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Amarcord (idem, 1973)

Tisf

Delivery Boy
Amarcord


Direção: Federico Fellini

Elenco: Bruno Zanin, Pupella Maggio, Armando Brancia, Nando Orfei, Ciccio Ingrassia, Magali Noel.


Amarcord é um dos filmes que eu mais gostei de todos que eu vi até hoje. É um filme baseado nas lembranças de Fellini de infância e sua estrutura é de vários fragmentos. Não é linear. "Amarcord" significa "eu me recordo" no dialeto de um região da Itália.

Abaixo um pedacinho da crítica do Carlos Gerbase sobre o filme, quando ele foi ver no cinema na época:

"Mas o que "Amarcord" tem de tão fantástico? Primeiro é preciso dizer o que NÃO tem. Porque, apesar de sermos adolescentes ignorantes, já tínhamos intimidade com a narrativa cinematográfica, já sabíamos, por exemplo, que um bom filme tinha que ter: (a) artistas talentosos, conhecidos, quase sempre bonitos, muitas vezes deuses e deusas que desciam do Olimpo apenas para filmar nos estúdios; (b) uma história com começo, meio e fim, capaz de emocionar ao espectador segundo uma progressão cuidadosamente planejada; (c) personagens fortes, divididos entre "mocinhos" (para quem torcíamos) e "bandidos" (a quem odiávamos). "Amarcord" não tem atores conhecidos. Mais do que isso: tem vários não-atores, gente comum, escolhida na rua pelo seu tipo físico.

Além de fragmentada, a narrativa nem sempre é realista, pois está baseada em lembranças esparsas, imaginações, sonhos. "Amarcord" não tem mocinhos nem bandidos. Mais do que isso: o personagem principal, um adolescente chamado Titta, não está envolvido em nenhuma ação espetacular, a não ser que consideremos sua incursão entre os seios enormes da bilheteira uma ação espetacular. "Amarcord" não segue a cartilha do cinema americano. Segue a cartilha de Fellini.

Em contrapartida, "Amarcord" tem uma coleção completa de signos cinematográficos da mais alta qualidade. Tem um roteiro que "amarra" a trajetória de Titta com total segurança, criando nexos entre as cenas e dando a cada novo personagem (e são muitos) uma significação única e sempre forte. A mulher mais gostosa da cidade ("La Gradisca"), o vendedor ambulante, o acordeonista cego, a imensa charuteira, a freira anã, todos eles, mesmo com pouco tempo na tela, estão vivos, palpitantes, verdadeiros. Os roteiristas Tonino Guerra e Fellini sabiam que simplesmente "listar" lembranças não seria suficiente: era preciso criar um encadeamento lógico, em que a passagem do transatlântico funciona como um clímax, um orgasmo coletivo dos habitantes da pequena vila costeira.

"Amarcord" também tem uma das mais belas trilhas da história do cinema. Não estou falando de uma música, de um momento específico do filme. Estou falando da trilha original inteira, criada por Nino Rota, que, ou estava inspirado por Deus, ou fez um pacto com o diabo. Todas as músicas, além de apoiarem a imagem com total eficiência, funcionam independente do filme. E isso é muito raro, quase inexistente. "Amarcord" também tem fotografia inspirada, montagem sensível, direção de arte irrepreensível.

"Amarcord" é, à primeira vista, um filme simples, quase singelo, mas, na verdade, é um concerto sinfônico, em que cada um dos instrumentos cumpre modestamente seu papel. É a soma de todos esses timbres que fornece a essência mágica do produto final. Finalmente, não dá pra esquecer que "Amarcord", ao mesmo tempo que é um filme intimista, sobre um garoto que descobre a si mesmo, também é um filme político, sobre a Itália fascista, sobre a alienação de um povo, sobre a preguiça latina, sobre a acomodação dos seres humanos a regras estúpidas, formuladas por seres humanos igualmente estúpidos, mas muito poderosos, capazes de criar os eficientes signos fascistas e gerar líderes monstruosos como Mussolini.

"Amarcord" não será esquecido jamais, nunca sairá de moda, nunca parecerá velho. Eu lembro de "Amarcord". Eu lembro daquela sessão do cinema Vogue. Eu lembro que os seres humanos são capazes de criar emoção com pedaços de plástico e sal de prata. E gerar artistas geniais como Fellini."

O filme ganhou o Oscar de Filme Estrangeiro e no ano seguinte deu à Fellini as indicações de Roteiro e Direção.

postal.jpg
 
:clap:


Amarcord.

