Muito legal essa discussão
Só faltou definir o que é fé. Vejam: fé é acreditar em alguma coisa (qualquer coisa) que não esteja provada. Geralmente a fé é um princípio ou conjunto de princípios a partir do qual se contrói um raciocínio. Por exemplo: os teólogos católigos constróem sua teologia tomando como base certas crenças não comprovadas (chamadas de dogmas).
A fé, portanto, é algo neutro, pode retardar ou acelerar o progresso da humanidade.
A ciência é a maior prova que temos de que a fé pode trazer um enorme progresso. Isso, meus caros amigos, porque a ciência também está baseada em fé, acreditem ou não. O que eu disse, aliás, é quase um sacrilégio (talvez me queimem como o Giordano Bruno).
Mas percebam: a ciência tem certos pressupostos
não comprovados , nos quais se baseia.
Cito três deles:
1.
A crença na razão, ou seja, que a razão humana pode desvendar a realidade empírica. Os iluministas (como Voltaire, Diderot) acreditavam nisso, mas muitos filósofos posteriores ou limitaram o poder da razão (como Kant), ou simplesmente negaram que a razão humana pudesse alcançar um conhecimento verdadeiro da realidade (como Hume). Outros filósofos ainda (como Schopenhauher e Nietzsche e mais tarde Freud) duvidaram do poder da razão na formação das opiniões e do comportamento humano, e acentuaram que outras forças (como a vontade) eram mais relevantes para a aceitação dessa ou daquela verdade do que o pensamento racional.
2. A crença de que o Universo possui leis abstratas e pode ser explicado: mesmo que a razão tenha poder suficiente para explicar o Universo, os cientistas também supõem que o Universo pode ser explicado. Ora, seria igualmente possível que não houvesse lei alguma, que os eventos se dessem de forma parcial ou inteiramente caótica. Nesse caso não haveria o que explicar (ou a explicação seria incompleta). A ciência, portanto, supõe que essa explicação existe e que pode ser encotrada através da razão.
3 A crença de que a razão é o melhor método de encontrar a verdade: alguns filósofos (como Rousseau) acreditavam que o sentimento é um método tão bom de perceber a verdade quanto a razão. Em certa medida, essa opinião é sustentável (o que não quer dizer que seja verdadeira). Considere-se, por exemplo, um texto de Shakespeare. Ele é um método não inteiramente racional, mas extremamente poderoso de compreensão do espírito humano. Grandes artistas desvendam a natureza humana, desnudam a essência da vida, recorrendo a métodos que estão longe de estar baseados na razão. (Qualquer um que leu Dostoiévski provavelmente concordará comigo nesse particular). Portanto, está longe de estar comprovado que a razão é a única ou mesmo a melhor maneira de compreender a realidade.
Ainda assim, tendo fé nesses princípios não comprovados, os cientistas conseguiram propiciar à humanidade um grande avanço e uma melhoria no padrão de vida sem precedentes.
Portanto, a fé pode sim trazer avanços, como a ciência demonstra tão bem (ou o Egito Antigo, que alguns mencionaram). O que atrapalha não é a fé, mas a
intolerância, em outras palavras, quando se quer impor aos outros determinada fé, seja perseguindo os que pensam diferente, seja ridicularizando-os. Esse sim foi o erro da Igreja Católica e de certas correntes de pensamento religiosas e não religiosas (como o marxismo-leninismo).