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Cinco Filmes Favoritos Com Melian Vairë

  • Criador do tópico Criador do tópico Vëon
  • Data de Criação Data de Criação

Vëon

Do you know what time it is?
2001, Brilho Eterno e Amores Expressos. :grinlove:

Melian Vairë disse:
Vamos lá:

Primeiramente: detesto estas listas de preferidos e tal. E espero que vocês detestem a minha lista. Combinado? Detesto-as, sobretudo, porque elas costumam ser mais apaixonadas do que racionais. E eu nem digo que tentarei fazer uma lista racional, porque falharei miseravelmente. Antes mesmo de terminar de fazê-la, arrepender-me-ei ( :lol: ) de ter deixado filmes magníficos de fora. Peço desculpas, antecipadamente, a Glauber Rocha, porque não colocarei nada do Cinema Brasileiro. :tsc:

2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968) - Stanley Kubrick

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Filme que me fez começar a levar tudo isso a sério. Não no sentido de “Olha, eu vou fazer Cinema” (naquela época eu ainda não queria morrer de fome. Depois, mudei de ideia, e fiz Letras. Saldo final: morrerei de fome.), mas no sentido de “Olha o que o Cinema faz”. Tentar explicar 2001 é o mesmo que colocar uma arma na cabeça e atirar. (não, não tenho armas em casa. Fiquem tranquilos).

O filme não é explicável, você não explica o filme para os outros, o filme não se explica para você, mas ele quer que você o explique. Ele quer te causar isso, ele quer te mostrar o quão pequeno você é, porque você vai tentar explicá-lo, tentar, tentar, tentar, e não vai conseguir. E terá a sensação de que falhou, porque você falhará. Você não é a perfeição, 2001 é.

Este filme é uma experiência transcendental tão intensa que, se fossemos analisar em termos de roteiro, jamais iria se resumir em “Evolução e como o homem transforma o meio e é transformado por ele”. Cada tomada do filme é perfeita. Kubrick é (sim, É!) DEUS. Olha, já não sei mais o quê dizer, não consigo mais digitar. Para encerrar, 2001 tem uma direção abusiva e o que eu digo/sinto, todas as vezes que termino de assisti-lo, é: “2001 é maior do que a vida!”.
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004) Michel Gondry

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Devo dizer que ele é um filme cuja trama é um romance, mas que o seu tema/subtexto é a teoria ‘nitiana’ sobre a inexorabilidade do Destino e a complementação existente entre Dionísio e Apolo? Ok, não falarei assim. Então, vamos com calma. Embora saibamos que “devagar é que não se vai longe”.

Direção do filme: Michel Gondry, você me fez dar um sorriso de felicidade. O roteiro do Kaufman, gente, o roteiro do Kaufman... ah! É tão clichê dizer que roteiros dele são muito bons. Kaufman é o cara que me fez repensar tudo o quê eu julgava saber sobre roteiros. Sabe, analisando os roteiros que ele escreve, eu cheguei à conclusão de que ‘não há fórmulas, há formas’.

A Fotografia do filme é precisa, não é uma coisa gritante, ‘hey, olhe para mim’, mas se encaixa no propósito, em especial nas cenas em que as lembranças do Joel estão sendo apagadas. Brilho Eterno não é mais um filmezinho que fala sobre amor, sobre a imutabilidade do destino, de forma clichê.

Joel: alguém que quer se envolver, mas é fechado. É edipiano, de fato. É espetacularmente torturante o Joel chorando porque sua mãe não quer dá atenção a ele. Quando ele mata o pássaro, e seus amigos debocham dele na frente da menina, quando ele está se masturbando e sua mãe o pega durante o ato... “viver é negócio muito perigoso”, já dizia Guimarães Rosa.

Clementine: Ela se aproxima das pessoas, tenta se abrir (sem dúbias interpretações, por favor) e como as pessoas que se abrem/ se mostram/ se expõem demais, acaba se magoando absurdamente fácil quando não recebe a mesma atenção dos outros, ou nem precisa disso, ela acaba se magoando por tudo, mesmo. Sabe, meio que ela sente o fardo da existência, e se sente sozinha, porque ninguém ao seu redor parece sentir esse fardo.

