Gerbur Forja-Quente
Defensor do Povo de Durin
Sabem, lendo, assistido, jogando, etc e etc as coisas da Terra-Média cheguei a uma conclusão. Acho que é uma história triste.
Sim, fala de amizade, companheirismo, amor, heroismo, a eterna luta do bem contra o mal, a ambição, a traição, grandes batalhas (internas e externas), a vida e a morte, a beleza, a profundidade, a vida simples do camponês, magia e uma série de inúmeras outras coisas que se eu fosse apontar ficaríamos eternamente acrescentando coisas a esta lista.
Agora, além de tudo isso, acho que O Senhor dos Anéis trata principalmente sobre a tristeza.
É incrível como o professor conseguiu colocar em sua obra a idéia do tempo nas coisas. Quando lemos o Silmarillion realmente temos a sensação de estarmos deslumbrando um lugar novo, inexplorado, os vastos campos de Beleriand, o Sol nascendo e tocando a grama pela primeira vez, imagina que bonito isso? A primeira vez que o sol tocou o solo? A primeira de uma quantidade infinita, isso tem um significado e um certo peso para a obra. Tudo é inédito, os filhos de Eru são os primogênitos, são novos, nunca tinham caminhado antes, a própria Arda é nova, os "deuses" ainda não tinham acabado de construir e destruir seus campos, paisagens e montanhas, tudo é novo eterno e inexplorado. Não existem discórdias, anões e elfos não possuem desavenças, trabalham juntos em muitas grandes obras, dão nomes uns aos outros. Tudo é belo, jovem e alegre. Elfos e silmarils.
Já no Senhor dos Anéis o clima é pesado, denso, cansativo. O sol parece desgastado, nem mesmo os orcs tem tanto receio dele nesse momento. As gramas já foram pisoteadas por muitos exércitos e culturas. A chuva já "choveu" muitas vezes e já conhece todas as superfícies do mundo. Os "deuses" se desligaram do mundo, os elfos estão velhos e alguns lembram de quando "o mundo ainda era jovem", os elfos não são mais ão superiores aos orcs como as lâminas dos noldor eram quando Fëanor chegou à Terra-Média, e não podem mais fazer um cerco ao Senhor do Escuro (atual) como fizeram no passado com Angband. Agora os elfos estão partindo, deixando para sempre a Terra-Média, onde já viveram tantas histórias. Os anões estão cada vez mais desaparecidos na superfície e cada vez mais reclusos para baixo da terra. Os homens, os posteriores, os enfermiços, os sucessores, começam finalmente a governar toda a Terra-Média, enquanto observam todas as outras raças desaparecerem do mundo. Tudo é velho, cansativo, tudo é ruína.
Homens e elfos e anões nasceram e morreram. Reinos nasceram e morreram. É cansativo acompanhar os hobbits e Aragorn em seu caminho até Valfenda, porque tudo está velho e cansado. Quase nada sobrou dos reinos e da majestade de antigamente. Os Pântanos dos Mosquitos deixam com calor, cansados e empipocados não apenas os hobbits, mas também os leitores. Amon Sûl é só ruínas, tudo é ruínas, os palintíri estão desparecidos, talvez para sempre. Os anéis estão desparecidos. Fornost desaparece no mato alto e nas trepadeiras sobre seus palácios e estátuas. Os reis estão desacreditados e enfeitiçados. Regentes e homens menores governam o destido de todos.
O mundo é velho e se esqueceu de seus próprios mitos, de sua magia particular, e tudo vai se tornando concreto demais, real demais, triste demais.
Mas apesar disso tudo, acredito que o mundo d'O Senhor dos Anéis trata de uma boa tristeza. Porque apesar de triste, ainda há esperança nessa melancolia. O sol é fraco, mas a lua traz nostalgia, a época de Telchar e Fëanor, e Glaurung e Gothmog. É uma boa tristeza, porque reis desaparecidos, reaparecem, mendigos se revelam grandes reis ou grandes magos e conselheiros. Hobbits se revelam corajosos e resistentes, e salvam o destino de absolutamente tudo o que foi criado pelos deuses, hobbits. As estátuas estão podres e rachadas, mas as trepadeiras adornam suas cabeças com coroas de flores. O sol renasce das trevas, antigas alianças se fortalecem. O bem, quase afoga em desespero, mas nadando insistentemente chega a praia sem morrer. Existe esperança, existe grandes amigos (mesmo que eles sejam pequenos hobbits). Existe esperança, mesmo para um mundo carente de heróis, de grandes, há espaço para que os pequenos se tornarem grandes também.
Acho que por isso que O Senhor dos Anéis é tão atual, grandes tarefas são dadas a mãos muito pequenas, mas ainda existe esperança e bons acasos. No nosso dia-a-dia, nos vemos como pequenos, cheios de prazos, preocupações, pressões e angústia, e muitas vezes nos sentimos pequenos demais para carregar o nosso fardo diário, nos sentimos sozinhos, fracos, pequenos, incapazes e ingênuos, mesmo que nossas maiores tarefas, objetivos e demandas são tão pequenas que afetam apenas a nossa vida e a de ninguém mais, ainda assim receamos não conseguir cumprir nossa jornada com sucesso. Acho que o professor fez de Frodo e Sam pessoas comuns do dia-a-dia, eles são na verdade seus próprios leitores, temerosos em conseguir realizar suas tarefas, pagar suas contas, "ser alguém na vida", fazer aquela faculdade, educar o filho nesse mundo louco e injusto, mas ainda existe esperança, ainda existem bons amigos.
O melancólico e angustiante cinza do cotidiano, pode se tornar o branco sábio, perspicaz e puro do futuro esperançoso que está por vir.
