A ilíada política do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, parece perto de um desfecho. Na semana passada, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que fez fama como engavetador de denúncias, denunciou o governador por uso de dinheiro público em sua vitoriosa campanha do ano passado. Se condenado, Roriz pode perder o mandato e ficar inelegível. Em outras duas denúncias, já formalizadas pelo Ministério Público, o governador corre o risco de pegar prisão de até quatro anos. Cercado por um mar de ameaças judiciais, Roriz recebeu mais uma péssima notícia na semana passada. Pedro Calmon, seu advogado até setembro de 2002, instado a falar sobre outra investigação a respeito de Roriz, deu um forte depoimento à polícia. Afirmou que o governador tem uma sociedade secreta com grileiros de terras públicas e confirmou a existência de um bilhete manuscrito com detalhes de negociações clandestinas.
A suspeita de que Roriz está envolvido com grilagem é antiga, mas é a primeira vez que alguém saído de sua esfera corrobora essa desconfiança. A polícia já está de posse do bilhete. Assinado por um velho aliado de Roriz, o já falecido senador Pedro Teixeira, o manuscrito, endereçado ao advogado Pedro Calmon, descreve a maneira como deveria ser feito o reparte de uma área pública invadida nas proximidades do Palácio da Alvorada. Conforme o bilhete, Roriz ficaria com um quinhão de 200 lotes, mas o negócio não foi para a frente. Calmon confirmou a autenticidade do bilhete e disse, ainda, que entregou pessoalmente ao governador os documentos do tal loteamento ilegal. "O governador e os grileiros são sócios. Todos os que convivem com ele sabem disso", disse o advogado a VEJA.
Aos 66 anos, quatro mandatos de governador, Joaquim Roriz começou sua trajetória em Brasília em 1988. Cinco anos mais tarde, em 1993, viu-se envolvido no escândalo dos anões do Orçamento, época em que se descobriu, através da quebra de sigilo bancário, seu formidável crescimento patrimonial. De lá para cá, Roriz também construiu um curral eleitoral à moda dos velhos coronéis. Conquistou uma legião de admiradores na periferia, abusando da distribuição de lotes, leite, pão, óculos e até dinheiro. Pertence a uma espécie em extinção na política nacional, aquele tipo que enriquece nos cargos públicos e ganha votos à base de clientelismo. A julgar pelos processos judiciais, sua carreira, na semana passada, ficou mais perto do fim.