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é um filme que vale pelo conjunto. E eu não consigo falar muito sobre este filme sem me sentir ‘deprimida’. É necessário dizer que amo Brilho Eterno?
O Demônio das Onze Horas (Pierrot Le fou, 1965) ou insiraqualquerfilmedoGodardaqui

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Quando eu vejo esse filme, lembro que não sou tão pessimista. Lembro que não preciso ser tão pessimista, que posso, sim, saber que tudo vai terminar em nada, mas, enquanto não termina, pode ser lindo, divertido, gostoso. Pode ser, só isso, só ser, sem pretender ser.

O estranho é que eu nunca consigo falar especificamente sobre um filme do Godard. Sempre acabo falando do estilo godardiano. Aí acabo falando, também, sobre o quão sublime é Alphaville. O momento em que o Lemmy explica-encena-fala para (e com a) Natascha o quê é o amor, é uma das cenas mais lindas de todos os filmes, de todos os tempos. Quando vejo esta cena, até me esqueço de que não acredito no amor. Aliás, o Cinema tem esse efeito sobre mim, o de quebrar algumas de minhas resistências. Acho que falar sobre Cinema tem o efeito de um anestésico sobre mim.

Sem querer exagerar (mais?), para resumir: os primeiros filmes do GODard, cinematograficamente falando, são lindos demais. São orgasmáticos.

Até o fato de Acossado ser um filme sem créditos é orgasmático. Mas eu acho que adoro os créditos ressaltados pela enunciação verbal ( falados de Sacha Guitry ou de Orson Welles), e também gosto da disposição gráfica e dos 'tons' dos estilo POP dos créditos de Godard. Sabem, mesmo, do quê eu não gosto? De ser putinha do GODard. Mas eu sou Odile. Eu odeio o Cinema. Dois minutos para eu começar a falar sobre Pulsão escópica. :lol:
Bonnie e Clyde, uma Rajada de Balas(Bonnie and Clyde, 1967) Arthur Penn

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Talvez este filme não merecesse figurar aqui (mas eu não uso um avatar e uma assinatura dele por um acaso, né?). Há muitos outros filmes que talvez merecessem estar aqui. Gosto bastante de Bonnie and Clyde. Mas o motivo de ele estar entre os preferidos é que... não sei explicar como, há tantos filmes que são uma aula de roteiro e eu fui me interessar por roteiros justamente depois de ter visto esse. Aconteceu. Assim, nunca tive a pretensão de ser roteirista, não. Mas é uma coisa que eu faria, de boa. Tem aquela máxima “sem um bom roteiro não há um bom filme” (mas também dizia que o filme perfeito não teria roteiro). É aquela história: o roteiro é a base, a estrutura, o alicerce do filme.

O roteirista é meio que Deus, ele fica escondidinho, mas a gente consegue perceber o seu ‘toque’, a sua ‘presença’, ninguém o vê, no resultado final do filme, mas todo mundo sabe que ele está lá. Também vale ressaltar que eu não tenho a pretensão de ser Deus (eu SOU! HAHAHAHAHAHAH). O meu problema é que eu não sou nada ortodoxa em relação a roteiros, e eu acho que a escrita de um roteiro é algo tão pessoal. Ela diz tanto sobre o estilo do roteirista. Por isso acho que comentar roteiros alheios, enquanto eles estão em fase de concepção, seja meio que invasão de privacidade.

Claro que se o roteiro for escrito “a varias mãos”, a coisa muda de figura. Um dos meus mestres, no quesito “roteiro”, para vocês terem uma ideia, é o Gabriel García Márquez. :lol: Ok, voltando a falar sobre Bonnie e Clyde, enquanto assistia, comecei a viajar em toda aquela “configuração do roteiro”: Todo roteiro tem um assunto, Bonnie e Clyde é uma história sobre a quadrilha de Clyde Barrow assaltando bancos no meio-oeste americano durante a Depressão, e seu declínio final”. (pronto, story line!).

Premissa dramática específica: o ponto de partida do roteiro. Toda história tem um início, meio e fim definidos (não necessariamente nessa ordem. Oi, eu sou Memento!). Em Bonnie and Clyde, o início dramatiza os encontros de Bonnie e Clyde e a formação de sua quadrilha. No meio, eles assaltam diversos bancos e a lei os persegue. No fim, são capturados e mortos pelas forças da sociedade. Apresentação, confrontação, resolução. Ponto. Relógio.

