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[L] [Minas Ecthelion] [O Telefonema]

[Minas Ecthelion] [O Telefonema]

Acho que nunca me diverti tanto escrevendo um texto. Resolvi começar a escrever e pensando na história enquanto escrevia. Só sabia que começaria com um telefonema. Depois, enquanto escrevia, as idéias apareceram. Como não deu para terminar de noite, terminei hoje cedo, por isso eu já tinha pensado até mais um pouquinho sobre o que iria escrever mais. E, descobri que tenho uma obsessão por assuntos que envolve religião. Lá vai

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O telefone tocou ao meu lado.

_ Alô? Quem fala? – perguntei
_ O Senhor.
_ Como? Que senhor? Com quem quer falar?
_ Você quer falar comigo. Sou o Senhor.
_ Você que ligou para cá! Como eu que quero falar com você? É algum trote? Vou desligar...

Desliguei o telefone. Resolvi tomar algo. Era madrugada. Fui à geladeira e peguei uma água com gás. Voltei para a sala, onde estava anteriormente. Novamente, o telefone tocou.

_ Alô? – perguntei desconfiado, esperando ouvir aquela mesma voz.
_ Oi filho, sou eu. Como está?
_ Ah, oi mãe, estou bem. Por quê ligou a essa hora?
_ Por nada. Estava sem sono, e ... resolvi ligar. Por nada. Ah, bobagem, vou desligar. Então está bem né?
_ Estou mãe. Não preocupa. Tchau. – desliguei o telefone. Resolvi mudar de canal, tinha enjoado de ver pegadinhas. Estava passando um documentário sobre primatas.

Na noite silenciosa, com som da televisão baixo, estava ouvindo um pequeno murmúrio. Cheguei perto da televisão. Encostei o ouvido na caixa de som, mas só ouvia os gritos dos macacos. Andei um pouco pela sala; os murmúrios continuavam. Fui à janela, mas não havia ninguém na rua. Voltei para o sofá, e tive a impressão de que o murmúrio se dirigia à mim. Foi quando notei que ele vinha do telefone, mesmo estando desligado. Peguei o aparelho, e pus no ouvido.

_ Oi! – disse uma voz; aquela voz. – O que você quer me dizer?
_ Mas como? Quem é você? – respondi e certifiquei novamente de que o telefone continuava desligado.
_ Já disse, sou o Senhor. Deus! Você gostaria de dirigir-me a palavra?

Era de se admitir que a coisa estava estranha. Por alguns segundos ou minutos permaneci calado, raciocinando. O telefone desligado, os murmúrios vindo do telefone e uma voz apenas me esperando para conversar. Sendo que essa voz já havia ligado para mim antes. Acrescente ainda a madrugada silenciosa. Acreditei totalmente na identidade da voz.

_ Senhor Deus? Mas como? Por quê?
_ Você que falar comigo, meu caro. Diga.
_ Mas eu... Isso é impossível.
_ Era impossível. Agora não é mais. Mas você quer me dizer alguma coisa, não?

Realmente havia algo em meu íntimo que gostaria de dizer. Mas de início resolvi tentar algumas outras perguntas. Afinal, Deus estava ao telefone. E se houvesse mais coisas que gostaria de perguntar?

_ Hum... – comecei- Existe vida extraterrestre?
_ Sou ocupado. Posso ter desde um a infinitos planos, projetos em andamento. Mas não é isso que você quer me perguntar. E sinceramente, saber se existe ou não ET`s não fará diferença em sua vida.
_ Ok. Deixa eu ver... Moisés abriu mesmo o Mar Vermelho?
_ Você é curioso. Mas está bem. Antes de chegar à sua pergunta, irei responder a algumas outras. Mas não abuse. Bom, sobre Moisés... Acho que existiram 5 Moisés entre os judeus que vagaram pelo deserto. Nenhum deles abriu o mar Vermelho. O que ainda me pergunto é qual deles poderia ter se transformado em tal lenda... Tinha um barbudinho... Talvez tenha sido ele...
_ Oh! Nunca imaginaria! – Um curto espaço de tempo se passou enquanto pensava em outra pergunta. É que quando a oportunidade se mostrou para fazer as perguntas mais intrigantes que existiam, elas pareciam Ter desaparecido de minha mente. – Bem, o seu filho, Jesus, era um rebelde ou um messias?
_ Você se refere à adolescência? Ele foi rebelde como vários jovens. Fase difícil. As vezes penso em mudar um ou dois hormônios...
_ Não, digo – interferi em sua resposta mal interpretada – Digo, quero dizer, ele foi mesmo um messias?
_ Ele foi um cara especial. Muito inteligente. Tinha uma espiritualidade imensa. Ajudou inúmeras pessoas, tinha uma alma como nenhuma outra em seu tempo. Mas, ele pode ter sido um messias. Bem, pelo menos acabou o sendo na história. E o foi para muitas pessoas. E isso conta muito.

