", o resultado é uma forma de proteção da comunidade. Mini comunidades, cooperando entre si de vez em quando. Por que não?
Claro que temos de mudar a legislação. Mas penas de morte costuma atravancar sistemas rápidos... quanto mais o nosso "eficiente" judiciário.
Isso é um outro problema a se considerar, mas que não invalida a Pena de Morte como uma alternativa em casos extremos. Quem aí vai defender o tio Beira-Mar? Por mim, usando a linguagem dos páreas dele, já podiam ter passado o ceról nele faz tempo.
Engraçado pensar sobre criminosos... na linguagem deles, dificilmente eles esquecem um traira.
Devo pensar que existe uma comunidade na marginalidade que "não esquece". Então porque o mesmo princípio de "não esquecer quem são os bandidos" não pode ser aplicado no nosso dia-a-dia?
Eu normalmente tento na medida do possivel gravar duas coisas na mente... o bandido e a família do bandido (se ficar chorando por ele). Para que se essas pessoas cruzarem comigo na vida eu sair rapidinho pela direita.
A vida moderna é uma desculpa claro. E quem vive da marginalidade tem tempo de não esquecer. Mas creio que é realmente necessário cada um de nós fazer sua parte em não cruzar com essas pessoas, em se eles aparecerem na nossa frente, não apiedar em denunciar à polícia por causa da "estória triste" deles.
Acho isso mais saudável do que recomendar a meus amigos que se tornem Rambos e Jet Lis virando-se sozinhos. Pessoalmente não gostaria de ver vocês no próximo funeral.
Uma sugestão, é o confisco de bens. A vítima teria de receber indenização do Estado (por falhar em proteger) e do criminoso e da família do criminoso (por criar um elemento nocivo à sociedade). Claro que os bens do criminoso estão com seus cupinchas e asseclas, mas até aí, pega deles também. (para o crime não compensar)
Aí vai a parte engraçada. Quem faz o estado é o dinheiro do contribuinte. Então quer dizer que o babaca vai lá e mata um e eu pago indenização indiretamente? E mais, normalmente o criminoso não deixa rastros, ou nossas forças investigativas são pouco aptas em rastrear o histórico desses delinquentes, sobretudo os ocasionais. E mais, a maioria se bobear nem tem mais família. E se tem, mal convive com elas. E os que convivem, quantos tem famílias capazes de pagar uma indenização justa pelas asneiras de um de seus membros como "homicídios" ocasionais?
Novamente nos esquivamos... o Estado sim somos nós. E nós permitimos que essa escalada de violência ficasse assim. Como? Tente entender Hannibal Lecter, sua fúria e impaciencia com os "Lambs" que Clarice queria salvar.
É a fúria que nos deixa bravos quando alguém imola um pai de família que pedia para ser poupado. Mas se estivéssemos lá... teríamos feito algo como sociedade?
Mas estamos sempre lá... pois lá é aqui e agora. E sempre nos esquivamos de deixar de ser cordeiros, e só ficamos valentes quando estamos em maior número. É nossa natureza covarde, infelizmente.
E os que convivem... mas oras, Eru! Acabaste de citar Fernandinho Beira-mar!!! Acha que ele não teria condições de pagar pelas vidas que tomou?
Ou as quadrilhas especializadas em sequestros? Elas não tem bens?
E quanto aos pé rapados? Bem, que tal a volta da escravidão? Se não (perigoso para eles se armarem)... eles tem condições de doar sangue não tem?
(mesmo que não, dá se um jeito de aproveitar os elementos de sangue... senão doa também um rim que não faz falta... ou um pedaço de fígado que se regenera)
Na questão pessoal, vou ter de contar com bom senso quando isso acontece. Se o bandido for alguém que dê pra conversar (acontece) não reagir, mas guardar fisionomia para uso futuro (entendam como quiser essa parte). Se perceber que está alterado demais para conversar, adotar táticas de sobrevivência, e se sobreviver, garantir para que ninguém venha atrás de minha cabeça no futuro (comparsas, alguém ver meu rosto, etc.).
Eu até acho muito sensato, mas essa não deixa de ser uma postura passiva (sabe-se que a polícia não guarda retratos falados nem vai encima muito energicamente de punguistas fajutos. E mais, posturas assim encorajariam, creio eu, esses bandidos com quem se dá pra conversar.
Enfim, a situação é deveras complexa.
PS: Esse tópico merecia ir pro Insônia.
Quem disse que o retrato é para a polícia?
deixa aqui no generalidades mesmo