Assim, sei lá, esse filme tem um significado cósmico para mim. E eu reafirmo: não uso drogas.
Amores Expressos (Chung Hing sam lam, 1994) Wong Kar-Wai

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Ah! Kar-Wai, se eu fosse olhar a qualidade dos seus filmes, não sobraria espaço para nenhum outro nesta lista. (Eu não incluiria My Blueberry Nights, né? Seria forçar a barra demais.)

Música POP dos anos 60? Cinema? Expressionismo? Que tal tudo isso, e, de quebra, uma história de amor? Ah! Um aviso, Amores Expressos vai te destruir. Não tente evitar. Resistir é inútil. A parte em que um dos policiais faz um monólogo (?) dizendo algo do tipo: "Todos temos decepções amorosas. Quando eu tenho, saio pra correr. Quando você corre, perde a água do corpo, e não sobra nenhuma pra chorar", é uma das coisas mais perfeitas que eu já VI/OUVI/SENTI por intermédio de um filme.
 

Anexos

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Se eu fosse fazer minha lista, seria muito próxima disso ai.
Ótimas escolhas. :clap:
 
Uma ótima lista!

É até clichê colocar 2001 em qualquer lista de filmes fodas, mas é praticamente impossível não fazê-lo. Se existe um filme perfeito, é 2001.

Eternal Sunshine é sublime, é poesia pura. E me deu uma puta vontade de revê-lo AGORA.

Pierrot le fou é aquele filme que faz você rever seus conceitos formados de cinema, de roteiro, de tudo.

Os dois últimos ainda não vi, mas vou colocar na lista.
 
"all the leaves are brown
and the sky is gray"
:lol:
Muito bom.

Do Godard até hoje só Band a Part me prendeu totalmente. Talvez eu reassista Pierrot numa hora que eu esteja bem acordado.

Infelizmente (ou muito felizmente) assisti os 5. Não vai dar pra aumentar minha lista para assistir. Mas provavelmente reassistirei todos.
 
É, preciso fazer logo minha lista e mandar para o Vëon, antes que eu fique sem filmes para colocar ... heheh

Da lista da Melian Vairë, não vi ainda o do Kar-Wai (que pra mim é uma fraude, AMOR A FLOR DA PELE é chato e bobo e ninguém me convenceu do contrário até hoje). O resto, eu curto muito.
 
Se eu fosse fazer minha lista, seria muito próxima disso ai.
Ótimas escolhas. :clap:

A única diferença é que na sua lista teríamos Glauber Rocha, né? :mrgreen:


Certas listas humilham meu lado cult!
:abraco:


Uma ótima lista!

É até clichê colocar 2001 em qualquer lista de filmes fodas, mas é praticamente impossível não fazê-lo. Se existe um filme perfeito, é 2001.

Eternal Sunshine é sublime, é poesia pura. E me deu uma puta vontade de revê-lo AGORA.

Pierrot le fou é aquele filme que faz você rever seus conceitos formados de cinema, de roteiro, de tudo.

Os dois últimos ainda não vi, mas vou colocar na lista.

Cara, eu tenho problemas até para FALAR sobre 2001. Esse filme é... enfim..

Eu costumava rever Brilho Eterno TODA SEMANA. Sério, é tipo um ritual. Neste ano, ainda não vi nenhuma vez. (aliás, consumou o desejo de rever? XD )

Pierrot Le Fou é uma pintura. Aliás, gosto tanto da Anna Karina que este será o nome da filha que NÃO terei.

E veja Bonnie & Clyde e Amores Expressos. É foda.

"all the leaves are brown
and the sky is gray"
:lol:
Muito bom.

Do Godard até hoje só Band a Part me prendeu totalmente. Talvez eu reassista Pierrot numa hora que eu esteja bem acordado.

Infelizmente (ou muito felizmente) assisti os 5. Não vai dar pra aumentar minha lista para assistir. Mas provavelmente reassistirei todos.
Sua lista me fez ficar com When you wish upon a star na cabeça. Não consigo parar de cantarolar a música, e lembrar do filme.