As respostas eram na maioria insatisfatórias, enigmáticas. Na hora elas pareciam Ter um significado profundo. Por isso não ousei arrancar mais nada quando ele desse uma resposta.
_ E quanto ao vinho... – perguntei – Ele realmente transformou a água em vinho?
_ A sim, achei muito interessante essa parte na Bíblia. Mas, respondendo, sim transformou, através de mim. Dê um gole em sua água.

Olhei para a água que estava agora em cima da mesinha ao lado do sofá. “Ele transformou em vinho!”, pensei. Sentia a adrenalina jorrar em meu coração. Peguei a água e tomei. Não era vinho. Era Champaigne. Ou melhor, vinho espumante, porque o gosto não se assemelhava nada a um bom Champaigne francês.

_ Oh! – disse Ele – Devo estar sem prática. Faz quase 2000 anos desde a última vez que fiz isso. Talvez o gás interferiu. Mas chega de conversa. Você tem uma pergunta importante a fazer. Faça.

Durante essa conversa, a pergunta a que Ele se referia se mostrava mais claramente em minha cabeça. E, finalmente, com absoluta convicção, perguntei.

II

_ Então, Senhor... É difícil fazer isso. Eu matei uma pessoa! – essa última frase falei bruscamente – Matei sim... Senhor, estou condenado. Acho que a pergunta é uma afirmação: Vou para o inferno!
_ Bom, muito bom. Enfim, era isso. Bem, mas não. Você não irá para o inferno. Aliás, inferno não existe. Foi uma invenção. Não minha, dos homens. Mas muito engenhosa, se você pensar bem... Mas, você acha mesmo que eu criaria suas almas para depois mandá-las a um sofrimento eterno? Não, seria melhor não criá-las desde o início!
_ Mas, Senhor – continuei. Estava aliviado, realmente. Mas amargurado, aflito, humilhado – Senhor, como... como poderei ser digno de ti? – note a Segunda pessoa. Comecei a usá-la, talvez por causa da Bíblia. – Matei um homem!
_ Sim, matou, já disse. Se eu o criei, como você não seria digno de mim? Bem, mas vejo o que você quer dizer. Você quer ser castigado. Bem, na verdade, já está sendo castigado. Arrependimento dói, não? Hehe, ótima invenção minha. Mas, bem, veja. Vocês esperam demais minha interferência em tudo. Mas esse mundo é de vocês! Criei para vocês. As suas almas saem de mim vazias, e voltam cheias! Meu trabalho em seu mundo já está feito. O que faço agora é cuidar de meu cantinho aqui... Diga-me. Agora que você sabe que não existe inferno, você roubaria, mataria novamente? Respondo por você: Não! Você não teria coragem. Você não gosta de fazer mal. Você sabe as razões que o levaram a matar.

Ouvi essas palavras em silêncio absoluto. Passou algum tempo. Era o tempo necessário para digerir aquilo que Ele disse. Mas havia algumas coisas que não compreendia. Não somente sobre meu problema, mas sobre tudo.

_ Mas, - falei, expressando lentamente – é suficiente? Por quê existem pessoas tão más! – Fiz uma pausa. Mesmo tendo matado, ainda me considerava melhor que outras pessoas. E isto atormentava. Por isso a pausa.- É suficiente?
_ Hum... Você acha que não tenho trabalho aqui em cima? Existem coisas para fazer. Almas para ajustar, ehehe. Mas nada de inferno. Você se questiona quanto a justiça na terra. Minha parte já está feita. Agora é a parte de vocês. Vocês criaram o estado, a lei. Isso não é um complemento? É sim! E mais eficiente do que você imagina. Existem Estados, e Estados, sim é óbvio. O verdadeiro Estado é aquele que se assemelha a um pai, carinhoso e educador. Um pai que nem eu, é verdade. Você, com um pai assim, um Estado, sentiria vergonha em decepcioná-lo, depois de tudo que ele lhe fez. Esse é o Estado. É esse o papel do homem na minha justiça na terra. E, observe é a maior parte!
_ Mas aqui no meu país... – comecei, mas ele me interrompeu.
_ Ah sim! Seu país é um problema! Como disse, existem Estados e Estados. Em seu país, o Estado não é um pai. É mais um tio alcoólatra! É um grande problema! Ponha no canal 17, agora, rápido! Veja! – assustei com a mudança no tom de voz. Pus no canal 17. Estava passando um telejornal da madrugada. A reportagem era sobre um sequestro seguido de assassinato das vítimas. Os dois sequestradores eram mostrados entrando no carro da polícia, e logo depois, já na delegacia, declarando o motivo do crime. Diziam: “É o desemprego!”. A voz continuou:
_ Veja! Que consideração estes rapazes têm pelo Estado deles? Que respeito? Um estado que não os auxiliam? E com a falta de inteligência deles, viram o crime como única saída. Bem, já cheguei a pensar que seu país precisa de uma ajuda daqui de cima. Claro, provavelmente não ajudarei. Mas, se ajudasse, mandaria um Messias para vocês! Não um Messias que faz milagres e conquistam as pessoas pela fé. Se eu consertasse seu mundo, como vocês iriam viver como humanos? Como encheriam suas almas? Não, o céu está aqui em cima. Não posso fazer um novo aí embaixo. Bem, se fosse mandar um Messias para vocês, mandaria um Messias político. Um Messias político, populista e honesto. Aí sim, quem sabe, seu país iria se arranjar? Mas, prefiro não alterar o rumo das coisas. Vocês que se resolvam! – parou um pouco; tive a impressão que suspirava. – Bem! Conversei até demais! Aqui todos só sabem me idolatrar! É difícil Ter uma boa conversa assim. Creio que já respondi suas dúvidas. Está na hora de ir! Mas lembre-se: a justiça da terra te julgará!