:clap:

Amarcord é um dos filmes que mais me marcou também, e concordo com tudo que está na crítica. E ainda acrescento que a fotográfia é uma das mais belas que eu já vi... principalmente no momento dos barcos e daquela comemoração no final do filme. A trilha sonora me emocionou muito também. Preciso re-ver esse filme, é um filme que merece ser re-visto inúmeras vezes.
 
Na capa da fita tá escrito que o filme é sobre um cara no ano 2000 lembrando do passado para voltar a realidade. De onde ele tirou isso? Isso tá no filme ou o cara que fez essa sinopse viajou?

A trilha sonora é genial :grinlove:
 
É verdade, eu fiquei a primeira meia hora do filme tentando perceber qualquer vestígio da sinopse que tava na capa.

Tá com cara de ser sinopse de algum outro filme que distribuíram no filme errado.
 
Sim!!! Eu achei bem bizarro isso.

Igual ao do Três Homens em Conflito, que traduziram "role" como "hole", e em vez de ficar: "no papel de Tuco", ficou "no buraco do Tuco" :lol:
 
Bom, eu nunca leio sinopses mesmo.
É incrível o estilo do Fellini, tão despretensioso e ao mesmo tempo tão formidável.
 
Na verdade, essa fórmula do Fellini parece que nem sempre dá certo. Assisti apenas dois filmes dele por enquanto, em Amarcord deu certo. Porém na Doce Vida deu muito errado e fedeu.
 
Não, apenas não deu tão certo quanto em Amarcord.
E em 8 e 1/2 a fórmula foi aplicada de forma perfeita.
 
Eu vi 8 1/2 duas vezes e não gostei em nenhuma; idem pra Amarcord.

A Doce Vida é um pouco melhor, mas é muito longo. Se o filme tivesse uns 90 minutos poderia ficar bom.
 
Eu queria falar que revi o filme e adorei de novo. :grinlove:

Eu adoro o Fellini, tenho predileção por Oito e Meio, mas Amarcord é sem dúvida espetcular em algumas características.

Tem a questão do Circo que aparece em Otto e Mezzo também, só que aqui o Circo vai além dos Costumes e embarca a fundo no sistema. O sonho abençoado pelo fascismo, pela Igreja naturalmente controversa, pelo povo como povo. Feio. Pobre. Louco. Admirador. Esperançoso.

Um gordinho que sonha em estar com uma beldade e é abençoado por Mussolini; um velho que quer se afirmar como potencia sexual; um garoto com hormônios de sobra e experiência de menos; os ritos ignóbeis de entrada de uma estação, etc...

Uma série de signos, de simples e banais signos que acabam por teminar no casamento de Gradisca, uma festa, assim como em Oito e Meio. E a vida? Simples, segue a sua banalidade, uma nova fogueira vai ser acesa na primavera, o duce continuará sendo objeto de admiração, os loucos continuaram loucos, etc.

E é essa singularidade toda, esse povo "pueril" que dá ao entender que o fascismo não é tão absurdo assim dentro da ótica de Rimini.
 
A Doce Vida eu detesto, acho ridículo.

Satyricon eu acho interessante, mas ainda é chato.

Roma de Fellini é irônico, vale a pena.

Amacord eu detesto.

enfim, eu não curti nenhum filme de Fellini até agora, só Roma que achei mais ou menos. não tenho o menor interesse em procurar outros. talvez só La Nave Va e La Strada.

Antonioni faz Fellini parecer um menino com uma câmera.
 
Antonioni faz Fellini parecer um menino com uma câmera.

Eu discordo.

Antonioni é muito bom, também.

Mas o estilo é diferente de Fellini, embora eu não seja um perito no assunto.
 
Lordpas disse:
Mas o estilo é diferente de Fellini, embora eu não seja um perito no assunto.

É claro que os estilos são diferentes. Mas o do Antonioni é bem melhor do que o do Fellini, IMO.
 
Eu me expressei mal.

O que eu tava tentando dizer é que é difícil a comparação de melhor sendo coisas diferentes.

Aliás, dá pra comparar sim, mas levando pro gosto estritamente pessoal, como vc deixou claro - 'IMO', etc.

Embora eu goste de ambos, mas tenha assistido mais Fellini do que Antonioni.
 
Khansc disse:
O pior filme de todos os tempos, etc. A Doce Vida é obra-prima, btw.

Engraçado é que eu acho que se você invertesse os fillmes faria maior sentido, ao menos para mim.
 

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