Mas, do Godard, você não gostou nem de "Uma mulher é uma mulher"? O primeiro filme dele que vi foi "O pequeno Soldado". Naquele momento, eu me apaixonei por Godard.

Como eu costumo dizer, não sou lá muito confiável para falar sobre Godard, é aquele lance de fã, né? Eu até gostei de "Nossa Música", que todo mundo odiou. E, tipo, AMEI "Film Socialisme". Então...

É, preciso fazer logo minha lista e mandar para o Vëon, antes que eu fique sem filmes para colocar ... heheh

Da lista da Melian Vairë, não vi ainda o do Kar-Wai (que pra mim é uma fraude, AMOR A FLOR DA PELE é chato e bobo e ninguém me convenceu do contrário até hoje). O resto, eu curto muito.
Dê uma chance para o Kar-Wai, Hugo. Eu, ao contrário de você, gosto de Amor à flor da pele. Mas acho Amores Expressos sublime.
 
Melian Vairë disse:
Vëon disse:
Se eu fosse fazer minha lista, seria muito próxima disso ai.
Ótimas escolhas.
A única diferença é que na sua lista teríamos Glauber Rocha, né?
Na verdade, eu disse que minha lista seria muito próxima da sua, inclusive a parte de deixar o Glauber Rocha de fora. :mrgreen:
Até hoje só assisti Terra em Transe, mas me deixou traumatizado.

Desses só não assisti Pierrot le fou, mas pretendo ir atrás, a quantidade de filmes do Godard que eu vi é vergonhosa.

Bonny e Clyde é realmente muito bom, mas não tem nenhuma influencia cósmica em mim. Agora Amores Expressos, assistam, o filme é tudo isso que a Melian falou mesmo.
 
Na verdade, eu disse que minha lista seria muito próxima da sua, inclusive a parte de deixar o Glauber Rocha de fora. :mrgreen:
Até hoje só assisti Terra em Transe, mas me deixou traumatizado.

Desses só não assisti Pierrot le fou, mas pretendo ir atrás, a quantidade de filmes do Godard que eu vi é vergonhosa.

Bonny e Clyde é realmente muito bom, mas não tem nenhuma influencia cósmica em mim. Agora Amores Expressos, assistam, o filme é tudo isso que a Melian falou mesmo.

Eu sei, só quis provocar. Mas realmente fiquei triste por ter deixado o Glauber Rocha de fora da minha lista. Também fiquei triste por ter deixado o Rogério Sganzerla de fora. :tsc: Talvez fosse legal pensar na possibilidade de "cinco filmes BRASILEIROS com..."

Você não viu Deus e o Diabo na Terra do Sol, Vëon?

Lembro que, um dia, enquanto falava com um amigo, quando eu disse que tinha 14 filmes do Godard, ele respondeu: "Sua doente. Eu nem ASSISTI a 14 filmes do Godard!" :lol:

Amores Expressos é :grinlove: E, só hoje eu fui reparar que uso um 'avatar' desse filme, no orkut. Só hoje reparei que ainda nem respondi os scraps de feliz aniversário, também.
 
Dos filmes da sua lista eu só assisti o 2001 e o Bonny & Clyde. Sobre 2001 realmente não há muito o que dizer, é um clássico atemporal. Bonnie & Clyde eu acho bem legal, um filme que retrata com fidelidade a sensação que dá de se viver sendo um fora-da-lei, sem saber se aquela noite de sono pode ser a última.
Dos que não assisti me interessei por Amores Expressos, já que sou fã e admirador do cinema asiático, não só dos filmes de ação/luta mas tambéms dos dramas/romances.
Estou prevendo que minha lista vai ser uma alienígena aqui, pois vai conter quase que exclusivamente filmes mainstream, pouco ou nada cults :lol:
 
Assiti Pierrot le fou, e citando o próprio filme, "Film is like a battleground. There's love, hate, action, violence, death... in one word: emotion."
 
Que lista linda! Também odeio fazer listas por sempre achar que estou sendo injusta, até comigo mesma.

Amo os cinco, em especial o Pierrot Le Fou, um dos que abriu meu coração pro cinema de verdade.
 