E assim, ele se foi. E agora, estou aqui na prisão. Tive certas regalias pela minha posição social. Sinto que devo contar meu crime, bem rapidamente. Foi o seguinte: Uma briga de trânsito. Estava dirigindo bêbado na madrugada. Meu carro esbarrou no de outro cara. Nos desentendemos. Ele me socou e soquei ele também. Ele pegou uma garrafa que estava com ele. Eu peguei uma chave de fenda e golpeei sua nuca. Ele caiu, morto na mesma hora. Desesperado, fugi. Mas, é claro, sempre existem testemunhas. Aquele dia que tive a conversa com o Senhor, já se havia passado 2 dias desde o crime. E, naquele mesmo dia, ao amanhecer, veio a viatura da polícia me prender. E aqui estou. Encarcerado. Mas antes de terminar meu relato, tenho que contar o que aconteceu após eu ter desligado o telefone.

Senti uma vontade tremenda de ligar para minha mãe. Conversei longamente com ela. Acreditava que ela poderia não aguentar me ver preso – a essa alturas tinha certeza de que seria preso. Eu próprio me entregaria. – Logo depois de falar com ela, ainda fui até sua casa. Lá, contei para ela pessoalmente. Creio que isso amorteceu a notícia. Ela me perdoou e me abraçou. Cheguei em casa pela manhã, e como já disse, logo depois fui preso. Foi feita a justiça dos homens!
 
Hum, eu gostei.

A voz do Senhor usou uma linguagem bem clara, o que eu gostei, não ficou com aquela coisa de vós e linguagem muito arcaica...

Está bom.
 
Gostei muito. Adorei a forma como a história terminou.

E adorei a voz do senhor. Fez de uma forma que geralmente não é imaginada pelas pessoas, que a consideram como o supra sumo da perfeição.
 
Gostei, Minas. Só toma cuidado com os erros ortográficos, eu achei uns que dificultaram um pouco a leitura. Eu adoraria cita-los, mas não tô com cabeça pra isso agora.

Gostei da mensagem, é bem bonita. A idéia é ótima e você passou ela muito bem pro papel. Ah, eu prefiro travessão do que Underline pra iniciar diálogo =)

Parabéns. :grinlove:

E que seja feita a justiça dos homens. =)
 
Valew gente. Vou dar uma relida pra procurar erros ortográficos. É porque depois de escrever reli somente uma vez, acho que queria botar aqui logo.

O travessão ( É esse? - eheheh, deve ser, pq no meu teclado aklém desse o mais parecido é o underline _ ), se for esse que disse, prefiro usar para fazer somente as observações em diálogos, ou mesmo sem ser diálogo.

Mas obrigado mesmo vcs, pelos elogios.
 
Não tem de que. =)

E só falei do underline porque acho que fica muito feio no texto. E não se encaixa no padrão para textos. Mas como isso não é uma editora e eu não sou um revisor, só posso comentar mesmo. =)
 
Também gostei muito da linguagem que vc usou, como já foi dito aqui, uma que nós não esperamos ser de Deus. Seria interessante, se a pessoa no telefone não fosse realmente Deus!
 
Parabens, muito bom o texto. Acabo de entrar para o CdE e não sabia se mandava um texto meu direto ou se lia alguns antes para me abituar, resolvi li antes e o seu título me pareceu bom.
Voltando ao assunto, essa história me lembrou de uma tirinha que o Laerte fez há um bom tempo atrás. É mais ou menos assim:
No primeiro quadrinho, aparece uma secretária eletronica com um balão dizendo: "Aqui é Zeca (não lembro se era zeca, então vou deixar como se fosse. :wink: ), não estou em casa, deixe seu recado após o sinal...Biiiip...
No segundo quadrinho: "Aqui é Deus( :anjo: ), e vc JAMAIS SABERÁ Minha mensagem"
E no terceiro aparece Deus e São Pedro conversando: Deus-"...o Zeca vai querer morrer..." SP- HEHEHEHE." Não fica tão boa quando contada, mas como não ache a tirinha no site, paciencia... :?
Mais uma vez, parabens, muito criativo e muito bom de ler. :dance:
 
Minas.. na verdade a voz poderia ser qualquer um.... qualquer pessoa... mas foi interessante mesmo assim... seria mais ainda se a voz deixasse em duvidas de quem fosse... :wink:
 
Parabéns pela ótima imaginação e condução de seu conto. Achei muito interessante mesmo!
 

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