Esse filme é uma espécie de "Goodzilla meets The Blair Witch Project". Ok, não uma espécie, é. O problema é que com o "vídeo caseiro" não se consegue nem manter um nível de suspense decente (como lá iam conseguindo com menor ou maior sucesso em TBWP) nem fazer um filme-catástrofe minimamente cool, porque nunca dá para ver porra nenhuma como deve ser. Enfim, o filme torna-se uma mistura amorfa destes dois géneros (o série B estilo japonês e o internet-promoted home-made video) sem ter a graça que qualquer um dos dois filme que usei como exemplo pode ter para o espectador. E esses já não eram grande coisa, então imaginem...
A partir da primeira meia hora fiquei esperando sinceramente que lançassem o raio da câmara nos destroços e o resto do filme decorresse normalmente. Aquilo que pretendia ser o seu aspecto mais interessante acaba por ser o que o impede de se tornar mais do que é e deixar um mínimo de impacto. Devido à câmara vemos pouquíssimo do que se passa. E por a história ser contada exclusivamente na primeira pessoa ficam impedidos de a explorar convenientemente, ao contrário do que acontece em O Hospedeiro p. ex. - que, já que falo nisso, é superior em todos os aspectos. Talvez não em efeitos visuais, mas as dimensões dos monstros são bem diferentes, então é natural. Aliás, isto acaba por ser outro detalhe que joga contra Cloverfield, pois vemos como The Host, sem todo aquele festim de explosões e prédios caindo, consegue ser muito mais foda e bem sucedido.
A cena que de que mais gostei ("a menos sofrível" talvez fique melhor) foi precisamente aquela que já todos vimos no trailer. Fracamente, é a única que me parece genuína. A partir daí vamos entrando cada vez mais no reino do inverosímil - afinal, eles são perseguidos pela cidade por uma criatura dantesca maior que a Estátua da Liberdade, e a maior parte do tempo o visor do aparelho aponta com uma insistência quase heróica em frente. Claro que eu poderia perdoar isso, nem ia ver filmes do género se esses detalhes me incomodassem muito. O problema é que mais para a frente tentam dar um ar de seriedade à coisa que entra em colisão frontal com este e outros aspectos (como correr pelas avenidas nova-iorquinas com o tórax furado).
Como se não bastasse o filme ainda tem outro grande problema - o fio condutor. A intriga central é banalíssima e batida, ao ponto de ser monótona. Alguns dirão que estão mostrando os dilemas do homem comum numa situação de desespero. Sim, e? Isso não é nada. Quanto mais seria a base para algo mais, mas mais nada é acrescentado. Há ainda muita gente dizendo que este filme é uma crítica social muito precisa, etc. Gostava de saber em que medida. É que para mim o filme foi completamente vazio em termos de conteúdo. Junto com todos os restantes problemas de ordem técnica, o resultado foi, para mim, muito fraco. Excepção feita a umas duas ou três cenas - e aquele encadeamento entre o que está sendo gravado e as filmagens anteriores lá do casal até foi interessante, só é mesmo pena que a história fosse tão aborrecida. 3 out of 10.