Ressuscitei o tópico de Cinco Livros Favoritos e me lembrei de que tinha feito uma listinha de Cinco Filmes Favoritos. Algumas coisas nunca mudam, como o fato de Brilho Eterno e Pierrot Le Fou ainda serem filmes que amo demais da conta. Quanto aos outros, continuam maravilhosos, mas não sei se, hoje, figurariam na minha listinha.

Outras coisas, mudam: não tenho mais o "Vairë" no meu nick. A história é simples: Melian é a melhor personagem de Tolkien, e eu queria o nick. Como ele já estava "ocupado", botei o Vairë. Depois de um tempo, um dos administradores acabou vendo que a outra Melian estava inativa há séculos, e eu consegui ficar só com o "Melian".

Mais uma coisa que mudou: acho que nunca mais usei avatar de Bonny e Clyde no fórum. E, mesmo que eu seja apaixonada pelo filme, não sei se ele continuaria na minha lista.

O que eu gostei é que, bem, minha lista foi muito honesta, e eu não me arrependo de ter escolhido nenhum dos cinco filmes, embora eu sinta certo estranhamento por não ter colocado Before Sunset (meu preferido da Trilogia Before; e se vocês não sabem o quanto eu sou LOUCA pela trilogia, até dei um jeito de botá-la no meu livrinho) entre os cinco.

Bateu uma nostalgia, aqui, ao olhar a listinha e me lembrar de que, embora eu esteja em dívida com a Sétima Arte, sei falar, muito apaixonadamente, sobre os filmes que amo.
 
Como deixei passar esse tópico dez anos atrás? Provavelmente porque a Cléo me aporrinhou por anos para assistir Brilho Eterno e eu a ignorei por anos, ou porque nunca liguei muito para a área de cinema (mal, falecido Veon), afinal, não sou um homem de filmes, sou mais de livros. Os filmes precisam me pegar MESMO para que eu possa dizer que gostei, sempre achei uma experiência meio passiva.

Enfim...

Só vi Brilho Eterno lá pelos idos de 2015, e chorei. O filme tem muitas cenas que acho desnecessárias, e a trama é meio embolada, mas o conjunto da obra é como uma pintura, uma composição perfeita, mistura ímpar de luz, cor e sombra, principalmente de sombras e eu gosto mesmo como, de forma psicanalítica, algumas das cenas mais tensas são tão coloridas (Joel bebê é realmente angustiante), e algumas das mais fofinhas são escuras e cinzentas (começo no metrô, noite enevoada).

O que eu acho, e que me faz amar esse filme, é que não é um filme de amor, pelo menos não só isso, é um filme sobre o amor, sobre afetividade, e educação sentimental. Não digo afetividade em um sentido psicológico frio, como uma categoria antropológica, nem falo dessa educação ao modo conservador do Trivium e Quadrivium: é uma experiência estética e sensorial. O filme fala pouco através dos diálogos e muito através das imagens, das imagens estáticas e borradas dos traumas dos personagens, e das imagens dinâmicas, das cenas de encontros e desencontros. Poucas vezes a sensação de morte de se estender a vontade para 'chegar' em uma garota incrível foi tão bem apresentada, poucas vezes consegui ter a exata medida da profundidade de um sentimento de amor que, de tão intenso e devorador, não consegue ser expresso exceto através de balbucios, toques inexpressivos na mão do ser amado, e o silêncio ensurdecedor. Poucas vezes tanta energia, paixão e vontade de amar foram tão caoticamente esparramados em uma tela, em brigas intensas, em discussões, em energia pura desgastada. Isso para falar de um ponto: o retrato do amor de Joel e Clementine, não existem teorias mirabolantes nem longos discursos sobre os sentimentos, apenas cenas de atos que não se finalizam, silêncios, paradas eloquentes, e aquela incapacidade que o roteirista tenta transmitir de se dizer o que o amor é, como acontece, e por quê. E como acaba. Como começa. Como se prostitui, se adultera, se deixa enganar.