O Senhor dos Anéis tem todo um clima de tristeza, mas é uma boa tristeza.
Sim, fala de amizade, companheirismo, amor, heroismo, a eterna luta do bem contra o mal, a ambição, a traição, grandes batalhas (internas e externas), a vida e a morte, a beleza, a profundidade, a vida simples do camponês, magia e uma série de inúmeras outras coisas que se eu fosse apontar ficaríamos eternamente acrescentando coisas a esta lista.
Agora, além de tudo isso, acho que O Senhor dos Anéis trata principalmente sobre a tristeza.
É incrível como o professor conseguiu colocar em sua obra a idéia do tempo nas coisas. Quando lemos o Silmarillion realmente temos a sensação de estarmos deslumbrando um lugar novo, inexplorado, os vastos campos de Beleriand, o Sol nascendo e tocando a grama pela primeira vez, imagina que bonito isso? A primeira vez que o sol tocou o solo? A primeira de uma quantidade infinita, isso tem um significado e um certo peso para a obra. Tudo é inédito, os filhos de Eru são os primogênitos, são novos, nunca tinham caminhado antes, a própria Arda é nova, os "deuses" ainda não tinham acabado de construir e destruir seus campos, paisagens e montanhas, tudo é novo eterno e inexplorado. Não existem discórdias, anões e elfos não possuem desavenças, trabalham juntos em muitas grandes obras, dão nomes uns aos outros. Tudo é belo, jovem e alegre. Elfos e silmarils.
Já no Senhor dos Anéis o clima é pesado, denso, cansativo. O sol parece desgastado, nem mesmo os orcs tem tanto receio dele nesse momento. As gramas já foram pisoteadas por muitos exércitos e culturas. A chuva já "choveu" muitas vezes e já conhece todas as superfícies do mundo. Os "deuses" se desligaram do mundo, os elfos estão velhos e alguns lembram de quando "o mundo ainda era jovem", os elfos não são mais ão superiores aos orcs como as lâminas dos noldor eram quando Fëanor chegou à Terra-Média, e não podem mais fazer um cerco ao Senhor do Escuro (atual) como fizeram no passado com Angband. Agora os elfos estão partindo, deixando para sempre a Terra-Média, onde já viveram tantas histórias. Os anões estão cada vez mais desaparecidos na superfície e cada vez mais reclusos para baixo da terra. Os homens, os posteriores, os enfermiços, os sucessores, começam finalmente a governar toda a Terra-Média, enquanto observam todas as outras raças desaparecerem do mundo. Tudo é velho, cansativo, tudo é ruína.
Homens e elfos e anões nasceram e morreram. Reinos nasceram e morreram. É cansativo acompanhar os hobbits e Aragorn em seu caminho até Valfenda, porque tudo está velho e cansado. Quase nada sobrou dos reinos e da majestade de antigamente. Os Pântanos dos Mosquitos deixam com calor, cansados e empipocados não apenas os hobbits, mas também os leitores. Amon Sûl é só ruínas, tudo é ruínas, os palintíri estão desparecidos, talvez para sempre. Os anéis estão desparecidos. Fornost desaparece no mato alto e nas trepadeiras sobre seus palácios e estátuas. Os reis estão desacreditados e enfeitiçados. Regentes e homens menores governam o destido de todos.
O mundo é velho e se esqueceu de seus próprios mitos, de sua magia particular, e tudo vai se tornando concreto demais, real demais, triste demais.
Mas apesar disso tudo, acredito que o mundo d'O Senhor dos Anéis trata de uma boa tristeza. Porque apesar de triste, ainda há esperança nessa melancolia. O sol é fraco, mas a lua traz nostalgia, a época de Telchar e Fëanor, e Glaurung e Gothmog. É uma boa tristeza, porque reis desaparecidos, reaparecem, mendigos se revelam grandes reis ou grandes magos e conselheiros. Hobbits se revelam corajosos e resistentes, e salvam o destino de absolutamente tudo o que foi criado pelos deuses, hobbits. As estátuas estão podres e rachadas, mas as trepadeiras adornam suas cabeças com coroas de flores. O sol renasce das trevas, antigas alianças se fortalecem. O bem, quase afoga em desespero, mas nadando insistentemente chega a praia sem morrer. Existe esperança, existe grandes amigos (mesmo que eles sejam pequenos hobbits). Existe esperança, mesmo para um mundo carente de heróis, de grandes, há espaço para que os pequenos se tornarem grandes também.
Acho que por isso que O Senhor dos Anéis é tão atual, grandes tarefas são dadas a mãos muito pequenas, mas ainda existe esperança e bons acasos. No nosso dia-a-dia, nos vemos como pequenos, cheios de prazos, preocupações, pressões e angústia, e muitas vezes nos sentimos pequenos demais para carregar o nosso fardo diário, nos sentimos sozinhos, fracos, pequenos, incapazes e ingênuos, mesmo que nossas maiores tarefas, objetivos e demandas são tão pequenas que afetam apenas a nossa vida e a de ninguém mais, ainda assim receamos não conseguir cumprir nossa jornada com sucesso. Acho que o professor fez de Frodo e Sam pessoas comuns do dia-a-dia, eles são na verdade seus próprios leitores, temerosos em conseguir realizar suas tarefas, pagar suas contas, "ser alguém na vida", fazer aquela faculdade, educar o filho nesse mundo louco e injusto, mas ainda existe esperança, ainda existem bons amigos.
O melancólico e angustiante cinza do cotidiano, pode se tornar o branco sábio, perspicaz e puro do futuro esperançoso que está por vir.
O Senhor dos Anéis tem todo um clima de tristeza, mas é uma boa tristeza.
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