O problema que eu continuo vendo é como imputar legalmente o lado que supostamente agrediu primeiro, eles estando num ambiente onde o objeto do humor não é algo sagrado para a maioria absoluta das pessoas, por mais que as tentativa de ofensa ao outro seja mais do que clara nas duas charges.
Quer dizer a exigência de adaptação da religião muçulmana dentro de um país laico, livre e democrático? (palavras adoradas pelo liberalismo)
É, complicado, já que as charges foram feitas e publicadas na Suécia e a agressão foi na mesma Suécia. As leis e permissões de um país devem ser respeitadas. No entanto, esse mesmo país está inserido dentro de um contexto, mais do que nunca, global.
Por exemplo, na Suécia eu posso cuspir na tua cara e ofender a tua mãe. Posso, mas se o fizesse, certamente eu sofreria consequências nada agradáveis. Mesmo que as ofensas à tua mãe fossem em forma de poesia sarcástica. Sei lá se dá pra entender ou se a analogia tem uso. Mas é aquela máxima tarimbada de "a minha liberdade termina onde começa a tua". Tem de haver limites, eles são importantes.
Um país pode reclamar a outro quando aspectos culturais próprios de si mesmo são desrespeitados, como é o caso apontado. Reclamar, não interferir. Mas nenhum país se pronunciou, porque medidas foram tomadas: a charge existe, ela não excluída, apagada ou coisas do tipo, todos que quiserem saber dela, terão acesso, mas ela não foi extensamente divulgada e foi impedida de entrar em exposições: foi censurada. Temos uma imagem muito ruim da palavra "censura" no país pelo uso arbitrária feito dela durante a ditadura, mas isso não quer dizer que ela não pode ser mais usada e tudo pode ser divulgado à revelia.
Trajetória do caso: charge foi publicada -> islâmicos se ofenderam com ela -> a charge deixou de ser divulgada -> fundamentalistas não se deram por satisfeitos e juraram o artista de morte -> ele foi agredido -> virou motivo de alarde. Alardes que vão se juntar à contrução de uma imagem dos povos islâmicos como ameaçadores para o Ocidente e dos povos ocidentais como ofensivos para o Médio Oriente. Taí um bom motivo para um guerra, essa forma de governar tão ultrapassada...
O certo é que não existe fórmula: isso pode e isso não. É preciso sensibilidade, empatia e, claro, a espera das reações contrárias ou favoráveis dos interdialogadores.
Então sabendo de tudo isso, você cria uma charge em que ofende diretamente a essas pessoas e depois se surpreende e depois faz um escândalo quando tem uma reação digna do que esperava?
Exatamente. E faz cara de santo.

"Manhê, ele me bateu sem eu fazer nada pra ele".
Usou da liberdade de expressão pra provocar, irritar e apontar o dedo depois para a intolerância. Caso óbvio de busca dos holofotes.
Sem querer justificar a violência, claro. Mas ela tem de ser problematizada, porque ela tem uma causa (a charge ofensiva) e existe uma construção histórica para que desembocasse nesse extremo.
Pois virou comum a acusação dos islâmicos como agressores por pouca coisa. Xiita é sinônimo de radicalismo e violência burra, como o foram os Vândalos até serem incorporados ao léxico. Mas existe todo um desenvolvimento histórico e de choque cultural que não é posto em debate. Simplesmente elegemos a cultural ocidental (Oeste Europeu e EUA) como correta, superior e tudo que contrarie e se rebele é algo a ser eliminado, hoje não mais pela força, mas pela homogeinização cultural. O tempo passa, mas as cabeças continuam as mesmas...
OH My FucRei God! Ele recebe para fazer isso? Contrata EU. Eu desenho melhor que isso.
E ele iria expor as suas obras em conhecidas e respeitadas galerias de arte da sofisticada Escandinávia, não fosse a reação islâmica contrária à obras...
Ou seja, tu não entende nada de arte. Os suecos é que são evoluídos.
Anyway, sempre esqueço quem é Willian Wallace, apesar do nome ser bem conhecido.
Ah, tudo bem, Hamlet e Shakespeare sofrem de um mal ainda pior.
PS: Nhá, ninguém vai ler esse post, mas gostei de escrever ele, foi quase catárquico, como nos velhos tempos...