Então, o amor de Joel e Clementine não é pouco mostrado, nem relativizado, mas se torna o canal para uma coisa maior e mais universal, a transição daquilo que chamamos de pequeno enredo para o Grande Enredo: como é difícil amar. Como há percalços, como duvidamos, como amamos pouco às vezes ou excessivamente, como dói e como parece que a separação produz uma agonia constante e insistente parecida com a morte, e como o fim parece ser a única coisa possível e sensata a se fazer, mas... como é difícil. E isso é transmitido de forma tão bela, tão poética, mas ao mesmo tempo de forma tão crua. E dói ver, dói enxergar o amor quando se é capaz de reconhecê-lo, quando já o sentimos. É um filme que dói, mas dói na medida certa do amor e da dor de cada um, é pungente enquanto, na sua leveza narrativa, sem grandes sobressaltos emocionais, vai desvelando o tecido da convivência, das manias de cada um, dos limites da individualidade, e daquela realidade humana e divina de morrer um pouco a cada minuto. É realmente difícil de falar, de descrever.

E quando entramos na seara filosófica, na grande trama, tudo se adensa, porque ainda que todo o locus da máquina de esquecimento esteja no amor, ela traz um problema novo e todo seu: o da possibilidade de dar reset no amor. Ou melhor, a impossibilidade desse reset. Porque isso traz consigo a negação do próprio amor: não há ilusão maior do que acreditar que se pode fugir da dor do término, do luto da separação apagando a memória, porque nem a memória é capaz de dar conta da vida vivida. E ainda que fosse possível, nada há, pela própria imaginação do cinema que não quebra suas próprias regras, nada há de garantidor e de certeza nessa pacificação aparente, por mais que nem lutemos contra o esquecimento. É como se o amor, ao invés de escavar seu caminho tortuoso e traumático para dentro de nós, ele é que fosse sendo escavado pelo interior de cada um de nós, e não há nada que possamos arrancar daqui de dentro que desfará o caminho já traçado, as bolhas, feridas e furúnculos, nem os jardins de rosas, as fragrâncias doces e os perfumes que foram plantados e colhidos e engarrafados. Isso seria destino? A minha impressão com Brilho eterno é que essas discussões sobre destino, alma gêmea, livre arbítrio, são totalmente datadas, parece, na verdade, é que nós somos qualquer coisa que acontece dentro do amor, e não temos ciência disso até que despertemos do sono da ilusão, como se todo desamor (ou mesmo não-amor) fosse um mero véu de Maya que o atman (espírito) tivesse de desfazer para se dar conta, afinal, oras, de que tudo é amor, tudo acontece no amor. Até a dor, a separação, os fins.

É o que sinto com a viagem para dentro do inconsciente de Joel. É mais do que memórias escavadas, é o interior do homem resistindo ao amor, a se defrontar com o amor, com os fins, com a sua derrotabilidade que é o que movimenta a existência. Quando se deixa de lutar, ou melhor, quando Joel inicia sua luta, ainda que factivelmente ilusória, contra o esquecimento, a solução fácil, que o atman parece sair da ilusão. É aceitar a morte, a desilusão, é preferir aceitar a verdade do que sucumbir ao desencanto do esquecimento e do embotamento do carinho, é o poder para enxergar dentro de si mesmo, e perceber como somos podres, e que está tudo bem, porque isso nada tem a ver com perfeição, mas é sobre enxergar a vida com olhos diferenres, olhos que aceitam, mãos que afagam, braços que perdoam.
É preciso muita coragem para amar, por isso que talvez sempre tenha sido coisa muito rara.
 
Na época que a @Melian fez essa lista, pensei que seriam 5 filmes do Godard :lol:

Como mencionei que me coloco a disposição pra organizar listas em outros sub-fóruns, depois que passar mais ou menos um mês pro pessoal poder mandar suas listas de livros, eu começo a organizar esse.
 
Pagz falou uns trens muito verdadeiros sobre Brilho Eterno, mas também falou mentira: que o filme tem coisa desnecessária. Por isso, não curti. :humpf:

Na época que a @Melian fez essa lista, pensei que seriam 5 filmes do Godard :lol:
Ele continua sendo o meu diretor preferido, mesmo que eu esteja em dívida com ele e, por extensão, com a Sétima Arte.
Como mencionei que me coloco a disposição pra organizar listas em outros sub-fóruns, depois que passar mais ou menos um mês pro pessoal poder mandar suas listas de livros, eu começo a organizar esse.
Será muito legal, migo Fúria!
 

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